Canta e encanta todos por onde
passa há quase 16 anos. Uns associavam-no a um coro de igreja convencional,
outros a um grupo ligado à religião ou à música popular. Mas o que o Coro Municipal
Marquês de Pombal tem vindo a mostrar ao longo dos anos é que isso são ideias
feitas. Dirigido há 13 anos pelo ex-coralista Vitor Gonçalves, em 2015, o grupo
promete ir além-fronteiras e continuar a apaixonar os corações daqueles que
ainda não o conhecem.
Ana Isabel Mendes (AIM): Que balanço faz do último ano de actuações?
Vitor Gonçalves (VG): Este foi um ano de vários
concertos para o Coro Municipal, no qual conseguimos atingir a meta de 20
concertos. Não menosprezando os vários locais onde actuámos, este ano fomos, no
dia 1 de Outubro, à Assembleia da República. Para nós foi um feito único, mas
várias oportunidades poderão surgir para fazer vários concertos do género,
acompanhados por orquestras, por bandas filarmónicas, por quintetos, por
sextetos, por grupos de metais, por solistas convidados… É uma pespectiva para
2015. Mas em relação ao ano passado foi um ano muito bom cheio de concertos,
não só para dar a conhecer o que é o amadorismo ao nível de coros, mas também
para mostrar aquilo que se faz em Pombal, na área do canto, que ainda não é considerada uma área cultural de excelência a nível Nacional. Para que não sejamos associados a um coro de igreja,
apostamos num repertório mais conhecido, mais actual. Temos temas da Dulce Pontes, do Luís Represas, dos Xutos & Pontapés, José Afonso, Fernando Lopes Graça, entre outros, bem como temas mais actuais, como os clássicos mais conhecidos: Abba, Ave Maria (Schuber, Giullio Caccini, Bach) óperas (Funiculi, Funicula; Granada, O fortuna), fados (Foi Deus, Rua do Capelão, Samaritana…) entre outros… Temos reportório para que quem nos ouve cantar
pense: «eu conheço isto». Daí a nossa luta e o meu trabalho de composição para
ter um reportório mais diversificado e diferenciado.
AIM: E que seja transversal a todas as idades…
VG: Sim, desde o mais pequeno ao
graúdo. Temos um tema The lion sleeps
tonight, que é de um filme mas o coro também o canta.
Por isso não fazemos qualquer diferença no reportório; seja quer para adulto
como para criança, temos um pouco de tudo ao fim e ao cabo.
AIM: Há quanto tempo existe o Coro Municipal Marquês de Pombal?
VG: O coro foi fundado em 1998. Fez a
sua primeira actuação, um ano depois, no dia do município, a 11 de Novembro de
1999. Na altura entrei como coralista, quando o Carreira Fernandes da Mata
Mourisca era o maestro e eu fui coralista do coro até 2002. Quando o maestro deixou o cargo à disposição, foi-me pedido pela direcção de então para “aguentar o barco” até se encontrar um novo Maestro, uma vez que era o único coralista com conhecimentos musicais e que já ia ajudando a realizar ensaios de naipe. Fui tirando cursos de formação de regência e técnica vocal e fui ficando até
aos dias de hoje. Como maestro já são 13 anos.
AIM: Com quantos elementos conta? Entre que faixas etárias estão?
VG: O coro municipal tem neste
momento 42 coralistas efectivos e 10 “aspirantes” a coralistas. Os últimos vão aos ensaios, estão
a adaptar-se com o objectivo de virem a integrar as actuações do coro, mais
tarde. Há elementos com idades compreendidas entre os 14 e os 81 anos de idade.
AIM: Como tem sido a receptividade por parte do público?
VG: Temos tido cada vez mais agora.
Apesar de dizermos que temos problemas de divulgação em casa, nos últimos anos
temos começado a ter cada vez mais público. Isto porque já tiraram a ideia de
que é um coro de igreja, já percebem o que é e já há pessoas que nos vão
acompanhar fora do conselho. Estamos aqui para trabalhar e a dar o máximo,
evoluindo, e os desafios vão sendo maiores ao nível de qualidade vocais e do
próprio reportório.
