sábado, 19 de outubro de 2019

Lénia Simões, na Suiça: “Emigrar é expandir o nosso campo de oportunidades”

Natural do Carriço, concelho de Pombal e distrito de Leiria, Lénia Simões tem 35 anos e reside atualmente em Sion, Suiça. Foi em 2007, quando estava a terminar o curso de Anatomia Patológica, que decidiu emigrar. Na altura, Portugal não lhe oferecia oportunidades de trabalho na área de formação.


Com os pais a residir na Suiça, foi com oito anos de idade que lá esteve pela primeira vez, por isso não foi com surpresa que se deparou com uma nova realidade quando emigrou. “Quando estava a terminar o curso vi que em Genéve existia uma escola especifica de citologia, onde se formam pessoas de forma intensiva durante um ano, obtendo-se, assim, a experiência necessária para trabalhar em citologia, sem a formação continua no laboratório”, explica.

Lénia aproveitou o facto de os pais morarem perto de Genéve para mudar o rumo à sua vida: “inscrevi-me na escola de citologia e fui aceite. Durante essa formação tive a oportunidade de estagiar em Sion e, no final do estágio, propuseram-me um emprego. Tendo em conta a situação complicada em Portugal, aceitei e por cá fiquei”.

A residir atualmente em Sion, Lénia não se arrepende das escolhas que tem feito. “Morar noutro país faz com que vejamos outras culturas, e tenhamos outros horizontes”, acredita. No “inicio, quando vinha a Portugal, fazia escalas noutras cidades Europeias. É muito interessante”, destaca.

Da Suiça gosta da centralidade na Europa, da diversidade de atividades que o país oferece e das paisagens. “Moro a duas horas de Milão, Turim e a uma hora de Evian”, diz.  Com o mar a cerca de quatro horas de distância, aproveita as potencialidades da montanha “que oferece uma infinidade de opções, entre o ski, as caminhadas, curvas para andar de mota, entre outros”. As paisagens, essas, são maravilhosas: “em cada canto do país há um lago, e as paisagens são fantasticas. É como se vivesse num postal”, realça.

E de Leiria, do que sente saudades? As praias... é das praias que sente mais falta mas não só. Lénia também sente falta da “cidade em si e do estilo de vida que a acompanha. Adoro ir à praça Rodrigues Lobo beber um café à tarde ou um copo a noite. A gastronomia também deixa imensas saudades”, sublinha Lénia.

Por agora, Lénia não faz planos futuros; apesar de os pais terem regressado a Portugal e de a família estar toda por terras lusas, tem o coração na Suiça, pois, para além do trabalho, apaixonou-se por um suiço. Apesar disso, continua aberta a todas as oportunidades que a vida dá. "O meu namorado já disse que quando chegar a reforma, quer ir morar para Portugal”, conclui.

Sion, Suiça
Área: 25,58 km² 
População: 27 592 habitantes
Características: Sion é o centro económico e político de toda a região e é atravessada pelo rio Ródano.Possui dois castelos localizados em duas próximas uma das outras: La Valère e Tourbillon.Sion possui um património histórico e religioso datado desde os tempos medieviais até agora, como o Hotel de Ville e a Catedral da Nossa Senhora de Valére.

O melhor por lá...
Para Lénia, o melhor na Suiça é a diversidade.Na Suiça vivem pessoas de muitas nacionalidades diferentes, o que me permitiu conhecer várias culturas ao mesmo tempo”.

O pior por lá...
“O preconceito” é, de acordo com a citotécnica, o pior do país.

O mais surpreendente por lá...
“A relação com a natureza” é para Lénia o mais surpreendente no país.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Sandra Lee Carapinha, EUA: “Quero ajudar os emigrantes a manterem o Português vivo em suas casas”

Sandra Lee Carapinha nasceu nos Estados Unidos da América (EUA) mas, aos nove anos de idade, mudou-se com os pais para as Caldas da Rainha, distrito de Leiria. Aí residiu até 2011, altura em que a crise ditou que regressasse com o marido e com os dois filhos ao país que a viu nascer. Atualmente vive em Santa Mónica, Califórnia, EUA.

