terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Teresa Rodrigues preservou e restaurou os azulejos da EPM-CELP

A Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) viu o seu património restaurado e recuperado por Teresa Rodrigues, que fez uma intervenção nos azulejos danificados do edifício da instituição escolar.

A proposta, com um prazo de execução de 30 dias, foi feita e surgiu da necessidade de recuperar e restaurar os azulejos danificados: “mais de 50% do azulejo estava irrecuperável”, destaca Teresa Rodrigues acerca de um conjunto de azulejos do Pátio das Laranjeiras. Daí surgiu a necessidade de fazer uma reintegração volumétrica e/ou cromática e a limpeza de todo o conjunto azulejar.

“Todas as juntas tiveram de ser limpas e, de novo, preenchidas. Havia um caso de muita perda de vidrado, mas todo ele foi já integrado”, explica Teresa Rodrigues acerca da sua intervenção. “Como é perda de material faz-se a reintegração volumétrica, no caso do vidrado faz-se só preenchimento”, continua.

Existem diferenças entre conservação e restauro que é importante esclarecer: enquanto que no primeiro caso se faz o tratamento do original sem introduzir novos elementos, no restauro são inseridos elementos extra, que não fazem parte do original. “A conservação e o restauro consistem no prolongamento do testemunho da história”, frisa Teresa Rodrigues. “Se as coisas não forem conservadas nem preservadas perde-se esse testemunho, assim como se perde a identidade da obra”, continua.

A intervenção no património da EPM-CELP é fulcral para a preservação e a transmissão aos alunos que chegam à instituição no futuro, já que existiam obras que estavam na eminência de serem totalmente perdidas.

Mas não é só na EPM-CELP que Teresa Rodrigues desenvolve a sua actividade. Em Moçambique tem a empresa “Arte dos Quatro Elementos”, desenvolvendo um projecto, desde 2013, com as oleiras de Motamba, em Inhambane, que “consiste na capacitação na área da cerâmica e fortalecimento".

Conservação e restauro dos azulejos – mais do que uma profissão, uma paixão

Foi há cerca de 30 anos que Teresa Rodrigues escolheu a cerâmica como modo de vida, tendo optado por procurar uma formação superior nessa área, que veio a constituir-se como uma mais valia para o trabalho de azulejaria, no qual tem vindo a trabalhar desde há 15 anos para cá.

“É impossível fazer este trabalho sem ter paixão”, afirma. “É muito desafiante ter uma coisa estragada, que eventualmente as pessoas dizem que vai para o lixo e depois conseguir pôr a obra não com um aspeto novo, porque temos de conservar a identidade estética e física das peças, mas sim dar a entender que a peça levou uma intervenção e que é possível ser útil e funcional”, destaca. 

Arrisca dizer que, por ver os alunos da EPM-CELP tão interessados no seu trabalho, alguns podem vir a interessar-se pela arte do restauro e da conservação de azulejos no futuro.

Assume o trabalho como uma terapia: “acaba por ser relaxante, pois é tão importante concentrares-te naquilo que estás a fazer que, por vezes, esqueces tudo o resto que está à tua volta. É um trabalho de que gosto muito e não me via a fazer outra coisa”, conclui Teresa Rodrigues. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Um ano de Moçambique

Faz hoje precisamente um ano que aterrei na "Pérola do Índico". Um ano de tudo. Um ano de mil experiências sem fim. Um ano de peripécias avassaladoras e de aventuras e desventuras para contar. Um ano de memórias. Um ano de "cai" e de "levanta". Um ano de amores e desilusões. Um ano de amizades e inimizades. Um ano de uma aventura que vou levar na bagagem quando regressar. Um ano de um crescimento indiscutível. Um ano!
Arrependida? Não estou, mesmo que já tivesse pensado, muitas vezes, que foi um erro ter partido à aventura depois de me despedir de um trabalho estável. Mesmo que as dúvidas fossem mais do que as certezas e que a insegurança minasse os meus sentidos... Não estou arrependida, estou grata!

