Saiu de Lourenço Marques - actual Maputo - em 1974, com 14 anos, na altura da descolonização. Apesar de o padrasto ser militar, desconhecia a existência da guerra colonial. Quando este lhe comunicou que teria de abandonar a cidade que a viu nascer, a ida para Portugal foi muito mal recebida pela (na altura) adolescente, que sentiu que as suas raízes estavam a ser cortadas: “já tinha muitos amigos que, depois de 1974, se encontram espalhados pelo mundo e dos quais perdi o contacto. Fechei-me numa «concha»”, admite a docente.
Entre os 14 e os 21 anos de
idade Teresa Jerónimo residiu em Santarém, tendo completado o antigo liceu e se
formado como professora. Dos 21 aos 55 anos viveu e trabalhou nas Caldas da
Rainha, distrito de Leiria, onde constituiu família. Apesar de sempre ter
desejado voltar a Maputo, a vida não o permitiu.
Foi em 2015 que a ideia de regressar
às origens ganhou mais força. "Em Portugal senti que me faltava qualquer coisa; era a terra
africana, o calor e os cheiros", admite relativamente às razões do
seu regresso a Maputo, onde lecciona na Escola Portuguesa de Moçambique - Centro
de Ensino e Língua Portuguesa. Com os filhos já adultos decidiu sair de
Portugal, pois estes "já não precisavam tanto de mim", diz.
A docente, que guardava
memórias “dos
cheiros à terra molhada” de uma forma romântica, quando pisou solo moçambicano, verificou
que não correspondiam à realidade: “houve um retrocesso em termos da cultura
europeia em África e vim encontrar uma cidade suja e pouco arborizada,
contrariamente às recordações dos 14 anos”. Por outro lado, “a cultura
moçambicana valoriza muito os mais idosos e os professores”, refere acerca das
memórias mais felizes que prevalecem hoje em dia.
Apesar de não saber quando vai regressar ao Portugal, a professora sabe que fez a escolha certa na altura certa. “Estou a sentir-me bem e acho que o momento foi bem escolhido”, assegura quando questionada se voltaria a fazer as mesmas opções.
De Moçambique guarda memórias de
infância, aprecia o clima e as paisagens. De Portugal sente falta dos amigos, mas
está certa de que de Moçambique vai sair mais rica: “aprendi a valorizar o tempo
com quem mais gostamos, aprendi a estar sozinha e a gostar de estar comigo,
aprendi que devagar se vai indo”, sublinha Teresa Jerónimo.
O melhor por lá...
Teresa Jerónimo acredita
que o melhor da «Pérola do Índico» é o “clima, as paisagens e as pessoas sempre
bem-dispostas e que nos acolhem bem”
O pior por lá…
É a distância: "fica
muito longe de quem eu mais gosto", sublinha a docente.
O mais surpreendente por lá...
“É a cidade de Maputo
estar relativamente parada no tempo. Consigo descobrir locais iguais aos que
deixei em 1975, mas com maior grau de degradação, infelizmente”, admite Teresa
Jerónimo.

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