sexta-feira, 26 de agosto de 2022

'Isto Acaba Aqui'

Hoje acabei de ler o romance "Isto Acaba Aqui" da escritora norte-americana Colleen Hoover. Ao longo de 331 páginas encontrei encanto, sonho, alegria, felicidade, desilusão, violência (física, emocional e psicológica), dissonância cognitiva, confusão mental, esperança e, por fim, a quebra de um ciclo familiar tóxico.  

Resumidamente, este livro conta-nos a história de Lily, uma jovem de 25 anos e de Ryle, o cirurgião por quem se apaixona perdidamente. Ambos se conhecem num terraço de um edifício, local onde Lily se refugia para pensar após o falecimento do pai. A conversa entre ambos desenrola-se e trocam contactos. Passado pouco tempo começam a namorar e o pedido de casamento não tarda em tornar-se real. E, pouco tempo depois, após o início de uma história de amor aparentemente perfeita, chega a violência e uma gravidez não planeada.

Primeiro, a violência inicia subtilmente, com umas palavras menos simpáticas e um "empurrãzito aqui, outro acolá". Depois, de uma forma indisfarçavelmente atroz, a violência que se torna física, coloca a protagonista desta história no hospital. Escusado será dizer que os pedidos de desculpa sucedem-se após cada episódio violento. [Como é habitual na vida real].

Lily assistira, na infância, aos maus tratos que o pai dava à mãe. Presenciara as palavras insultuosas, os empurrões desproporcionados e a brutalidade dos murros inflingidos no seu corpo. Assistira à violência nas suas diversas formas e isso provocara-lhe uma dor interna imensa e uma revolta indescritível por a mãe, apesar de toda a violência que vivia, não se divorciar do pai. Não sair de casa e iniciar uma nova vida. Agora, era a Lily que se deparava com um marido abusivo e violento. [será que Lily dará a volta à sua vida?]

É uma história ficcionada que pode ser real. Pode ser a de qualquer um que lê estas linhas. De qualquer homem, de qualquer mulher. [Tristemente] É a história de homens reais, de mulheres reais. Infelizmente ninguém está imune a este flagelo social, que precisa de ser travado e denunciado.

Mais do que de sofrimento e de dor, esta é uma história de coragem e de superação. Não escolhemos a família em que nascemos e muitas vezes, reproduzimos, na vida adulta, padrões que nos são familiares e que trazemos gravados no nosso íntimo, desde a infância. Mesmo que digamos que "Não quero ser como a minha mãe", "Não vou tolerar os comportamentos que o meu pai tolerava", "O meu filho/a nunca passará tão mal como eu passei", só é possível quebrar padrões familiares tóxicos quando tomamos consciência de que estes existem, que nos prejudicam e que condicionam a nossa vida. 

Só depois de identificar as causas do mal-estar familiar e ir à raíz do mesmo, procurando conhecer, por exemplo, a história dos nossos antepassados, é que se torna possível desconstruir e libertarmo-nos de problemas geracionais. Não basta falar ou mentalizar o que queremos/o que não queremos. É preciso atuar na origem do problema, perceber, aceitar e curar para não voltar a repeti-lo.

Falo de ciclos familiares tóxicos que se perpetuam ao longo de gerações. São pedaços de sofrimento insconscientes que se repetem de formas muito parecidas e incessantes até que um membro da família os descontrua e lhes coloque um ponto final. Normalmente esse membro é "a ovelha negra" que não segue o "modus operanti" instituído na sua família. Diz o que pensa e denuncia o que não está bem. É o que normalmente está "do contra" e tem uma forma muito peculiar de ver a vida, muito diferente da dos outros membros da família. Não aceita "verdades absolutas" e questona tudo.

'Isto Acaba Aqui' mostra-nos que é possível desconstruir ciclos familiares tóxicos e viver feliz. Os ciclos existem porque é extremamente doloroso quebrá-los . É necessária uma quantidade astronómica de dor e de coragem para quebrar um padrão que nos é familiar. Por vezes, parece mais fácil continuar a funcionar de acordo com os mesmos ciclos que já são familiares ao invés de enfrentar o medo de dar o salto e de possivelmente não aterrar de pé. 

Mas qual será o melhor caminho? Aceitar a dor e o sofrimento "porque a minhã mãe/o meu pai até passaram por pior" e acomodarmo-nos à infelicidade ou colocar um ponto final e ser realmente feliz? - o caminho mais saudável nem sempre é o mais fácil, mas é o que certamente nos libertará das amarras do passado. Quebremos um ciclo opressor e não sejamos o próximo elemento da família a perpetuar uma história infeliz. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Ter Razão ou Estar em Paz?

Eu escolho estar em Paz. Assim começo e assim terminarei este post. Estar em Paz para mim é muito mais importante do que ter Razão. E porquê? Porque a paz é insubstítível e ter razão é subjetivo. Escolho e escolherei ficaz em paz. O outro que com ele leve a razão, se assim se sente melhor, se isso lhe faz bem. Prefiro a Paz e a Saúde Mental para que a vida flua a meu favor. 

A paz em forma de pôr-do-sol

Escolho a Paz porque de guerra está o mundo cheio. Se não partir de nós, de cada um individualmente, como podemos pensar em ter paz no coletivo? Se o mundo interior de cada um se encontra num caos, como pensamos nós que vai ser possível ter paz no mundo experior, no plural? Estou certa de que se cada um fizer a sua parte e cuidar do seu interior, juntos, será possível termos paz coletivamente. 

A razão é subjetiva e depende sempre de uma perspetiva de colocar as coisas bem como da pessoa que as avalia. E, muitas vezes, os nossos julgamentos constroem-se como base nas nossas experiências de vida, na nossa moralidade, nas nossas convicções. O grau de subjstividade da "Razão" aí acentua-se mais. Se nem sempre as Ciências Exatas têm "Razão", tendo por base as suas teorias e as suas demonstrações matemáticas, como terá apenas um indivíduo por si mesmo?

Acredito que ninguém é dono da Razão. Nem da Verdade Dogmática. Porque dogmas só existem na Filosofia. (E será que existem mesmo?...) . Cada um, dono de si, é dono da sua Verdade, da sua Razão que, por sua vez, pode ser questionada por outro. A Razão, por si só, nua, crua e infundamentada, não existe. Existe mais do que uma razão, mais uma vez, baseada no indivíduo que avalia, de acordo com as suas crenças, valores, moralidade e prespetivas de ver a vida. E a minha forma de avaliar a vida pode ser diferente da tua. E está tudo bem.

Mais uma vez prefiro estar em Paz a ter Razão. Ambas são subjectivas, ambas têm razão à sua maneira. Mas para quê ter Razão se depois vou ficar mal como o outro? Em guerra comigo mesmo(a)? De mal como a vida? De que é que isso vale?

Prefiro a Paz à Razão. A Paz liberta, dá saúde mental, proporciona bem estar consigo mesmo e com os outros. A Paz é livre e independente, sonhadora e consistente. Proporciona tudo aquilo que a Razão nem sempre permite. A Paz deve ser alimentada e crescer a cada dia que passa, para que o bem floresça, primeiro no interior de cada um, depois na comunidade como um todo.

Eu escolho estar em Paz. Sempre.