Esta é uma peça diferente e quem não
está habituado a vê-lo fora da “Revista à Portuguesa” pode estranhar. Mas não
fica desiludido. Há um ano a “Caixa Forte” de Fernando Mendes anda a
surpreender os fãs do apresentador do “Preço Certo” por esse país fora. Há 34 anos a despertar
sorrisos no mundo do espectáculo, o amante de gastronomia fala da digressão da
sua última peça de teatro, do público, do sucesso e do futuro.
Ana Isabel Mendes (AIM): Apresenta a
peça “Caixa Forte” em tempos de crise. Esta caixa pertence ao Banco Espírito Santo
(BES) ou ao Novo Banco?
Fernando Mendes (FM): Nem a um, nem a outro. Esta caixa
felizmente está sólida, não sei se o novo ou o velho banco estão sólidos, mas
esta "Caixa Forte" está sólida porque estreou há quase um ano no Teatro Villaret
em Lisboa, estivemos seis vezes no Villaret a trabalhar e depois surgiu a
oportunidade de andar pelo país. É uma coisa de que eu gosto, não só para fazer
espectáculos mas também pela gastronomia. Portanto esta Caixa Forte está mesmo
sólida.
AIM: Em digressão
pelo país, decerto já se deparou com reacções diferentes por parte do público.
Como tem sido a receptividade do público a este trabalho?
FM: Estou a fazer um trabalho
completamente diferente do que o que fazia, a “Revista à Portuguesa”. Este ano
decidi fazer uma comédia. É uma história que tem de se ver do princípio ao fim
para se perceber. Tenho sentido que a reacção [do público] não só em Pombal como por
todos os sítios onde temos passado tem sido boa. Eu estava com medo por causa
disso mesmo; sendo que há 30 e tal anos faço revista, ao fazer uma coisa
diferente, estava com medo da reacção do público. Mas não: corre bem, o elenco
também é bom e as pessoas divertem-se.
AIM: Não é a
primeira vez que está em Pombal. Como é recebido pelos pombalenses e que
sentimentos lhe desperta esta pequena cidade?
FM: Eu não conheço muito de
Pombal. A minha mãe é daqui de uma zona próxima, nasceu aqui. Eu sempre vim a
Pombal praticamente para trabalhar, tanto no Verão para as festas do Bodo, como
para este Cine-Teatro em que trabalhei várias vezes. Não conheço muito bem
Pombal, tem sido mais para trabalhar e para comer. Fomos jantar muito bem ao Vintage, o Hotel Pombalense, onde ficámos, que é um espectáculo, e também
fomos ao leitão ao Pote, que também é
muito bom e ao Manjar do Marquês, que
também é bom. Isto faz parte da minha maneira de estar em tornée pelo país. Não é só trabalho: tem de se comer!
AIM: Em
termos de gastronomia o que mais apreciou?
FM: Gostei muito do Vintage, um restaurante novo, gerido por
uma senhora nova, que tem um conceito muito bom: faz pratos diferentes do
habitual, que não é fácil ver-se dentro das grandes cidades. Fiquei contente e
gostei muito do polvo que lá comi. O leitão é sempre bom e regado com azeite,
claro.
AIM: Considera
que a imagem que quer transmitir ao público em geral e aos pombalenses em
particular é a que realmente transmite?
FM: É, se isso não acontecer
é mau para mim. Se me comprometo a sair de casa com uma comédia e as pessoas
não se rirem, é melhor eu pegar na mala, pegar na "Caixa Forte" e levá-la para o
lixo porque realmente não dá. O fundamental é fazer com que as pessoas saiam
satisfeitas e, no meio do espectáculo se riam bastante.
AIM: Como surgiu
o gosto pela televisão e pela representação?
FM: O meu pai já era actor
desde sempre. Depois faleceu e eu tive oportunidade de entrar no teatro porque
o meu pai era dessa área. Dos quatro irmãos, fui o único filho que quis seguir
esta profissão. As coisas foram acontecendo de ano para ano. Comecei a engraxar
sapatos, a pregar pregos.
AIM: Há quanto
tempo está nestas andanças?
FM: Há 34 anos (fez anos no
dia 15 de Novembro). É bom vir a Pombal festejar esta data.
AIM: Quais foram
os momentos mais marcantes da sua carreira até hoje? Quer contar-nos um
episódio caricato?
FM: Às vezes acontecem coisas
em cena que as pessoas não se apercebem. Mas eu já trabalhei, por exemplo, num
palco em que por debaixo dele estavam porcos. Ao ar livre, estávamos a
trabalhar e só ouvíamos os porcos por baixo. Queríamos falar e não
conseguíamos. Também já levei com um cenário na cabeça; começou a rasgar e eu a
pensar: “isto vai cair em cima de mim” e caiu mesmo.
AIM: Que
conselhos quer dar a quem pretende iniciar-se no mundo da
representação/espectáculo?
FM: Primeiro, não se
deslumbrar. Vê-se muitos programas de televisão para actores, para cantores,
mas este é um país pequeno e como isto está… Não estou a dizer para não seguir
esta área. Agora vê-se que não é fácil. O que eu sinto mais é que quando acaba
uma novela fica muita gente desempregada. Eu acho que se gostam, é de seguir em
frente e de estudar para isso. Eu por acaso não estudei e tive a sorte de não
ter as faculdades. É ir em frente, e não se deslumbrar com o sucesso porque ele
é muito efémero.
AIM: Quais são os
ingredientes para atingir o sucesso?
FM: Temos de ser humildes em
tudo na vida. Eu não fujo muito daquilo que sou; no “Preço Certo” claro que
tenho de representar um bocado mas eu não fujo muito da pessoa que sou. Acho
que é um trunfo fundamental que eu tenho para estar há 11 anos em frente
daquele programa. O que tenho feito ao nível do teatro tenho feito escolhas,
textos escritos por mim. Nesta peça pedi para a escrever para mim e acho que
assenta muito bem.
AIM: Vai
continuar em digressão pelo país fora? Planeia viajar em trabalho até ao
estrangeiro?
FM: Já temos feito
espectáculos fora: já fui aos Estados Unidos, ao Canadá, à Suiça, ao Luxemburgo,
à Alemanha e a Paris. Agora esta peça tem um cenário muito difícil de
transportar para andar pelo mundo e, vamos ser sinceros, as coisas não estão
iguais há 20 anos, nesse aspecto de levar uma equipa para qualquer parte
do mundo.
AIM: Que
projectos tem para o futuro?
FM: Vou continuar em
digressão por este país fora com a “Caixa Forte”. Queria ver se chegava ao
Verão do próximo ano pelo menos, vamos fazer o Porto, no Teatro Sá da Bandeira, até lá ainda vamos volta ao Villaret no mês de Dezembro. E vamos
andar aí: em Olhão e em Ponte de Lima, por exemplo. É uma peça que faz um ano e
pretende ter continuidade até meio de 2015. Eu sempre tive a sorte de não ter
de pensar no que fazer a seguir. Claro que depois desta peça vou querer fazer
outra. Por agora, vou seguramente continuar com o "Preço Certo", que é líder de
audiências em horário pré-nobre, e que não vai acabar tão cedo.
Texto: Ana Isabel Mendes
Fotografias: Hélder Ferreira
Texto: Ana Isabel Mendes
Fotografias: Hélder Ferreira