segunda-feira, 26 de março de 2018

"A Capoeira dos Sete Pintos" é a obra mais recente da EPM-CELP


O lançamento do livro “A Capoeira dos Sete Pintos” teve lugar na quarta-feira, dia 21 de Março, na sede da Associação de Escritores Moçambicanos, em Maputo. Da autoria de Celso C. Cossa e ilustrado por Alberto Correia, é a obra mais recente do catálogo da Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa, na área infanto-juvenil.

O lançamento do terceiro livro de Celso C. Costa coincidiu com o Dia Mundial da Poesia e iniciou-se com a encenação de uma peça de teatro por alguns alunos da Escola Primária Completa 12 de Outubro, orientados pelo professor e escritor Rogério Manjate.

 Seguiu-se a leitura de um texto de Aurélio Furdela sobre o livro. “A busca da perfeição é algo intrínseco à vida de qualquer artista”, começou por dizer o apresentador do livro, Amosse Mucavele. “O autor busca aquilo que não se vê: o mistério e a paz interior”, continuou. Frisou, ainda, a simbologia do número sete enquanto número da perfeição, presente na história e em toda a obra deste autor, considerado por ele como uma referência da literatura infanto-juvenil. Acrescentou também que a fábula presente na história pode ser interpretada como uma metáfora do que a quebra de valores pode trazer à sociedade.

Alberto Correia, ilustrador, destacou a importância da ilustração como complemento do texto, sobretudo na literatura para crianças e a diretora da EPM-CELP, Dina Trigo de Mira falou da importância dos livros que nos levam a viajar e a reflectir e agradeceu às diversas entidades envolvidas no livro e no evento.

O representante da AEMO congratulou-se pela possibilidade de lançar um livro infantil no espaço da Associação de Escritores e enalteceu o trabalho editorial realizado pela Escola Portuguesa de Moçambique.

Sobre o livro
texto dá continuidade ao conto A Galinha Costureira e o Milhafre Esfarrapado do livro “7 Histórias sobre quem como quem”  do mesmo autor, e leva um pai e o seu filho a viajarem por dentro de um sonho e a viverem uma aventura fantástica juntamente com Sete Pintos, uma Galinha Costureira, um Milhafre Esfaimado, uma Feiticeira Esfarrapada e uma Galinha Anciã.

Sobre o autor
Celso C. Cossa nasceu em Maputo e é membro da Associação de Escritores Moçambicanos. Licenciado pela Universidade Pedagógica, é autor de 7 Estórias Sobre a Origem de Quem Come Quem (Prémio Nacional 25 de Maio, PAWA, edição 2015), O Gil e a Bola Gira e Outros Poemas para Brincar (EPM-CELP, 2016), Dandiwa – a menina que ganhou uma bolsa de estudo (Menção Honrosa no Prémio Matilde Rosa Araújo, edição 2015) e O Sol e o Solzinho (Menção Honrosa no Prémio Matilde Rosa Araújo, edição 2016), estas duas não-publicadas. No prelo encontra-se a obra livro juvenil “O Menino que odiava Números” e Celso C. Cossa, escritor com predilecção pela escrita para crianças e jovens tem vários livros ainda por publicar.

Sobre o ilustrador
Alberto Correia nasceu em Maputo, em 1991 e é artista plástico, ilustrador e designer. Membro do Núcleo de Arte é fundador do Movimento Fashion Prints e criador da marca Adecoalfinearsand Design, movimento artístico que alia a artes plásticas ao design de moda. Professor de artes plásticas e artes visuais a Capoeira dos Sete Pintos marca a sua estreia na ilustração.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Projecto “Voluntários da Leitura” junta miúdos e graúdos em torno dos livros

Todas as quintas-feiras, desde o dia 14 de dezembro de 2017, os livros juntam entusiastas pela leitura no pátio do primeiro andar da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP). A ideia é da professora de francês Faira Semá e o intuito é o de agregar, durante cerca de 50 minutos, apaixonados pela leitura em torno da partilha criativa de ideias.


A actividade decorre no âmbito do Projecto Voluntários da Leitura, proposto pela docente e inculcado, inicialmente, na turma E do 9º ano do terceiro ciclo do ensino básico pela professora Faira Semá.

