sexta-feira, 27 de abril de 2018

Alunos do 9º ano da EPM-CELP sairam das salas para sensibilizarem para valores de Abril

O dia 26 de Abril de 2018 começou agitado na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP). Motivo: a celebração do dia da Revolução dos Cravos, 25 de Abril de 1974. Logo pela manhã, alunos das turmas do 9º ano e professores das respectivas turmas envolveram-se em “manifestações pacíficas” e mobilizaram, com “efeito dominó”, outros elementos da comunidade educativa. À tarde, o auditório Carlos Paredes encheu-se para receber o historiador João Paulo Borges Coelho que conduziu a palestra “Moçambique e o 25 de Abril”, tendo o dia terminado com uma nova manifestação.


“Paz, pão, saúde, educação!”, “o povo unido jamais será vencido!” e “liberdade!” foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos alunos das turmas do 9º ano de escolaridade da EPM-CELP, que protagonizaram uma “manifestação”, na passada quinta-feira, 26 de Abril.

Pela primeira vez e no âmbito das comemorações do dia 25 de Abril de 1974 realizou-se uma “manifestação” pacífica na EPM-CELP. A ideia surgiu numa reunião do Grupo Disciplinar de História e pretendeu-se que fosse uma actividade de curta duração, que tivesse algum impacto na escola e não prejudicasse o normal decorrer das aulas, numa altura em que a época de exames se aproxima.

De altifalante em punho, os alunos percorreram os diferentes espaços interiores e exteriores da EPM-CELP tendo mobilizado alunos de outras salas que, curiosos com o movimento e o som que ouviram, se juntaram à “manifestação”.

No que se refere ao conceito de “liberdade”, as opiniões dos alunos são mais ou menos consensuais.

Melissa Simões, do “9ºB”, falou acerca do significado do dia 25 de Abril de 1974: “o 25 de Abril significa o fim da ditadura salazarista e tem um significado muito importante para os portugueses e para os moçambicanos. É uma data que deveria ser comemorada para sempre.” Kyara Rocha, da mesma turma, destacou que “a liberdade é podermos pensar por nós próprios sem sermos julgados”, embora tenha a consciência de que não existe liberdade plena no mundo. Miguel Infante do “9ºD” afirmou que, para si, a liberdade é “ter capacidade para exprimir aquilo que queremos e não ter ninguém a impedir de fazê-lo”, reconhecendo que a liberdade existe em “muitos poucos sítios do mundo”.

Quanto ao impacto da manifestação, que teve lugar no intervalo da manhã, tendo sido protagonizada pelos alunos do “9ºA” e “9ºE” e, da parte da tarde, pelos alunos do “9ºB” e “9ºD” superou as expectativas das professoras envolvidas nesta acção. Cristina Viana, coordenadora do departamento curricular de Ciências Sociais e Humanas, destacou que “inicialmente a iniciativa envolvia duas turmas do 9º ano e acabou por arrastar, tal como no 25 de Abril, uma multidão de alunos e professores que se juntaram à «manifestação»”.

“No percurso dos corredores, o barulho foi tal com o megafone e as palavras de ordem, que os alunos e os professores curiosos juntaram-se, provocados pelos outros e pelo entusiasmo”, destacou Inês George, coordenadora do departamento curricular de expressões que, além de também ter participado na «manifestação», também mobilizou e incentivou os alunos para a decoração do átrio central e das faixas, onde se pôde ler “25 DE ABRIL, SEMPRE” e “VIVA A LIBERDADE!” que usaram para se manifestarem. 
A preparação da manifestação foi realizada por professoras e alunos, alguns dos quais não conheciam nenhuma palavra de ordem nem o espírito da manifestação da Revolução dos Cravos. Os objectivos de mostrar aos alunos um pouco do que foi o espírito do 25 de Abril de 1974, consciencializá-los acerca da política e da história de Portugal e “viver e sentir o que é uma manifestação” foram cumpridos.

