quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O JOKER que há em cada um de nós

Não, esta não é mais uma crítica ao filme "Joker", de Todd Phillips, que está em exibição nos cinemas portugueses desde o início de outubro deste ano. Não é uma reflexão cinematográfica acerca do cenário, das luzes, dos sons e de todos os adereços usados. Nem tão pouco é um aplauso à interpretação (diga-se de passagem, excepcional!) do actor Joaquin Phoenix, que se despe de si mesmo para dar vida ao aspirante a comediante Arthur Fleck, o "Joker". Este não é só "mais um texto" acerca do conteúdo do filme. É a minha reflexão pessoal acerca da incompreensão da sociedade face às doenças mentais.

"O pior de se ter uma doença mental é o facto de a sociedade esperar que nos comportemos como se não a tivessemos" - esta foi, para mim, a mensagem essencial do thriller, com uma duração de cerca de duas horas. Arthur Fleck é um aspirante a comediante mas trabalha como palhaço de ruas nas sujas ruas de Gotham City (EUA), nos anos 80. Numa altura em que os trabalhadores do lixo fazem greve, em protesto por melhores condições salarais e lutam pela igualdade, "Joker" envolve-se em conflitos e assassinatos na cidade.

Mas, afinal, quem é este Joker? É uma pessoa comum, com um problema mental, que o faz rir à gargalhada em situações adversas. Aquilo que exterioriza não corresponde nem ao seu estado de espírito, nem à situação que está a presenciar. O primeiro exemplo é a repreensão de uma mãe, quando o vê fazer palhaçadas para o filho rir. O segundo exemplo é quando presencia uma situação de assédio entre dois homens e uma mulher. Em ambos os casos, Joker ri-se à gargalhada como se as situações tivessem "muita" piada.

Medicado pela psiquiatra dos serviços sociais da cidade, Arthur usa duas máscaras:  uma delas, pinta-a no seu dia-a-dia enquanto trabalha como palhaço, e a outra nunca a pode remover; é o disfarce numa tentativa frustrada de sentir que pertence ao mundo à sua volta, e não o homem incompreendido, cuja vida deita constantemente abaixo. 

Sem pai, Arthur tem uma mãe frágil, a sua melhor amiga, que o apelidou de Happy (Feliz), um nome que traz a Arthur um sorriso que esconde a mágoa que sente verdadeiramente. A mãe sempre lhe disse que o seu propósito era o de fazer os outros rir. Então e ele? Como se sente? Mesmo destruçado, onde vai buscar forças, energia e disposição para fazer os outros rir? Quem o faz rir a ele?

Adulto com uma infância marcada pela violência, pelo abuso e pela agressão, Arthur sente-se deslocado da sociedade a que pertence. Episódios como a intimidação por adolescentes nas ruas, insultos por “engravatados” no metro ou provocações pelos seus colegas palhaços no trabalho, agudizam esse sentimento.

Com a ânsia de se tornar bem-sucedido, tenta a sorte como comediante de stand-up, mas acaba por descobrir que a sua vida é uma piada. Preso numa existência cíclica que varia entre a apatia e a crueldade, uma má decisão acarreta uma reação de acontecimentos imprevisíveis neste estudo de personagem sombrio e alegórico. 

"Joker" é a gargalhada irónica de uma vida dramática, trágica, e que vai muito além do que está visto. Muito além do seu universo original, em que dá vida ao tal vilão da DC.
Pena? Empatia? Repulsa? Compaixão? - uma miscelânea de emoções me assaltou durante e no fim do filme, com o riso de Arthur, na minha cabeça, além do ecrã. Ninguém nasce "mau". Há razões muito mais profundas, que ninguém vê, que ninguém sabe, que nos fazem ser e agir como somos e agimos hoje. Antes de julgar, conheçamos as razões que contribuem para que cada um de nós seja o que é.

É por isto e por tudo o resto, que este é um filme "de pessoas sobre pessoas".

sábado, 19 de outubro de 2019

Lénia Simões, na Suiça: “Emigrar é expandir o nosso campo de oportunidades”

Natural do Carriço, concelho de Pombal e distrito de Leiria, Lénia Simões tem 35 anos e reside atualmente em Sion, Suiça. Foi em 2007, quando estava a terminar o curso de Anatomia Patológica, que decidiu emigrar. Na altura, Portugal não lhe oferecia oportunidades de trabalho na área de formação.


Com os pais a residir na Suiça, foi com oito anos de idade que lá esteve pela primeira vez, por isso não foi com surpresa que se deparou com uma nova realidade quando emigrou. “Quando estava a terminar o curso vi que em Genéve existia uma escola especifica de citologia, onde se formam pessoas de forma intensiva durante um ano, obtendo-se, assim, a experiência necessária para trabalhar em citologia, sem a formação continua no laboratório”, explica.