Feliz? Sim, muito! Apesar de todas as aventuras e desventuras que tenho tido nos últimos tempos. Se sofri? Já, e muito. Se me arrependi de decisões que tomei? Também, de muitas... Se fui inconsequente e infantil? Demasiadas vezes... Mas tudo isto faz parte de um crescimento e aperfeiçoamento interno que não seria possível se não tivesse tido a ousadia de rumar a um continente desconhecido.
Ora, seguem algumas ideias sobre o que para mim significa Moçambique:

* Em Moçambique a noção de tempo dilui-se a cada minuto. O tempo passa muito depressa. Anoitece bem mais cedo comparativamente a Portugal e as horas correm de uma velocidade avassaladora; é caso para dizer que o tempo voa! Essa foi uma das primeiras diferenças com que me defrontei assim que aterrei.

*Em Maputo pouco se faz durante os fins-de-semana.
As pessoas saem para África do Sul ou vão dar uma volta até à praia para escapar à rotina da semana. A cidade fica vazia e, para quem fica, as opções passam por passar o dia na piscina ou ver um filme em casa numa tarde de lanche com as amigas e, à noite, jantar num restaurante "chique".



*Sexta-feira e domingo são os dias para se sair à noite.
Há o "Bistrô" e a "Feira" às sextas e o "Núcleo de Arte" aos domingos. Às sextas estou cansada e aos domingos não me apetece sair porque segunda-feira é dia de trabalho! Como aos sábados as festas são privadas, é muito raro (eu) sair. 

*As praias... Quanto mais para norte, melhor!
Aqui existe (mesmo) o paraíso na terra: águas límpidas, cristalinas e mornas. Areias brancas e brilhantes e um clima quente estonteante. Está sempre calor! Às vezes até demais. Escusado será dizer que o uso do protector solar é imperativo e que não se pode prescindir de uma boa sombrinha.

*
Em Moçambique não existe "Primavera" nem "Outono".
No fundo também não há o convencional "Inverno", a que o frio português nos habitua. Há a época seca, de Maio a Setembro e a época das chuvas, de Outubro a Abril, mais coisa menos coisa. Isso na teoria porque na realidade quase nunca chove e está sempre MUITO calor. 

*Em Moçambique a oferta cultural é muito limitada. 
Demasiado. Ás vezes lá há um momento musical diferente, um cinema gratuito ou uma exposição fotográfica aqui (na Fundação Fernando Leite Couto) ou ali (no Centro Cultural Português). Mas a verdade é que pouco há para visitar ou ver. A oferta é muito restrita e tudo ou quase tudo se paga. 


*Há o voluntariado, na PLATAFORMA MAKOBO, todos os dias. 
Mas eu só vou uma vez por semana às segundas-feiras. Gosto imenso de despender algum do meu tempo a dar mais de mim aos outros. Fazer mais. Ser mais! "Ensinar a pescar" de uma forma desinteressada e, mesmo assim, receber muito mais do que aquilo que dou. O voluntariado dá cor ao início de cada semana, desde Setembro do ano passado.

*Não existe uma rede de transportes públicos estruturada. 
Os cidadãos locais deslocam-se de "chapa" (o nome corriqueiro e informal para as velhas Toyota Hiace) para os diferentes pontos da cidade e eu ando de txoupela (os tais "tuk-tuk" turísticos), de taxi e, mais recentemente, de carrinha escolar. Fica bem mais barato e faz bem à saúde. Na realidade o "chapa" é o meio de transporte mais barato... contudo... o conforto não é o mesmo! Ainda há as carrinhas de caixa aberta, "My Love"... mas nessas nem sequer subo.


*Há proximidade com África do Sul. 
A distância entre Maputo e Nelspruit fica é cerca de 200 km. Eu não conduzo por cá mas aproveito a gentil boleia de quem me leva a conhecer sítios fantásticos como Blyde River Canyon ou o Kruger Parque. 


*Há as coloridas capulanas. 
São tecidos locais muito versáteis que servem para quase tudo: fazer roupas, toalhas, carteiras, cortinados, malas... tudo e mais alguma coisa; as possibilidades são infinitas!

*Há o delicioso marisco nas praias e os saborosos amendoins e cajus por todo o lado. 
Há restaurantes e talhos "Hallal" (onde não se come ou vende carne de porco), o tailandês, o indiano e o chinês.  É uma maravilha poder desfrutar da versátil diversidade gastronómica que Moçambique tem para oferecer. 

*Há a minha independência. 
O meu refúgio é o meu t1. Pago as minhas contas e não dou justificações a ninguém da minha vida. Tenho paz e sossego e isso é impagável.