“Moçambique e o 25 de Abril” levou alunos a refletir acerca da Revolução de 25 Abril de 1974

“Moçambique e o 25 de Abril” foi o tema da palestra que teve lugar no Auditório Carlos Paredes, pelas 15 horas, de quinta-feira, 26 de Abril. Liderada pelo historiador João Paulo Constantino Borges Coelho, durante a palestra falou-se no impacto do 25 de Abril de 1974 em Portugal em Moçambique e noutras ex-colónias portuguesas.
Destinada aos alunos dos 9º e 12º anos das áreas de Economia e de Humanidades, durante a partilha de ideias, o público reflectiu sobre a Revolução dos Cravos e a sua implicação nas ex-colónias portuguesas.
A palestra iniciou com a declamação de um poema alusivo ao 25 de Abril pelo aluno Manuel Nhaca, do 10º ano, acompanhado pelo som leve do piano. Ficou a frase: “um indivíduo verdadeiramente livre, vive em tranquilidade e paz”.
Seguiu-se a apresentação do historiador palestrante, pela professora de história Luísa Antunes, que leu uma pequena nota biográfica de João Paulo Constantino Borges Coelho, tendo destacado que este obteve a licenciatura em História na Universidade Eduardo Mondlane e tem-se dedicado investigações na área da guerra colonial.
O historiador começou por salientar alguns laços entre o 25 de Abril e Moçambique, reflectindo acerca da revolução sob um prisma diferente do convencional. “A revolução do 25 de Abril extravasou as fronteiras físicas em Portugal, tendo transformado os destinos das ex-colónias”, começou por explicar João Paulo Constantino Borges Coelho.
Os conceitos de “africanização da guerra”, com o recrutamento de africanos para participar na guerra do lado de Portugal, e a falta de recursos de Portugal para alimentar a guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique foram assuntos que estiveram em cima da mesa durante cerca de meia hora. “Portugal era precionado a descolonizar como o eram os outros países da Europa”, frisou destacando ainda que já “não havia mais recursos para alimentar a guerra” no início dos anos 70.
No fim, houve tempo para as intervenções e os comentários do público. A professora Sónia Pereira não quis deixar passar em branco a “mudança que proporcionou a todos a possibilidade de aprender, sem discriminação”. O historiador complementou este raciocínio lembrando que “a liberdade não é um dado adquirido, custa muito a conquistar e está em causa todos os dias”.
O historiador partilhou, ainda, com o público as memórias do dia da revolução portuguesa, indicando que o Cais do Sodré (em Lisboa) estava repleto de militares. “Lembro-me do clima de festa e da ausência de aulas”, mencionou. Terminou a sua intervenção dizendo que “o mundo não tem direcção. A direcção é aquela que os povos criam. A Liberdade é uma coisa que deveria merecer a atenção de todos, todos os dias”.
No final da palestra, duas alunas encenaram um pequeno momento teatral alusivo aos direitos conquistados durante o 25 de Abril de 1974. Bermica Valna e Manuel Guimarães, alunos do 10ºA2 leram um poema sobre a revolução e os meninos do ensino especial, com a ajuda de outros alunos, cantaram a música “Somos Livres”, de Ermelinda Duarte.
As surpresas não se ficaram por aqui: os “alunos revolucionários” surpreenderam ainda, com uma manifestação, onde gritaram palavras de ordem como “Paz, pão, saúde, educação!”, “o povo unido jamais será vencido!” e “liberdade!”. 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Formadores aprendem novos métodos para ensinarem alunos moçambicanos

Dois formadores do projeto de educação, Kukula -“Crescer”, estiveram a fazer um estágio na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) de segunda-feira, 16, a quarta-feira, 18 de abril. O objetivo foi o de dotar os formadores Emídio Buque e Benedito Manuel de competências que lhes proporcionem incutir novos métodos de trabalho junto aos alunos da vila da Macia, localizada na província de Gaza.


