sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O Natal a oito mil quilómetros de distância


Quando se pensa em Natal é inevitável associá-lo à família, ao aconchego do lar, à variedade gastronómica na mesa da consoada, às luzes, ao presépio e ao pinheirinho. Saudade, ausência, e distância são palavras que parecem não caber no léxico natalício. Mas nem sempre é assim. Certo e sabido que vida de emigrante não é fácil, só lhe dá o devido valor quem por ela passa. E quando as circunstâncias obrigam a passar a Consoada e o Dia de Natal longe do tradicional quentinho familiar, tudo assume outros significados, por nós desconhecidos…

Resiliência. Saudade. Falta. Talvez sejam essas as palavras que melhor definem o meu Natal passado. Decidi passar a consoada no meu T1 alugado em Maputo, na cidade onde residia e trabalhava há um ano. O Natal a oito mil quilómetros de distância da família. O Natal a 12 horas de avião de casa. O Natal sem os amigos por perto. O Natal sem o perú nem o bacalhau. Sem dúvida, o Natal mais difícil de sempre. Senti muitas saudades. Senti imensa falta. Mas a minha resiliência obrigou-me a ser forte para que esses não fossem os dias emocionalmente mais destrutivos de sempre.


Não havia luzes. Não havia pinheiros e muito menos presépios, visto que os moçambicanos são, na sua maioria, muçulmanos. Não havia ruas enfeitadas nem desfiles de pais-natal. Não havia espírito natalício. Nada. Zero. Imagino que houvesse, sim, paz e serenidade dentro do lar de cada um. Aquela que eu procurei e não tive, simplesmente porque estava sem a minha família por perto. Recusei um convite para passar o Natal junto da família de uma amiga moçambicana. Pensei que assim fosse doer menos. Mas não. Doeu, foi um Natal a não repetir. Se o passei com um ou outro amigo, posso dizer que não foi a mesma coisa.

Com o que escrevi no parágrafo anterior não quero dizer que me arrependo de ter passado o Natal fora. Tudo são experiências de vida, tudo é motivo de crescimento. E eu cresci. Amadureci. Agora sei o que é passar o Natal longe de casa e com MUITO calor. Sim, aproveitei as praias do Norte de Moçambique e a beleza avassaladora das Ilhas Quirimbas para passar um fim de ano memorável.

Com o distanciamento que esta reflexão merece, posso dizer que me sinto grata por ter tido a experiência de vida de que hoje me orgulho. Venci, disso não tenho a menor dúvida! Lutei e fui em frente. Assumi que a vida não é um mar de rosas e aceitei esse Natal como uma dádiva, com um outro género de sol e com o CALOR típico que só um país tropical pode oferecer. Venci a saudade e a distância tornou-me mais forte. Passei um natal cheio de calor e de mar e só posso sentir grata pela experiência que a vida lá fora me proporcionou.

A todos desejo um feliz e quente NATAL.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Relembrar as quentes praias do Índico

Saudades destes dias de frio e chuva? Nãããão. Mas se estou de volta a Portugal é com o clima luso que tenho de (con)viver novamente. Facilmente me habituo ao bom tempo, ao sol, ao abafado estonteante característicos do clima tropical. Facilmente me habituo a vestir camisola de manga curta todo o ano, aos chinelos e às sandálias e até ao mosquitos que teimam em não deixar dormir. Os mosquitos e o calor. CALOR. Só aprendi o que era calor, CALOR real, quando coloquei o pé em solo moçambicano, no dia 25 de janeiro de 2017. 

Esse 25 de janeiro estava abafado e chuvoso. Muito abafado. Cinzento. Com chuvas fortes e persistentes mas efémeras. Assim que saí do avião, o bafo abafado do clima tropical moçambicano abraçou-me com um abraço sincero. Podia acreditar: pela primeira vez saíra do continente Europeu para experimentar outros ares, outros climas, que de certo mudaram a minha vida.

Saudades, isso sim, do bom tempo. Do calor húmido que não deixa dormir, dos dias de 36º  (com uma sensação térmica de 40º) que convidam a uma "piscinada" na Vila das Mangas, dos fins-de-semana (prolongados ou não) que nos atiraram para o azul indescritível da praia do Bilene, para as águas quentes de Inhambane ou para a tranquilizante praia do Tofo. Conheci Vilankulos num fim de semana prolongado de Dezembro. Calor, águas salgadas e tranquilidade. Não precisava de estar de férias, o sal do mar das praias mais próximas de Maputo ajudavam a revigorar as forças que se esvaíam durante a semana.

