quinta-feira, 30 de abril de 2020

A Telescola dos Novos Tempos

Sem que nada o fizesse prever, voltamos aos tempos da telescola devido a um virus que  deixou Portugal em Estado de Emergência e o Mundo em suspenso. Tal como os diversos setores da sociedade portuguesa, também o da Educação teve de se adaptar aos "novos tempos", estes em que temos de (con)viver com um virús.

O ensino teve de se reinventar e adaptar-se a tempos em que devemos estar todos em casa e, após 33 anos, altura em que terminaram as emissões regulares da primeira telescola (1965-1987), a RTP voltou a emitir uma outra. Mais moderna e mais tecnológica. Vejamos em que aspectos esta nova telescola, #EstudoEmCasa, difere da primeira que se conhece:

- Desta vez assistimos a uma telescola diferente, que abrange os três ciclos de escolaridade (do 1º ao 9º ano), quando a de meados do século XX se dirigia apenas aos alunos do quinto e sexto anos de escolaridade. 

- Assistimos a emissões entre as 9h00 e as 18h00 quando, em tempos idos, as "teleaulas" eram transmitidas, nos dias úteis, entre as 14h e as 19h00.

- Hoje os alunos assistem às "teleaulas" ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE a partir de casa, com ou sem acompanhamento dos pais/encaregados de educação. Na "antiga" telescola, os alunos assistiam às "teleaulas" dentro da sala de aula, tendo acompanhamento presencial de dois professores; um da área das ciências e outro da área das letras. Jorge Neves, ex-aluno na telescola da Cartaria, acredita que hoje "a falta do professor para tirar as dúvidas em casa pode provocar distrações nos mais novos".

De acordo com a professora Maria Repolho, que leccionou na Telescola - CPTV Ciclo Preparatório TV - no Louriçal, concelho de Pombal, entre os anos letivos 1984 e 1987, "devido à obrigatoriedade de confinamento social, os alunos não têm o professor junto a si a ajudá-los na atenção/concentração durante as emissões e, esse facto, pode ser um encargo difícil para os pais. Actualmente o ensino é mesmo «distanciado»". No que se refere aos recursos técnicos, a docente acredita que os "estúdios de gravação, equipas de profissionais de comunicação—som e imagem - ao dispôr dos professores/apresentadores são indiscutivelmente uma mais-valia, considerando os constrangimentos de cada época".

- Esta telescola destina-se aos alunos das áreas urbanas e rurais quando, no passado, este sistema de ensino destinava-se a jovens que residiam em áreas rurais e que não podiam assistir às aulas nas escolas das cidades. As limitações financeiras e a dificuldade das deslocações devido a uma deficiente rede de transportes, levavam a que muitas crianças abandonassem a escola após quatro anos de estudos - o ensino primário (obrigatório). De acordo com Jorge Neves, "há quase quarenta anos, o problema era a distância para aceder ao ensino; não havia transportes públicos, muitos alunos deslocavam-se a pé vários quilómetros e a telescola surgiu para atenuar essa limitação. Havia a vantagem de existir na televisão material que faltava em algumas escolas convencionais", acrescenta.

- Esta telescola recorre a inovações tecnológicas que não existiam no passado, entre as quais, computadores, quadros interativos, projetores e tantos outros que, obviamente, não eram utilizados em 1965. Apesar disso, as aulas, "embora fossem visualizadas a preto e branco e usando televisores antiquados, eram enriquecidas com ótimos professores e apresentadores, em aulas muito bem preparadas, pois as sessões seriam gravadas as vezes necessárias à transmissão de uma boa aula", esclarece a professora Maria Repolho.

- Os objetivos desta telescola passam por colmatar a ausência de professores e de alunos nas salas de aula, devido ao encerramento dos estabelecimentos de ensino, mantendo os alunos a estudar os conteúdos formais de cada ano de escolaridade (1º ao 9º ano). As aulas da telescola de outrora completavam a rede de ensino, mas as lições eram vistas também por outras pessoas que, mais tarde, se propunham a exame externo de modo a completarem os graus de ensino - 5º e 6º anos. 

- A telescola actual não avalia com "testes" os conhecimentos dos alunos. Os conhecimentos adquiridos pelos alunos com telescola de antigamente eram avaliados em testes de avaliação. "Os testes eram como o totoloto, havia a pergunta e várias opções de resposta e nós escolhíamos a certa. Escrevíamos no livro e respondíamos oralmente", como explica uma ex-aluna da telescola, Maria Alice Vaz. No que se refere à eficácia desse sistema de ensino, Jorge Ferreira, ex-aluno na telescola em Abiúl (Pombal)  acredita que "foi muito boa. Eu penso que fui mais ou menos preparado quando entrei no secundário". 