"Acima de tudo queríamos ter a experiência de viver num novo país”, destaca Sandra acerca dos motivos que a levaram a emigrar. Beneficiando da dupla nacionalidade portuguesa e americana, Sandra viu facilitada a sua decisão. Na altura os filhos tinham “um e cinco anos de idade”, pelo que “pareceu-nos a altura ideal para fazermos uma mudança de vida”, destaca.

Formada em Publicidade e Marketing, Sandra desenvolve atualmente o projeto Learn European Portuguese Online, uma plataforma de conteúdos focada no Português Europeu. Dá “aulas online e presencialmente” uma vez que, “há uma crescente procura na aprendizagem do Português Europeu, por isso, lancei o projecto na altura certa”.

O regresso a Portugal está, por agora, fora de questão e os planos de Sandra passam por “fazer crescer o projecto” além fronteiras. Focada em “ajudar os emigrantes a manterem a Língua Portuguesa viva em suas casas e dar a conhecer a língua de Camões, aproveitando a onda de popularidade de Portugal”, a empreendedora encontra motivos que a fazem continuar em Santa Mónica.

Das Caldas da Rainha sente saudades “dos amigos, da família, da comida e do estilo de vida”. Exemplifica, “o ir jantar fora tarde, beber um copo, estar com amigos na esplanada”. Isto porque nos EUA “tudo acontece muito cedo. Se, por um lado, é bom porque o dia começa cedinho e já tens muitas coisas para fazer, por outro já estás a pôr as crianças na cama às 20h30, uma coisa impensável em Portugal”.


Arrependida da mudança? Não. Sandra acredita que “mudar de país não é fácil, há grandes barreiras culturais diárias que nos fazem ver que nem tudo tem de ser feito como no nosso país de origem”. Acredita que a exposição cultural a que os filhos estão sujeitos no dia-a-dia é benéfica; “gosto que os meus filhos cresçam num meio onde são expostos a outras culturas, línguas e religiões e que respeitem a individualidade de cada um”, sublinha Sandra.

A um candidato a emigrante Sandra aconselha a tomar uma decisão informada. “Se a balança tombar para os prós, acho que deve tentar”, afirma. “Voltar a Portugal é sempre uma hipótese, por isso não custa tentar, especialmente se quer viver uma experiência de vida nova”, conclui.


Para ficar a conhecer o projeto basta aceder ao site www.learneuropeanportugueseonline.com.

Santa Mónica, California
EUA

Fundação: 3 de agosto de 1769
Área: 21,8 km²
População: 89 736 habitantes (censos em 2010)

Curiosidades:
Santa Mónica é uma cidade costeira localizada no estado norte-americano da Califórnia no oeste da região metropolitana da cidade de Los Angeles e é banhada pelo Oceano Pacífico. Foi incorporada em 30 de novembro de 1886. Por ter um clima agradável, Santa Mónica tornou-se destino turístico antes do século XX, mas foi a partir da década de 1980, com a revitalização de atrações turísticas, que a cidade se consolidou como pólo turístico e de oportunidades de emprego.

O melhor dos EUA
“A iniciativa, o fazer acontecer” é, para Sandra, o melhor do país onde reside.

O pior dos EUA
De acordo com a formadora, o “sistema de saúde” nos EUA não funciona da maneira mais eficaz.

O mais surpreendente dos EUA

“O voluntariado, o pôr as mãos à obra e não esperar que seja o Estado a resolver tudo” é, para Sandra, o mais surpreendente do país onde reside.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Memórias dos tempos de "Caloira"


Um de Outubro de 2019. Inicia o mês que precede o do começo das aulas, Setembro. E com os primeiros dias de Outono, chegam os estudantes, residentes ou descolados, às "cidades universitárias". De mais longe ou de mais perto, consigo trazem as recordações e as memórias de 18 (ou mais) anos de vida. São os "caloiros" do ano lectivo 2019/2020. E já lá vão quase 10 anos desde o dia em que era eu a "caloira" do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (ESCS).