*Há tudo aquilo de que não falei. 
Os sem-abrigo, a pobreza (material e espiritual), a gravidez precoce a inconsciência na educação e a ditadura disfarçada de "democracia"... Há corrupção, lixo nas ruas e poluição sonora e ambiental. Ainda há muito por fazer. Há muito para descobrir e há um sem número de coisas para melhorar. Não podemos mudar o mundo, mas podemos melhorar o mundo de alguém, acredito nisso.

*"Relativizar" é a palavra de ordem por estas bandas. 
Se assim não for, as saudades vão apertar mais. As situações vão doer mais. Tudo assume proporções mais nefastas e a vida é muito mais dolorosa. 

Faço ideia de até quando vou ficar, mas pretendo viver cada minuto como se do último se tratasse e tornar esta experiência internacional ainda mais rica!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Jorge Oliveira: “O futuro está em África”

Foi há quatro anos que os pombalenses Jorge de Oliveira e Júlia decidiram fazer as malas e rumar a África para apostar num mercado emergente. Sob o lema “tudo o que cabe dentro de um palco”, em 2013 nasceu a Backline Music Store, uma loja de música líder de mercado em Moçambique.


“O objectivo da vinda para Moçambique foi desenvolver a marca Backline Music Store. A empresa em Portugal chama-se Tecnimúsica e em Moçambique Musitecnica”, começa por explicar o gerente Jorge de Oliveira acerca daquela que é uma sucursal da empresa portuguesa. “Temos consciência de que existem outros mercados para além da Europa e decidimos vir para África para posicionarmo-nos num lugar de liderança”, diz acerca de um investimento que quer ser um “cartão vermelho” para a concorrência.

Em 2012 Jorge de Oliveira deslocou-se a Maputo para fazer prospecção de mercado. “Vim falar com 32 empresas que me foram indicadas pelo consolado moçambicano como potenciais parceiros, mas cheguei à conclusão de que nenhuma estava em condições de colaborar connosco”, conta. Depois de nove meses em obras, em Outubro de 2013, abriu a Backline Music Store.

Instrumentos musicais e acessórios, áudio profissional e instalação, acústica e electroacústica, projectos e instalação, altafidelidade e cinema em casa, equipamentos de estúdio e assistência técnica; são estas as principais áreas em que a Backline Music Store actua.

Volvidos quatro anos de actividade o balanço do negócio é positivo; a Backline Music Store é distribuidora exclusiva em Moçambique de 17 marcas. Por agora “o nosso objectivo é descentralizar a distribuição e definir revendedores que sejam nossos representantes nas principais províncias do país e que desenvolvam a sua actividade lá”, frisa o gerente.

Apesar do problema da contrafacção que luta por combater no dia-a-dia, Jorge de Oliveira não tem dúvidas de que “o futuro está em África”. Com várias áreas por explorar e oportunidades emergentes de negócio numa economia em desenvolvimento, o empresário é da opinião de que são precisos, no mínimo, cinco anos para se consolidar um projecto em Maputo. Sugere aos candidatos a emigrantes a estarem “preparados para os sacrifícios ao nível pessoal e profissional”.

O melhor por lá
O clima já que, para Jorge Oliveira, “nunca há frio. Apesar de gostar do frio, escolho o calor se tiver opção”.

O pior por lá
Para o empresário “a sujidade nas ruas e a falta de civilidade” são apenas dois dos problemas existentes na cidade.

O mais surpreendente
Jorge Oliveira acredita que o facto de os moçambicanos “gostarem de Jazz” é interessante numa cultura tão diferente da Europeia.

Maputo

Fundação | 1782

Habitantes | 1 766 823 (censos 2007)


Curiosidades | Maputo - ou Lourenço Marques até 1976 - é a capital e a maior cidade de Moçambique. É o principal centro financeirocorporativo e mercantil do país. Localiza-se na margem ocidental da Baía de Maputo, no extremo sul do país, perto da fronteira com a África do Sul e da fronteira com a Suazilândia. A cidade passou a designar-se Maputo depois da independência nacional, uma decisão anunciada pelo presidente Samora Machel num comício a 03 de Fevereiro de 1976 e formalizada em 13 de Março desse ano.

domingo, 14 de janeiro de 2018

O paraíso escondido no norte de Moçambique

Pemba, o trampolim para um paraíso a perder de vista…

De Maputo a Pemba. De Pemba às Ilhas Quirimbas. Das Ilhas Quirimbas à beleza estonteante. Esta foi a última viagem de 2017 e, ao mesmo tempo, a primeira de 2018. Do sacrifício ao deslumbre, da frustração ao sonho e da idealização à realização foram muitas as peripécias que fizeram da minha viagem de 28 de dezembro de 2017 a 07 de janeiro de 2018 uma das melhores da minha vida.