AIM: Que trabalho está por detrás das actuações? Com que frequência ensaiam?
VG: Podemos dizer que, por regra, há
dois ensaios por semana. Nas épocas de mais aperto devido aos concertos,
podemos falar em três ensaios. Há muitos ensaios chamados os “ensaios de
naipe”: ensaios esses que permitem realizar um trabalho mais específico por cada naipe e também obter resultados mais rapidamente, uma pouca
época do ano em que ensaio as cinco vozes (soprano, contralto, tenor, barítono e baixo) existindo por vezes subdivisão de vozes no naipe dos sopranos, contralto e tenores, que poderão por vezes significar seis, sete e oito vozes. Na sexta-feira junto todas as vozes, num ensaio geral. Isso é
durante três semanas. Há o trabalho individualizado e depois o trabalho de
grupo.
AIM: Este é um grupo aberto? Qualquer pessoa pode entrar?
VG: Pode, sem restrição nenhuma.
Qualquer pessoa dentro e fora do concelho pode integrar o coro. É um coro
aberto à população: já chegámos a ter aqui pessoas de Leiria ou da Bidoeira. É
abrangente.
AIM: Como, quando e porquê que surgiu a ideia de ser maestro do coro?
VG: Eu nunca pensei vir a ser maestro
de um coro. Nunca foi um dos meus objectivos. Agora foi uma sugestão de vamos
experimentar até conseguirmos arranjar um maestro para o coro. Como disse,
nesse mês e meses seguintes fui tirar cursos de regência coral e técnica vocal.
Comecei a aperceber-me que havia no coro dificuldades em termos de
aprendizagem, dificuldade em tirar vícios nas peças já ensaiadas pelo anterior Maestro. A partir desse momento optei por trazer reportório novo. Comecei a compor uma
peça na altura. Foi feito um grande trabalho ao nível de sensibilização, para
aprender. Tive o trabalho de fazer uma espécie de crivo dos coralistas. Vou colocando todos os anos peças
novas, mais difíceis de cantar, mas esse é um desafio.
AIM: Que planos têm para o futuro?
VG: Manter o nível e a qualidade musical que temos neste momento e aperfeiçoá-lo. Somos amadores, mas pretendemos ser sempre “profissionais” na nossa forma de estar. Estamos abertos a novas propostas, como por exemplo, continuar a fazer
concertos com bandas filarmónicas ou com orquestras, fazer concertos com
solistas convidados, com pianistas, ou sermos convidados para fazer concertos
de fados, cantados a quatro ou a seis vozes. É um desafio e uma hipótese que
poderá surgir um dia destes. Existem várias áreas que nós poderemos explorar.
Inclusivamente em 2010, a minha ideia foi a de fazer um concerto com várias
vertentes para mostrar ao público que um coro misto pode ter várias formas de interpretação musical, nomeadamente, cantar à capela, cantar acompanhados por um pianista, cantar fado acompanhados por guitarristas e por fim acompanhados por uma banda filarmónica interpretando temas como Funiculi, Funiculá; Coro dos Escravos, Panis Angelicus, Vangelis, Amigos Para Siempre. Fomos já também acompanhados pelo grupo de Gaita de Foles de Pedra Rija – Cantanhede, na interpretação do tema Amazing Grace. Mostrámos um pouco os vários tipos de reportório que o
coro pode fazer. É muito mais do que associado à religião ou à música popular.
E, a partir daí é andar para a frente, fazer muito, divulgar cá e fora, ir a
vários locais e a grandes palcos. Em Julho de 2014 fomos a Biscarrosse e ao
País Basco.
AIM: Tencionam cantar além-fronteiras este ano?
VG: Estamos a pensar nisso: em ir a
um festival internacional.