Durante três dias, Emídio Buque e Benedito Manuel estiveram a trabalhar com os professores do 1º ano do primeiro ciclo do ensino básico da EPM-CELP. Com este trabalho pretendeu-se que os estagiários vissem e adquirissem novos métodos de trabalho para os aplicar nas quatro escolas onde lecionam desde 2014, na vila da Macia.

Emídio Buque, de 27 anos de idade, admitiu que esta “foi uma experiência muito diferente porque a forma de dar aulas na escola portuguesa é muito importante e ajuda as crianças em termos de leitura e escrita”, acrescentando que vai transmitir os conhecimentos adquiridos aos voluntários, aos professores e aos alunos com quem trabalha no dia-a-dia. Por sua vez, faz um balanço muito positivo da experiência e quem sabe, um dia, vai ser professor.

Benedito Manuel, 23 anos de idade, que se iniciou no Kukula, em 2015, quis agradecer a oportunidade de estar na EPM-CELP em formação. “Os professores trabalham muito no sentido de «obrigarem» os alunos respeitarem as regras de sala de aula”, destacou. Realçou, ainda, que “os métodos de ensino são muito diferentes do sistema de ensino moçambicano”, considerando que estes métodos podem ser aplicados na Macia.

O Kukula é um programa humanitário na área da Educação. É um dos projetos do Grupo de Ação Social do Porto (G.A.S. Porto), uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento vocacionada para a Ajuda e Desenvolvimento Humano, que tem como lema a máxima “Estamos Juntos”.

De acordo com as informações enviadas por Ana Sousa, em representação da G.A.S Porto, “o Centro de Educação e Desenvolvimento Infantil Kukula pretende complementar a educação escolar das crianças da Vila da Macia, com recurso a formadores locais para o apoio ao estudo”.

Em termos de resultados, o Kukula está presente em quatro escolas na Macia e está a motivar crianças que estão a aprender as bases para começarem a gostar de ir às aulas – português, matemática e ciências.

Mariana Rebelo, 26 anos, voluntária no Kukula e engenheira química de formação explicou como ajuda o Kukula a ganhar estrutura: “decidimos que temas temos de abordar ao longo do ano letivo, que trabalhos fazer e, por fim, vemos e avaliamos aquilo que o que os alunos vão conseguindo fazer”. São cerca de 160 as crianças que frequentam a 2ª à 5ª classe no Sistema de Ensino Moçambicano e têm entre sete e 14 anos de idade.

Pretende-se tornar o Kukula sustentável procurando sponsors (patrocinadores) que ajudem com o projeto ao nível financeiro. Além disso, pretende-se promover a troca de correspondência entre o Kukula e o Grande Colégio Universal, situado no Porto. No futuro, prevê-se que os nove Bairros da Vila da Macia possam ter um Centro Kukula, com um formador a tempo inteiro que acompanhe as crianças com dificuldades escolares de cada bairro.

Conforme as informações enviadas por e-mail, em Moçambique, o G.A.S. Porto, com autorização por despacho do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tem vindo a atuar na vila da Macia (Distrito de Bilene-Macia, Província de Gaza), na promoção do Desenvolvimento Humano, em áreas como a Saúde, Educação, Empreendedorismo, Infraestruturas, Água e Saneamento, sempre em parceria com entidades locais e com o apoio do Governo Distrital, Provincial e Central.
O G.A.S. Porto iniciou a sua atividade em Portugal há 16 anos, abrangendo missões em Timor e Moçambique ao longo de todo o ano. Opera há dez anos em Moçambique com três projetos na Macia e 90 crianças apadrinhadas: cada uma tem um padrinho em Portugal e recebe um kit escolar, e um cabaz alimentar.