Tudo começou em Outubro do ano passado, quando decidi passar o Natal e o Ano Novo em Moçambique. Afinal não é todos os anos que se tem a magnífica oportunidade para se conhecer novos sítios e descobrir diferentes culturas. Decidi que os dias de férias a que tinha direito seriam passados num lugar diferente, onde nunca tinha estado. Foi então que reservei o meu voo na companhia aérea moçambicana – LAM -para o dia 28 de Dezembro.

A ideia seria fazer a minha primeira viagem sozinha. Tudo apontava para isso até meados de Novembro, altura em que o meu amigo e futuro companheiro de viagem B, decidiu adquirir a passagem aérea para voar comigo rumo ao desconhecido. Assim foi: a 28 de Dezembro de 2017 embarcámos, pelas 10h30, numa aventura que se foi revelando  mais inesperada de dia para dia.

A viagem começou de uma forma um pouco atribulada. Depois dos avisos de turbulência e de mau tempo, tivemos de aterrar, durante meia hora, no aeroporto de Nampula. Não deu para aterrar em Pemba pois o piso estava demasiado molhado e escorregadio na pista de aterragem. Mas não estivemos muito tempo em Nampula; após meia hora na sala de espera do aeroporto, levantámos voo novamente.


Próximo destino: PEMBA! O céu estava encoberto e o tempo enublado. Apesar dos chuviscos e da chuva "molha tolos" que ameaçava cair, o clima quente e húmido abraçou-nos assim que saímos do aeroporto. A prioridade era a de arranjar um transporte que nos levasse até ao nosso alojamento, o Pemba Magic Lodge, o sítio onde passaríamos (supostamente) as dez noites seguintes. Ainda não calculávamos o que estava para vir…
Cheios de fome e de sede sentámo-nos nos bancos almofadados daquele espaço de convívio aberto. O ambiente acolhedor com que fomos recebidos animou, desde logo, os primeiros momentos no logde, que dista mais ou menos sete quilómetros da cidade de Pemba. Fomos bem recebidos e bem servidos. Tudo estava a correr às mil maravilhas! O tempo acabou por abrir e ainda deu para fazer uma caminhada a pé.

Pemba é a capital de Cabo Delgado e a província mais a norte de Moçambique. Inicialmente, uma pequena aldeia de pescadores – Paquitequete – Pemba como centro comercial foi fundada pela Companhia do Niassa no início do século XX, então conhecida como Porto Amélia, uma rainha portuguesa. De acordo com dados oficiais proporcionados pelo último censo realizado em Pemba, a população rondava as 150 mil pessoas. Os seus habitantes são principalmente Makuas, embora Makondes e Mwanis também tivessem vivido na capital de Cabo Delgado.

No segundo dia da nossa estadia deu para ir até à praia de Wimbi, um dos principais centros turísticos,  localizada a cerca de cinco quilómetros da cidade. Nos dois dias subsequentes houve tempo para realizar algumas actividades no mar, como um passeio de barco, mergulho e snorkeling.


Pelo caminho conhecemos e convivemos com um casal de nova-iorquinos, uma viajante nova-zelandesa e alguns missionários norte-americanos. Mas chegámos à conclusão de que isso não bastava; no fim de contas, Pemba quase se resume a praia e pouco mais havia para explorar em mais cinco dias… Seria muito tempo “desperdiçado” quando tanto haveria de bonito para ver a uns quantos quilómetros de distância da localidade…


Ilha do Ibo, uma história sem igual…

Foi no dia 30 de Dezembro que decidimos mudar o rumo da nossa viagem e investir em conhecer algumas ilhas do Arquipélago das Quirimbas. Realizámos um ou dois contactos e foi então que, no primeiro dia do ano de 2018, rumámos à Ilha do Ibo, uma pequena ilha coralina localizada próximo da costa da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

A vila de Ibo surpreendeu-nos assim que atracámos do pós-45 minutos de viagem, no cais de Quissanga. A ancestralidade com que se erguem dos edifícios, que contam as histórias da ilha fundada em 1761, foi que mais ressaltou à vista. A ilha de Ibo tem 10 km de comprimento por cinco de largura e está quase totalmente urbanizada, localizando-se aí a vila do Ibo, sede do distrito com o mesmo nome. Associada ao comércio esclavagista, localiza-se dentro do Parque Nacional das Quirimbas.

