"O pior de se ter uma doença mental é o facto de a sociedade esperar que nos comportemos como se não a tivessemos" - começo este post com uma frase do filme "Joker" de 2019, de Todd Phillips. Na altura escrevi um texto acerca do filme em que o ator Arthur Fleck interpreta "Joker", um aspirante a comediante com uma doença mental.
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"Joker" foge à realidade, à sua realidade demasiado dura e refugia-se nas gargalhadas que despoleta no seu público. Abraça o trabalho com uma dedicação que lhe permite, durante o dia, fugir de uma depressão agravada por pensamentos psicóticos e muitas vezes, homicidas/suicidas. Mas não é sobre o Joker que escrevo hoje, até porque o artigo está disponível neste link. Hoje falo sim, sobre doenças mentais, e a abordagem humorística e leve com que o comediante Bruno Nogueira as levou à televisão.
Imaginem um dia acordar com pensamentos ininteruptos de que algo de mal vai acontecer a um familiar vosso. Imaginem o que é ter de repetir continuamente uma ação para evitar que o pior aconteça a essa pessoa, mas isso sem ter qualquer relação à situação (hipotética, que nunca irá acontecer). Imaginem o que é terem de andar com um cartão do médico, para mostrar que sempre que "insultam" alguém ou dizem algo totalmente descontextualiado, a culpa é da Síndrome de Tourette? E ter uma relação tão mas tão conflituosa com a comida, que não vos permite levar nenhum alimento à boca?
Foi sobre a Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC), a Depressão, a Síndrome de Tourette e a Anorexia Nervosa que o programa de ontem à noite nos falou. Mais uma vez tocou na ferida e abordou um assunto (muito) incómodo. Assuntos "tabu" para muita gente, mas que acredito que cada vez mais devem ser desmistificados. Estamos em pleno século XXI e os números não mentem; de acordo com a Sociedade Portuguesa Psiquiatria e Saúde Mental, "mais de um quinto dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica (22,9%)".
É preciso falar sobre este tema, não apenas pelo estigma e os perconceitos a ele associados, como também pela incapacitação nas relações interpessoais de quem convive com uma doença mental diariamente. Além de ter de conviver com os seu demónios internos, quem tem uma doença mental, precisa de enfrentar uma sociedade incompreensíva e preversa, que ostraciza e marginaliza quem tem comportamentos "desviados" da normalidade.
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Posso ser empática e ter respeito pelo outro, mas ao mesmo tempo não ter condições "emocionais" para lidar com ele. E desculpar/perdoar também não é sinónimo de querer de volta. E lá está, a convivência com uma pessoa com uma doença mental não é para toda a gente. Tal como aquilo que eu defino que é insuportável para mim, pode não o seu para outra pessoa. Os meus limites não são os limites do outro. Cada um sabe de si e Deus sabe de todos. :)