Lénia aproveitou o facto de os pais morarem perto de Genéve para mudar o rumo à sua vida: “inscrevi-me na escola de citologia e fui aceite. Durante essa formação tive a oportunidade de estagiar em Sion e, no final do estágio, propuseram-me um emprego. Tendo em conta a situação complicada em Portugal, aceitei e por cá fiquei”.

A residir atualmente em Sion, Lénia não se arrepende das escolhas que tem feito. “Morar noutro país faz com que vejamos outras culturas, e tenhamos outros horizontes”, acredita. No “inicio, quando vinha a Portugal, fazia escalas noutras cidades Europeias. É muito interessante”, destaca.

Da Suiça gosta da centralidade na Europa, da diversidade de atividades que o país oferece e das paisagens. “Moro a duas horas de Milão, Turim e a uma hora de Evian”, diz.  Com o mar a cerca de quatro horas de distância, aproveita as potencialidades da montanha “que oferece uma infinidade de opções, entre o ski, as caminhadas, curvas para andar de mota, entre outros”. As paisagens, essas, são maravilhosas: “em cada canto do país há um lago, e as paisagens são fantasticas. É como se vivesse num postal”, realça.

E de Leiria, do que sente saudades? As praias... é das praias que sente mais falta mas não só. Lénia também sente falta da “cidade em si e do estilo de vida que a acompanha. Adoro ir à praça Rodrigues Lobo beber um café à tarde ou um copo a noite. A gastronomia também deixa imensas saudades”, sublinha Lénia.

Por agora, Lénia não faz planos futuros; apesar de os pais terem regressado a Portugal e de a família estar toda por terras lusas, tem o coração na Suiça, pois, para além do trabalho, apaixonou-se por um suiço. Apesar disso, continua aberta a todas as oportunidades que a vida dá. "O meu namorado já disse que quando chegar a reforma, quer ir morar para Portugal”, conclui.

Sion, Suiça
Área: 25,58 km² 
População: 27 592 habitantes
Características: Sion é o centro económico e político de toda a região e é atravessada pelo rio Ródano.Possui dois castelos localizados em duas próximas uma das outras: La Valère e Tourbillon.Sion possui um património histórico e religioso datado desde os tempos medieviais até agora, como o Hotel de Ville e a Catedral da Nossa Senhora de Valére.

O melhor por lá...
Para Lénia, o melhor na Suiça é a diversidade.Na Suiça vivem pessoas de muitas nacionalidades diferentes, o que me permitiu conhecer várias culturas ao mesmo tempo”.

O pior por lá...
“O preconceito” é, de acordo com a citotécnica, o pior do país.

O mais surpreendente por lá...
“A relação com a natureza” é para Lénia o mais surpreendente no país.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Sandra Lee Carapinha, EUA: “Quero ajudar os emigrantes a manterem o Português vivo em suas casas”

Sandra Lee Carapinha nasceu nos Estados Unidos da América (EUA) mas, aos nove anos de idade, mudou-se com os pais para as Caldas da Rainha, distrito de Leiria. Aí residiu até 2011, altura em que a crise ditou que regressasse com o marido e com os dois filhos ao país que a viu nascer. Atualmente vive em Santa Mónica, Califórnia, EUA.

"Acima de tudo queríamos ter a experiência de viver num novo país”, destaca Sandra acerca dos motivos que a levaram a emigrar. Beneficiando da dupla nacionalidade portuguesa e americana, Sandra viu facilitada a sua decisão. Na altura os filhos tinham “um e cinco anos de idade”, pelo que “pareceu-nos a altura ideal para fazermos uma mudança de vida”, destaca.

Formada em Publicidade e Marketing, Sandra desenvolve atualmente o projeto Learn European Portuguese Online, uma plataforma de conteúdos focada no Português Europeu. Dá “aulas online e presencialmente” uma vez que, “há uma crescente procura na aprendizagem do Português Europeu, por isso, lancei o projecto na altura certa”.

O regresso a Portugal está, por agora, fora de questão e os planos de Sandra passam por “fazer crescer o projecto” além fronteiras. Focada em “ajudar os emigrantes a manterem a Língua Portuguesa viva em suas casas e dar a conhecer a língua de Camões, aproveitando a onda de popularidade de Portugal”, a empreendedora encontra motivos que a fazem continuar em Santa Mónica.

Das Caldas da Rainha sente saudades “dos amigos, da família, da comida e do estilo de vida”. Exemplifica, “o ir jantar fora tarde, beber um copo, estar com amigos na esplanada”. Isto porque nos EUA “tudo acontece muito cedo. Se, por um lado, é bom porque o dia começa cedinho e já tens muitas coisas para fazer, por outro já estás a pôr as crianças na cama às 20h30, uma coisa impensável em Portugal”.