Além do projeto de educação “Kukula - Crescer”, a mesma instituição tem um projeto de saúde, o “Pfuka u Famba – Levanta-te e Anda” que contempla bebés subnutridos dos 0 aos 3 anos e visa ensinar as mães a cuidar dos seus filhos

Para obter mais informações sobre este projeto basta aceder a este link: https://www.gasporto.pt/nomundo/mocambique/

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Inhaca, um pequeno paraíso "maningue nice" tão perto de Maputo!

Quem passa por Maputo, obrigatoriamente tem de passar pela Ilha de Inhaca, um pequeno paraíso situado a cerca de 40 minutos de barco (yate!) da capital de Moçambique. Com águas cristalinas, sol aconchegante e ar puro para respirar, a ilha tem uma área de 42 km² e dimensões norte-sul de 12,5 km - entre a Ponta Mazondue, a norte, e a Ponta Torres, a sul - e este-oeste de sete quilómetros. Está situada a 32 km a leste da cidade de Maputo, de cujo município faz parte administrativamente, constituindo o distrito municipal de KaNyaka.





Apesar de muito humilde, este pequeno paraíso que não se vê de Maputo, tem uma grande importância turística, pois possui uma grande diversidade biológica, com cerca de 12 000 espécies registadas (acreditem, os peixinhos que vimos no filme da animação "À procura de Nemo" estão todos lá!), incluindo cerca de 150 espécies de corais (é de mergulhar e procurar por mais!), mais de 300 espécies de aves e quatro espécies de tartarugas, que ali nidificam. 

Toda a zona costeira, uma
 duna consolidada com vegetação natural, é protegida como reserva integral, assim como a ilha dos Portugueses, e está sob a responsabilidade da Estação de Biologia Marítima, um órgão da Universidade Eduardo Mondlane
A população local corresponde a uma densidade populacional de cerca de 142 habitantes por km² (de acordo com os sensos realizados em 2007).
 
Amigas de viagem no "relax".
A partir de 1550, os portugueses recém-chegados criaram um posto comercial na Ilha dos Elefantes, próxima da ilha da Inhaca que, mais tarde, passou a ser conhecida como Ilha dos Portugueses. A fixação dos portugueses resultou de um acordo com os poderes locais da Inhaca, e assim, o povo tsonga serviu de intermediário no comércio do marfim, entre os portugueses e os zulus. A 8 de Novembro de 1892, durante o Império Português, foi criado o título nobiliárquico de Barão de Inhaca.
A Ilha dos Portugueses
A Ilha dos Portugueses, antiga Ilha dos Elefantes, é uma pequena ilha situada a cerca de 200 metros a noroeste da ilha da Inhaca, à entrada da Baía de Maputo.
Actualmente, a ilha é uma reserva integral, administrada pela Estação de Biologia Marítima da Inhaca. Para além de ser uma formação muito instável, que tem mudado de forma cada vez que ocorre um ciclone na região, a ilha tem uma pequena laguna onde existe uma formação coralina de grande beleza e relativamente protegida.
Historicamente, assumiu uma importância muito relevante porque era o local onde os comerciantes europeus trocavam os seus artifícios por marfim, a partir do século XVI e até à construção do cais de Lourenço Marques, nos finais do século XIX.
Não se encontrou documentação relativa à mudança do nome, mas ambos os termos, "Ilha dos Portugueses" e "Ilha dos Elefantes", se ligam ao seu passado de "entreposto" comercial. A única construção que existe na ilha é a ruína de uma antiga leprosaria.


Fotografias gentilmente cedidas por : Amélia, Ana Maria Martinho, Tânia Teixeira e Miguel Machado.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Teresa Jerónimo: “As saudades trouxeram-me de volta a África”

A professora Teresa Maria Jerónimo é natural de Maputo mas reside nas Caldas da Rainha. É docente há 36 anos mas apenas decidiu rumar a Moçambique, país que a viu nascer, há dois. Movida por motivos emocionais e apaixonada por África, a docente do primeiro ciclo do ensino básico não hesitou quando pôde escolher um destino africano: São Tomé e Príncipe e Angola estavam fora de questão. 


