Helena. Marta. Ana. Estes são os nomes das três protagonistas da triologia de filmes da SIC, "Na Porta ao Lado". Estes são os três rostos (ficcionados mas, ao mesmo tempo, tão reais) da violência doméstica que a SIC escolheu para dar visibilidade a este flagelo social. Estes são os nomes de três vítimas que tão bem retratam a violência de que são alvo as mulheres - e muitos homens, não os esqueçamos, mesmo que em número significativamente mais reduzido - NA PORTA AO LADO.
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Violência doméstica. Violência contra as mulheres. Violência contra as crianças. Violência contra os homens. Violência só e apenas. Temos de falar sobre isto. Temos de estar atentos ao que realmente se passa "na porta ao lado". Na nossa rua. Na nossa vizinhança. No nosso círculo de amigos. É preciso parar para refletir sobre isto. É preciso denunciar porque sim, "entre marido e mulher mete-se a colher"!
Em três telefilmes muito realistas, a SIC "toca na ferida" e retrata um crime hediondo que não pode ser ignorado - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Em particular a violência contra as mulheres. "Esperança", "Amor" e "Medo" são os nomes dos três episódios que arrepiam, de tão desconfortáveis que são. Cada um retrata um relacionamento diferente e tem em conta as suas particularidades, mas o objetivo é comum: sensibilizar para a denúncia. No final de cada filme pode ver-se, em números de um branco de esperança 116-006, o número para o qual se deve fazer uso e denunciar.
Estamos em pleno século XXI e são aterradores os números de violência doméstica em Portugal; basta abrir o site da APAV para perceber que as mulheres e as crianças são as principais vítimas deste crime que é público desde 1995. E o artigo 152º do Decreto-Lei n.º 48/95 do Código Penal prevê um enquadramento legal que regula as punições aplicáveis à prática deste crime.
Voltemos à trilogia perturbadora dos telefilmes da SIC. Custou-me especialmente assistir ao último da trilogia "O Medo". Neste, a vítima e protagonista "Ana", tia de uma menina cuja mãe tinha sido esfaqueada pelo marido (para mim um monstro, diga-se!), suportava todos os tipos de abusos psicológicos, emocionais e físicos. E certamente estão a perguntar-se, porquê? Porque é que ela não saia de casa? Porque é que as vítimas de violência doméstica não fogem, simplesmente?
Não é assim tão linear. Elas ficam por dependências. Ficam por medo. Ficam porque não têm outra opção. Ficam por apego emocional. Ficam porque pensam que eles vão mudar. Ficam porque acreditam que não são ninguém sem eles. Ficam porque acreditam que precisam deles. Ficam porque têm medo que eles as MATEM. É por isso que ficam e não vão embora. Vivem no ciclo vicioso de um relacionamento tóxico:
Fonte: Life is cool |
É aterrador pensar que isto acontece diariamente. Na sociedade machista em que, infelizmente vivemos, que maltrata as suas mulheres e os seus idosos e que protege os agressores, somos expectadores passivos deste "cancro social" que não deveria deixar ninguém indiferente. Somos o grito mudo que prefere consentir a agir. Somos os ouvidos surdos que preferem ignorar em vez de ajudar. E somos as mulheres ignorantes que, em vez de denunciarem os animais, desculpabilizam constantemente os comportamentos dos meninos, como se os homens fossem uns atrasados mentais.
Muitos são. Mas outros são NARCISISTAS, MANIPULADORES, SOCIOPATAS ou PSICOPATAS que deviam bem tratar quem tanto se dedica à relação. Revolta-me saber que a violência é socialmente aceite e está tão normalizada na nossa sociedade. Enquanto os agressores não forem expostos, denunciados e responsabilizados pelos seus atos, podemos dizer que algo muito errado se passa.
Chega de normalizar a violência. Chega de passar "paninhos quentes" na "cabeça dos meninos, que coitadinhos, não sabem o que fazem". Chega de responsabilizar as vítimas pela dor de que são alvo. Chega de as culpabilizar. Elas não são culpadas de NADA. Nada do que lhes acontece teve que ver com algum erro que tenham cometido. Não, elas não provocam. Não, elas não se "comportam mal". Não, elas não têm de aceitar tudo nem de se diminuírem para caber no mundo limitado dos monstros.
Elas têm voz. Elas têm uma opinião. Elas nem sempre concordam com tudo o que o companheiro diz. E se é companheiro, verdadeiro companheiro, ele devia aceitar e respeitar o ponto de vista dela, que não é nem tem de ser igual ao dele. Nada, nada, absolutamente NADA justifica a violência. Seja de que género for - psicológica, emocional, financeira, social, física e por aí fora.
Se não estás bem, muda-te. Vai-te embora. Deixa-a ir, mas não lhe batas!