quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A casa que não foi casa conta segredos da história de Pombal

Assemelha-se a uma casa, mas nunca o foi. O aspeto imponente e a ancestralidade do edifício que se ergue entre o rio Arunca, na ponte D. Maria, e a linha ferroviária que atravessa Pombal, conta a história de um armazém multifuncional, que foi edificado nos anos 30 do século passado.

Com projecto datado de 1924 e assinatura do arquiteto Ernesto Korrodi, a Casa Varela foi construída em pleno centro histórico da cidade do Marquês. Pensada para fins habitacionais, foi acolhimento, numa fase inicial, do armazém “Varela & Irmão”. De armazém de vendas a retalho a sala de ensaios, de Escola o principal comerciante da vila Industrial e Comercial a sede da Associação Desportiva de Pombal, o edifício teve inúmeras utilizações, e por lá já viu passar vários rostos.

Vista exterior da Casa Varela (década de 80/90) 

Nos últimos anos tem servido para fins culturais, ocasionalmente. O futuro do edifício está nas mãos da Câmara Municipal de Pombal (CMP), que quer dar uma nova vida aos espaço, através da dinamização de diversas actividades.

O imóvel é composto por cave, rés-do-chão, dois pisos e sótão, tem uma área de implantação ao nível da cave de 255 metros quadrados e uma área bruta de construção de 776.20. O espaço esteve essencialmente ao serviço dos setores secundário – indústria - e terciário – comércio e serviços, mas também albergou outras actividades de interesse público.

Foi Alfredo Dias Varela Pinto, reputado comerciante da vila, quem primeiro deu vida àquele que começou por ser um grande armazém de venda a retalho, com influência e clientes espalhados por todo o concelho e localidades periféricas, na zona interior da região.

De “Varela & Irmão” a “Armazém Varela & Filhos”

Fotos antigas cedidas por Vitor Varela
Mais tarde, já nos anos 50, a Casa albergou a escola Industrial e Comercial de Pombal e a respetiva cantina. Das funções multifacetadas do depois designado “Armazém Varela & Filhos” há a destacar a representação de marcas notáveis, como a Bayer, bem como de grupos financeiros, onde se faziam depósitos e pagamentos.

Estabelecia, também, protocolos com agências de seguros. A atividade comercial abrangia uma vasta gama de produtos e aí chegou- se a fazer torrefação de café, cevada e amendoim. Mas a atividade no armazém estava longe de se esgotar aqui; as parcerias com papelarias, drogarias e outros estabelecimentos faziam as delícias dos clientes e promoviam a entrada de receitas, dinamizando a economia local.

Nos anos 80, a Casa Varela era já propriedade de Vítor Manuel da Luz Varela Pinto, neto do anfitrião; nessa altura foi sede de algumas empresas e do PPD (atual PSD) e do PS de Pombal. Sabe-se, ainda, que numa das últimas ocupações, serviu de restaurante e de talho.

Um ano depois de ter sido adquirida pelo município de Pombal, por 279 mil euros, a Casa dos Varelas foi classificada como monumento de interesse público, recebendo depois importantes obras de reabilitação, seguindo as características iniciais do edifício.

Têm surgido várias ideias em torno do destino a dar ao edifício: “pousada da juventude”, “hostel” ou “espaço de co-work” foram algumas das propostas já apresentadas à CMP. Por outro lado, nos últimos anos, a “Casa Varela” tem sido palco de espetáculos como o “Partituras Insólitas”, em 2014, e de exposições que homenagearam a emigração portuguesa no âmbito do projeto “Rupturas – história da emigração portuguesa” durante as Festas do Bodo, que decorrem na cidade nos últimos dias do mês de julho.

Com uma história rica que se cruza com a vida de Pombal, a antiga loja de fazendas, que também foi retrosaria e sala de ensaios do “Conjunto Kinzé Varella”- em 1966, uma das principais bandas da região - prepara-se agora para viver uma nova página aos serviço do interesse público.

Casa Varela vai ser espaço versátil

A Câmara quer transformar o antigo armazém num espaço cultural da cidade, ao abrigo de um projecto que irá concorrer a verbas comunitárias. Vítor Varela, hoje com 82 anos
de idade e último gerente do armazém, acredita que “o espaço tem de ser aproveitado pela CMP, nem que seja para lá se colocar um museu”, refere ao REGIÃO DE LEIRIA.

“Fizeram obras exteriores”, menciona o ex-gerente da casa quando relembra a data em que o município adquiriu o espaço. Frisa a boa localização de uma “construção maravilhosa, um edifício bem conservado”. A aposta do município passa por requalificar o interior com a instalação de placas em betão armado, rede elétrica, elevadores e preparação da cave para ser um espaço “destinado à restauração”.
Vista exterior atual do edifício
Para a autarquia, este é mais um passo para a “revitalização da frente ribeirinha” de Pombal. O espaço vai receber as “obras que têm um prazo de execução de 365 dias”, num projecto candidato a apoios em “80% de financiamento europeu, no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), Programa Operacional Regional Centro 2020”. Ao abrigo desta candidatura, o município irá investir cerca de “765 mil euros” na revitalização do edifício, de acordo com nota de imprensa enviada  ao REGIÃO
DE LEIRIA.

A cave edifício do será destinada à restauração, que servirá as empresas e os artistas que se venham a fixar, mas também a comunidade local. “A Casa Varela será um espaço que terá uma função expositiva e demonstrativa, um local de produção cultural e ainda um espaço de co-worke também de incubação de empresas”, destaca o Presidente do Município Diogo Mateus.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Quando a morte nos bate à porta

Não precisas de perguntar porquê. Não vale a pena tentares descobrir uma razão racional ou emocional sobre porquê que acontece. Não tentes adivinhar porquê. A única certeza que há é que é uma realidade transversal a todos e a todas independentemente do género, estatuto social, estado civil, crença religiosa, saldo da conta bancária, etc, etc. Nascemos-crescemos-reproduzimo-nos (ou não) e morremos. Ponto. Toca a todos. Toca a nós. Não só aos outros.