Fins-de-semana que se transformaram em fins-de-semana perlongados e em férias, as no Natal passado que quero por vezes apagar da memória e (re)lembrar ao mesmo tempo. O fim de ano de 2017 que nunca irei esquecer, não só pelas pessoas, mas muito pelos locais. Visitei as Ilha do Ibo e as Ilhas Quirimbas, localizadas no norte de Moçambique, pertencentes ao distrito de Pemba. Pemba, que explorei durante quatro dias e onde conheci a Wimbi Beach. Repleta de algas, mas que me recebeu com um caloroso abraço e com a simpatia tatuada no sorriso dos habitantes locais. Há, de Pemba trouxe ainda fotos dignas de bonitos fundos de ecrã de computador que, na realidade, são ainda mais lindas.

Guardo na memória a magia e a misticidade do locar mais bonito que conheci no início de maio deste ano: a Ilha de Moçambique. Posso falar do clima irregular, das chuvas grossas, persistentes e efémeras de maio que inundavam as principais ruas e ruelas da cidade. Posso falar nas crianças rotas e descalças que saúdam os turistas com risos sinceros e tentam vender as suas artes de modos honestos. Posso falar do sol que se abria depois da tempestade a nas incertezas das águas calmas do Índico. Posso falar dos corais de uma beleza indescritível... Mas não consigo descrever o sentimento que se apoderou de mim em cada rua, cada estrada, cada sitio recôndito que descobria. 

Cada canto mais lindo que o outro. Cada casa com história e com o legado da passagem dos portugueses por "mares nunca dantes navegados". Cada esperança descortinada pela passagem em mais uma rua desconhecida. E a felicidade de, em cada ilha que visitava, ficar a conhecer um pouco mais acerca da Pérola do Índico.





quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Raquel Loureiro, em Bonn: “Viver e trabalhar fora de Portugal é uma oportunidade”

Tem 28 anos, é jornalista e trabalha na Alemanha. Raquel Loureiro, natural de Pombal, decidiu aventurar-se numa experiência profissional internacional em Fevereiro do ano passado. Foi o programa de estágios internacionais, INOV Contacto, que ditou o futuro que se tem desenhado desde então em Bonn, Alemanha.


Com algum currículo em jornais e revistas nacionais, como o Correio da Manhã e a Ambitur, Raquel sempre sonhou com uma carreira internacional. Concorreu ao INOV Contacto e foi seleccionada para integrar a rádio internacional Deutsche Welle. “Trabalho na redacção Português para África da rádio internacional Deutsche Welle”, explica a jovem jornalista.

Sobre a experiência profissional na Alemanha, Raquel sente-se realizada, reconhecendo que esta é o culminar “das escolhas que fui fazendo ao longo deste percurso”. Em solo alemão foi “atrás de uma nova experiência profissional e que continua a ser, todos os dias, um desafio e uma realização pessoal”, admite.

Quando se fala em saudades, da Guia, no concelho de Pombal, sente falta dos amigos e da família, das festas, dos cafés, da tranquilidade do campo e da proximidade à praia. A jovem jornalista assume, ainda, que a gastronomia portuguesa “não é igual em nenhuma parte do mundo”. Apesar dos argumentos que a fazem querer voltar, não tem data prevista para o regresso. “A vontade existe e é grande, mas na «hora H» é difícil, diria quase «suicida», tomar a decisão de trocar o certo pelo incerto”, admite.

Na Alemanha gosta das condições de trabalho que lhe oferecem: “a mentalidade é, nesta vertente, muito diferente da portuguesa”, explica Raquel. Desta experiência internacional leva o conhecimento de outras culturas e línguas e a superação pessoal: “como tudo na vida, no início a coisa custa, porque caímos na tentação de estar sempre a comparar o "lá e o cá", o que acaba por não ser saudável. Mas, ultrapassada essa fase, a experiência é riquíssima”, destaca.

Raquel acredita que todas as pessoas deveriam sair da sua zona de conforto e de ter uma experiência de trabalho ou de estudo no estrangeiro. Na sua opinião, “ir trabalhar e viver para fora do país natal é uma oportunidade e não uma obrigação”. Considera-se não uma emigrante, mas sim uma viajante que vai e volta apesar de confessar que, a ter de escolher, regressa ao seu Portugal. AIM

O melhor por lá...
“A localização central na Europa  - que me permite viajar - e o poder deslocar-me diariamente de bicicleta para qualquer lado”, diz a jovem jornalista.