Com saudade recordo aquele dia de meados de Setembro, em que me fui inscrever na ESCS. Nesse dia levantei-me bem cedo e rumei com o meu pai à capital. Seguidas as indicações do GPS, facilmente encontrámos a instituição de ensino superior na qual havia sido admitida. Dúvida, medo, receio, curiosidade, interesse, alegria... vários foram os sentimentos que me assaltaram logo nesse primeiro dia.

Afinal, mudar de cidade com 18 ou 19 anos, não é fácil nem é para todos. Aquela que viria a ser a Escola onde estudaria nos três anos seguintes, recebeu-me como se devem receber os alunos que a visitam pela primeira vez. Poucas recordações guardo do dia da inscrição propriamente dito. Contudo, foi o dia em que pisei Benfica pela primeira vez e em que conheci a ESCS. Mas nos próximos parágrafos conto-vos a minha experiência como aluna deslocada e as memórias boas que as "praxes" me deram.

A ideia de ir para Jornalismo surgiu do gosto pela leitura e pela escrita. Aliás, ir para a frente das câmaras nunca foi um objetivo (quem me conhece sabe como sou, por vezes, introvertida). Por ser a capital onde tudo acontece, assumi que estudar Jornalismo em Lisboa seria a hipótese mais viável e recomendada. Admito que com pouca gente falei aquando da escolha do curso e da cidade. De nada me arrependo e voltaria a fazer as mesmas escolhas, uma vez que estudar num Instituto Politécnico é tão ou mais enriquecedor do que frequentar a tal dita Universidade.

O primeiro dia "do resto da minha vida" foi logo por meados de Setembro. De uma pacata cidade do litoral centro de Portugal - Pombal - rumei à eclética e cosmopolita capital portuguesa - Lisboa. Os primeiros tempos não foram fáceis; além da exigência no ensino ter sido muito superior àquela com que alguma vez me tinha deparado, gerir emoções quando se está longe de tudo e de todos os que nos são queridos, revela-se um enorme desafio. 


Depois de escolher o curso e a cidade, tive de procurar o sítio onde viver; fiquei num quarto alugado na zona de Benfica (sim, na altura em que ainda era possível alugar um quarto em Lisboa por um preço "normal" e adequado). Os meus pais ajudaram-me a transportar a bagagem e não consigo descrever o aperto no coração na hora em que se foram embora. Quando olho para trás, revivo-o quase com a mesma intensidade com que  o vivi na altura. Agora estaria por minha conta e risco.

Lágrimas escorreram, pensamentos confusos ocorreram e ideias mirabulantes passaram-me pela cabeça. Tudo era novo e não tinha certezas de, absolutamente, nada. Estava sozinha, numa cidade diferente, com colegas de casa e de escola que nunca tinha visto na vida. Foi assim que iniciei a idade adulta.

Nunca esquecerei a primeira semana na ESCS. Apesar de não me lembrar de pormenores, sei que a cor do meu curso era amarela e que a minha madrinha era a Daniela Polónia. Adorei as anteriormente temidas "praxes". Sempre tinha ouvido dizer que em Lisboa havia "pouco espírito académico"... A ESCS fugiu à regra e tive uma excelente semana de integração. Desde a "aula fantásma" ao almoço do caloiro, das pinturas faciais num infantário aos percursos pela cidade, do baptismo ao jantar do caloiro, recordo com nostalgia cada minuto vivido nessa semana.

Confesso que não trajei nem que continuei a participar na vida paralela das "praxes", até porque me queria concentrar nos estudos e fazer valer aqueles tempos de sacrifício. Não me arrependo disso, e voltaria a agir da mesma forma. Tudo foi vivido da forma que acho que deveria tê-lo feito. Estou grata por ter passado bons tempos de faculdade e por ter conhecido pessoas sensacionais que trago no coração. Até aqueles professores mais "complicados" me ficaram marcados na memória para relembrar como devemos ser fortes, corajosos e resilientes para enfrentar as adversidades que vão surgindo por essa vida fora.

Da ESCS guardo com amor todas as experiências vividas, as boas e as mais desafiantes, pois todas elas contribuiram para fazerem de mim a pessoa que sou hoje. Obrigada por tudo, ESCS!