O projecto iniciou-se este ano lectivo na EPM-CELP e tem como fonte de inspiração a Plataforma “Voluntários da Leitura”, pertencente à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e à Rede de Bibliotecas. Esta permite a inscrição de voluntários a nível individual e institucional. “Estou inscrita nesta plataforma há três anos, altura que coincidiu com a vinda para Moçambique”, frisa a docente.

Apesar de o aval ter sido lançado na turma do 9ºE e contemplar outras turmas do mesmo ano, pretende-se abranger outros anos de escolaridade, através da articulação vertical, e abrir o espectro à participação de outros elementos da comunidade escolar que queiram participar por livre iniciativa. “É uma oportunidade para conhecer elementos da comunidade educativa de uma forma diferente”, destaca Fairá Semá.

Além dos alunos, a Rede Voluntários da Leitura está a juntar cada vez mais apaixonados pelos livros, envolvendo outros elementos da comunidade educativa.

“Mais do que o lado cultural, a leitura é uma viagem ao imaginário que nos trás à realidade, mais favorecidos”, destaca Faira Semá acerca da actividade que acaba por ser uma “biblioterapia”, isto é, uma terapia em torno dos livros e da leitura.

Entre os livros apresentados estiveram o “Comer, Oral, Amar”, de Elizabeth Gilbert, «Niketche», de Paulina Chiziane, “Ponta Gea”, de João Paulo Borges Coelho, “A Rapariga que Roubava Livros”, de Markus Zusak, “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva e “Outlieres”, de Malcolm Gladwell.
Os encontros literários realizam-se todas as quintas-feiras das 12h00 às 12h50 e direccionam-se a toda a comunidade educativa. Aparecer com vontade de ler e partilhar essa experiência com outras pessoas são os requisitos necessários para participar na “Rede de Voluntários da Leitura”.

Iniciativas dos voluntários da leitura - 9º e 11º anos

Os “Voluntários da Leitura” já dinamizaram algumas iniciativas. A primeira encenação do texto “Mar de Maputo” no átrio central ocorreu no dia da cidade de Maputo (9 de Novembro) e foi dinamizada pelos alunos do 9ºE com participação de alguns alunos do 9ºA e um aluno do 10º ano. Dirigiu-se ao 5ºD e a duas turmas do pré-escolar e alunos do 9ºA.

A segunda apresentação teve lugar no jardim Tunduro, a 16 de Novembro, e foi dinamizada pelos alunos do 11ºC, em parceria com o grupo de História. Durante a apresentação os alunos contaram a história da cidade de Maputo e encenaram a obra “Mar de Maputo” tendo como público alvo as turmas do 4º ano.

A terceira apresentação deu-se no auditório Carlos Paredes e teve como destinatários os alunos do ensino pré-escolar. Contou com a participação especial da Professora Isabel Loio, que leu em "changana" e o professor de dança, Kim Salit, que colaborou com uma coreografia/workshop de "marrabenta". Esta última exibição teve a colaboração do departamento de expressões com realização das máscaras e dos adereços.

Houve, ainda, a leitura da história da cidade de Maputo a cinco turmas que visitaram a exposição organizada pelo grupo de História. “O factor imprevisibilidade é uma constante num projecto que está a assumir a sua dinâmica própria”, frisou Fairá Semá.

Estão previstas outras iniciativas, contempladas no plano anual de actividades, para breve. Uma delas é a doação de livros por alunos voluntários que se destinam alunos do primeiro ciclo e, no final do ano, vão ser oferecidos a instituições de solidariedade social. Outra será a partilha de livros entre os alunos do 9ºE que, posteriormente, farão apresentações dos mesmos.

sexta-feira, 16 de março de 2018

“Model United Nations” leva alunos do secundário a debate


Trinta alunos do ensino secundário da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) vão participar na próxima sessão da Model United Nations (MUN), agendada para os dias 16, 17 e 18 de março na American International School of Moçambique (AISM). Debater ideias acerca das problemáticas dos países das Nações Unidas e estimular a chegada a consensos são dois dos principais objetivos da iniciativa.

A iniciativa, organizada há três anos pela American International School of Mozambique (AISM), convidou a EPM – CELP a participar no projeto em conjunto com outras três escolas: Trichard, Mozambique International School (MIS) e Enko-Nyamunda. A participação dos alunos da EPM-CELP iniciou em fevereiro de 2017 tendo-se revelado um sucesso, não só na adesão dos nossos alunos, mas essencialmente no trabalho desenvolvido ao longo de três meses e na sua participação na conferência final realizada na AISM.