O pior por lá...
Para Raquel, “o frio e neve no inverno e a comida, demasiado condimentada” são os “senãos” na Alemanha.


O mais surpreendente por lá…
“O cumprimento, à risca, de tudo o que são regras e o respeito que [os nacionais] têm pelo meio ambiente”, considera Raquel.

Bonn
Alemanha

Fundação 3 de outubro de 1990
Habitantes 82,67 milhões (censos de 2016)
Salário mínimo:1.498,00 EUR por mês
Curiosidades
Bonn é uma cidade na Alemanha ocidental que se estende ao longo do rio Reno. É conhecida pela Beethoven-Haus, numa localização central, um memorial e museu que honra o local do nascimento do compositor. Nas proximidades, encontra-se a Catedral de Bonn, uma igreja com um claustro românico e elementos góticos, a Altes Rathaus e o Palácio Poppelsdorf, que alberga um museu mineralógico. A sul, encontra-se a Haus der Geschichte, com exposições históricas do pós-Segunda Guerra Mundial.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Fragas de S. Simão: uma praia fluvial de beleza ímpar a visitar


Este verão ainda não tinha ido a nenhuma praia fluvial. Com Setembro a começar e o "bom tempo" (não tarda) a terminar decidi aventurar-me num sítio magnífico. 
O destino foi as Fragas de S. Simão. Bem acompanhada e com o lanche na mala, de mochila às costas percorri, assim que cheguei, a Aldeia do Casal de São Simão a pé. Um percurso rochoso, feito de altos e baixos, de cerca de 20 minutos a pé que não dispensa a utilização de calçado e roupa confortáveis.
De seguida e com o calor abafado que se fazia sentir, claro que não dispensei um banho nas águas límpidas, cristalinas e geladas da ribeira de Alge. Foi a muito custo que lá consegui desfrutar de um banho bem refrescante que me gelou os ossos. As águas fluviais são, sem dúvida, muito mais frias do que as marítimas.
Ricas em loureiros e sobreiros, que proporcionam ao ar uma fragrância reconfortante, as Fragas convidam a dar um saltinho à serra da Lousã e a espreitar a beleza do miradouro que nos deixa usufruir dos verde incomparáveis e puros da vegetação e de uma paisagem deslumbrante.
Além dos banhos e dos passeios é, ainda, possível praticar desportos radicais como rapple, slide e escalada. As pedras mais “pequenas” são usadas como solário ou prancha de mergulho.
Passei, também, pelo Poço da Corga, cuja paisagem não achei tão visualmente atractiva, mas que me proporcionou uma bela soneca na relva junto à água. Um pormenor importante que não referi em cima: as Fragas de S. Simão não têm relva... apenas pedritas ou pedregulhos para sentar. O desafio é encontrar um local confortável onde se possa colocar as coisas quando se mergulha, passeia, usufrui da paisagem ou simplesmente se quer descansar!

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Tiago Silva, em Maputo: “Quero ter o mundo como minha casa”

Foi Moçambique que me escolheu a mim”, começa por contar Tiago Silva que, há um ano e meio reside em Moçambique, onde trabalha como engenheiro civil. Oriundo de Fátima e com 26 anos de idade, Tiago admite que, com a experiência profissional internacional proporcionada pelo programa de estágios internacionais - INOV Contacto, cada vez vê mais o mundo como uma casa.

Quando pisou solo moçambicano em fevereiro do ano passado, o engenheiro civil admite que sentiu “familiaridade” não tendo ficado surpreendido nem desiludido com o país de acolhimento. Sentiu-se acolhido assim que conheceu o povo moçambicano. No entanto, admite que “a única coisa para a qual não estava preparado foi a «lata» e falta de vergonha deles, são muito evasivos”.

Neste momento Tiago é o responsável pela construção das novas agências do Banco Comercial de Investimentos. Já percorreu meio Moçambique, em trabalho, passando por áreas recônditas no interior do país. Não se arrepende do caminho que tem percorrido mas reconhece que a imprevisibilidade é uma constante no seu dia-a-dia.

A vida de Tiago não se resume a casa-trabalho-trabalho-casa. Aos fins-de-semana aproveita para conhecer o país e viajar com os amigos. Divide casa com colegas que participaram no mesmo programa e não dispensa um cafézinho numa esplanada de vez em quando.

De Fátima, terra que o viu nascer, sente saudades da família e dos amigos, do cheiro dos eucaliptos, de descer vales de bicicleta e da comida do restaurante “Tonsai”. Com Portugal no coração e sem saber para onde vai a seguir, Tiago acredita que todos os seus planos passam pelo mesmo: “liberdade, quero ser livre, ter a minha fonte de rendimentos, não depender de ninguém, ter o mundo como minha casa e nunca perder as raízes que tenho em Fátima”, afirma.

