Nem sempre é fácil começar a escrever um texto numa folha em branco. Sem um fio-condutor, sem uma linha de raciocínio coerente ou sem um plano mental estruturado, mais difícil se torna. Mais ainda quando toca a assuntos da alma e a confissões do coração. Mas depois de uma ausência (reflexiva) algo prolongada, penso que já posso colocar no papel aquilo que me vai na alma, sobre o que a emigração me ensinou e para mim significou.
Moçambique não foi a minha primeira experiência internacional. Há cinco anos havia estado seis semanas na Bulgária. Mas, efectivamente, foi a primeira vez que saí do continente Europeu. Aprendi muito com as duas experiências internacionais, mas claro, mais agora. Afinal foram 15 meses fora num país em que apenas a língua é a mesma que a do meu país-natal. Tudo o resto é diferente. Se quiserem saber um pouco daquilo que me ensinou esta minha viagem por África, Moçambique, Maputo, Bilene, Chidenguele, Ilha de Moçambique, Pemba, Ilhas Quirimbas e tantos lugar fabulosos que tais, embarquem comigo nos próximos parágrafos.
Tudo começou faz hoje precisamente um ano e quatro meses. Estávamos a 25 de Janeiro de 2017 quando, pela primeira vez, pisei solo moçambicano. O primeiro impacto foi o climático: afinal vinha do severo Inverno português para o auge do Verão moçambicano. Mas, de manhãzinha, o céu estava enublado. No entanto, o "bafo" quente e húmido que senti logo que cheguei deram-me sinais de que estava no Hemisfério Sul, em Moçambique, em Maputo.
A caminho da casa da C fui-me deixando impressionar com todo o cenário que se afigurava tão diferente daquele a que estava habituada: perto do aeroporto, casas em ruínas, barracas destruídas. Perto do sítio onde viria a ficar hospedada por um mês e pouco, buracos no chão, lixo por todo o lado e cheiros, muito diferentes daqueles que eu conhecera antes. Claro que não pude deixar de reparar no verde das árvores e nas estruturas edificadas que se erguem e tocam no céu. Tudo podia estar conservado de uma outra forma, mas senti a essência da beleza da cidade assim que pousei pé na estrada para entrar em casa.
Este foi apenas o início de uma aventura com muitos "altos e baixos" que me fez crescer muito a bem e a mal. Sofri desesperadamente ri com muita vontade e aprendi inconscientemente, principalmente ao nível pessoal. Em vez de redigir um parágrafo sobre aquilo que por terras moçambicanas aprendi, prefiro enumerar, por tópicos, para tornar a leitura mais fluída e não chatear o leitor.
Ora muito bem...
* Aprendi a ser mais paciente, pois reclamar de uma hora de espera em qualquer restaurante ou café moçambicanos de pouco ou nada serve;
* Aprendi a levar assuntos sérios a brincar, pois o stress enerva, faz cabelos brancos e desgasta qualquer um;
* Aprendi a não ficar ressentida. Afinal, para que serve isso, mesmo?
* Aprendi a ser mais resiliente e a ultrapassar os meus impasses com um sorriso no rosto;
* Aprendi que a falta de carácter é um cancro mundial e que o melhor a fazer é afastarmo-nos de pessoas incoerentes;
* Aprendi que a cultura não pode justificar a falta de educação e a ausência de compromisso;
* Aprendi que é preferível estar só do que mal acompanhado(a);
* Aprendi que o dinheiro move o mundo de muitas pessoas. Apesar disso, tornei-me menos materialista do que já não era;
* Aprendi que o dinheiro não é tudo na vida e que o que interessa é ser feliz, com menos que se tenha, com aquilo que se tem;
* Aprendi a menosprezar assuntos inúteis e a valorizar o que realmente importa;
* Aprendi que "devagar se vai ao longe";
* Aprendi que não se devem usar as pessoas para atingir os nossos fins;
* Abri bem os olhos no que toca às "facadas nas costas";
* Aprendi a ser bondosa, generosa e simpática só para quem merece, para quem merece o melhor de mim;
* Aprendi que todos os dias se aprende mais um pouco.
Até já,
Ana I Mendes