A “Model United Nations” (MUN), como explicou João Lourenço, é “um projeto criado pelas Nações Unidas, dirigido aos jovens, que tem como principal objetivo que estes conheçam a orgânica e o funcionamento da Organização das Nações Unidas (ONU) de uma forma prática”. Assim, os alunos são desafiados a tratar de problemas atuais, no âmbito dos direitos humanos, da resolução de conflitos e da relação diplomática entre países, pretendendo-se que os alunos dos diferentes “comités” cheguem a consensos.

“Human Rights” (Direitos Humanos), “Security Council” (Conselho de Segurança) e “African Union” (União Africana) são os três comités que vão debater temas como a escravatura na Líbia, a tortura no Egipto, o conflito israelo-palestiniano, a guerra cibernética e a corrupção e pobreza.

“Os alunos têm estado muito ativos. Foram incluídos no grupo do whatsapp do seu comité, onde expõem dúvidas sobre a elaboração das resoluções”, declarou João Lourenço que, por sua vez, está expectante quanto à participação dos 30 alunos da EPM-CELP no debate.

Miniconferências do “Model United Nations” na EPM-CELP
No passado dia 13 de dezembro realizaram-se as primeiras sessões da miniconferência “Model United Nations”, no auditório Carlos Paredes. De manhã, os alunos do 11º ano tiveram a oportunidade de debaterem ideias relacionadas com o tema “Bioética e Consumismo” e à tarde, foi a vez de os alunos do 10º ano argumentarem acerca do tema “Desenvolvimento Sustentável”. Estiveram representados países como Angola, Zâmbia, Moçambique, Republica Democrática do Congo, Nova Zelândia, Zimbabwé, Guiné Conacri, África do Sul, Etiópia, Portugal e Nova Zelândia.

Foram os professores de inglês e de filosofia que organizaram os grupos de debate. “Os professores procuraram grupos de países que eram a favor e contra para que o debate fosse rico e os alunos pudessem aperceber-se de que o mundo tem muitas diferenças e que se os países trabalharem em conjunto vão chegar a consensos”, destacaram os moderadores do debate.

De acordo com Keval Ramniclal, Olívia Rocha e Chelsia Loforte, “os alunos do
10º ano fizeram muitas perguntas, mostraram-se curiosos e manifestaram interesse em participar na próxima conferência”.  Por ter sido a primeira vez que participaram no debate, os alunos tiveram algumas dúvidas, mas mostraram-se entusiasmados na discussão de ideias acerca dos países que representavam. Os estudantes do 11º ano já conheciam as regras sobre as quais decorria o debate e, portanto, “partilharam as suas pesquisas com assertividade”. Os moderadores do debate concluíram que “os objetivos foram cumpridos”.

O coordenador do ensino secundário, João Lourenço, acredita que independentemente dos princípios subjacentes ao “Model United Nations”, este “pode ser um excelente «laboratório» para o desenvolvimento dos conteúdos, conhecimentos e competências curriculares e programáticas das disciplinas em causa”.

Na conferência final de 20 de maio de 2017, realizada na AIMS, os alunos da EPM-CELP que representaram a República do Iraque foram galardoados com o título de “Best Delegation” (melhor delegação), e o título de “Best Resolution” (melhor resolução) foi para os alunos que representaram os Estados Unidos da América (EUA), com o tema “Women empowerment in terms of work” (empoderamento da mulher no trabalho).

quarta-feira, 14 de março de 2018

“Um Sorriso, Mil Emoções” proporcionou uma tarde diferente aos meninos da “Cidadela das Crianças”


Sob o tema "Um Sorriso, Mil Emoções", alunos do 9º ano da turma A da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) deslocaram-se, na sexta-feira, 09 de março, ao Orfanato e Escola Primária "Cidadela das Crianças", localizada à saída de Maputo, na Costa do Sol, para proporcionar um dia diferente aos meninos da instituição.


A visita dos alunos da turma A do 9º ano à “Cidadela das Crianças” faz parte do Plano Anual de Atividades e teve como objetivos envolver os alunos em projetos de solidariedade como estratégias de ensino-aprendizagem, reconhecer a diversidade cultural como contributo fundamental na preservação do respeito e na qualidade de vida e perceber a importância do impacto das ações no outro e na sociedade em geral.