Saiu de Lourenço Marques - actual Maputo - em 1974, com 14 anos, na altura da descolonização. Apesar de o padrasto ser militar, desconhecia a existência da guerra colonial. Quando este lhe comunicou que teria de abandonar a cidade que a viu nascer, a ida para Portugal foi muito mal recebida pela (na altura) adolescente, que sentiu que as suas raízes estavam a ser cortadas: “já tinha muitos amigos que, depois de 1974, se encontram espalhados pelo mundo e dos quais perdi o contacto. Fechei-me numa «concha»”, admite a docente.


Entre os 14 e os 21 anos de idade Teresa Jerónimo residiu em Santarém, tendo completado o antigo liceu e se formado como professora. Dos 21 aos 55 anos viveu e trabalhou nas Caldas da Rainha, distrito de Leiria, onde constituiu família. Apesar de sempre ter desejado voltar a Maputo, a vida não o permitiu.

Foi em 2015 que a ideia de regressar às origens ganhou mais força. "Em Portugal senti que me faltava qualquer coisa; era a terra africana, o calor e os cheiros", admite relativamente às razões do seu regresso a Maputo, onde lecciona na Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa. Com os filhos já adultos decidiu sair de Portugal, pois estes "já não precisavam tanto de mim", diz.

A docente, que guardava memórias “dos cheiros à terra molhada” de uma forma romântica, quando pisou solo moçambicano, verificou que não correspondiam à realidade: “houve um retrocesso em termos da cultura europeia em África e vim encontrar uma cidade suja e pouco arborizada, contrariamente às recordações dos 14 anos”. Por outro lado, “a cultura moçambicana valoriza muito os mais idosos e os professores”, refere acerca das memórias mais felizes que prevalecem hoje em dia.

Apesar de não saber quando vai regressar ao Portugal, a professora sabe que fez a escolha certa na altura certa. “Estou a sentir-me bem e acho que o momento foi bem escolhido”, assegura quando questionada se voltaria a fazer as mesmas opções.

De Moçambique guarda memórias de infância, aprecia o clima e as paisagens. De Portugal sente falta dos amigos, mas está certa de que de Moçambique vai sair mais rica: “aprendi a valorizar o tempo com quem mais gostamos, aprendi a estar sozinha e a gostar de estar comigo, aprendi que devagar se vai indo”, sublinha Teresa Jerónimo.

O melhor por lá...
Teresa Jerónimo acredita que o melhor da «Pérola do Índico» é o “clima, as paisagens e as pessoas sempre bem-dispostas e que nos acolhem bem”

O pior por lá…
É a distância: "fica muito longe de quem eu mais gosto", sublinha a docente.

O mais surpreendente por lá...
“É a cidade de Maputo estar relativamente parada no tempo. Consigo descobrir locais iguais aos que deixei em 1975, mas com maior grau de degradação, infelizmente”, admite Teresa Jerónimo.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Associação Livro Aberto incentiva gosto pela leitura


Gosta de ler e não sabe onde encontrar um espaço apelativo, para o fazer, em Maputo? Então aqui está o melhor pretexto para deixar-se de desculpas e fazer uma visita à Associação Livro Aberto. O espaço, que encontra um lugar privilegiado entre a terra e o mar, localiza-se numa zona verdejante, ao fundo do Jardim dos Professores. A decoração apelativa convida a uma manhã ou a uma tarde bem passadas na companhia dos livros. 

Há-os para todos os gostos e para os diferentes públicos: da literatura estrangeira à portuguesa, da literatura infanto-juvenil à destinada a um público-alvo mais maduro. Neste espaço, de segunda a sábado, das 07 às 16 horas, miúdos e graúdos estão convidados a entrar e a deixarem-se envolver pelos deleites de uma boa leitura. 