Desta experiência profissional internacional, Tiago fica com uma outra percepção da realidade. “É engraçado ver como as realidades moldam as pessoas; o «Xico» que nasceu e nunca saiu de Fátima tem uma percepção totalmente distinta da vida do "Zé", que nunca saiu de Maputo”, exemplifica. Admite que o mais engraçado é que “apesar de todas as diferenças que possamos ter face às distintas realidades, somos todos muito semelhantes e temos as mesmas necessidades”.

Aos candidatos a emigrantes aconselha a terem força, já que viver e trabalhar no estrangeiro “é só para campeões”. Sem saber o que lhe reserva o futuro, Tiago vai continuar a desbravar terrenos desconhecidos e a ter como lema a palavra “liberdade”, em qualquer escolha que faça no futuro. AIM

O melhor por lá...Para Tiago, o melhor da Pérola do Índico é a liberdade que o país lhe proporciona.
O pior por lá... As estradas de terra batida e com enormes crateras são o aspeto menos positivo para o engenheiro civil.
O mais surpreendente por lá...“A criatividade das pessoas” é aquilo que Tiago mais aprecia nos moçambicanos.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Bodo dos (re)encontros!

Chega ao fim a altura do ano mais esperada por todos os pombalenses, principalmente dos que estão lá fora e provam, todos os dias, o sabor da saudade: o mítico Bodo 2018. Julho, mês de encontros, trás no seu fim todos os anos as Festas do Bodo de Pombal. Durante seis dias há encontros, reencontros, amigos, música, guloseimas, carroceis, artistas e muito boa disposição.

Um bom pombalense que se preze sabe o significado que estas festas têm para a sua cidade. Mais ainda quando as circunstâncias da vida o obrigam a abandonar o conforto do seu lar em busca de melhores oportunidades (de emprego e de vida) no estrangeiro. Mas não é por isso que deixa de ser pombalense, bem pelo contrário: o sentimento de não se pertencer a lado nenhum adensa a vontade de ser parte do seu povo, da terra que o viu nascer.

Bodo dos encontros, dos reencontros, dos abraços, das visitas inesperadas e dos amigos que vivem lá longe, mesmo "migrados" dentro do próprio país, que os estudos levaram para as cidades metropolitanas ou outras que tais. Bodo dos afetos, dos namoricos, dos amores improváveis. Bodo das bebedeiras, das inconsciências, das acções irreflectidas. Bodo de tudo isto e de tudo o resto que o compõe.

Mas, afinal, se perguntarmos a qualquer jovem ou menos jovem que se passeie por esta altura nas ruas da cidade, sobre as origens desta festa, será que sabe responder corretamente? Depois de uma pequena pesquisa acerca das tradições remotas desta festa centenária, descobri alguns factos interessantes.

Conta a lenda que as origens das Festas do Bodo remontam a uma praga que atingiu os pombalenses e a uma mítica D. Maria Fogaça, pessoa muito devota que deu origem à festa secular. 

De acordo com a investigação do historiador pombalense Nelson Pedrosa, "uma praga de gafanhotos e lagartas afligiu os pombalenses, invadindo ousadamente as suas habitações, contaminando os alimentos, e até caindo em nuvem dentro dos vasos onde as mulheres levavam a água, obrigando ao uso de um pano para a coar. Esta vexação era tão insuportável que obrigou o povo a ir à Igreja de S. Pedro, então Matriz da Vila, e aí principiarem uma procissão de preces, que acabou na Capela de Nª Srª de Jerusalém. Realizou-se missa cantada, prometendo-se uma festa, se esta os livrasse de tão grande calamidade".

Conta a lenda que "a Senhora de Jerusalém rápido atendeu os rogos e súplicas do povo aflito, porque na manhã seguinte já o terrível inimigo tinha evacuado os campos e as searas. Reconhecido o milagre, celebrou-se nova missa solene em acção de graças pelos benefícios recebidos, ajustando-se desde logo as festas para o ano vindouro".