Arrependida da mudança? Não. Sandra acredita que “mudar de país não é fácil, há grandes barreiras culturais diárias que nos fazem ver que nem tudo tem de ser feito como no nosso país de origem”. Acredita que a exposição cultural a que os filhos estão sujeitos no dia-a-dia é benéfica; “gosto que os meus filhos cresçam num meio onde são expostos a outras culturas, línguas e religiões e que respeitem a individualidade de cada um”, sublinha Sandra.

A um candidato a emigrante Sandra aconselha a tomar uma decisão informada. “Se a balança tombar para os prós, acho que deve tentar”, afirma. “Voltar a Portugal é sempre uma hipótese, por isso não custa tentar, especialmente se quer viver uma experiência de vida nova”, conclui.


Para ficar a conhecer o projeto basta aceder ao site www.learneuropeanportugueseonline.com.

Santa Mónica, California
EUA

Fundação: 3 de agosto de 1769
Área: 21,8 km²
População: 89 736 habitantes (censos em 2010)

Curiosidades:
Santa Mónica é uma cidade costeira localizada no estado norte-americano da Califórnia no oeste da região metropolitana da cidade de Los Angeles e é banhada pelo Oceano Pacífico. Foi incorporada em 30 de novembro de 1886. Por ter um clima agradável, Santa Mónica tornou-se destino turístico antes do século XX, mas foi a partir da década de 1980, com a revitalização de atrações turísticas, que a cidade se consolidou como pólo turístico e de oportunidades de emprego.

O melhor dos EUA
“A iniciativa, o fazer acontecer” é, para Sandra, o melhor do país onde reside.

O pior dos EUA
De acordo com a formadora, o “sistema de saúde” nos EUA não funciona da maneira mais eficaz.

O mais surpreendente dos EUA

“O voluntariado, o pôr as mãos à obra e não esperar que seja o Estado a resolver tudo” é, para Sandra, o mais surpreendente do país onde reside.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Memórias dos tempos de "Caloira"


Um de Outubro de 2019. Inicia o mês que precede o do começo das aulas, Setembro. E com os primeiros dias de Outono, chegam os estudantes, residentes ou descolados, às "cidades universitárias". De mais longe ou de mais perto, consigo trazem as recordações e as memórias de 18 (ou mais) anos de vida. São os "caloiros" do ano lectivo 2019/2020. E já lá vão quase 10 anos desde o dia em que era eu a "caloira" do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (ESCS).

Com saudade recordo aquele dia de meados de Setembro, em que me fui inscrever na ESCS. Nesse dia levantei-me bem cedo e rumei com o meu pai à capital. Seguidas as indicações do GPS, facilmente encontrámos a instituição de ensino superior na qual havia sido admitida. Dúvida, medo, receio, curiosidade, interesse, alegria... vários foram os sentimentos que me assaltaram logo nesse primeiro dia.

Afinal, mudar de cidade com 18 ou 19 anos, não é fácil nem é para todos. Aquela que viria a ser a Escola onde estudaria nos três anos seguintes, recebeu-me como se devem receber os alunos que a visitam pela primeira vez. Poucas recordações guardo do dia da inscrição propriamente dito. Contudo, foi o dia em que pisei Benfica pela primeira vez e em que conheci a ESCS. Mas nos próximos parágrafos conto-vos a minha experiência como aluna deslocada e as memórias boas que as "praxes" me deram.

A ideia de ir para Jornalismo surgiu do gosto pela leitura e pela escrita. Aliás, ir para a frente das câmaras nunca foi um objetivo (quem me conhece sabe como sou, por vezes, introvertida). Por ser a capital onde tudo acontece, assumi que estudar Jornalismo em Lisboa seria a hipótese mais viável e recomendada. Admito que com pouca gente falei aquando da escolha do curso e da cidade. De nada me arrependo e voltaria a fazer as mesmas escolhas, uma vez que estudar num Instituto Politécnico é tão ou mais enriquecedor do que frequentar a tal dita Universidade.

O primeiro dia "do resto da minha vida" foi logo por meados de Setembro. De uma pacata cidade do litoral centro de Portugal - Pombal - rumei à eclética e cosmopolita capital portuguesa - Lisboa. Os primeiros tempos não foram fáceis; além da exigência no ensino ter sido muito superior àquela com que alguma vez me tinha deparado, gerir emoções quando se está longe de tudo e de todos os que nos são queridos, revela-se um enorme desafio. 