A Associação do Livro Aberto iniciou a sua actividade em 2007 com o principal objectivo de educar as crianças e de incentivá-las a ler. Esta associação tem uma biblioteca pública no Jardim dos Professores, em Maputo, mas trabalha, também, com crianças dos bairros circundantes. Entre as suas diversas actividades, a Livro Aberto cria centros de leitura, recorrendo a métodos criativos como teatro, canções, poemas e elaboração de livros de cartão, feitos com material reciclado. 

"Com base em histórias que lemos, procuramos elaborar actividades que promovam a leitura, a escrita e a elaboração de trabalhos plásticos", destaca Nélsia Manuel, coordenadora de literacia do espaço. "Produzimos jogos com base em material reciclado. Depois de fazer algumas perguntas  acerca do conto, temos como objectivo ensinar algumas coisas através de uma história, adequando-a à realidade local", continua. Normalmente, tanto coordenadores como voluntários, trabalham um livro durante quatro semanas.

O trabalho da Associação Livro Aberto vai muito para além do espaço físico no Jardim dos Professores. É nas comunidades circundantes que todos trabalham em prol da leitura. "Algumas crianças vêm com os irmãos ao colo e desenvolvemos dois programas distintos: um grupo para os bebés e  outro para os irmãos mais velhos; aí lemos livros adequados para ambas as faixas etárias", destacam os responsáveis.

Às quarta-feiras realiza-se uma deslocação ao Bairro do Triunfo, na Costa do Sol. Através dos programas comunitários são proporcionadas actividades interactivas, bibliotecas móveis e estratégias de aperfeiçoamento de competências que permitem a cada criança aprender a ler e a escrever com confiança e através de actividade lúdicas. Com isto, pretende-se incentivar o desenvolvimento de uma cultura de leitura em Moçambique, para que todas as pessoas se sintam motivadas a informar-se, a explorar e a aprender através dos livros. 

Em relação ao trabalho desenvolvido, pelos 13 trabalhadores efectivos e pelos quatro voluntários permanentes,  junto às comunidades de cinco distritos na província de Tete, estão a formação de professores e de membros da comunidade. "No ano passado foi implementado um projecto-piloto com estratégias que devem constar do projecto escolar do sistema de ensino moçambicano", destacaram os responsáveis pelo projecto. Para criar modelos de literacia para crianças há metas a cumprir, entre as quais:

- O professor e os membros da comunidade devem ler uma história na língua local; esse é o primeiro passo para que os alunos compreendam a história, já que nessas províncias a Língua Portuguesa é uma língua secundária;

- A equipa de literacia deve ler a história uma vez na sala de aula, em comunidade e em outros locais;

- Deve proceder-se à implementação de estratégias que ajudam a ler a história em voz alta às crianças e, assim, existir uma partilha com os colegas nas jornadas pedagógicas nas escolas. 

Os trabalhadores efectivos estão divididos pelos Programas de Bibliotecas Comunitárias (PBC) e operam nos bairros de Maputo, Hulene, Mafalala. A Livro Aberto realiza, ainda, programas em feiras, de que é exemplo a feira internacional de crianças, que se realiza em Junho. Este ano será no domingo, dia três de Junho.

Como ajudar a Associação Livro Aberto?

É possível ajudar a Associação Livro Aberto com a doação de livros em Língua Portuguesa, para enriquecer o acervo da biblioteca e com material reciclável, que permite desenvolver actividades com os pequenos leitores.

É possível ajudar através da requisição de livros, sendo que existem três pacotes disponíveis: o Pacote Mundo, com direito à requisição de cinco livros e wi-fi gratuito no espaço, que tem um custo de 4000 meticais (cerca de 53 euros), 2000 (cerca de 26 euros) dos quais para depósito e 2000 para a instituição Livro Aberto; o Pacote Moçambique, com direito à requisição de quatro livros, que tem um custo de 2000 meticais, 1000 (cerca de 13 euros) para depósito e 1000 para a Associação Livro Aberto; e o Pacote Maputo, com direito à requisição de três livros, que tem um custo de 750 meticais (cerca de 10 euros), dos quais 500 (cerca de 7 euros) garantem os dois livros requisitados e 250 (cerca de 3 euros) revertem a favor da instituição.

