É instrumentista, vocalista, escritora, blogger e estudante de ciências e tecnologias. Com apenas 15 anos Mariana Pedrosa, natural de Sismaria, Monte Redondo, já tem um currículo notável no mundo da música e da escrita. Contudo não tenciona (sobre)viver com a sua voz e através dos dedos. Fala acerca das paixões de que não prescinde e das intenções que tem em prosseguir estudos em saúde, uma "área que a fascina", porque sempre gostou de "ajudar as pessoas".
Ana Isabel Mendes (AIM) - Porquê a música?
Mariana Pedrosa (MP) - Eu desde pequena tenho uma paixão pela música, sempre gostei de cantar e a música sempre me fascinou, foi por isso que a escolhi.
AIM: Quem te incentivou a gostar desta arte?
MP: Foi a minha família que via que, como cantarolava lá por casa quando era criança, sabia que isso me dava prazer. Mas, sem dúvida, a pessoa que mais me influenciou a ir para a música foi o meu avô, que sempre ambicionou que eu aprendesse um instrumento, principalmente o órgão. Foi então que me inscrevi na Sociedade Filarmónica Nossa Senhora da Piedade há cerca de cinco anos.
AIM: Como foi o teu primeiro contacto com a música?
MP: Foi com o órgão. Comecei a aprender música com o André Venâncio (actual maestro da filarmónica); inicialmente tinha aula de órgão ao mesmo tempo que havia uma executante de trompete. O André intervalava ambas as aulas. Foi assim que tive as minhas primeiras bases em órgão: aprendi o "Aleluia", uma música de igreja.
AIM: Preferes canto ou instrumental?
MP: Isso é uma pergunta difícil porque eu gosto muito de cantar e de tocar piano, órgão ou tuba. Mas talvez o canto me suscite mais interesse.
AIM: E esse gosto pelo canto, como surgiu?
MP: Sempre tive o vício de cantar na banheira (risos). Mas também cantava por casa dos meus avós, fazia dos cabos das vassouras microfones. Gostava mesmo de cantar. Sempre tive essa paixão. Mas sempre tive a ambição de um dia vir a tocar, porque quando ouvia o André a tocar órgão em Sismaria, nas missas, ficava encantada ao ouvi-lo. Gostava de um dia vir a fazer magia com as teclas do órgão tal como ele fazia. Foi uma das minhas motivações: gostava do que ouvia.
AIM: Quando começou o projecto da banda "The Lights in the Dark" onde és vocalista?
MP: No ano passado tive exames nacionais e eu já conhecia todos os elementos da minha banda. Foi na altura de preparação do exame que comecei a falar com o nosso baixista, o Rudi, sobre a hipótese de criar uma banda, já que ele e os colegas Simão e Thierry estavam interessados nisso. Queriam criar uma banda, mas como apenas tinham guitarra, bateria e baixo, precisavam de um vocalista. Foi então que me juntei a eles, com a Ana e com a Maria, desde Junho.
AIM: Quantos são os elementos da banda?
MP: Somos seis: eu sou a vocalista, o Thierry toca bateria, o Rudi toca baixo, o Simão toca guitarra de solo, a Ana guitarra de ritmo e a Maria é teclista. Temos entre os 15 e os 19 anos de idade.
AIM: Que géneros musicais cantas e quais são aqueles que mais aprecias?
MP: A minha banda é de rock, mas ambiciona vir a ser uma banda de originais. Fora da banda, gosto de cantar rock, embora aquando da entrada no grupo tenha ficado hesitante quanto à interpretação desse género musical. Tinha-me ficado sempre pelo pop ou pelo canto lírico das aulas de música. Com o tempo fui aprendendo a gostar de rock. Além disso, gosto muito de cantar canto lírico, pois gosto de coisas que exijam trabalho e sejam difíceis de alcançar.
AIM: Quando tens aulas de canto?
MP: Eu tenho uma aula por semana, às quintas-feiras ou às sextas-feiras, durante 45 minutos. O tempo lectivo assemelha-se ao das aulas na Escola Secundária.
AIM: Como concilias dois géneros musicais tão díspares: o canto lírico e o rock?
MP: É difícil e sei que por vezes não o deveria fazer, porque para cantar rock é preciso uma colocação de voz completamente diferente da de canto lírico. Isso às vezes prejudica-me, principalmente agora que tive concerto (de Páscoa). Tive de fazer uma pausa para não esforçar a voz a cantar rock.
Os instrumentos...
AIM: Além de cantares ainda tocas órgão, piano e tuba. Como e quando começaste a tocar tuba?
MP: Comecei porque o maestro da filarmónica me desafiou. Como foi o meu primeiro professor de música e houve uma altura em que procurava pessoas para tocar o instrumento, abordou-me. Eu fiquei um bocado desconfiada e reticente porque associei logo a tuba ao género masculino. Contudo, aceitei o desafio e com o passar do tempo cada vez gosto mais de tocar tuba. Considero-a um instrumento muito importante e indispensável em termos do acompanhamento da banda. Tenho aulas de tuba há três anos com o professor Paulo Gomes, na filarmónica, aos sábados, durante 45 minutos.
