Pela terceira vez o atleta Miguel Diz foi chamado a representar a selecção nacional de karaté no campeonato da Europa, que se realizou em Zurich, de seis a oito de Fevereiro. O praticante da vertente combate, kumite, sagrou-se bi-campeão nacional em 2015, no escalão júnior, na categoria de peso -76 kg. Em entrevista ao "Aqui há Notícia", o estudante do 12º ano do curso Ciências e Tecnologias fala acerca do desporto que o viu crescer, da forma como o concilia com os estudos e de outros passatempos que tem.
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Miguel Diz é bi-campeão nacional na vertente de combate |
Ana Isabel Mendes (AIM): Como, quando e porquê que surgiu o gosto pelo karaté?
Miguel Diz (MD): Fui influenciado pela família porque o meu pai sempre fez karaté, desde os 14 anos. Dá aulas de karaté já há vários anos. Eu pratico desde os seis anos de idade. Assistia aos treinos que o meu pai dava e sempre gostei da modalidade. Claro que o gosto me foi incutido, também, pelo meu pai.
AIM: Tendo em conta que o karaté se divide em duas vertentes, a de técnica e forma e a da combate, qual é a que mais te chama à atenção?
MD: A vertente de combate. O objectivo do kumite é o de marcar pontos, que são dados consoante seis critérios: a técnica, onde se verifica se os movimentos são bem executados; o controle, porque no kumite não há contacto físico; a distância; a atitude desportiva; o modo de combate, que implica que os adversários estejam sempre alerta; e o timing, isto é, o momento em que a técnica é executada.
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Kumite é a vertente do Karaté que o jovem pratica |
AIM: O teu pai sempre praticou só kumite (combate) ou também passou pelas katas (técnica, forma e movimentos)?
MD: Ele especializou-se mais no kumite, embora tenha também feito as katas. O desporto é sempre baseado numa parte tradicional, de onde vêm as técnicas que, posteriormente, são aplicadas num contexto diferente.
AIM: Actualmente é o teu pai que te treina. Sentes que, de alguma forma, te é exigido mais a ti do que aos teus colegas?
MD: O grau de exigência é mais ou menos o mesmo, embora eu saiba sempre que ele exige mais de mim. Não há distinções entre colegas. No Núcleo do Desporto Amador de Pombal (NDAP), embora haja colegas da minha idade (com 17 anos), o desporto é praticado logo desde os quatro anos. Actualmente somos cinco ou seis atletas de idades entre os 14-17.
AIM: Quantas vezes por semana e quanto tempo por treino praticas?
MD: Este ano não consigo praticar todos os dias porque tenho frequento aulas de inglês às quartas-feiras. Pratico durante os outros dias, excepto ao domingo, duas horas por treino. Como o meu pai é o meu treinador tenho uma maior facilidade em ajustar as horas e os dias em que treino. Os treinos realizam-se no pavilhão da Caldeira, mas, por vezes, às sextas-feiras, treino em Lisboa, com atletas que competem ao nível nacional.
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Miguel Diz num combate |
AIM: Quais são as principais exigências subjacentes à prática deste desporto?
MD: Embora seja de uma categoria de pesos, eu nunca tive uma grande preocupação com a alimentação. Com a minha subida para o escalão sub-21, - 75 kg, vou ter de começar a ter mais cuidados. Além da alimentação, é preciso ter uma grande capacidade física e psicológica.
AIM: Como se lida com a derrota?
MD: Deve ser encarada como uma forma de aprendizagem, porque embora percamos, isso não significa que tenhamos feito algo de errado, mas sim que o adversário tenha sido melhor que nós. Naquele momento pode ter sido melhor, mas não quer dizer que percamos o nosso valor. É, ainda, necessária dedicação e empenho no treino.
AIM: Quais são os maiores obstáculos que existem na prática de karaté em Portugal?
MD: Existe uma grande falta de patrocínios aos atletas que praticam este desporto. As modalidades amadoras carecem de apoios financeiros. Na sua grande maioria, as estadias têm de ser pagas, na totalidade, pelos atletas. Há duas empresas de familiares que me apoiam: os Vinhos Martha's (vinhos do Porto) e Zetacorr (empresa de prevenção à corrosão de pontes).
AIM: Que concelhos dás a um aspirante à prática do karaté?
MD: É preciso ter espírito de sacrifício. Muitas vezes, principalmente na alta competição, é preciso abdicarmos de certas actividades, como as saídas à noite com os colegas.
AIM: Com que idade se deve começar?
MD: Quanto mais novo melhor. A partir dos cinco ou seis anos, porque a criança ainda está na altura de desenvolver algumas capacidades motoras que mais facilmente são corrigidas.
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Sagrou-se bi-campeão nacional na categoria de peso -76 kg |
AIM: Qual é a tua definição de karaté?
MD: É uma forma de eu me abstrair do dia-a-dia, do estudo, de relaxar, embora seja exigente física e psicologicamente. Por outro lado, permite conviver, conhecer pessoas novas e partilhar conhecimentos diversificados.
AIM: De 6 a 8 de Fevereiro foste chamado a representar a selecção nacional de karaté no Campeonato da Europa, que se realizou em Zurich. Como foi a experiência e como decorreu a tua prestação?
MD: Foi já a minha terceira internacionalização. É sempre uma experiência gratificante, embora não tenha corrido da melhor forma, já que perdi no primeiro combate com um atleta de Monte Negro. O torneio de karaté funciona com rondas onde se fazem eliminatórias.
AIM: Que objectivos tens no que respeita ao karaté?
MD: Tenciono continuar a treinar, o objectivo é ir estudar para Lisboa, para conciliar a minha área de estudos com os treinos. Fazer do karaté uma carreira profissional é difícil. Há poucos profissionais da modalidade no mundo, pelo que não tenciono fazer desta actividade uma carreira profissional. Estou no 12º ano e frequento o curso científico-humanístico de Ciências e Tecnologias e gostava de seguir Engenharia, embora não saiba qual (risos).
AIM: Quais são os teus passatempos?
MD: Embora não saia muito com os amigos, por vezes costumo fazê-lo. De resto vejo filmes e séries. O karaté não restringe muito a minha vida, pelo que sou um adolescente normal.
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Miguel Diz (ao centro) e alguns dos seus colegas e treinadores |
Internacionalizações no âmbito do escalão júnior (16-17 anos):
A 1ª ocorreu em 2013, fui ao campeonato do Mundo em Espanha;
A 2ª ocorreu em 2014, no campeonato da Europa em Lisboa;
A 3ª ocorreu em 2015, no campeonato da Europa em Zurich (Suiça).
O que é o karaté?
Karaté é uma palavra japonesa que significa “mãos vazias”. É uma arte marcial japonesa e um método de ataque e de defesa pessoal que inclui diversas técnicas executadas com as mãos desarmadas.Os praticantes de karaté são denominados “karatecas”. Nas lutas, os karatecas só podem usar o próprio corpo (mãos, braços, pés, pernas, etc.), bem como os bons reflexos de visão e a inteligência. A modalidade divide-se em duas vertentes: katas, onde é valorizada a técnica e a forma e são avaliados os movimentos e kumite, a vertente de combate.