sexta-feira, 27 de abril de 2018

Alunos do 9º ano da EPM-CELP sairam das salas para sensibilizarem para valores de Abril

O dia 26 de Abril de 2018 começou agitado na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP). Motivo: a celebração do dia da Revolução dos Cravos, 25 de Abril de 1974. Logo pela manhã, alunos das turmas do 9º ano e professores das respectivas turmas envolveram-se em “manifestações pacíficas” e mobilizaram, com “efeito dominó”, outros elementos da comunidade educativa. À tarde, o auditório Carlos Paredes encheu-se para receber o historiador João Paulo Borges Coelho que conduziu a palestra “Moçambique e o 25 de Abril”, tendo o dia terminado com uma nova manifestação.


“Paz, pão, saúde, educação!”, “o povo unido jamais será vencido!” e “liberdade!” foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos alunos das turmas do 9º ano de escolaridade da EPM-CELP, que protagonizaram uma “manifestação”, na passada quinta-feira, 26 de Abril.

Pela primeira vez e no âmbito das comemorações do dia 25 de Abril de 1974 realizou-se uma “manifestação” pacífica na EPM-CELP. A ideia surgiu numa reunião do Grupo Disciplinar de História e pretendeu-se que fosse uma actividade de curta duração, que tivesse algum impacto na escola e não prejudicasse o normal decorrer das aulas, numa altura em que a época de exames se aproxima.

De altifalante em punho, os alunos percorreram os diferentes espaços interiores e exteriores da EPM-CELP tendo mobilizado alunos de outras salas que, curiosos com o movimento e o som que ouviram, se juntaram à “manifestação”.

No que se refere ao conceito de “liberdade”, as opiniões dos alunos são mais ou menos consensuais.

Melissa Simões, do “9ºB”, falou acerca do significado do dia 25 de Abril de 1974: “o 25 de Abril significa o fim da ditadura salazarista e tem um significado muito importante para os portugueses e para os moçambicanos. É uma data que deveria ser comemorada para sempre.” Kyara Rocha, da mesma turma, destacou que “a liberdade é podermos pensar por nós próprios sem sermos julgados”, embora tenha a consciência de que não existe liberdade plena no mundo. Miguel Infante do “9ºD” afirmou que, para si, a liberdade é “ter capacidade para exprimir aquilo que queremos e não ter ninguém a impedir de fazê-lo”, reconhecendo que a liberdade existe em “muitos poucos sítios do mundo”.

Quanto ao impacto da manifestação, que teve lugar no intervalo da manhã, tendo sido protagonizada pelos alunos do “9ºA” e “9ºE” e, da parte da tarde, pelos alunos do “9ºB” e “9ºD” superou as expectativas das professoras envolvidas nesta acção. Cristina Viana, coordenadora do departamento curricular de Ciências Sociais e Humanas, destacou que “inicialmente a iniciativa envolvia duas turmas do 9º ano e acabou por arrastar, tal como no 25 de Abril, uma multidão de alunos e professores que se juntaram à «manifestação»”.

“No percurso dos corredores, o barulho foi tal com o megafone e as palavras de ordem, que os alunos e os professores curiosos juntaram-se, provocados pelos outros e pelo entusiasmo”, destacou Inês George, coordenadora do departamento curricular de expressões que, além de também ter participado na «manifestação», também mobilizou e incentivou os alunos para a decoração do átrio central e das faixas, onde se pôde ler “25 DE ABRIL, SEMPRE” e “VIVA A LIBERDADE!” que usaram para se manifestarem. 
A preparação da manifestação foi realizada por professoras e alunos, alguns dos quais não conheciam nenhuma palavra de ordem nem o espírito da manifestação da Revolução dos Cravos. Os objectivos de mostrar aos alunos um pouco do que foi o espírito do 25 de Abril de 1974, consciencializá-los acerca da política e da história de Portugal e “viver e sentir o que é uma manifestação” foram cumpridos.

“Moçambique e o 25 de Abril” levou alunos a refletir acerca da Revolução de 25 Abril de 1974

“Moçambique e o 25 de Abril” foi o tema da palestra que teve lugar no Auditório Carlos Paredes, pelas 15 horas, de quinta-feira, 26 de Abril. Liderada pelo historiador João Paulo Constantino Borges Coelho, durante a palestra falou-se no impacto do 25 de Abril de 1974 em Portugal em Moçambique e noutras ex-colónias portuguesas.
Destinada aos alunos dos 9º e 12º anos das áreas de Economia e de Humanidades, durante a partilha de ideias, o público reflectiu sobre a Revolução dos Cravos e a sua implicação nas ex-colónias portuguesas.
A palestra iniciou com a declamação de um poema alusivo ao 25 de Abril pelo aluno Manuel Nhaca, do 10º ano, acompanhado pelo som leve do piano. Ficou a frase: “um indivíduo verdadeiramente livre, vive em tranquilidade e paz”.
Seguiu-se a apresentação do historiador palestrante, pela professora de história Luísa Antunes, que leu uma pequena nota biográfica de João Paulo Constantino Borges Coelho, tendo destacado que este obteve a licenciatura em História na Universidade Eduardo Mondlane e tem-se dedicado investigações na área da guerra colonial.
O historiador começou por salientar alguns laços entre o 25 de Abril e Moçambique, reflectindo acerca da revolução sob um prisma diferente do convencional. “A revolução do 25 de Abril extravasou as fronteiras físicas em Portugal, tendo transformado os destinos das ex-colónias”, começou por explicar João Paulo Constantino Borges Coelho.
Os conceitos de “africanização da guerra”, com o recrutamento de africanos para participar na guerra do lado de Portugal, e a falta de recursos de Portugal para alimentar a guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique foram assuntos que estiveram em cima da mesa durante cerca de meia hora. “Portugal era precionado a descolonizar como o eram os outros países da Europa”, frisou destacando ainda que já “não havia mais recursos para alimentar a guerra” no início dos anos 70.
No fim, houve tempo para as intervenções e os comentários do público. A professora Sónia Pereira não quis deixar passar em branco a “mudança que proporcionou a todos a possibilidade de aprender, sem discriminação”. O historiador complementou este raciocínio lembrando que “a liberdade não é um dado adquirido, custa muito a conquistar e está em causa todos os dias”.
O historiador partilhou, ainda, com o público as memórias do dia da revolução portuguesa, indicando que o Cais do Sodré (em Lisboa) estava repleto de militares. “Lembro-me do clima de festa e da ausência de aulas”, mencionou. Terminou a sua intervenção dizendo que “o mundo não tem direcção. A direcção é aquela que os povos criam. A Liberdade é uma coisa que deveria merecer a atenção de todos, todos os dias”.
No final da palestra, duas alunas encenaram um pequeno momento teatral alusivo aos direitos conquistados durante o 25 de Abril de 1974. Bermica Valna e Manuel Guimarães, alunos do 10ºA2 leram um poema sobre a revolução e os meninos do ensino especial, com a ajuda de outros alunos, cantaram a música “Somos Livres”, de Ermelinda Duarte.
As surpresas não se ficaram por aqui: os “alunos revolucionários” surpreenderam ainda, com uma manifestação, onde gritaram palavras de ordem como “Paz, pão, saúde, educação!”, “o povo unido jamais será vencido!” e “liberdade!”. 

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