Há, ainda, a possibilidade de fazer voluntariado na instituição; basta aparecer durante o horário de funcionamento da Associação Livro Aberto, falar com o administrativo, Elias José ou a coordenadora de literacia, Nélsia Manuel e informar que actividades gostaria de desenvolver na associação. A partir, daí o voluntário iniciará as suas funções. A sua única obrigação é avisar quando não pode estar presente. 

Os objectivos futuros da Livro Aberto passam por expandir os programas das Bibliotecas Comunitárias nas províncias de Zambézia, Cabo Delgado e Nampula com a ajuda de financiadores. "Temos um programa de fabricação de livros. Estamos a pensar fazer a segunda edição dos livros", sublinha Elias José. 

Há outros projectos em progresso: a biblioteca destinada aos jovens encontra-se em construção e pretende-se levar a biblioteca das mamãs e dos bébés além da cidade de Maputo. Além das ajudas de patrocinadores como a UNICEF e o Hotel Cardoso, são necessárias outras ajudas. 

No fim fica um apelo a todos os nacionais e estrangeiros: "apelamos para todo o nacional e internacional para nos ajudar. Não importa a quantidade da ajuda, apenas temos vontade de fazer e não temos lucros. Sem financiamento não somos capazes de realizar", terminam Elias José e Nélsia Manuel.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Escolinha Solidária do Bairro dos Pescadores incentiva crianças com pão e educação

As aulas de português na Escolinha Solidária do Bairro dos Pescadores, localizada na Costa do Sol, à saída de Maputo começaram há um mês. Cerca de 60 crianças frequentam, desde o dia 06 de março, às terças e quintas-feiras, aulas de Língua Portuguesa, lideradas por professoras voluntárias.

"A Escolinha Solidária é um espaço de literacia (Ortografia e Leitura) para crianças da 1ª à 8ª classes do ensino público, residentes em bairros periféricos da cidade de Maputo", informa a PLATAFORMA MAKOBO, entidade dinamizadora do projeto, através da sua página oficial do Facebook

Esta entidade tem como objectivos "promover a ortografia e oralidade" e buscar "o equilíbrio da condição nutricional das crianças garantindo-lhes, semanalmente, o acesso à alimentação equilibrada". Por sua vez, "este é, também, um espaço ocupacional, que proporciona momentos lúdicos e sócio-pedagógicos, através de jogos e de outras brincadeiras". 
Depois da aula da manhã, que decorre durante cerca de duas horas, os alunos levam, numa marmita para casa, a Sopa Solidária. Pretende-se, através da sopa, chegar às famílias das crianças e cultivar, entre estas, o gosto pela agricultura. Criar uma mini horta para que famílias do bairro atinjam a auto-suficiência é o objectivo final. Os meninos que frequentam o turno da tarde recebem a sopa à mesma hora, pelas 11h30.

A Escolinha Solidária funciona às terças e quintas-feiras, de manhã, das nove às 11 horas e, de tarde, das 14 às 16 horas e consiste  num “reforço” às aulas leccionadas no Sistema de Ensino Moçambicano. Depois de inscritas pelos pais, as crianças que frequentam o sistema ensino oficial no período da manhã, vão à Escolinha Solidária da parte da tarde e vice-versa.

A participação de duas colaboradoras da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) neste trabalho voluntário ficou definida em Novembro de 2017 com a assinatura de um protocolo de parceria através do qual ficou decido que a EPM-CELP presta apoio pedagógico e didáctico à Escolinha Solidária. Desde então, a escola portuguesa, disponibiliza dois colaboradores para participarem, regularmente, no desenvolvimento da estratégia de alfabetização e desenvolvimento das competências de leitura e escrita nos alunos da Escolinha Solidária, seguindo a metodologia de alfabetização da Plataforma Makobo.