Depois de escolher o curso e a cidade, tive de procurar o sítio onde viver; fiquei num quarto alugado na zona de Benfica (sim, na altura em que ainda era possível alugar um quarto em Lisboa por um preço "normal" e adequado). Os meus pais ajudaram-me a transportar a bagagem e não consigo descrever o aperto no coração na hora em que se foram embora. Quando olho para trás, revivo-o quase com a mesma intensidade com que  o vivi na altura. Agora estaria por minha conta e risco.

Lágrimas escorreram, pensamentos confusos ocorreram e ideias mirabulantes passaram-me pela cabeça. Tudo era novo e não tinha certezas de, absolutamente, nada. Estava sozinha, numa cidade diferente, com colegas de casa e de escola que nunca tinha visto na vida. Foi assim que iniciei a idade adulta.

Nunca esquecerei a primeira semana na ESCS. Apesar de não me lembrar de pormenores, sei que a cor do meu curso era amarela e que a minha madrinha era a Daniela Polónia. Adorei as anteriormente temidas "praxes". Sempre tinha ouvido dizer que em Lisboa havia "pouco espírito académico"... A ESCS fugiu à regra e tive uma excelente semana de integração. Desde a "aula fantásma" ao almoço do caloiro, das pinturas faciais num infantário aos percursos pela cidade, do baptismo ao jantar do caloiro, recordo com nostalgia cada minuto vivido nessa semana.

Confesso que não trajei nem que continuei a participar na vida paralela das "praxes", até porque me queria concentrar nos estudos e fazer valer aqueles tempos de sacrifício. Não me arrependo disso, e voltaria a agir da mesma forma. Tudo foi vivido da forma que acho que deveria tê-lo feito. Estou grata por ter passado bons tempos de faculdade e por ter conhecido pessoas sensacionais que trago no coração. Até aqueles professores mais "complicados" me ficaram marcados na memória para relembrar como devemos ser fortes, corajosos e resilientes para enfrentar as adversidades que vão surgindo por essa vida fora.

Da ESCS guardo com amor todas as experiências vividas, as boas e as mais desafiantes, pois todas elas contribuiram para fazerem de mim a pessoa que sou hoje. Obrigada por tudo, ESCS!

terça-feira, 23 de julho de 2019

O que a queda livre me ensinou sobre a superação...


Há sensivelmente uma semana fui desafiada a experimentar uma actividade nova. Nunca antes me tinha passado pela cabeça fazer queda livre nem pará-quedismo. Foi o ponto alto do Evento de Verão da empresa onde trabalho. E, claro, aceitei.

Foi a primeira vez que me atirei de 5 000 metros de altura. Uma loucura, pensarão os leitores deste texto. Mas foi um desafio muito positivo que me ensinou muito acerca da superação pessoal, do medo, e da coragem para o encarar de frente.

Já passava das dez da manhã quando vestia o equipamento para dar o dito salto para o nada. Aos poucos, estava a mentalizar-me para o que aí vinha... Mas nada fazia prever o que sentiria assim que olhasse das alturas para o solo distante. Fiz parte do primeiro grupo de sete corajosos que decidiram deixar o medo em terra. Queria despachar o assunto antes que a coragem me abandonasse. Depois de me terem ajudado a equipar, ainda em terra, fui apresentada ao meu "melhor amigo", o pará-quedista que guiaria o meu salto.

Não tive de esperar muito tempo até à hora de entrar no helicóptero. Foram 15 minutos de ansiedade até que voasse até aos tais 5 000 metros de altitude de onde iria saltar. Olhava para os meus colegas do lado e de trás. Tentava evitar que a ansiedade e o medo não se apoderassem de mim. Por isso, dizia que estava "tudo bem". Só que não. Por dentro, toda eu tremelicava de um novelo de emoção, curiosidade, medo e ansiedade. 

Depois de o equipamento estar bem apertado e de conferidas as medidas de segurança, chegou a hora de me aproximar da porta do helicóptero para saltar. Foi quando olhei lá para baixo, a instantes de dar o esperado salto, que o medo se apoderou de mim. Indescritível. Era esse o estado de espírito que me invadia a milésimos de segundo de saltar. Respirei fundo e atirei-me juntamente com o para-quedista que ia "colado a mim", claro.

Sem pensar muito e quase sem conseguir gritar, deixei-me ir numa velocidade estonteante de cerca de 200km/h. 200km/h no meu corpo. 200 km/h de adrenalina. 2000 kh/h de aventura. Uma verdadeira loucura. Durante um minuto, devo ter estado absolutamente pálida e transtornada. Mal consegui abrir os braços ou pousar para a fotografia! Este foi o tempo que durou a queda livre antes de abrir o pára-quedas. Um terrível minuto alucinante que me pareceu duas horas.

