domingo, 15 de maio de 2022

A (In)Dependência Emocional e a Inevitável Ferida do Abandono

Tão importante quanto outros tipos de independência é ter independência emocional. Praticar o desapego de coisas e de pessoas e focarmo-nos em nós, nas nossas necessidades, nos nossos objetivos, nas nossas metas, é fundamental para cuidar da independência emocional.

Fonte: Pinterest
E o que é, afinal, a independência emocional? Para entender esta questão talvez faça sentido começar por caracterizar a dependência emocional, que anda de mãos dadas ao apego. Ora, dependência emocional, é nada mais nada menos do que habituação à presença de uma pessoa, o hábito de a ter por perto e de estar com ela, o vício no outro. Tal como outras dependências, esta é altamente prejudicial e, muitas vezes, é confundida com Amor. Não, DEPENDÊNCIA EMOCIONAL não é AMOR nem nada que a isso se pareça. 

Tal como uma droga que nos tolda os sentidos, a dependência emocional não nos permite ver o outro tal como ele é; faz com que o vejamos tal como desejaríamos que fosse. Idealizamos uma pessoa à luz do que gostaríamos que ela fosse, e justificamos comportamentos abusivos e atitudes repulsivas porque esta dependência apenas nos permite ver o lado bom dessa pessoa. Só que não. Toda a gente tem um "lado lunar" e a tua 'cara-metade' não é excepção. 

A dependência emocional é, muitas vezes originada pela ferida emocional do abandono. Já escrevi sobre o assunto neste post embora que de forma mais superficial. A ferida do abandono está diretamente relacionada com uma mágoa, um trauma ou um outro assunto mal resolvido com o genitor do sexo oposto. Em algum momento na infância a pessoa que carrega a ferida emocional do abandono sentiu-se rejeitado(a) pelo pai (no caso da menina) ou pela mãe (no caso da menina). Mesmo que de forma inconsciente, a ferida desenvolveu-se (e agravou-se!) e não foi curada. Então esse vazio deu lugar à máscara do DEPENDENTE.

A pessoa emocionalmente dependente pode sê-lo em relação aos amigos, aos familiares mais chegados ou ao seu parceiro (a). O seu maior medo é a solidão; por vezes sujeita-se a uma "companhia qualquer" porque acredita não merecer mais do que aquilo. Não reconhece o seu valor e necessita, constantemente de validação externa. Sedento de atenção, o dependente emocional prende-se fisicamente aos outros. Para se curar precisa mesmo de ir à origem do problema, reconhecê-lo, aceitá-lo e curá-lo.

Só depois de ter consciência sobre a ferida emocional que carrega, de aceitá-la e de a curar é que este vai conseguir ir-se tornado, aos poucos, emocionalmente independente. O processo não é fácil e requer uma grande força de vontade. Caminho tumultuoso, pouco linear, repleto de altos e baixos mas que vale muitíssimo a pena. Afinal, só libertos de feridas que, muitas vezes, transitam de geração em geração, é que é possível cortar ciclos de sofrimento e sermos realmente felizes.

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A independência emocional é importantíssima para a manutenção da saúde mental. Praticar o desapego de pessoas ajuda-nos a proteger contra desilusões amorosas penosas. Arrisco dizer que ter independência emocional é tão importante quanto ter independência financeira. Estas permitem-nos ser exatamente quem somos, ser fieis à nossa essência e aos nossos princípios. As dependências são prisões e, ao longo do tempo, vão-de tornando cada vez mais prejudiciais porque acabam por nos condicionar e minar o nosso livre-arbítrio. E mais uma vez, os limites! Só com independência emocional poderemos coloca-los, definir até onde o outro pode ir e saber colocar um "STOP" quando o outro começa a invadir o nosso espaço pessoal e a tentar tomar as rédeas da nossa vida. 

Viver de essência e não de aparência. É isso o que realmente importa. Se estamos cá para aumentar o nível de consciência, que o façamos com foco na cura das mágoas que nos impedem de ser felizes. Usar máscaras atrás de máscaras só nos afasta da essência; por isso é preciso despertar e estarmos conscientes daquilo que realmente nos faz ser fieis à nossa essência. 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Porquê que é tão desafiante olhar para dentro?

Consciência. É sobre Consciência que escrevo hoje, sobre a sua importância e a necessidade que temos de a possuir. Afinal quem somos nós sem Consciência? Seres irracionais que se regem por impulsos reptilianos? Seres acéfalos que (re)agem por instinto para satisfazer só e apenas as suas necessidades básicas?  - Sim, sem Consciência pouco ou quase nada somos. De racional pouco nos resta se não refletimos sobre quem somos, sobre o que estamos cá a fazer e, acima de tudo, se não olharmos para dentro de nós mesmos.