AIM: Como consegues ter tempo para "dois amores" tão diferentes (o órgão e a tuba)?
MP: Eu adoro tocar orgão e tuba. O órgão é algo que é diferente, pois eu não tenho um órgão meu. Precisava de um, porque tocar este instrumento sem pedaleira é completamente diferente, pois o som fica muito mais cheio quando se toca com a pedaleira. O meu trabalho está um pouco limitado em Sismaria, por não ter essa possibilidade que, no caso de existir, dar-me-ia mais prazer. Piano é um instrumento de improviso pois farto-me de inventar e "apanho" acordes de ouvido. Tenho facilidade em acompanhar cantores. Quanto à tuba, também dá para improvisar um pouco, gosto de tocar tuba porque é um instrumento necessário, como um baixo numa banda ou um contra-baixo numa orquestra de cordas.
AIM: Estás num projecto (em desenvolvimento) no qual vais ser vocalista e pianista/teclista. O que podes desvendar ao “Aqui há Notícia” acerca desse novo projecto?
MP: É um projecto que eu ambicionava muito ter com três amigos meus, que reconheço que são bons músicos. Acho que vai ser um projecto interessante. Sempre quis ter um projecto com alguma qualidade musical. Estou feliz por isso porque acho que vai ser algo em que vou ter gosto em trabalhar.
AIM: Até onde queres levar a tua música?
MP: Eu dedico-me a todos os projectos. Gosto de me entregar a todos de corpo e alma, porque se estou neles é para me dedicar e motivar.
A escrita...
AIM: A par da música, ainda escreves. Porquê que nomeaste o teu blogue por «Undone»?
MP: Foi devido a uma amizade pois essa palavra traz-me recordações. A protagonista da história, a Matilde, tem um puzzle completamente desfeito, uma história que tem de construir. Acho que associo a essa simbologia. Foi essa amiga que me deu sugestões para o blogue. A escrita foi motivada pela professora Isabel Gomes, que me fez encarar um texto de uma maneira completamente diferente, com uma subjectividade incrível.
AIM: Quais são os géneros narrativos que mais utilizas? Sobre que temas te debruças?
MP: Eu acho que vou mais para o lado sentimental mas acabo por não descrever totalmente o que eu sinto. O meu primeiro blogue foi o feelings and memories que já não existe desde que o meu avô morreu: achei que por o início ser um texto dedicado ao meu avô, o fim teria de ser um de despedida. De outra forma não faria sentido. Foi aí que iniciei este novo projecto. Já o meu anterior blogue acabava por ter textos transversais a todos os jovens, que acabam por passar por situações semelhantes na adolescência. Este novo blogue tem parte de mim escrita, mas não que ser apenas um blogue de sentimentos. Decidi contar uma história que contivesse algum mistério.
AIM: Sobre quê que é essa história?
MP: É a história de uma rapariga que tem uma grande relação de amizade com o seu avô. Na minha opinião, precisamos de ter uma parte de nós para pudermos escrever. O avô dessa rapariga acabou por morrer, mas foi ele que incutiu grandes significados para a vida da jovem. O avô deixou-lhe uma série de enigmas e de pistas cuja simbologia e o significado ela terá de desvendar.
AIM: A inspiração vai surgindo...
MP: Quando iniciei este blogue nunca pensei que a história tivesse este rumo. Vai fluindo consoante o que aconteceu durante o dia e a minha inspiração... O blogue "Undone" existe em colaboração com a Liliana Domingues, uma amiga minha que tira as fotografias para todo o conteúdo do blogue.
AIM: Colaboras, também, com o jornal da freguesia «Notícias de Monte Redondo e Carreira». Já te sentiste tentada a escrever alguma coisa motivada pelo “bichinho” do jornalismo?
MP: Só escrevo esses artigos quando me pedem e não é algo regular. Normalmente são artigos relacionados com a música, em actividades onde participo, e eu acho que é sempre mais fácil alguém que vive determinado acontecimento relatá-lo do que quem lá não esteve.
AIM: O teu sucesso no mundo da escrita não se fica por aqui. Ganhaste um prémio da Caminho, o segundo lugar a nível nacional (quando andavas no 3.º ciclo) na categoria de texto original. Em que autores te inspiras para tu própria escreveres?
MP: Susanna Tamaro, uma escritora italiana, tem uma escrita que eu aprecio bastante. De certa forma espalha cultura nas palavras, é subjectiva. Gostava muito de escrever como ela.
AIM: Em termos profissionais, quais são as tuas ambições?
MP: Eu gostava de seguir a área de saúde, nunca pus a música nem a escrita em primeiro plano. Isto porque tanto a escrita como a música são algo muito irregular, e que não me dão estabilidade. Eu gosto de contactar com as pessoas e sinto muito essa necessidade. Também gosto de ajudar as pessoas. Acho que ia gostar da área de saúde porque me fascina e suscita interesse. Já pensei em vários cursos, entre os quais enfermagem e biomédica.
Fotografias: Kevin Flores, Liliana Domingues e Ana Mendes