O alívio chegou quando o pára-quedas abriu. Aí senti uma sensação única de liberdade e de segurança. É caso para dizer que "depois da tempestade vem a bonança". Veio, sim, em forma de alívio. Assim que agarrei o pára-quedas senti a força da natureza em "modo" vento. Comprovei a minha fraca força de braços, mas tentei desfrutar ao máximo do momento.

Mal conseguia falar com o meu "melhor amigo" de queda. Durante os quatro minutos  que se seguiram, recuperei o fôlego que perdi num, e deixei que a adrenalina abandonasse o meu corpo aos poucos. Olhei para o céu e para a terra e apreciei a harmonia com que estes elementos se confundem no ar. 

Preparei o momento da aterragem mas, novo entrave. A escassa flexibilidade das pernas mal me permitiu cair sentada. Mas, com um pouco de esforço, lá caí como deveria ser. Apesar de me sentir algo enjoada, fiquei satisfeita por me ter superado. Vi o medo de frente e encarei-o de alma e coração abertos. 
Em vários momentos da vida já fui colocada à prova. Todos fomos. Este foi apenas mais um desses desafios. Quando soube o que era para fazer, não me passou pela cabeça não saltar. De forma alguma! Assim que vi o que me esperava naquele dia de verão em Évora, a minha primeira reacção foi aceitar. Se a vida é um risco, porque não  vivê-lo(a)?

Por isso fui e venci!

sexta-feira, 5 de julho de 2019

28 verões do 1º de julho

Recomeçar... Sempre no início de cada dia. Mas, o passado dia 1, foi diferente. Acordei com 28 anos (meu DEUS, já!?). Mais uma data para celebrar a vida com alegria e com felicidade, de coração cheio, junto dos que mais amo. 

28 anos de juventude e de gratidão. Para mim, o dia de aniversário foi sempre especial. Primeiro porque é o dia 1; dia de recomeçar e de abraçar a vida com forças renovadas. Depois porque é a mudança de mês e de semestre, altura em que revemos os objetivos traçados, em janeiro, para o novo ano e que nos leva a fazer uma necessária introspeção. Por fim, porque começa o VERÃO... Aliás, a minha estação preferida do ano começou no passado dia 21 de junho, mas é o início, sempre o início. 

Nesta altura da vida já fiz algumas coisas, mas não tantas quantas as que queria. Vi planos irem por "água abaixo", promessas não cumpridas destroçaram as minhas expectativas e alguns objetivos traçados não passaram de meras ilusões. Mas, porque "tudo o que não nos mata torna-nos mais fortes" e uma vez que é com os falhanços que crescemos, faço um balanço positivo destes 28 sorridentes anos.

Sorrio porque tenho saúde. Tenho uma família incrível e amigos (poucos mas bons!) do meu lado. Tenho trabalho. Tenho as minhas duas lindas cadelas arraçadas de podengo a darem-me as boas vindas sempre que vou até à terrinha. Tenho a minha casa. Aos poucos, estou a construír a minha independência. E sonhos... ah, desses tenho para dar e vender. Não fosse o nosso amigo António Gedeão reconhecer, na sua "Pedra Filosofal", que "O Sonho Comanda a Vida"!

Perdida... Distraída... Desnorteada. Estou assim muitas vezes e as questões existenciais fazem parte do meu dia-a-dia. Todos os dias procuro o foco e a motivação que vão alavancando a vida. Procuro fazer-me entender e dar sempre um pouco mais de mim. Tento compreender o que nem sempre é assim tão óbvio. Sempre ouvi dizer que "o essencial é invisível aos olhos". 

Tenho perfeita noção de que nem sempre dou tudo, mas não me crucifico por isso. Overthinking. Todos os dias luto para não ser. Ansiedade. Tento combater isso, mas nem sempre consigo. Tento não deixar-me corroer com pensamentos destrutivos e veicular as minhas energias para coisas boas.

E, agora, tenho 28 anos. Ainda posso lutar por ser mais feliz a cada dia que passa. Se ainda tenho idade para usar o Cartão Jovem, tenho motivos suficientes para manter o meu espírito jovial. Preciso de me concentrar em ser melhor a cada dia que passa e, só assim, conseguirei atingir o objetivo final de todo e cada ser humano, a FELICIDADE.

Será o objetivo ou o caminho, essa tal Felicidade?

quinta-feira, 2 de maio de 2019

(Re) começar!

(Re) começar pode ser ontem, hoje ou amanhã. Haja Força, Fé e Foco. (Re) começar requer vontade e determinação. Mais do que determinação o "é hoje. vou fazer" em vez de "deveria começar hoje. Não me apetece... Fica para amanhã!" - Está tudo errado nestas duas últimas exclamações. Está mal porque é hoje. E HOJE recomecei.