Dança, jogos, pinturas e desporto fizeram as delicias de cerca de 30 meninos que participaram nas atividades organizadas pelos alunos da EPM-CELP. Foram distribuídos afetos, abraços e sorrisos durante toda a tarde. No fim os alunos distribuíram, ainda, uma pequena lembrança na forma de roupa, comida ou materiais escolares, aos meninos, resultado de uma recolha feita na EPM-CELP.

Débora Queimada, 15 anos, aluna da EPM-CELP destacou que a experiência foi “muito boa porque ajudar faz as pessoas sentirem-se úteis. Acho que o que dou é muito pouco para equiparar ao que recebo”, disse acerca da atividade que teve o seu início no ano letivo 2016/2017, com a mesma turma, com a professora de espanhol, Marta Ribeiro.

No início da tarde, os meninos do orfanato foram divididos em três grupos: música, artes e desporto, pelos alunos da EPM-CELP. Em locais apropriados como a sala de música, a sala das artes e o campo desportivo, realizaram diferentes tarefas, de forma rotativa, lideradas pelos alunos do 9ºA.

“Gostei muito do desporto e da dança. Os meninos da escola portuguesa deviam voltar”, comentou Aissa Niese, de 15 anos, que frequenta a 7ª classe do sistema de ensino moçambicano.

O diretor da instituição, Américo Nhalungo, fez um balanço positivo da visita dos alunos da escola portuguesa ao orfanato, que quebrou a rotina. “É uma iniciativa muito importante, que estimula os meninos do orfanato a evoluírem. Vão ganhar alguma experiência com os ensinamentos dados pelos meninos da escola portuguesa”, disse.

A Cidadela das Crianças foi fundada em 1990 com o objetivo de acolher crianças em situações precárias. Mais tarde, para viabilizar a utilização do espaço, foram admitidas crianças de famílias de bairros circunvizinhos. Dos seis aos 23 anos de idade do orfanato fazem 420 crianças e jovens: 40 internos (ou residentes) e 380 alunos frequentam a Escola Primária Completa lá existente.

Crianças órfãs e crianças de famílias problemáticas são membros da “Cidadela das Crianças”. De acordo com Américo Nhalungo, “não vão à escola e às vezes são abandonadas pela família. Algumas famílias são agressivas. Quando são violentadas, as crianças acabam por sair de casa e quando lhes é perguntado o nome próprio inventam outro para que a família não as encontre”.

O orfanato aposta na “reintegração familiar” que depende da localização da família da criança. “Quando localizamos há um processo em que nos informamos sobre o porquê de a criança ter abandonado a família. Depois falamos com a criança sobre se quer voltar para a família”, explicou o diretor da instituição. Depois de fazerem o acompanhamento durante um período de tempo para averiguar o estado em que a criança se encontra de forma a integra-la no seio familiar, a aposta recai no regresso à família.

Quando não é possível localizar a família, mesmo que termine a 7ª classe, o aluno não é mandado embora; é reencaminhado para escolas de formação secundária e superior para terminar a sua formação. Desde a fundação do orfanato, 75 indivíduos que por lá passaram já estão integrados no mercado de trabalho. Alguns trabalham como professores, outros frequentam licenciaturas na escola de Artes Visuais e outros trabalham em instituições do Governo.

terça-feira, 6 de março de 2018

A minha primeira vez na Escolinha Solidária no Bairro dos Pescadores - Costa do Sol

Iniciaram as aulas na Escolinha Solidária do Bairro dos Pescadores, localizada na Costa do Sol, à saída de Maputo, na terça-feira, 06 de Março. Cerca de 25 crianças assistiram à primeira aula liderada por Ruy Santos, o mentor da plataforma MAKOBO. Depois de terem sido dadas a conhecer as "professoras" que, a título voluntário, vão ensinar os pequenitos, os alunos foram desafiados a realizar alguns exercícios que serviram para aferir o seu "nível" de ensino.

Começo por explicar em que consiste a Escolinha Solidária. Como informa a PLATAFORMA MAKOBO na sua página oficial do Facebook, "a ESCOLINHA SOLIDÁRIA, é um espaço de literacia (Ortografia e Leitura) para crianças da 1ª à 8ª classes do ensino público, residentes em bairros periféricos da cidade de Maputo".  Tem como objectivos "promover a ortografia e oralidade" e buscar" o equilíbrio da condição nutricional das crianças garantindo-lhe, semanalmente, o acesso à alimentação equilibrada". Por sua vez, "este é, também, um espaço ocupacional, proporcionando momentos lúdicos e sócio-pedagógicos, através de jogos e outras brincadeiras". 

