Pela
primeira vez e no âmbito das comemorações do dia 25 de Abril de 1974
realizou-se uma “manifestação” pacífica na EPM-CELP. A ideia surgiu numa
reunião do Grupo Disciplinar de História e pretendeu-se que fosse uma actividade de curta duração, que tivesse algum impacto na escola e não prejudicasse o
normal decorrer das aulas, numa altura em que a época de exames se aproxima.
De
altifalante em punho, os alunos percorreram os diferentes espaços interiores e
exteriores da EPM-CELP tendo mobilizado alunos de outras salas que, curiosos
com o movimento e o som que ouviram, se juntaram à “manifestação”.
No que
se refere ao conceito de “liberdade”, as opiniões dos alunos são mais ou menos
consensuais.
Melissa
Simões, do “9ºB”, falou acerca do significado do dia 25 de Abril de 1974: “o 25
de Abril significa o fim da ditadura salazarista e tem um significado muito
importante para os portugueses e para os moçambicanos. É uma data que deveria
ser comemorada para sempre.” Kyara Rocha, da mesma turma, destacou que “a
liberdade é podermos pensar por nós próprios sem sermos julgados”, embora tenha
a consciência de que não existe liberdade plena no mundo. Miguel Infante do
“9ºD” afirmou que, para si, a liberdade é “ter capacidade para exprimir aquilo
que queremos e não ter ninguém a impedir de fazê-lo”, reconhecendo que a
liberdade existe em “muitos poucos sítios do mundo”.
Quanto
ao impacto da manifestação, que teve lugar no intervalo da manhã, tendo sido
protagonizada pelos alunos do “9ºA” e “9ºE” e, da parte da tarde, pelos alunos
do “9ºB” e “9ºD” superou as expectativas das professoras envolvidas nesta acção. Cristina
Viana, coordenadora do departamento curricular de Ciências Sociais e Humanas,
destacou que “inicialmente a iniciativa envolvia duas turmas do 9º ano e acabou
por arrastar, tal como no 25 de Abril, uma multidão de alunos e professores que
se juntaram à «manifestação»”.
“No
percurso dos corredores, o barulho foi tal com o megafone e as palavras de
ordem, que os alunos e os professores curiosos juntaram-se, provocados pelos
outros e pelo entusiasmo”, destacou Inês George, coordenadora do departamento
curricular de expressões que, além de também ter participado na «manifestação»,
também mobilizou e incentivou os alunos para a decoração do átrio central e das
faixas, onde se pôde ler “25 DE ABRIL, SEMPRE” e “VIVA A LIBERDADE!” que usaram
para se manifestarem.
A
preparação da manifestação foi realizada por professoras e alunos, alguns dos
quais não conheciam nenhuma palavra de ordem nem o espírito da manifestação da
Revolução dos Cravos. Os objectivos de mostrar aos alunos um pouco do que foi o
espírito do 25 de Abril de 1974, consciencializá-los acerca da política e da
história de Portugal e “viver e sentir o que é uma manifestação” foram
cumpridos.
“Moçambique
e o 25 de Abril” levou alunos a refletir acerca da Revolução de 25 Abril de
1974
“Moçambique e o 25 de Abril” foi o tema da palestra que teve lugar no Auditório Carlos Paredes, pelas 15 horas, de quinta-feira, 26 de Abril. Liderada pelo historiador João Paulo Constantino Borges Coelho, durante a palestra falou-se no impacto do 25 de Abril de 1974 em Portugal em Moçambique e noutras ex-colónias portuguesas.
“Moçambique e o 25 de Abril” foi o tema da palestra que teve lugar no Auditório Carlos Paredes, pelas 15 horas, de quinta-feira, 26 de Abril. Liderada pelo historiador João Paulo Constantino Borges Coelho, durante a palestra falou-se no impacto do 25 de Abril de 1974 em Portugal em Moçambique e noutras ex-colónias portuguesas.
Destinada aos alunos dos
9º e 12º anos das áreas de Economia e de Humanidades, durante a partilha de
ideias, o público reflectiu sobre a Revolução dos Cravos e a sua implicação nas
ex-colónias portuguesas.
A palestra iniciou com a
declamação de um poema alusivo ao 25 de Abril pelo aluno Manuel Nhaca, do 10º
ano, acompanhado pelo som leve do piano. Ficou a frase: “um indivíduo
verdadeiramente livre, vive em tranquilidade e paz”.
Seguiu-se a apresentação
do historiador palestrante, pela professora de história Luísa Antunes, que leu
uma pequena nota biográfica de João Paulo Constantino Borges Coelho, tendo
destacado que este obteve a licenciatura em História na Universidade Eduardo
Mondlane e tem-se dedicado investigações na área da guerra colonial.
O historiador começou por
salientar alguns laços entre o 25 de Abril e Moçambique, reflectindo acerca da
revolução sob um prisma diferente do convencional. “A revolução do 25 de Abril
extravasou as fronteiras físicas em Portugal, tendo transformado os destinos
das ex-colónias”, começou por explicar João Paulo Constantino Borges Coelho.
Os conceitos de
“africanização da guerra”, com o recrutamento de africanos para participar na
guerra do lado de Portugal, e a falta de recursos de Portugal para alimentar a
guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique foram assuntos que estiveram em cima
da mesa durante cerca de meia hora. “Portugal era precionado a descolonizar
como o eram os outros países da Europa”, frisou destacando ainda que já “não
havia mais recursos para alimentar a guerra” no início dos anos 70.
No fim, houve tempo para
as intervenções e os comentários do público. A professora Sónia Pereira não
quis deixar passar em branco a “mudança que proporcionou a todos a
possibilidade de aprender, sem discriminação”. O historiador complementou este
raciocínio lembrando que “a liberdade não é um dado adquirido, custa muito a
conquistar e está em causa todos os dias”.
O historiador partilhou,
ainda, com o público as memórias do dia da revolução portuguesa, indicando que
o Cais do Sodré (em Lisboa) estava repleto de militares. “Lembro-me do clima de
festa e da ausência de aulas”, mencionou. Terminou a sua intervenção dizendo
que “o mundo não tem direcção. A direcção é aquela que os povos criam. A
Liberdade é uma coisa que deveria merecer a atenção de todos, todos os dias”.
No final da palestra, duas
alunas encenaram um pequeno momento teatral alusivo aos direitos conquistados
durante o 25 de Abril de 1974. Bermica Valna e Manuel Guimarães, alunos do
10ºA2 leram um poema sobre a revolução e os meninos do ensino especial, com a
ajuda de outros alunos, cantaram a música “Somos Livres”, de Ermelinda Duarte.
As surpresas não se
ficaram por aqui: os “alunos revolucionários” surpreenderam ainda, com uma
manifestação, onde gritaram palavras de ordem como “Paz, pão, saúde, educação!”, “o povo
unido jamais será vencido!” e “liberdade!”.