Eu aproveitei o dia 1 para aprender algo novo. O dia 1 é o dia do recomeço, novo mês, às vezes nova semana, mas sempre NOVO DIA! E é bom recomeçar a fazer algo diferente. E os ingredientes para recomeçar nem são assim tantos quanto isso: uma pitada de vontade, três colheres de determinação, e uma grande dose de AUTO-DISCIPLINA e de AUTO-DETERMINAÇÃO. Afinal, se eu não fizer, quem o fará por mim?

Interessa recomeçar, fazer algo por nós, algo que nos leve a querer saber mais sobre um assunto. Ou, quem sabe, praticar uma nova actividade física, aprender uma outra língua ou desenvolver talentos adormecidos, que se podem encontrar nas artes. Tudo conta para não cair na rotina de "casa-trabalho-trabalho-casa". Eu decidi iniciar um curso online de Marketing Digital.

Além de complementar os meus conhecimentos na área da Comunicação, considero importantíssimo alargar o meu leque de valências em sectores que, aparentemente, podem não me ser muito familiares. Gosto, quero e vou fazer hoje. O ideal é estabelecer horas diárias para dedicar a novas actividades. Devemos, portanto, reservar entre meia a uma hora a actividades que nos permitam desenvolver outras competências.

Agora estou a apostar no Marketing Digital. Mas podia apetecer-me ir ao ginásio ou fazer uma longa caminhada à beira mar. Ninguém me impediria de o fazer, mas preciso de estipular dias e horas específicas para não fugir às "responsabilidades informais". Assim nos auto-disciplinamos e nos permitimos a arejar as ideias!

Depois de decidir o que VOU FAZER, dedico uma hora por dia ao curso online... Como nem sempre uma hora chega, vou para a 1h30. Das 18h40 às 20h10 sei que tenho de estar focada em ver tutoriais e em responder a questionários como forma de consolidar conhecimentos. 

Descobri que uma caminhada do local de trabalho até casa pode ser benéfica para aliviar a tensão acumulada ao longo do dia. Então, pelo menos três vezes em cinco dias vou a pé, numa caminhada de cerca de 40 minutos, até casa. Pelas 18h50 estou em casa e, depois de petiscar algo, concentro-me no capítulo de Marketing que se segue. 

Manter um estilo de vida ativo e combater diariamente o sedentarismo e a estagnação mental é fundamental para preservar o nosso bem-estar global. Estar em paz com o nosso corpo e com a nossa mente ajuda-nos a estar de bem com os outros e em harmonia com o universo. Praticar o MINDFULLNESS é imperativo para evitar a ansiedade e o stress e  fundamental para reestabelecer as forças vitais!

Carpe Diem!

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Catarina Faustino, em Macau: “Tolerância é a palavra que melhor define a experiência extracontinental”



Já passou por São Tomé e Príncipe, Moçambique e agora está em Macau. Aos 41 anos, Catarina Faustino é professora de Inglês na Escola Portuguesa de Macau e professora de Português como Língua Estrangeira numa escola particular da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). 

Natural da Benedita, concelho de Alcobaça, a professora pensa ficar, pelo menos, mais quatro anos na “Las Vegas da Ásia”, altura em que a filha completará o 12º ano de escolaridade. “Todas as experiências que tive fora do país [Portugal] me enriqueceram enquanto ser humano bem como no campo profissional, mudando completamente a minha perspetiva da vida e da do outro”, destaca.

Viajante incansável e apaixonada pelo ensino, Catarina não tem medo de agarrar as oportunidades que lhe aparecem pelo caminho. Há cerca de um ano e meio “no espaço de 15 dias e com uma mala de 20 kg, deixei o país onde residia Moçambique, cidade de Maputo e abracei uma nova aventura, agora na China”, afirma.

Por agora, regressar a Portugal não faz parte dos planos de Catarina. “Depois de conseguirmos conter a saudade vamos abraçando novas experiências e novas vivências, isto é, o espírito emigrante “vai-se entranhando”. Mas o futuro ditará o próximo passo”, frisa a docente. 

As saudades existem; “do cheiro a terra, das caminhadas com paragem para apanhar figos nas árvores, no fundo o contato com a natureza”, afirma a professora que também recorda as “sonecas que dormia à lareira”. A distância da família e o desfasamento, no fuso-horário, de oito horas que dificulta a comunicação são outros aspetos que interferem na vida de Catarina.