No ano que se seguiu à calamidade, "D. Maria Fogaça decide tomar por sua conta o total dispêndio da festa religiosa, tal foi o empenho que houve canas, escaramuças, touros, fogos e danças. Nessa festa, foram oferecidos ao pároco da vila, dois grandes bolos, que saindo de extraordinária grandeza, ao serem deitados no forno, um ficou mal colocado. Um criado da casa, invocando o nome da Srª de Jerusalém, atreveu-se a entrar rapidamente no forno, consertou-o e saiu ileso. Tal facto correu logo todo o povo, como um novo milagre, e deu origem à festa do Bodo. A partir de então, a festa passou a fazer-se com temerária devoção ao bolo, ao qual a população deu o nome “fogaça”.
Foi então que "as festas que tinham inicialmente lugar nos finais de Junho, passaram a realizar-se no último fim de semana de Julho, visto estar mais de acordo com o calendário das colheitas. Contudo, nas quatro semanas anteriores, continuaram-se a promover cerimónias em honra da Senhora. Para tal, no último dia das festas, a Câmara nomeava quatro mordomos, cada um de casais diferentes, que se encarregavam de fazer a festa, um deles vinha na primeira sexta-feira, procurar a bandeira de Nossa Senhora do Cardal que levava para o seu casal".

As pesquisas indicam que "na manhã de sábado e domingo depois dos banqueteados, mordomos e convidados vinham para a vila a cavalo (cavalhadas), trazendo à frente um rapaz vestido de anjo, percorriam as ruas e davam voltas à igreja, onde o anjo recitava as loas (versos referentes aos milagres), por fim iam assistir às vésperas cantadas pelo pároco na ermida do Cardal. Os restantes mordomos nas semanas seguintes repetiam, até que na última semana tinha lugar a festa solene".

Para ficar a par de mais informações basta aceder ao site das Festas do Bodo.

domingo, 22 de julho de 2018

Carla Mota: “Desta experiência só tiro bons ensinamentos”

A ideia de emigrar para a Bélgica surgiu há cinco anos quando Carla Mota, pombalense de 34 anos, estava a ultrapassar momentos complicados na vida pessoal e profissional. Foi uma mensagem de telemóvel que enviou a um amigo emigrante nesse país que mudou a sua vida. Carla vive e trabalha desde 2013 em Lasne como “concierge”, onde presta apoio nas tarefas domésticas e é responsável pelas crianças de uma família belga.

Foi no verão de 2013 que, pela primeira vez, Carla pisou solo belga. Sem saber falar uma única palavra em francês decidiu apresentar a sua carta de demissão e, no dia 08 de setembro, rumou à Bélgica. Apesar de reconhecer que adora a “experiência que está a ser muito enriquecedora”, se pudesse voltar atrás, a pombalense não emigraria. “Nunca irei esquecer as lágrimas dos meus pais no dia da minha partida!”, admite destacando as dificuldades emocionais de se estar “num país estrangeiro sozinha”.

Carla vai voltar a Portugal no final deste mês. De Pombal sente saudades de tudo e, neste momento, quer encontrar trabalho a fim de ter “estabilidade profissional, estar ao lado da minha família e, mais tarde, poder constituir a própria família”, admite. Agora a prioridade é estar perto dos pais que estão reformados e que “precisam dos filhos ao seu lado”.

Da experiência na Bélgica retira apenas bons ensinamentos: “aprendi um idioma que não era o meu, adaptei-me a uma cultura que nada tem a ver com a portuguesa e conheci pessoas que adoro e que jamais iria encontrar se não tivesse emigrado”. Durante cinco anos sentiu-se integrada num país que tem muitas parecenças com Portugal, faltando só “a comidinha da mãe”.

Se pensava que a vida de emigrante era a mesma que faz no país natal, neste caso, Portugal, Carla aprendeu que “emigrar é ter uma vida dura de trabalho, muitas vezes de sol-a-sol, uma vida de sofrimento e de saudade que deixamos lá longe e não podemos abraçar constantemente e quando queremos”.

A um candidato a emigrante, Carla aconselha a poupar; “ganha-se algum dinheiro, sim, mas para poupar não podemos ir todos os dias beber o café com os amigos ou tomar o pequeno-almoço à pastelaria da esquina”. Por outro lado, é preciso ter consciência de que “psicologicamente e sentimentalmente é duro emigrar”, conclui. AIM

Lasne
Bélgica

Fundação 1830
Área
47. 22 km² 
Habitantes
14 043 (censos de 2008)

Curiosidades Lasne é um município de Walloon, na província belga de Brabant Wallon, o lado francês da Bélgica, a sudeste de Bruxelas. Lasne é o município mais rico de Walloon, medido pelo rendimento tributável médio dos habitantes. Esta localidade tem os impostos locais mais baixos de qualquer município da Bélgica.

