sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O Natal a oito mil quilómetros de distância


Quando se pensa em Natal é inevitável associá-lo à família, ao aconchego do lar, à variedade gastronómica na mesa da consoada, às luzes, ao presépio e ao pinheirinho. Saudade, ausência, e distância são palavras que parecem não caber no léxico natalício. Mas nem sempre é assim. Certo e sabido que vida de emigrante não é fácil, só lhe dá o devido valor quem por ela passa. E quando as circunstâncias obrigam a passar a Consoada e o Dia de Natal longe do tradicional quentinho familiar, tudo assume outros significados, por nós desconhecidos…

Resiliência. Saudade. Falta. Talvez sejam essas as palavras que melhor definem o meu Natal passado. Decidi passar a consoada no meu T1 alugado em Maputo, na cidade onde residia e trabalhava há um ano. O Natal a oito mil quilómetros de distância da família. O Natal a 12 horas de avião de casa. O Natal sem os amigos por perto. O Natal sem o perú nem o bacalhau. Sem dúvida, o Natal mais difícil de sempre. Senti muitas saudades. Senti imensa falta. Mas a minha resiliência obrigou-me a ser forte para que esses não fossem os dias emocionalmente mais destrutivos de sempre.


Não havia luzes. Não havia pinheiros e muito menos presépios, visto que os moçambicanos são, na sua maioria, muçulmanos. Não havia ruas enfeitadas nem desfiles de pais-natal. Não havia espírito natalício. Nada. Zero. Imagino que houvesse, sim, paz e serenidade dentro do lar de cada um. Aquela que eu procurei e não tive, simplesmente porque estava sem a minha família por perto. Recusei um convite para passar o Natal junto da família de uma amiga moçambicana. Pensei que assim fosse doer menos. Mas não. Doeu, foi um Natal a não repetir. Se o passei com um ou outro amigo, posso dizer que não foi a mesma coisa.

Com o que escrevi no parágrafo anterior não quero dizer que me arrependo de ter passado o Natal fora. Tudo são experiências de vida, tudo é motivo de crescimento. E eu cresci. Amadureci. Agora sei o que é passar o Natal longe de casa e com MUITO calor. Sim, aproveitei as praias do Norte de Moçambique e a beleza avassaladora das Ilhas Quirimbas para passar um fim de ano memorável.

Com o distanciamento que esta reflexão merece, posso dizer que me sinto grata por ter tido a experiência de vida de que hoje me orgulho. Venci, disso não tenho a menor dúvida! Lutei e fui em frente. Assumi que a vida não é um mar de rosas e aceitei esse Natal como uma dádiva, com um outro género de sol e com o CALOR típico que só um país tropical pode oferecer. Venci a saudade e a distância tornou-me mais forte. Passei um natal cheio de calor e de mar e só posso sentir grata pela experiência que a vida lá fora me proporcionou.

A todos desejo um feliz e quente NATAL.