Esta parceria permite que o tempo de apoio pedagógico aos alunos da Escolinha Solidária seja constante, garantindo um horário fixo naqueles dois turnos, o que é difícil para aquele estabelecimento de ensino pelo facto de funcionar com mão de obra exclusivamente voluntária.
Além da Escolinha Solidária e da Sopa Solidária, a Plataforma Makobo apoia um lar de idosos, o serviço de oncologia pediátrico no Hospital Central de Maputo e, mais recentemente, um curso para jovens - a Padaria Solidária.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

“O mundo é um lugar pequeno”

Tem 33 anos de idade mas já é o oitavo ano lectivo que leciona aulas de música na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM – CELP). Casada, mãe de dois gémeos e de uma menina, Leandra dos Reis não se cansa de elogiar a cidade africana que a acolheu em 2009.

A oportunidade de trabalhar em Moçambique surgiu numa altura em que o marido queria enveredar por um conjunto de projectos pessoais e profissionais num país com o qual se identificava. A vontade de “fazer algo diferente e ter uma experiência profissional internacional desafiante” foram motivos mais que suficientes para fazer voar Leandra Reis e o marido, Pedro Lopes.
“Em Portugal tens muita facilidade em arranjar uma casa, em ter um custo de vida diferente e em ter acesso a condições de vida que aqui não tens”, destaca a professora de música Educação Musical acerca do dia-a-dia. “As pessoas aqui veem as coisas de uma forma específica e o ritmo de resolução de problemas é muito diferente do de Portugal”, diz, reconhecendo que Leiria e Maputo são “realidades incomparáveis”.
“A mudança para cá tem um impacto positivo mesmo que se estranhe inicialmente. Com o passar do tempo encontras soluções para os problemas”, afirma. Profissionalmente sente-se realizada numa “escola com boas condições, que valoriza as artes, e que tem muito potencial”. Por outro lado, “contactar com pessoas de diversas culturas e países, tanto colegas como alunos de várias nacionalidades, é muito enriquecedor”, frisa. “Por encontrarmos pessoas que viveram em vários pontos do mundo acabamos por nos aperceber de que o mundo é pequeno”, acrescenta.
Emigrar não é uma decisão que se tome de “ânimo leve” e a professora acredita que é importante “ponderar prós e contras” e “não ter medo de arriscar, planeando sempre as coisas, pois nem tudo é como imaginamos lá fora”. Quando questionada sobre o que para ela significa Maputo, um “constante movimento” é a expressão que lhe vem aos lábios num sorriso aberto.

Moçambique
Maputo
Fundação 1782
Habitantes 1 766 823 habitantes (Censos 2007)
Curiosidades O Rio Maputo dá o nome à província que marca parte da fronteira sul do país e que, durante a guerra pela independência de Moçambique, adquirira grande ressonância através do slogan "Viva Moçambique unido do Rovuma ao Maputo". Até 13 de março de 1976, o nome da cidade era "Lourenço Marques" em homenagem ao explorador português homónimo. Entre 1980 e 1988, a cidade de Maputo incluiu a cidade da Matola, formando o Grande Maputo, com uma área de 633 quilómetros quadrados.

O melhor por cá
Leandra é da opinião de que as paisagens, o “clima tropical e as temperaturas elevadas que temos” e que “nos permitem andar vestidos ‘à verão’ o ano inteiro”, bem como o acolhimento que nos é dado, são o melhor que Moçambique tem para dar.
O pior por cá
“A falta de civismo no trânsito e a demora na resolução de questões do dia-a-dia” são as questões que a professora de Educação Musical considera mais desafiantes no quotidiano.
O mais surpreendente
Foi no seu local de trabalho e em Maputo que Leandra se apercebeu de “como o mundo é pequeno”. Isto porque “cá acabas por conhecer pessoas que sempre estiveram perto de ti”.