O melhor por lá…

“A simpatia, a adaptação dos belgas a quem chega de novo, a abertura de mentalidades e a organização” são, para Carla, os pontos fortes dos belgas.

O pior por lá…

Para Carla, o mais desagradável no paísé o inverno, o facto de se fazer de noite muito cedo e a falta de sol”.

O mais surpreendente por lá…
A pombalense ficou surpreendida coma multiculturalidade e a capacidade de aceitação que o povo belga tem para acolher um estrangeiro”.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Daniela Matinho: “Não existe certo nem errado: existem perspetivas diferentes”

Com 26 anos de idade Daniela Martinho decidiu viver e trabalhar em Sidney (Austrália) em janeiro do ano passado. Formada em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lisboa e pós-graduada em Marketing Digital pela École Internationale de Management de Paris a jovem viajante está satisfeita com as suas escolhas apesar de nem sempre tudo correr como planeado.

Foi a Opera House, a praia, o surf, a economia do país e os amigos que fizeram a investigadora de mercado em Finanças e Tecnologia ponderar mudar-se para Austrália depois de sair de França. “A Austrália sempre foi um país que me despertou muita curiosidade”, conta.

Viajante incansável, Daniela é da opinião de que mais do que conhecer monumentos e locais, “viajar é abrir-se para o mundo e é deixar que o nosso coração e mente aceitem as diferenças de cada um”. O gosto pelas viagens começou cedo e foram os pais de Daniela que sempre a motivaram: “ têm uma grande abertura de espírito e sempre confiaram em mim e deixaram-me fazer o que queria”.

Na Austrália o caminho foi-se fazendo, “caminhando”. “Quando cheguei à Austrália enviei currículos para todo o lado. Fiz umas 20 entrevistas telefónicas e umas 10 entrevistas presenciais até conseguir este trabalho. E por agora, estou bastante contente”, admite. Está feliz com as suas escolhas, mas já sabe que depois da Austrália, gostava de se instalar a médio prazo num país mais próximo da Europa.

Dos países que visitou leva consigo as línguas que aprendeu, as diferentes formas de trabalhar, os amigos que fez e os lugares  que nunca pensou conhecer. De Portugal sente falta dos pastéis de nata, das noites quentes algarvias, da tradição das ruas de Lisboa, da família e de alguns amigos.

Apesar de não se considerar emigrante mas “uma viajante do mundo com experiência de trabalho e vida em países diferentes”, Daniela acredita que quem pensa ir viver e trabalhar no estrangeiro deve ter “espírito de aventura, estar preparado para fazer aquilo de que não gosta no início e estar psicologicamente «aberto» para absorver outra cultura” e, assim, chamar “casa” a um país que não é o seu.

Para acompanhar as viagens da Daniela pode segui-la no Instagram @danielamatinho ou ler os artigos no blogue: www.danielamatinho.com onde escreve sobre a Austrália e seu estilo de vida por lá.

O melhor na Austrália...
Para Daniela Martinho, o melhor da Austrália são “os salários, o clima e a boa disposição das pessoas”.
O pior na Austrália... 
“A Internet, os transportes, a falta de cultura e de tradição visto que é um país tão jovem” são, de acordo com Daniela, o “calcanhar de Aquiles” do país.  

O mais surpreendente na Austrália...
A jovem investigadora considera surpreendente o crescimento da economia do país “há mais de 26 anos sem parar”.


Sydney
Austrália
Fundação 1 de Janeiro de 1901
Área 12 145 km²
Habitantes 4 757 083
Curiosidades

Sydney é a capital do estado de Nova Gales do Sul e a cidade mais populosa de toda a Austrália e Oceânia. Está localizada na costa sudeste do país, ao longo do mar da Tasmânia e em torno de um dos maiores portos naturais do mundo. Os moradores são conhecidos localmente como sydneysiders e constituem a cidade mais multicultural da Austrália.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

“Think Conference” leva Marketing Digital e Empreendedorismo a debate

Leiria foi o epicentro do Marketing Digital, do Empreendedorismo e da Inovação no fim-de-semana passado, 29 e 30 de junho. O Teatro José Lúcio da Silva recebeu a segunda edição da Think Conference. O objetivo de reunir empreendedores e especialistas em Empreendedorismo, Marketing Digital, Redes Sociais e Startups foi cumprido, tendo assistido cerca de 700 pessoas a 25 palestras. 

Organizado pela agência de marketing digital, GetDigital, o evento começou na sexta-feira de manhã, 29 de junho com um desafio aos participantes: fazer uma apresentação de três minutos sobre si mesmo ao colega do lado. Com isto, Sebastião Lancastre, presidente da fintech e instituição de pagamentos easypay quis relembrar que qualquer negócio começa com uma boa rede de contactos.