Durante 500 anos a Ilha do Ibo foi um porto de comércio próspero ocupando uma posição estratégica na costa Oriental Africana. Três fortificações, uma bonita igreja católica muito antiga e numerosos edifícios antigos fazem guarda sobre as águas. Piratas, marfim, intriga e tráfico de escravos fazem parte da história desta ilha de coral. Uma história fascinante recheada de segredos e de uma cultura muito rica está presente nos habitantes e ruínas, algumas que datam de 1500.

As pessoas do Ibo são amigáveis e acolhedoras; tive a felicidade de conhecer o habitante mais “experimentado” da ilha. Com 90 anos de histórias alucinantes, o senhor João Baptista fez-nos uma visita guiada aos tempos do colonialismo e da PIDE. Foi com espanto e curiosidade que me deixei absorver pelo entusiasmo que tão rica experiência de vida me proporcionou.

As gentes do Ibo são, maioritariamente, famílias de pescadores que desafiam as correntes e conhecem os canais ao redor do arquipélago tal como a palma das suas mãos. Há artesãos da prata que passam o seu ofício de pai para filho. A população vive, também, da agricultura de subsistência. É normal ver-se vacas a passar na praia, cabritas a cruzarem os caminhos de terra batida e galinhas a passear sem medos pelas ruas.

Crianças… Se eu pensava que já tinha visto muitas em Maputo é porque ainda não tinha visitado a ilha do Ibo. Crianças andam por todo o lado e divertem-se com os brinquedos criativos que constroem com materiais (aparentemente) inutilizáveis. Aquela alegria de quem nada tem e se contenta com pouco. Fazem lembrar a infância na aldeia dos meus pais, há 50 anos, por terras lusitanas.

A ilha do Ibo, a maior e mais populosa do arquipélago das Quirimbas, é apenas o trampolim de acesso às outras ilhas que constituem o arquipélago.




Ilhas Quirimbas, lugar da paz…


O Arquipélago das Quirimbas parece estar na rota de se tornar como um destino de escolha para aqueles que gostam de ilhas tropicais bonitas, quase virgens e sem muita gente. Apenas algumas das 32 ilhas de coral que fazem parte do Arquipélago das Quirimbas partem a norte de Pemba até à fronteira com a Tanzânia e estão a ser desenvolvidas, arrisco dizer, para servir um turismo de luxo.

Onze ilhas fazem parte do Parque Nacional das Quirimbas que abrange seis distritos da província de Cabo Delgado numa área total de 7500 km2.

Pude apreciar e fotografar paisagens perfeitas e águas claras e quentes, onde dei uns mergulhos e  fiz snorkeling. Ainda vi, pela primeira vez, golfinhos no seu habitat natural e tive oportunidade de nadar com eles. Além das actividades marítimas houve tempo para dar uma longa caminhada pela ilha, onde vi o Museu das Pescas, a Fortaleza, o mercado municipal e o local onde ser vende o saboroso café do Ibo.

Não tenho dúvidas de que este é o sítio ideal para quem procura relaxamento absoluto. Longe da cidade e perto do mar, do sol e do calor das suas gentes, a Ilha do Ibo constitui um destino paradisíaco de paragem obrigatória.


O orçamento para a viagem pode variar entre os 500 e os 1500 euros, mais coisa menos coisa. Tudo dependerá dos meios de transporte utilizados (andar de chapa marítimo e terrestre é consideravelmente mais barato. Partilhar barco e negociar com marinheiros locais também), o local da acomodação (dormir em lodges locais é bem mais barato do que em lodges estrangeiros), o local das refeições (é mais barato petiscar nos restaurantes locais do que nos estrangeiros) e da predisposição para investir mais ou menos. 

O voo de regresso a Maputo realizou-se pelas 14 horas de 07 de Janeiro de 2018 e decorreu nas calmas. Duas horas e meia (de voo) e cerca de 2500 km separam Maputo de Pemba.

