Inspirada por um tema de um trabalho de uma formação que estou a terminar, falo hoje acerca de um vírus que nos acompanha no dia-a-dia, todos os dias. E não é ao Covid-19 que me refiro. Não desta vez. Falo acerca das fake news, o vírus da desinformação. Um vírus, que nos últimos tempos e a par do Coronavírus, tem vindo a propagar-se a uma velocidade estonteante.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer o conceito de fake news. Não são notícias erradas nem imprecisas. São, sim, notícias falsificadas, que carecem de rigor jornalístico e cujo objetivo é manipular um grupo de indivíduos. Têm, muitas vezes fins políticos, económicos, sociais ou outros e propagam-se através de redes sociais como o Twitter ou o Facebook, ou através de aplicações mais fechadas como o Whatsapp.
Ao contrário das notícias verdadeiras, as fake news não provêm de nenhum orgão de informação oficial, sendo que muitas vezes o endereço e o formato da notícia são estranhos (.br); têm erros na escrita e parecem tradução automátuca, geralmente para português do Brasil; não apresentam o contraditório e muito menos citações das pessoas visadas; são anunciadas de uma forma estranha e, por vezes, alarmista e as imagens que ilustram a notícia parecem fabricadas (manipuladas).
Aqui estão alguns sites de fake news, cujos conteúdos muito (de mais) circulam por essas redes sociais fora:
Ora, todos sabemos que as fake news circulam pela net e que não as devemos partilhar. Contudo, talvez nem todos tenhamos a noção acerca do impacto brutal que elas têm no actual sistema democrático.
Fazendo um pequeno enquadramento internacional, o fenómeno das fake news ganhou relevo com as eleições nos EUA e à sua alegada influência na vitória de Donald Trump em 2016. Com a sua vitória, e ao contrário de todas as previsões, o termo ganhou tração e os meios de comunicação perderam mais credibilidade junto de um número significativo de eleitores.
A situação das eleições brasileiras mostrou uma nova tendência, a emergência do WhatsApp como grande fonte de informação. Através de grupos de contactos e da partilha massiva de conteúdo, a campanha de Bolsonaro demonstrou que as eleições já não se ganham com grandes comícios.
Em Portugal, apesar do fenómeno ser recente, as fake news abalam a nossa democracia.
- Uma audiência sem pensamento crítico está mais receptiva a aceitar mentiras óbvias como verdades, a chamada pós-verdade;
- O desinteresse dos cidadãos mostra que muitos preferem seguir cegamente líderes de opinião com quem se identificam de alguma forma;
- A abstenção é o reflexo e a prova de que o desinteresse e falta de debate construtivo não é exclusivo da política, vejam-se as reuniões de país, condomínios, associações e outras entidades da sociedade civil;
- A partilha de conteúdo extremista ganha asas nas redes sociais, muitas vezes através de pessoas que se acham traídas pela sociedade em que vivem;
- A Iliteracia Digital é terreno fértil e favorável à propagação da desinformação; é preciso ensinar a pesquisar, contrastar e transformar informação em conhecimento. Sem esse trabalho corremos o risco de vermos as democracias a serem substituídas por ditaduras sofisticadas.
É com a criação de contas, perfis falsos e com a circulação de notícias falsas que se dá um aumento do alcance das publicações de um determinado site ou líder político. Por sua vez, os elogios, muitas vezes doentios a determinada personalidade, partido ou ideia acabam por causar ódio, desinformação e levar a posições extremistas.
Para romper com ciclos viciosos como este é preciso parar de partinhar notícias suspeitas; confirmar sempre as fontes/sites das notícias que lemos; não colocar "gosto" em notícias falsas e, assim, contribuir para a diminuição do alcance das mesmas e, por último, ter uma atitude crítica face a tudo o que lemos e partilhamos.
Só com uma atitude crítica, reflexiva e ponderada é que podemos contribuir para a extinção do vírus da desinfomação. Em situações de medo, de instabilidade política ou social, este vírus acaba por agravar situações a tensão e causar o pânico. Veja-se o exemplo do novo Covid-19 que consigo trouxe o vírus da desinformação e o impacto que, por sua vez, teve até na saúde mental das pessoas.