A manhã prosseguiu com as palestras de Tiago Nogueira, coordenador de Media Social na Salvador Caetano e Miguel Fontes, diretor executivo da Startup Lisboa que frisaram a importância do papel dos influenciadores digitais no sucesso de um produto ou serviço, na importância de credibilizar e fidelizar os clientes, de gerir expectativas e da necessidade de empreender. “Ser empreendedor é um modo de vida”, destacou Miguel Fontes que falou na capacitação, no investimento e no papel dos players no mundo do empreendedorismo.
A internacionalização das empresas, o funcionamento e a importância do Marketing Digital e a necessidade de atualização permanente no mundo digital foram os tópicos abordados durante a tarde de sexta-feira. A Secretária de Estado da Indústria Ana Lehmann destacou a “importância da alteração da relação dos portugueses com o online, função que caberá aos profissionais de marketing digital e aos empreendedores”.

Prevenção e Proximidade
Marco Galinha, do Grupo Bel, Alcino Lavrador, da Altice Labs e João Moura, responsável pela página de Facebook da Polícia de Segurança Pública (PSP) falaram no impacto do marketing digital nas atividades das empresas e das instituições. João Moura, do gabinete de imprensa e relações públicas da PSP falou a importância das redes sociais e da criatividade na desconstrução da imagem e na construção da marca, com impactos positivos offline e tendo por base as prioridades estratégicas da PSP: prevenção e proximidade.
A tarde do primeiro dia da conferência terminou com as intervenções de Susana Coerver, da Parfois; João Silva, Rui Franco e Miguel Monteiro do Seeds Group; Pedro Arnaut do Sport Lisboa e Benfica (SLB) e Miguel Ferreira investidor no Shark Tank Portugal e Sócio da Swonkie, uma plataforma de gestão de Redes Sociais Portuguesa. Todos partilharam as suas experiências tendo em conta o impacto que as redes sociais têm na construção das marcas, os ingredientes para criar uma startup e aquilo que procura um investidor.

No fim das conferências seguiu-se um encontro informal de empreendedores no Mercado de Sant’Ana que, enquanto extensão do dia possibilitou a todos os participantes do evento, continuarem a realizar contactos, conhecerem-se melhor, realizarem negócios ou agendarem reuniões.

A manhã de sábado, 30 de Junho, foi dedicada ao e-commerce, isto é, o comércio-online. Paula Alves, da FNAC ressalvou que, nos pagamentos online, “toda a jornada deve ser pensada aos olhos do cliente e melhorada pelos olhos do cliente”, sendo que este se importa com a marca e não com a diversidade de canais. Por sua vez, Rafic Daud falou no facto de o e-commerce ser muito pouco rentável hoje em dia e ressalvou a importância de conhecer os clientes antes de vender os produtos. Pedro Maia da Taxify falou das “Lições aprendidas ao fazer crescer um marketplace de duas fases”, com a presença online e as recomendações boca-a-boca.
“Estratégias de Marketing Digital no Turismo”, “Reputação online: Qual o impacto e a influência junto dos consumidores?”, e “ebeauty: Como o digital está a disrruptivar a indústria da cosmética?” foram as conferências que se seguiram. Marco Gouveia do Grupo Hotel Pestana, Pedro Loureiro, fundador do Portal da Queixa e Mónica Serrano, diretora de Marketing da Lóreal foram os intervenientes.

Falhar para chegar ao sucesso
A tarde foi dedicada à inovação empresarial e ao empreendedorismo, ao Digital Branding e a como fazer escalar uma start-up. Miguel Martins, da Science 4you sublinhou que “O falhanço faz parte do sucesso” e falou na sua experiência com a criação da startup que balanceia educação e diversão. José Maria Rego, da Raize, destacou que “não ganha quem chega primeiro, mas sim quem se sente realizado e traz valor para o país”.

A tarde terminou com temas acerca de como evoluir um negócio tradicional e vender on-line, o futuro dos pagamentos digitais e o humor, redes sociais e marcas. Rui Francisco da Pepsi Co, frisou que o “melhor teste de mercado é ter vendas” e que o foco deve estar nos resultados para que uma empresa tenha sucesso. Quanto ao fim do dinheiro físico, “não há datas previstas” e os oradores acreditam que o dinheiro não irá deixar de existir por completo.
Como o tema “O Humor, Redes Sociais e Marcas”, Guilherme Duarte, mentor do blogue Por Falar Noutra Coisa fechou a conferência, no dia Mundial das Redes Sociais, com chave de ouro. Falou do humor como ferramenta de comunicação e é da opinião de que, quanto aos conteúdos, as “pessoas partilham porque concordam e não porque acham piada”.