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Incomoda, claro que sim. Olhar para dentro requer tempo, paciência, equilíbrio, disciplina e uma enorme vontade de evoluir como ser humano racional, emocional e pensante. Olhar para dentro de si mesmo é desconfortável; afinal que prazer dá mexer nos traumas e nos receios, refletir sobre o que nos fez mal no passado e tocar nas feridas emocionais que, muitas vezes desde a infância, se encontram por sarar? Nenhum, daí "olhar para dentro" ser tão repulsivo e causar tanta dor. Mas é uma dor necessária; é preciso tocar nela para a curar.

Ter consciência sobre quem somos, o que andamos a fazer por esta Vida, quais são as nossas forças e as nossas fraquezas - falo quase de uma análise SWOT - Strengths, Weaknesses, Oportunities and Treaths - é essencial para efetivamente melhorarmos a nossa qualidade de vida. Ter um interior limpo, leve e livre eleva a nossa frequência vibracional e, por acréscimo, iremos atrair pessoas e situações que vibrarão na mesma frequência. Convém que seja elevada, para que os impulsos primários não nos toldem os sentidos nem nos levem a fazer decisões precipitadas nem desfavoráveis ao nosso bem-estar. 

É a Consciência, movida pela Intuição e pelo Coração, que nos alerta para situações de perigo, para pessoas tóxicas, para coisas que não nos fazem bem. É a Consciência que nos permite ter noção do bem e do mal, do certo e do errado, do agradável e do desagradável e do código ético e moral através do qual desenvolvemos as nossas ações. É também a Consciência daquilo que queremos para a nossa vida e a Consciência acerca do que merecemos que nos permite estabelecer limites.

Limites! Tão importantes são em qualquer tipo de relação; com os colegas de trabalho, nas relações familiares e de amizade, no amor. É bom que tenhamos esta noção; limites são necessários sempre, tal como é a ética e a moral. Só quando nos conhecemos, podemos conhecer também os nossos limites. Aí distinguimos o que é negociável e o que não é negociável no relacionamento com os outros. Sem o Conhecimento de nós mesmos e sem Consciência não é possível estabelecer limites.

E porque é tão desafiante olhar para dentro de nós mesmos? Porque é mais fácil ver os erros dos outros do que os nossos; no entanto esquecemo-nos de que somos o espelho uns dos outros. Critico no outro aquilo que mais me incomoda em mim. É no outro que vejo os meus defeitos. Muitas vezes é também o outro que põe a descoberto as minhas fragilidades e as minhas feridas emocionais. Daí ser tão desafiante parar, olhar, pensar e refletir sobre o meu interior. Meditar.

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É fácil apontar um dedo; esquecemo-nos de que um está apontado para o outro, quatro para nós mesmos. Criticar o outro à luz do que pensamos ser correto e sem conhecer a sua história, parece-me injusto. Antes de ter empatia para com o outro preciso de a ter para comigo mesmo(a). Só depois será possível "calçar os sapatos" do outro. E só assim será possível ver com mais clareza, compreensão e imparcialidade o ponto de vista do outro.

As relações humanas são complexas, mais ainda se fugirmos de nós mesmos e não nos permitirmos olhar para dentro. Se não estivermos dispostos a conhecermo-nos, a conhecer as nossas fragilidades e as nossas virtudes, a ter empatia connosco mesmos, nem a trabalhar sobre nós, como poderemos ajudar outros? Compreendê-los? - Não é possível de todo. 

Muitos dos problemas das relações entre as pessoas vêm precisamente da falta de Autoconhecimento e de Consciência. Eu própria estou a fazer o meu precurso. É um processo demorado, contínuo, com altos e baixos, que requer tempo, paciência e muita disponibilidade mental. Nem toda a gente está disposta a "tocar na ferida" nem a curá-la, porque acha que isto é tudo uma treta. 

Ainda bem que não pensamos todos da mesma forma e, porque não pretendo arruinar a minha vida, decido olhar para dentro para que possa autoconhecer-me, ter mais Consciência sobre quem sou e o que quero para a minha Vida, poder elevar a minha vibração e atrair apenas quem e aquilo que me faz bem. Transformar-me, em primeiro lugar.

O nosso corpo é a nossa primeira casa. Cuidemos do nosso interior, com meditação,  tal como cuidamos do nosso físico, com as idas ao ginásio.