Depois da aula, que decorre durante cerca de duas horas, os alunos levam, numa marmita para casa - A lancheira Solidária - que contém a Sopa Solidária, leite, bolos e fruta. Pretende-se, através da sopa, chegar às famílias das crianças e cultivar, entre as demais famílias do bairro, o gosto pela agricultura e alertar para a importância de ter a própria horta, onde ir buscar alimentos.

É bom fazer parte desta família solidária que dá conhecimento e recebe (muito) mais em troca do que aquilo que pensa. Recebo bem mais em troca do que aquilo que dou. Transmito conhecimento, recebo afectos. Dou afectos, apercebo-me do quão importante que é colocar "tudo quanto és no mínimo que fazes".

A Escolinha Solidária funciona às terças e quintas-feiras, de manhã, das 09:00 às 11:00 e de tarde das 14:00 às 16:00 e serve como um reforço das aulas leccionadas no Sistema de Ensino Moçambicano. 

Além da Escolinha Solidária e da Sopa Solidária, a Plataforma Makobo apoia um lar de idosos, o serviço de oncologia pediátrico no Hospital Central de Maputo e, mais recentemente, um curso para jovens - a Padaria Solidária.









quinta-feira, 1 de março de 2018

A perspetiva de quem visita o país estrangeiro que me acolheu


Resido e trabalho há um ano e um mês em Moçambique. Há uma semana recebi em minha casa uma amiga portuguesa que, atualmente, trabalha na Holanda. E é engraçado ver noutra pessoa, ouvir de outra pessoa e sentir de outra pessoa aquilo que, há um ano, quando aterrei, eu vi, eu ouvi e eu senti.


Escolhi trabalhar na Escola Portuguesa de Moçambique por um ano. Um ano que agora caminha para um ano e meio. Além de visitar mais e de desbravar novos horizontes antes para mim desconhecidos, posso receber uma ou outra visita de alguém que vem só visitar e conhecer um outro mundo, uma nova realidade.

“Pérola do Índico”, como é nomeado por muitos, Moçambique é um país de contrastes. Apercebeu-se disso a minha amiga Diva assim que a levei a ver o pôr do sol mais bonito da cidade: “Como é que numa mesma cidade coexistem locais tão bonitos e lixo no chão?”, questionou.

Sabe hoje, a Diva, que antes de aterrar é essencial virmos sem ideias pré-concebidas, sem opiniões feitas nem preconceitos. Só uma mente limpa, livre e aberta consegue absorver e aproveitar o que um outro país, os nativos dessa zona e uma nova cultura têm para oferecer e ensinar.

“Está tanto calor, estou sempre a soar!”, diz-me a Diva, quase todos os dias. “As mangas e as papaias têm um sabor maravilhoso”, comenta. “É impressionante comer tão bem por preços tão ridículos”, impressiona-se com a diferença diariamente. “E as praias!? Ah, essas são lindas de cortar a respiração!”, exclama.

Há um ano era eu neste espanto, nesta admiração. Agora é-o outra pessoa que nunca tinha saído da Europa e para quem, todos os dias, são uma surpresa. É interessante ver num outro alguém aquilo que eu já fui. Já estive perdida. Já senti que aqui não pertencia. Já questionei inúmeras vezes o porquê de estar cá. Ainda não encontrei resposta para muitas das minhas interrogações.

Agora vejo-o numa outra pessoa. Sinto-o numa outra pessoa. “Ana, todos olham para mim. Sinto-me como um negro se sente em Portugal”, diz-me a Diva com espanto no olhar. Está na pele do outro e sente-o todos os dias, a todas as horas, tal como eu já o senti e o sinto ainda.

Afinal, só quando vestimos a pele do outro é que fazemos ideia de como o outro se sente, quando o julgamento alheio emerge de todos os lados, só por ter outra cor de pele. E sentimo-lo, todos os dias. Somos brancos num país de pretos. São pretos num país de brancos. Falamos a mesma língua. Mas tudo o resto é diferente: os locais, a cultura, os hábitos, a gastronomia, os trajes, os pores do sol e o humor.