Li algures que "as viagens são a única coisa que compramos e que nos deixa mais ricos". Não poderia estar mais de acordo; eu cheguei bem mais rica: com mais conhecimentos, com mais vivências, com mais aventuras para contar e partilhar, com a pele mais bronzeada, com a mente mais aberta e, acima de tudo, com a certeza de que quero viajar mais, muito mais!  

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

“Depois de África não somos os mesmos”

No dia 13 de dezembro fez um ano que abriu a cervejaria/marisqueira GOA na Avenida Eduardo Mondlane, em Maputo. Sob a alçada do pombalense de 53 anos, Leonel Monteiro, e com “casa cheia” de terça a domingo, o balanço de um ano de atividade não pode ser mais positivo.

A trabalhar no setor da restauração desde os 14 anos de idade e sedento de um novo desafio profissional foi em julho de 2014 que Leonel Monteiro decidiu avançar com o projeto da cervejaria/marisqueira Goa, em Maputo. Entre a habitual papelada necessária para legalizar o espaço e a restauração do local deixado ao abandono, foi apenas no ano passado que Leonel Monteiro conseguiu abrir o espaço com um sócio. Aberto de terça a domingo das 8h00 às 24h00, o Goa conta com 15 trabalhadores e inúmeros clientes que “trazem amigos que fazem deste um local de convívio”, diz o gerente em tom de satisfação.
“O segredo é procurar servir toda a gente pelo melhor e respeitar para ser respeitado”, afirma Leonel Monteiro acerca da filosofia de trabalho do Goa. “Todas as equipas têm altos e baixos, mas temos de nos adaptar ao país onde estamos”, diz o gerente do espaço acrescentando que “o mais difícil de gerir é os trabalhadores, cuja cultura é diferente da nossa”. Apesar disso, sabe que “todos trabalham um bem comum”.
Com o negócio em Maputo e o coração em Pombal, Leonel Monteiro admite que não é fácil lidar com as saudades que sente da mulher e dos dois filhos; o mais difícil é encontrar a solidão quando chega a casa depois do trabalho. Apesar disso, encontrou uma família de acolhimento por terras moçambicanas; “os trabalhadores que lidam comigo de manhã à noite são a minha família”, desabafa.

“Estamos num país onde tudo é diferente de Portugal, como os hábitos, a cultura, os costumes e os cheiros”, frisa Leonel Monteiro, daí que “uma percentagem muito mínima de pessoas aguenta estar aqui sem a família”. Mostrando-se versátil e adaptável a qualquer cultura devido às viagens que já fez, o gerente do Goa admite que “Moçambique é para todos, mas nem todos são para Moçambique”.

Voltar a Portugal não é uma hipótese a considerar nos próximos tempos: “agora estou preso a um grande investimento feito por mim. Só vou regressar quando for possível”, sublinha acerca de um projeto a longo prazo. Sem fazer demasiados planos para o futuro, Leonel Monteiro visita a família uma vez por ano.
“Sinto-me bem e respeitado, rodeado pelos meus trabalhadores. Afinal são estas as vitaminas necessárias a quem está longe do seu país”, diz, apesar de viver para o trabalho com o qual está 100% comprometido. “Se fosse fácil estavam aqui milhões em vez de milhares. Nunca mais somos as mesmas pessoas depois de sairmos de África”, conclui.


O melhor por lá Para Leonel Monteiro o melhor é “a simpatia, o acolhimento, o clima, a presença de tanta gente da nossa terra, o que nos faz sentir que este país nos acolhe bem. Eu entendo que é um país bom, onde temos se ser trabalhadores honestos”.
O pior por lá “As dificuldades do dia-a-dia que têm de ser entendidas e ultrapassadas”, diz o gerente do Goa.
O mais surpreendente Leonel acredita que os amigos que ganhou em Maputo é o mais surpreendente. “As pessoas, oriundas de norte a sul de Portugal juntam-se aqui para conviverem”, conclui.
Fundação | 1782 Habitantes | 1 766 823 (censos 2007) Curiosidades | Maputo - ou Lourenço Marques até 1976 - é a capital e a maior cidade de Moçambique. É o principal centro financeirocorporativo e mercantil do país. Localiza-se na margem ocidental da Baía de Maputo, no extremo sul do país, perto da fronteira com a África do Sul e da fronteira com a Suazilândia. A cidade passou a designar-se Maputo depois da independência nacional, uma decisão anunciada pelo presidente Samora Machel num comício a 03 de fevereiro de 1976 e formalizada em 13 de março desse ano.