As vantagens...

De acordo com a professora Maria Repolho, as vantagens da telescola "antiga" passavam por atenuar os problemas de acessibilidade dos alunos residentes em áreas rurais ao sistema de ensino devido aos "estúdios de gravação apropriados, materiais didáticos usados pelos professores nas gravações das aulas a serem emitidas, imagens filmadas em locais variados, adequadas à lecionação das várias matérias"

Isabel Guerreiro, professora do primeiro ciclo do ensino básico, que leccionou na telescola  nas localidades de Ilha-Guia-Pombal, nos anos de 1972 a 1974 em regime de acumulação, acredita que, no passado, a "telescola tinha vantagens pois tornava-se um  ensino mais completoAlém das aulas transmitidas via televisão, tinham, depois  o aprofundamento por outro professor, que estava dentro da sala de aula".

Por sua vez, "o professor, na sala de aula, assistindo às mesmas [aulas], sentia-se mais à vontade para tirar dúvidas e ajudar na resolução das fichas de trabalho", concorda a professora Maria Repolho.

O ex-aluno da telescola Jorge Ferreira destaca que "hoje os alunos recebem as aulas em casa não só pela televisão, como pela Internet, nos vários ciclos de escolaridade". Contudo, acredita que apesar de este novo de este novo método de ensino ser um "bom recurso, falta o convívio e a interação entre colegas. Era bom que voltássemos à normalidade e este método poderia continuar como apoio".

As desvantagens...

As desvantagens da antiga telescola, na opinião de Maria Reponho, passariam pelo "distanciamento dos alunos de outras realidades, ficando privados de vivências mais diversificadas, especialmente os que queriam prosseguir estudos". Por outro lado, "também os recursos a usar pós-emissão eram muito reduzidos, em relação aos utilizados no Ciclo Preparatório convencional".

No que se refere à telescola atual, a professora considera-a uma "ideia actual muito razoável e poderia, quanto a mim, ser aproveitada de melhor maneira". Acrescenta, ainda que "se o professor da turma tiver acesso aos conteúdos, antecipadamente, poderá fazer a ponte com os seus alunos, aproveitando das emissões o que considera mais importante, numa lógica de flexibilidade curricular, como o Ministério da Educação preconiza". Acredita, ainda, que "o professor poderia sempre adaptar as sessões de #EstudoEmCasa aos seus alunos, no tempo pós-TV"

Opinião diferente tem a professora Isabel Guerreiro que duvida da eficácia da actual telescola:  "nem todos os alunos têm  acesso  ao material que é  essencial  à  prática  deste ensino à  distância", explica. "Também  devo salientar que o local onde os alunos se encontram neste momento está muito longe do seu "habitat" normal que são  as suas salas de aulas".  

Há vozes a favor e contra a actual telescola. A verdade é que ela faz parte dos dia-a-dia de muitos alunos, professores e famílias e, com os constrangimentos que a ela estão associados, foi a solução mais plausível e razoável que o Governo encontrou para proporcionar a todos um razoável Ensino À Distância (mais ou menos eficaz). 

sexta-feira, 24 de abril de 2020

"A LIBERDADE DE SERMOS LIVRES"

Não foi ao acaso que redigi o título deste texto entre aspas. Na realidade, este título não é meu; a frase surgiu"dos dedos" de um amigo meu e a ele lhe devo os respectivos "direitos de autor". Como sou da opinião de que não há melhor altura para reflectir sobre a LIBERDADE, agora em que estamos em pleno Estado de Emergência, isolados em casa e em ABRIL, começo este texto sobre essa "LIBERDADE DE SERMOS LIVRES"


Abril é, por excelência, o mês em que celebramos a LIBERDADE. A LIBERDADE com CAPS LOCK. A LIBERDADE sem algemas. A LIBERDADE sem lápis azul. A LIBERDADE que devemos aos lutadores incasáveis por esse 25 de Abril de 1974. A LIBERDADE de podermos gritar a plenos pulmões: "SOMOS LIVRES!". A LIBERDADE que devemos aos militares, aos inscansáveis lutadores por um direito que devemos honrar todos os dias, ao Capitão de Abril, Salgueiro Maia. Ai, essa LIBERDADE digna de um arco-iris que hoje espreita pelas janelas de diversos lares, principalmente daqueles onde vivem crianças.