Esta foi a 2ª edição da maior conferência de Marketing Digital e Empreendedorismo de Portugal, que aconteceu pela primeira vez em 2016, em Leiria, e vai ter a sua 3ª edição, em 2020, na mesma cidade.

Think Conference em Números


“Mais de 70% dos clientes que vai à loja antes foi ao site da FNAC”
Paula Alves, FNAC


“15% dos consumidores compra online”
Ana Lehmann, Secretária de Estado da Indústria


“17% dos sites em Portugal vendem em e-commerce”
Mónica Serrano, Loreal


“7 em cada 10 consumidores admitem deixar-se influenciar pela reputação online da marca na hora de comprar”.
Pedro Lourenço, Portal da Queixa


“85% dos consumidores confiam mais nos conteúdos partilhados por outros consumidores do que em conteúdos de marcas.”
Pedro Lourenço, Portal da Queixa


“A industria do transporte é 10 vezes maior que a de publicidade”.
Pedro Maia, Taxify

quinta-feira, 28 de junho de 2018

“Ignorem as experiências dos outros: assim o choque será maior e a experiência será melhor”

Aos 29 anos, idade máxima para participar no programa de estágios internacionais – INOV Contacto, Tânia Vieira Carreira está a residir e a trabalhar em Maputo há cerca pouco mais de  três meses. Natural do distrito de Leiria, freguesia de Santa Catarina, a jovem aproveita a oportunidade de, pela primeira vez, trabalhar numa Agência de Comunicação, a Ogilvy.

Já passou por França e pelo Reino Unido, mas quando soube que ia trabalhar num continente diferente do Europeu, Tânia não pôde sentir-se mais grata. “Do continente Africano, penso que Moçambique é um dos países mais seguros”, acredita.

Antes de fazer as malas para rumar ao desconhecido ouviu conselhos de quem passou por terras moçambicanas e está a aprender que “em Moçambique tem de se confiar, desconfiando”. Tânia é da opinião de que, além de ser preciso ter a mente aberta, é imperativo não criar demasiada intimidade com as pessoas com que se relaciona diariamente. Reconhece, contudo, que é amiga do seu txoupela (género de tuk-tuk português) Matias, que a transporta todos os dias para o trabalho.

Não é só em termos pessoais que Tânia Carreira, pós-graduada em Comunicação Estratégica na Universidade da Beira Interior, se sente satisfeita: “poder ter uma experiência numa agência de comunicação foi o melhor presente que o INOV Contacto me deu”, diz, acrescentando que neste momento está a fazer apresentações e estudos de mercado.

Depois do horário de trabalho sobram-lhe umas horas para se dedicar ao voluntariado. Tânia distribui sopas na rua, uma vez por semana, através da Plataforma Makobo, programa que conheceu ainda em Portugal. “A Sopa Solidária é a única experiência que me permite ver a realidade por detrás da cidade”, frisa com a esperança de um dia poder ensinar crianças.

Apesar de não saber o que lhe reserva o futuro, depois de seis meses de estágio na Ogilvy, Tânia não descarta a hipótese de ficar a trabalhar na empresa. “Se me convidassem ficaria muito contente porque seria uma maneira de enriquecer o meu currículo e de ter oportunidades em noutros países”, admite reconhecendo que “seis meses não é tempo suficiente para se ter uma experiência profissional”.

A futuros emigrantes aconselha-os a recolher o máximo de informação que seja útil para o dia-a-dia, bem como da papelada para entrar no país. “Ignorem as experiências dos outros: assim o choque será maior e a experiência será melhor”, conclui. 

O melhor por lá…
“As experiências com as pessoas, tanto com os moçambicanos, como com os colegas do INOV Contacto”, afirma Tânia que já lidou com diferentes camadas da sociedade moçambicana.

O pior por lá…
A insegurança. “Tenho de pensar duas vezes quando vou andar sozinha na rua”, diz Tânia, que sabe que não pode andar com a máquina fotográfica na mão na rua.

O mais surpreendente…
O moçambicano ser, simultaneamente, muito aberto e muito tímido. “Ao mesmo tempo que é fácil criar proximidade e empatia, o tom de voz dos moçambicanos é muito baixinho”, conclui a jovem leiriense.