terça-feira, 17 de abril de 2018

Teresa Jerónimo: “As saudades trouxeram-me de volta a África”

A professora Teresa Maria Jerónimo é natural de Maputo mas reside nas Caldas da Rainha. É docente há 36 anos mas apenas decidiu rumar a Moçambique, país que a viu nascer, há dois. Movida por motivos emocionais e apaixonada por África, a docente do primeiro ciclo do ensino básico não hesitou quando pôde escolher um destino africano: São Tomé e Príncipe e Angola estavam fora de questão. 


Saiu de Lourenço Marques - actual Maputo - em 1974, com 14 anos, na altura da descolonização. Apesar de o padrasto ser militar, desconhecia a existência da guerra colonial. Quando este lhe comunicou que teria de abandonar a cidade que a viu nascer, a ida para Portugal foi muito mal recebida pela (na altura) adolescente, que sentiu que as suas raízes estavam a ser cortadas: “já tinha muitos amigos que, depois de 1974, se encontram espalhados pelo mundo e dos quais perdi o contacto. Fechei-me numa «concha»”, admite a docente.


Entre os 14 e os 21 anos de idade Teresa Jerónimo residiu em Santarém, tendo completado o antigo liceu e se formado como professora. Dos 21 aos 55 anos viveu e trabalhou nas Caldas da Rainha, distrito de Leiria, onde constituiu família. Apesar de sempre ter desejado voltar a Maputo, a vida não o permitiu.

Foi em 2015 que a ideia de regressar às origens ganhou mais força. "Em Portugal senti que me faltava qualquer coisa; era a terra africana, o calor e os cheiros", admite relativamente às razões do seu regresso a Maputo, onde lecciona na Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa. Com os filhos já adultos decidiu sair de Portugal, pois estes "já não precisavam tanto de mim", diz.

A docente, que guardava memórias “dos cheiros à terra molhada” de uma forma romântica, quando pisou solo moçambicano, verificou que não correspondiam à realidade: “houve um retrocesso em termos da cultura europeia em África e vim encontrar uma cidade suja e pouco arborizada, contrariamente às recordações dos 14 anos”. Por outro lado, “a cultura moçambicana valoriza muito os mais idosos e os professores”, refere acerca das memórias mais felizes que prevalecem hoje em dia.

Apesar de não saber quando vai regressar ao Portugal, a professora sabe que fez a escolha certa na altura certa. “Estou a sentir-me bem e acho que o momento foi bem escolhido”, assegura quando questionada se voltaria a fazer as mesmas opções.

De Moçambique guarda memórias de infância, aprecia o clima e as paisagens. De Portugal sente falta dos amigos, mas está certa de que de Moçambique vai sair mais rica: “aprendi a valorizar o tempo com quem mais gostamos, aprendi a estar sozinha e a gostar de estar comigo, aprendi que devagar se vai indo”, sublinha Teresa Jerónimo.

O melhor por lá...
Teresa Jerónimo acredita que o melhor da «Pérola do Índico» é o “clima, as paisagens e as pessoas sempre bem-dispostas e que nos acolhem bem”

O pior por lá…
É a distância: "fica muito longe de quem eu mais gosto", sublinha a docente.

O mais surpreendente por lá...
“É a cidade de Maputo estar relativamente parada no tempo. Consigo descobrir locais iguais aos que deixei em 1975, mas com maior grau de degradação, infelizmente”, admite Teresa Jerónimo.

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