Ironia do destino, deparamo-nos hoje com um vírus que "anulou" temporariamente algumas das "LIBERDADES" consignadas na Constituição da República Portuguesa de 1976, revista pela última vez em 2005. Hoje vemos alguns dos nossos direitos e liberdades vedados devido ao actual Estado de Emergência em que vivemos. Heis o que diz o artigo 19º, PARTE I, TÍTULO I, referente aos Direitos e deveres fundamentais, quanto à Suspensão do exercício de direitos deste documento tão preciso quanto valioso: 

"(...)
2. O estado de sítio ou o estado de emergência só podem ser declarados, no todo ou em parte do território nacional, nos casos de agressão efetiva ou iminente por forças estrangeiras, de grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional democrática ou de calamidade pública.

3. O estado de emergência é declarado quando os pressupostos referidos no número anterior se revistam de menor gravidade e apenas pode determinar a suspensão de alguns dos direitos, liberdades e garantias suscetíveis de serem suspensos.

(...)

5. A declaração do estado de sítio ou do estado de emergência é adequadamente fundamentada e contém a especificação dos direitos, liberdades e garantias cujo exercício fica suspenso, não podendo o estado declarado ter duração superior a quinze dias, ou à duração fixada por lei quando em consequência de declaração de guerra, sem prejuízo de eventuais renovações, com salvaguarda dos mesmos limites.

6. A declaração do estado de sítio ou do estado de emergência em nenhum caso pode afetar os direitos à vida, à integridade pessoal, à identidade pessoal, à capacidade civil e à cidadania, a não retroatividade da lei criminal, o direito de defesa dos arguidos e a liberdade de consciência e de religião."

Decerto teremos um 25 de Abril diferente, isto porque vivemos em pleno Estado de Emergência, desde o passado dia 16 de Março. Assim, neste dia em que se celebra a LIBERDADE, veremos suspenso o Direito de reunião e de manifestação de acordo com o Artigo 45.º, referente ao TÍTULO II, CAPÍTULO I dos Direitos, liberdades e garantias pessoais consignadas na Constituição da República Portuguesa:

"1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização.
2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação."

Ora, vivendo em pleno confinamento social e tendo em conta o bom-senso de cada um, é óbvio que não vamos poder sair à rua para celebrar o 25 de Abril, o dia da LIBERDADE, nem o 1º de Maio, o Dia do Trabalhador. Neste ABRIL totalmente atípico vamos celebrar a LIBERDADE DE SERMOS LIVRES", em casa. Irónico, não é? Afinal éramos felizes e não sabíamos

sábado, 4 de abril de 2020

Um Dia De Alguém Em Quarentena

O dia de Alguém em quarentena pode ser muito aborrecido ou bem divertido. isso depende da forma como Alguém vê esse dia. Depende, também, do modo como o encara: se vê o copo meio vazio ou se o vê o copo meio cheio. Se vê na "crise" um túnel escuro sem fim ou se a transforma numa oportunidade. 

O dia de quarentena de Alguém depende não apenas das circunstâncias em que está esse Alguém, como também da mente em que habita essa pessoa. Se a mente pode transformar a crise em oportunidade, também pode transformar dias de ócio em dias ativos e de aprendizagem. Portanto, em baixo, segue a minha proposta para (um) dia de Alguém em quarentena.

9h01 - Hora de acordar, espreguiçar, bocejar e recordar o sonho da noite anterior. Se tiver sido um pesadelo em vez de um sonho, vale mais saltar, de imediato, para a casa de banho.

9h14 - Tomar um pequeno almoço mais ou menos calórico. Como estás em casa e tens todo o tempo do mundo, porque não variar entre leite com cereais, iogurte com fruta e cereais e um verdadeiro pequeno-almoço britânico com tudo a que tens direito: panquecas, ovos estrelados, sumo de laranja natural, bacon, batatas fritas... O que importa é não cair na rotina até na alimentação.
10h03 - Ler x páginas de um livro. Eu costumo definir um número de páginas por dia, às vezes y capítulos, outras vezes z tempo. Criar ou manter hábitos de leitura saudáveis, melhora o léxico, diversifica o vocabulário, expande a imaginação e mantém a mente criativa. Em alternativa, podes sempre aprender ou aprofundar conhecimentos numa determinada língua estrangeira.

