sábado, 29 de novembro de 2014

"Caixa Forte" anima Pombal em digressão nacional

Esta é uma peça diferente e quem não está habituado a vê-lo fora da “Revista à Portuguesa” pode estranhar. Mas não fica desiludido. Há um ano a “Caixa Forte” de Fernando Mendes anda a surpreender os fãs do apresentador do “Preço Certo” por esse país fora. Há 34 anos a despertar sorrisos no mundo do espectáculo, o amante de gastronomia fala da digressão da sua última peça de teatro, do público, do sucesso e do futuro.

Ana Isabel Mendes (AIM): Apresenta a peça “Caixa Forte” em tempos de crise. Esta caixa pertence ao Banco Espírito Santo (BES) ou ao Novo Banco?

Fernando Mendes (FM): Nem a um, nem a outro. Esta caixa felizmente está sólida, não sei se o novo ou o velho banco estão sólidos, mas esta "Caixa Forte" está sólida porque estreou há quase um ano no Teatro Villaret em Lisboa, estivemos seis vezes no Villaret a trabalhar e depois surgiu a oportunidade de andar pelo país. É uma coisa de que eu gosto, não só para fazer espectáculos mas também pela gastronomia. Portanto esta Caixa Forte está mesmo sólida.

AIM: Em digressão pelo país, decerto já se deparou com reacções diferentes por parte do público. Como tem sido a receptividade do público a este trabalho?

FM: Estou a fazer um trabalho completamente diferente do que o que fazia, a “Revista à Portuguesa”. Este ano decidi fazer uma comédia. É uma história que tem de se ver do princípio ao fim para se perceber. Tenho sentido que a reacção [do público] não só em Pombal como por todos os sítios onde temos passado tem sido boa. Eu estava com medo por causa disso mesmo; sendo que há 30 e tal anos faço revista, ao fazer uma coisa diferente, estava com medo da reacção do público. Mas não: corre bem, o elenco também é bom e as pessoas divertem-se.

AIM: Não é a primeira vez que está em Pombal. Como é recebido pelos pombalenses e que sentimentos lhe desperta esta pequena cidade?

FM: Eu não conheço muito de Pombal. A minha mãe é daqui de uma zona próxima, nasceu aqui. Eu sempre vim a Pombal praticamente para trabalhar, tanto no Verão para as festas do Bodo, como para este Cine-Teatro em que trabalhei várias vezes. Não conheço muito bem Pombal, tem sido mais para trabalhar e para comer. Fomos jantar muito bem ao Vintage, o Hotel Pombalense, onde ficámos, que é um espectáculo, e também fomos ao leitão ao Pote, que também é muito bom e ao Manjar do Marquês, que também é bom. Isto faz parte da minha maneira de estar em tornée pelo país. Não é só trabalho: tem de se comer!

AIM: Em termos de gastronomia o que mais apreciou?

FM: Gostei muito do Vintage, um restaurante novo, gerido por uma senhora nova, que tem um conceito muito bom: faz pratos diferentes do habitual, que não é fácil ver-se dentro das grandes cidades. Fiquei contente e gostei muito do polvo que lá comi. O leitão é sempre bom e regado com azeite, claro.

AIM: Considera que a imagem que quer transmitir ao público em geral e aos pombalenses em particular é a que realmente transmite?

FM: É, se isso não acontecer é mau para mim. Se me comprometo a sair de casa com uma comédia e as pessoas não se rirem, é melhor eu pegar na mala, pegar na "Caixa Forte" e levá-la para o lixo porque realmente não dá. O fundamental é fazer com que as pessoas saiam satisfeitas e, no meio do espectáculo se riam bastante.

AIM: Como surgiu o gosto pela televisão e pela representação?

FM: O meu pai já era actor desde sempre. Depois faleceu e eu tive oportunidade de entrar no teatro porque o meu pai era dessa área. Dos quatro irmãos, fui o único filho que quis seguir esta profissão. As coisas foram acontecendo de ano para ano. Comecei a engraxar sapatos, a pregar pregos.

AIM: Há quanto tempo está nestas andanças?

FM: Há 34 anos (fez anos no dia 15 de Novembro). É bom vir a Pombal festejar esta data.

AIM: Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira até hoje? Quer contar-nos um episódio caricato?

FM: Às vezes acontecem coisas em cena que as pessoas não se apercebem. Mas eu já trabalhei, por exemplo, num palco em que por debaixo dele estavam porcos. Ao ar livre, estávamos a trabalhar e só ouvíamos os porcos por baixo. Queríamos falar e não conseguíamos. Também já levei com um cenário na cabeça; começou a rasgar e eu a pensar: “isto vai cair em cima de mim” e caiu mesmo.

AIM: Que conselhos quer dar a quem pretende iniciar-se no mundo da representação/espectáculo?

FM: Primeiro, não se deslumbrar. Vê-se muitos programas de televisão para actores, para cantores, mas este é um país pequeno e como isto está… Não estou a dizer para não seguir esta área. Agora vê-se que não é fácil. O que eu sinto mais é que quando acaba uma novela fica muita gente desempregada. Eu acho que se gostam, é de seguir em frente e de estudar para isso. Eu por acaso não estudei e tive a sorte de não ter as faculdades. É ir em frente, e não se deslumbrar com o sucesso porque ele é muito efémero.

AIM: Quais são os ingredientes para atingir o sucesso?

FM: Temos de ser humildes em tudo na vida. Eu não fujo muito daquilo que sou; no “Preço Certo” claro que tenho de representar um bocado mas eu não fujo muito da pessoa que sou. Acho que é um trunfo fundamental que eu tenho para estar há 11 anos em frente daquele programa. O que tenho feito ao nível do teatro tenho feito escolhas, textos escritos por mim. Nesta peça pedi para a escrever para mim e acho que assenta muito bem.

AIM: Vai continuar em digressão pelo país fora? Planeia viajar em trabalho até ao estrangeiro?

FM: Já temos feito espectáculos fora: já fui aos Estados Unidos, ao Canadá, à Suiça, ao Luxemburgo, à Alemanha e a Paris. Agora esta peça tem um cenário muito difícil de transportar para andar pelo mundo e, vamos ser sinceros, as coisas não estão iguais há 20 anos, nesse aspecto de levar uma equipa para qualquer parte do mundo.

AIM: Que projectos tem para o futuro?

FM: Vou continuar em digressão por este país fora com a “Caixa Forte”. Queria ver se chegava ao Verão do próximo ano pelo menos, vamos fazer o Porto, no Teatro Sá da Bandeira, até lá ainda vamos volta ao Villaret no mês de Dezembro. E vamos andar aí: em Olhão e em Ponte de Lima, por exemplo. É uma peça que faz um ano e pretende ter continuidade até meio de 2015. Eu sempre tive a sorte de não ter de pensar no que fazer a seguir. Claro que depois desta peça vou querer fazer outra. Por agora, vou seguramente continuar com o "Preço Certo", que é líder de audiências em horário pré-nobre, e que não vai acabar tão cedo.

Texto: Ana Isabel Mendes
Fotografias: Hélder Ferreira

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