A professora conta que a experiência da emigração está recheada de episódios caricatos, entre os quais, um que ocorreu num supermercado: “queria apenas comprar fruta, mas não conseguia ler o preço de nenhuma das frutas, nem saber se era o preço de uma unidade ou do quilo...”. Mas, como encara todos os obstáculos como desafios, Catarina encontrou estratégias para superar as dificuldades do dia-a-dia e, para si, o Inglês, a linguagem gestual e o Google tradutor são os seus maiores aliados.


E o que para si define a experiência da emigração? “Tolerância é a palavra que melhor define a experiência extracontinental. Refiro-me a questões culturais, religiosas e políticas”, diz. “Percebemos que não somos «donos da verdade» e respeitamos com naturalidade todos na sua diferença”, acrescenta. AIM

domingo, 10 de março de 2019

Igor Duarte Cardoso, Estados Unidos da América: “Quero criar impacto na tecnologia”

Natural de Pombal e com 28 anos de Idade, Igor D.C. reside na cidade de Hillsboro, nos Estados Unidos da América (EUA). Mestre em Engenharia de Computadores e Telemática e formado pela Universidade de Aveiro, o Engenheiro de Software encara a emigração como uma oportunidade pessoal e profissional muito enriquecedora.

Apesar de estar apenas há dois meses nos EUA, esta não é a primeira vez que Igor emigra; esteve nos últimos três anos a residir na República da Irlanda. “A oportunidade de criar impacto no ramo da tecnologia, as melhores perspectivas de carreira e a curiosidade cultural”, são os fatores que ditam a permanência do engenheiro, focado em tecnologias Cloud e de Telecomunicações, no país que o acolhe desde Novembro.

Quando se fala em saudades, “aqueles dias de verão português” e “os amigos e familiares mais próximos” são, de acordo com Igor, os principais motivos da nostalgia. No entanto, garante que não se arrepende das escolhas feitas: “não há forma de alterar o passado, por isso foco-me todos os dias no presente e no futuro”, reforça.

E do que mais gosta nos Estados Unidos? “Gosto da diversidade de personalidade nas pessoas”, frisa Igor que também preza a “abundância de serviços, negócios e oportunidades disponíveis à população, e ainda os impostos relativamente baixos”, diz.

Por agora, os planos de Igor passam por “
criar a nova geração D.C.” e “continuar a contribuir para a tecnologia da forma mais adequada a cada uma das fases do meu futuro”, sublinha. O ginásio, o jiu-jitsu, a leitura, os podcasts e as atividades que estejam a decorrer na cidade ocupam os tempos livres de Igor.

Das experiências internacionais, quer da Irlanda como dos EUA, e dos países e continentes que visitou, conclui que o mundo é grande. “Lidar com diferentes culturas e observar como coisas semelhantes podem funcionar de maneiras tão diferentes fez-me crescer no sentido de pensar e agir mais «fora da caixa» e ser capaz de remover os obstáculos mentais que se acumulam com um estagnante passar dos anos”, destaca Igor.

A um candidato a emigrante recomenda a informar-se devidamente acerca do país e da empresa onde vai trabalhar e, só depois de decidir, partir. “Se for evidente que a oportunidade apresentada é um positivo líquido, eu afirmo: «Que nem pense duas vezes!»”, aconselha o engenheiro.”Viajar e conhecer outras culturas são oportunidades únicas que não devem ser desperdiçadas ou adiadas por razões de comodismo”, conclui.

Questões de resposta rápida

O melhor por lá…
“A abundância de serviços, negócios e oportunidades disponíveis à população” são, para Igor, os pontos mais positivos dos Estados Unidos da América.

O pior por lá...
O engenheiro de Software acredita que o “alto custo da saúde” é um dos fatores menos positivos do país que o acolhe, bem como “o Inverno algo chuvoso de Oregon”.

O mais surpreendente por lá...
Igor admira-se com “o número de estabelecimentos dedicados aos mais diversos serviços para animais de estimação. Aqui, o Bóbi e o Tareco vivem para sempre felizes, aconteça o que acontecer!”.


Hillsboro

Estados Unidos da América


Fundação 4 de julho de 1776

Habitantes 328 863 150 (censos de 2018)

Curiosidades
Hillsboro é uma cidade localizada no estado norte-americano de Oregon, no Condado de Washington. Faz parte da zona metropolitana de Portland, a maior cidade de Oregon. É conhecida pelos seus parques, pontes e ciclovias, bem como por ser ecológica e pelas suas microcervejarias e cafetarias. O emblemático Washington Park engloba locais que vão do antigo jardim japonês ao Jardim Zoológico de Óregon e aos seus caminhos-de-ferro. A cidade conta com prósperos panoramas de arte, teatro e música.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Marisa Tavares, no Luxemburgo: “Emigrar é uma das formas mais cruéis de evolução como pessoa”


Marisa Tavares, natural da Ortigosa, distrito de Leiria, tem 34 anos de idade e reside desde 2011 numa vila luxemburguesa chamada Larochette. Com motivos suficientemente fortes para residir e trabalhar no Luxemburgo e com Portugal no coração, Marisa fala da vida, do trabalho e do negócio de um foodtruck que tem com o marido, Bruno Tavares.

