“Aqui não se tecem apenas malhas. Aqui tecem-se conversas”.
Estas são as palavras de Manuela Medeiros, 60 anos, o elemento mais antigo do “gang
da malha”. Pertence ao grupo há um ano e tomou conhecimento dos encontros através
do facebook. Já faz tricô desde os
cinco anos de idade e está disposta a ajudar os mais jovens. Sai de casa todas
as terças-feiras pelo convívio.
Afinal em que é o “gang da malha”? O encontro tem hora marcada às 21h30 e é um movimento nacional que tem vindo a atrair cada vez mais gente. A mentora do projeto em Pombal, Paula Sofia Luz, explica em que consiste a actividade. “O objectivo do gang é muito simples: tirar as pessoas de casa e devolver alguma vida aos sítios públicos; no fundo a malha acaba por ser só um pretexto”, afirma a mentora.
Como se pode ler na página do facebook do grupo, mais do que juntar um grupo de gente num local
público à volta das agulhas e dos novelos, “o objectivo inicial deste conceito
nascido nas Caldas da Rainha pelas mãos do Filipe Almeida Santos e da Zélia
Évora, foi tirar as pessoas de casa e "reconciliá-las" com o espaço público das suas cidades, numa época em que
cada vez mais os contactos "virtuais" se parecem querer sobrepor à
vida real e palpável.”
Este pretende ser um espaço de convívio e uma oportunidade
para reavivar os cafés. E é para fazer malha que se juntam todas as terças-feiras, no café
concerto de Pombal cerca de 30 pessoas.
“Por ter começado em tempo frio os
encontros iniciaram em cafés - o espaço social por excelência,
cada vez mais desprovido dessa sua importante característica vivencial - mas
certamente após a Primavera poderão começar a acontecer nos bancos de praças e
jardins”, pode ler-se na página do facebook
do gang da malha. A malha foi só um pretexto para o convívio e para a reunião;
afinal poderia “estar hoje aqui num qualquer “gang dos tapetes”, “gang do monopólio”,
“gang dos arranjos florais”, ou gang de outra actividade qualquer, que o
objectivo fundamental seria precisamente o mesmo. Foi a malha. "Trocar as
novelas pelos novelos" era o mote”, acresce a informação do site.
| Foto: Paula Sofia Luz |
O balanço de um ano de existência é muito positivo e perspetiva-se um futuro em crescente expansão. Paula Sofia Luz fala sobre este crescimento constante. “Tem aparecido sempre cada vez mais gente nova; o “gang” não é um grupo fechado, qualquer um pode vir ter connosco e aprender, mesmo quem não sabe”, explica. Após um ano de actividade o grupo já deu os seus frutos. Paula Sofia Luz dá conta de quais foram: “demos alguma contribuição à cidade com decoração na rua, com o dia mundial do tricô em público, vestimos a estátua 25 de Abril e os postes do largo do Cardal”.
Não há restrições de idade e entra quem quer: mesmo quem não sabe pode aprender. Manuela Medeiros está disponível para ensinar e acredita que não é difícil ensinar a fazer malha: o mais importante é começar pelos pontos básicos.
Sofia Silva, 25 anos, juntou-se ao grupo recentemente.
Motivada por uma amiga da mãe, veio para aprender tricô, mas tem uma
particularidade, que no tricô acaba por ser um obstáculo. “Sou esquerdina e,
quando aprendo com uma pessoa destra, tenho de desmanchar tudo e voltar a fazer
à minha maneira”, afirma. Mas não está só presente pelo convívio: esta jovem
encontrou no croché uma forma de juntar uns trocos, vendendo o que faz a
pessoas próximas.
A malha traz alguns benefícios na auto-estima. Dona
Lurdes, 50 anos, fala-nos acerca dos benefícios físicos e psicológicos que,
para si, desta actividade resultam. Sofre de uma doença que lhe atrofia os músculos
e não descura a movimentação que com as mãos faz durante uma noite por semana. “Para
mim esta é uma actividade muito boa por me proporcionar um tempo de lazer com
pessoas que, tal como eu, gostam da malha”.


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