11h11 - Sair para dar uma volta a pé, uma corrida ou um passeio de bicicleta. Manter o distanciamento social durante a prática desta atividade é fundamental. Oxigenar os pulmões e fortalecer o coração vai ajudar a criar imunidades e a revigorar o espírito e a mente. No início da atividade física é importante fazer um pequeno aquecimento. No fim, não esquecer os alongamentos, que deverão durar mais ou menos tempo consoante a intensidade colocada no exercício que acabámos de realizar.

12h07 - Começamos a pensar no que fazer para o almoço... Mas ainda é um pouco cedo. Que tal colocar roupa a lavar, passar a ferro, ou arrumar aquelas gavetas repletas de inutilidades que andas a adiar há séculos porque "nunca tenho tempo"?  - Sim, é possível inventar algo para fazer. Se tens um pátio, uma mangueira e vontade de te molhares antes de tomares banho, podes lavar o teu carro primeiro. E, já agora, aspirar!

13h09 - Hora de fazer o almoço e de almoçar. Agora que estás em casa, aproveita para cozinhar pratos saudáveis e inventar receitas novas. Por vezes descobrimos talentos adormecidos, pois a pressa de um dia "normal" é uma desculpa para  não resistir à "comida de plástico". Agora, no excuses!

14h09 - Meditar. Porque não? Existem inúmeros sites de meditação guiada na Internet e é possível fazê-la também em grupo. Haja vontade! Em alternativa podes dedicar tempo às tuas plantas de varanda ou a uma pequena horta que tenhas no pátio, atrás da tua casa. Haverá sempre uma flor para regar.

14h38 - Organizar as pastas/documentos do computador, sim, aquelas que estão desde o século passado por ordenar e se encontram aleatoriamente espalhadas pelo teu ambiente de trabalho (upsss, isto eu tenho MESMO de fazer). Recordar as viagens que fizeste antes do Covid-19, pegar num programa de edição de vídeo e surpreender alguém ou simplesmente pesquisar diferentes assuntos na Internet, parecem-me opções bem válidas.

15h15 - Desligar a Internet e espairecer as ideias no meio do pinhal (isto para quem vive no campo). Quem vive na cidade pode sempre ir pintar um guarda-jóias na varanda ou desafiar um familiar para uma partida de xadrez. E que tal aprenderes a dar uns acordes naquela guitarra acústica que tens ao fundo, lá bem no fundo do teu sótão? Why not?

16h05 - Arrumar a tralha que está no sótão e recordar trabalhos escolares, memórias guardadas a sete chaves dentro de gavetas enferrujadas ou limpar prateleiras poerentas. Realizar estas tarefas ao som de uma boa música ou da tua estação de rádio preferida.

17h19 - Fazer um bolo ou ir para o jardim. Arriscar numa nova receita ou arrancar ervas daninhas. É importante continuar a exercitar o corpo e dar asas à criatividade. Em alternativa, e se tiveres animais de estimação, podes sempre levá-los a passear ou dar-lhes banho, como eu fiz há pouco com as minhas cadelas.

18h02 - Arrumar a casa, varrer o chão ou limpar as janelas a fundo. Há sempre alguma coisa para fazer. Podes ver um episódio da série que acompanhas ou ler mais um capítulo desse livro de 500 páginas. A opção é tua.


20h00 - Hora de ligar a TV para acompanhar as notícias e fazer o jantar. Uma vez que comeste um prato saudável ao almoço, agora podes comer pizza como refeição principal e uma fatia de bolo de chocolate acompanhado por um chá de cidreira para a sobremesa. Lavar a louça e arrumar a cozinha.

21h01 - Anotar no teu caderno pensamentos que tenhas tido durante o dia, objetivos que tenhas cumprido ou projetos que ainda ficaram por concretizar. Voltar a abrir o livro para ler mais um capítulo. Ver uma reportagem televisiva interessante ou mais um episódio daquela série que anseias terminar. Ver um filme. Ou então, não fazer simplesmente nada.

22h07 - Tomar banho, lavar os dentes e estar contigo mesmo(a) no teu quarto. Voltar a pegar no programa de edição e rever aquelas fotografias da altura em que podias viajar. Escrever. Criar ou alimentar o teu blogue. Dar um saltinho ao Instagram, postar fotos, cuscar as stories dos outros e abrir o Facebook

23h08 - Desligar o programa de edição e os ficheiros de fotografias para veres mais um  (dois, três ou quatro!) episódio (s) da tua série. Vê até que os olhos te comecem a arder ou os sobrolhos teimem em fechar. Se vier a insónia, pega no teu livro. Comigo funciona (quase) sempre!

Não esquecer este cliché (porque os clichés nem sempre têm de ser pejorativos!):
 "Mente sã em corpo são".