Residia no distrito de Leiria quando, há sete anos, Marisa decidiu ir viver com o - na altura - namorado no Luxemburgo. A escassez de oportunidades profissionais em Portugal tornou mais que óbvia a escolha de Marisa, que atualmente trabalha num lar de pessoas idosas invisuais, em mudar-se para o Luxemburgo.

“A nossa casa é aqui, os miúdos - uma menina com seis e um menino com 12 anos - já estão integrados no sistema escolar luxemburguês e este é um país que lhes oferece muitas oportunidades no futuro”, destaca Marisa quando questionada sobre um eventual regresso a Portugal. “Num futuro próximo não existem planos para um retorno definitivo”, acrescenta.

Aos fins-de-semana Marisa e Bruno têm um pequeno negócio ligado à restauração. A ideia de criar o foodtruck “Saudade” nasceu em dezembro de 2017 mas só em julho do ano passado é que começou a ganhar forma. “Num país onde a comunidade portuguesa se faz denotar tão fortemente, não existia um foodtruck genuinamente português”, justifica Marisa sobre a lacuna existente no setor da restauração luxemburguês à qual dá resposta.

É aos fins-de-semana que Marisa e Bruno se dedicam ao negócio que está em clara expansão. Participam, com a sua “Roulotte da Saudade”, em eventos de renome no Luxemburgo e na Bélgica. É aí que, com a francesinha com batata doce, com a bifana com molho de mostarda e mel e com os tapas de Portugal matam a fome e a saudades dos petiscos lusos à comunidade emigrante portuguesa (e não só!).

O que mais adoro no Luxemburgo é, sem dúvida, o mundo de oportunidades que um país tão pequenino oferece, aqui, bem no centro da Europa”, destaca Marisa. “É possível tomar o pequeno-almoço na Bélgica, almoçar na Alemanha e jantar na França... tudo num só dia sem muito esforço ou correria!”, acrescenta.

Orgulhosa da nacionalidade portuguesa, Marisa frisa o facto de não haver comida como a nossa. “São sabores impossíveis de se encontrar onde quer que seja”, realça. Por outro lado, reconhece que “somos de uma riqueza cultural incalculável” mas que “tristemente só nos apercebemos quando saímos”.

E que ensinamentos traz a experiência internacional? “A experiência da emigração é das formas mais cruéis e brutais de evolução enquanto pessoa”, afirma Marisa Tavares. “A Saudade passa a ser o sentimento predominante. Passamos a sentir tudo de forma muito intensa”, continua. Acredita que deixamos de ser portugueses de Portugal para sermos portugueses do mundo: “quando chegamos a Portugal somos emigrantes e quando estamos no Luxemburgo, somos os portugueses”, conclui.

O melhor por lá…

“O melhor do Luxemburgo é o mundo de oportunidades que aqui se forma pela centralidade do país no espaço europeu”, diz Marisa.

O pior por lá…
Para Marisa, o pior do Luxemburgo é a neve: “não é o frio que atrapalha. É mesmo a mobilidade que se torna muito complicada. E não falo só de condução normal nas estradas...é com cada queda mesmo a pé!”

O mais surpreendente por lá…
“O mais surpreendente do Luxemburgo é a riqueza multicultural que existe”, acredita Marisa. “São tantas nacionalidades, tanta mistura de conhecimento, que penso ser mesmo esse o maior tesouro aqui perdido”, acrescenta. “E vá se lá entender, como é que os meus filhos aos seis anos já falam praticamente quatro línguas? Este país é mesmo uma caixinha de surpresas”, conclui.

Larochette

Luxemburgo

Fundação: 15 de março de 1815

Área: 15,40 km2

Habitantes: 2.141(sensos de 2013)


Curiosidades:  Larochette é uma comuna do Luxemburgo, pertence ao distrito de Luxemburgo e ao cantão de Mersch. Está situada no rio WhiteErnz . A cidade é dominada pelo Castelo Larochette que está parcialmente destruído.

Como plataforma cultural, a cidade do Luxemburgo é abundante em locais de expressão artística, como museus, teatros e salas de concerto. A oferta cultural que compõe o Luxemburgo é representativa dos habitantes da cidade: multilingue, multicultural, criativa e eclética.  A região central do país abriga cerca de 170 nacionalidades diferentes que escolheram morar na capital. A antiga cidade de Luxemburgo e sua fortaleza faz parte do Património Mundial da UNESCO.