Independentemente disso, ninguém a espera, ninguém a aguarda. Ninguém sabe quando vem nem que vidas ceifa. É inesperada, mesmo quando se trata de um cancro terminal, de velhice, de uma doença incurável. É inesperada quando se ama alguém. E bate à porta de todos. Mais cedo ou mais tarde. E não vale a pena tentar fugir ou negá-la. Ela vem quando menos esperas. 

E quando acontece aos outros podemos sentirmo-nos tristes e dar os "sentimentos" às pessoas. Mas quando é à nossa porta que bate é mais complicado. É difícil aceitá-la e recebê-la como uma inevitabilidade, um ciclo natural da vida. Muito menos quando temos de lidar com a morte de um familiar próximo ou do irmão de uma das melhores amigas. Mas... Há sempre um mas que fica por responder.

Questiono-me se as pessoas partem porque já cumpriram a sua missão em vida e porque, por isso, chegou a "hora" delas. Será mesmo isso? Será que partem quando têm de partir e deixam familiares e amigos em sofrimento só porque chegou a sua hora? Porquê, porquê, porquê? Porque é que tem de ser assim? Porque se vão em acidentes (trabalho, viação, desporto, lazer) e ninguém nos avisa de um sofrimento inevitável? Se fossemos avisados será que estaríamos preparados? - Creio que não. Ponto final. 

sábado, 1 de outubro de 2016

Aquele estranho ser no casamento da Pandora

Agora penso e já passaram 21 dias. Já passou, também, a tua lua-de-mel. Passaram dias de um sonho e que marcam uma nova etapa da tua vida. Passaram dias que manteremos todos na memória até porque é urgente perpetuar a memória dos bons momentos. E é isso que agora fica, a recordação de uma felicidade indizível, traduzida em lágrimas. 


Vinte-e-um-dias, querida Pandora. Há 21 dias surpreendeste-nos a todos. Não só com a original menina das alianças, com as tuas típicas e inigualáveis sapatilhas de casamento, mas também com outra(s) coisas. Não te esqueças de que também tu foste surpreendida. Mas hoje apetece-me falar(te) da rasteira que nos pregaste a todos.

O dia tinha tudo para ser perfeito: naquele meio-dia-e-meia o local do casamento era uma quinta familiar fantástica, localizada perto do Palácio de Queluz, os convidados elegantemente bem vestidos ansiavam a tua chegada, o noivo estava ansioso por dizer "sim" e o teu pai preparado para guardar todos os momentos memoráveis através do registo fotográfico. Então chegaste tu, mais do que linda, indescritívelmente deslumbrante. 

Estava tudo a posto para dar seguimento a um casamento de sonho. A "welcome drink" antes do almoço tinha tudo para resultar. O dia solarengo ajudava a despertar os sentimentos mais afáveis dos convidados e, até eu que não conhecia ninguém, senti-me predisposta a socializar e a passar um bom dia na vossa companhia.

Até que... Um estranho ser começa a "meter-se" com os convidados. Reparei, pela primeira vez, que "ele não batia bem" quando aproximou exageradamente a bandeija com os petiscos da minha cara, mesmo em frente ao meu nariz e insistia até eu tirar "qualquer coisa". "Não quero, obrigada", respondia educadamente. "Mas tire", dizia enquanto aproximava o tabuleiro além do limite do razoável. 

Não liguei, ou fiz por isso. Mas apercebi-me de que não era só comigo que isso acontecia; as pessoas, em geral, comentavam o comportamento atípico do jovem empregado que não tinha mais do que 30 anos. Estranho. Como é que a empresa de prestação de serviços de restauração coloca uma pessoa como aquela, sem a mínima sensibilidade, a lidar diretamente com pessoas. - Nunca pensei que ali "houvesse gato" e, tal como eu, aposto contigo que ninguém desconfiou de nada.

Fiquei chocada quando ele se meteu comigo para dizer que a música do casamento era "uma seca". Mas mais escandalizada fiquei quando vejo que ele pega num cocktail de frutos vermelhos e tenta beber, "disfarçadamente", atrás dos arbustos. À vista de todos. As reprimendas do "tio" não pareciam dar resultado. E não davam.

Quando já pensávamos que tínhamos visto de tudo, acontece algo pior. Quando entras com o Paulo, Pandora, no local destinado ao almoço, o dito cujo atravessa-se à vossa frente e deixa cair a bandeja com os talheres. Foi a gota de água. Quase que te estragava o casamento... que cena, pá! Foi então que o "tio" disse que esta tinha sido a última oportunidade do sobrinho para mostrar o que valia. Afinal não conseguiu dar "conta do recado" e quase arruinava o melhor dia da tua vida... Enfim, foi-nos dito que estava no escritório a chorar e que se viria despedir dos convidados... Coitado, será que era precisa tamanha humilhação? -  pensámos todos.

Até que... surpresa das surpresas... nem um minuto tinha passado para um mágico invadir o salão... Música, alegria, magia e diversão fizeram as delícias dos convidados que, aos poucos se foram apercebendo de que o
garçon tótó não o era! Era um mágico com truques surpreendentes...

Foste mazinha e não te reservaste ao prazer de comunicar, através do microfone que os convidados "foram enganados". Nem as tuas damas de honor sabiam! Má, má, má! Mas foi lindo. Um casamento preparado à medida da tua imaginação e criatividade. Obrigada por tudo e as melhores felicidades para os ex-noivos, que agora são marido e mulher!