domingo, 30 de janeiro de 2022

"After Life": A Vida Depois da Vida

Na semana passada vi o último episódio de "After Life", uma comédia dramática da plataforma de streaming Netflix. Ao longo de três temporadas e de 18 episódios, o realizador, produtor e protagonista Ricky Gervais, conta como é a vida de "Tony Jonhson", a personagem que "encarna", após a morte da esposa "Lisa" (Kerry Godliman). A primeira temporada estreou em março de 2019 e a última no dia 15 de janeiro deste ano.

"Tony" e o seu cão, o seu fiel amigo
"Tony Johnson" é jornalista num jornal londrino local que (sobre)vive diariamente depois de o cancro da mama lhe ter roubado a esposa. Esta série que se desenrola, ao todo, em 18 episódios, quer mostrar como é o dia-a-dia de uma pessoa que perdeu quase todo o sentido da sua existência. 

Em cima da mesa Tony coloca a hipótese de suícidio; afinal, sem a esposa, a sua companheira de todas as horas, a vida perde o significado. Contudo, escolhe encontrar uma alternativa a esta opção e o conforto no melhor amigo Brandy. É o cão de ambos que, desde o dia da morte de Lisa, se torna na razão pela qual Tony acorda diariamente. Além disso, ao escolher dizer e fazer o que lhe der na cabeça, Tony descarrega os sentimentos de impotência, de frustração e de tristeza deixados pela perda da esposa, no humor negro com que se dirige aos outros.

Os dias de Tony são todos muito parecidos e rotineiro: acorda; vê uns vídeos engraçados da esposa Lisa no computador; dá o pequeno almoço ao cão; veste-se para ir trabalhar; vai trabalhar no jornal local londrino "Tambury Gazette"; faz o seu trabalho, onde conta histórias caricatas de pessoas que fazem tudo para aparecer no jornal; vai visitar o pai ao lar (quando este ainda está vivo e com a doença de Alzheimer); visita a campa da falecida esposa, onde conhece uma senhora que se encontra numa situação parecida e de quem se vai tornando amigo, a Anne (Penelope Wilton); regressa a casa e vê, outra vez, alguns videos da falecida esposa. Com poucas variações, os dias do protagonista desta série, desenrolam-se entre recordações, alegrias, tristezas e, acima de tudo, vazio e saudade

Esta série dramática mostra, de uma forma mais ou menos leve, mais ou menos irónica, mais ou menos realista, como é viver o luto de uma morte anunciada. Digo "anunciada" pois o cancro, de uma forma lenta e silenciosa, foi destruindo aos poucos a vida de "Lisa" (que apenas aparece viva nos vídeos e na memória de Tony). O derradeiro fim seria inevitável.  "Tony" via na esposa o ombro amigo de todas as horas, a companheira de vida inseparável, o grande amor que o cancro, injustamente, levou. 

Tony teve de aprender a lidar com a perda, com o sentimento de impotência por nada poder fazer para trocar as voltas ao inevitável destino, e com a dor do luto. Teve, no final de contas, de reaprender a viver sem a sua mais-que-tudo. Tinha ajuda psicológica, refugiava-se no trabalho e nas conversas leves com uma das funcionárias da casa de repouso onde estava o pai, Emma (Ashley Jensen), de quem acabou por se tornar amigo. 

O último episódio da terceira season foi, sem dúvida, o que mais me marcou precisamente devido a um momento muito específico, em que Tony e o colega se deslocam a um hospital infantil oncológico. Aí, uma das crianças com quem Tony fala e que sofre com cancro, diz-lhe que se chama "Lisa". O nome, portanto, da mulher de Tony. Quando questionado sobre o local onde ela está, Tony diz à menina que ela está em casa. Nesse momento, admito, não consegui conter a lágrima. Eu sou assim, emocional.

Esta foi, sem dúvida, a melhor série que já vi. Não uma das melhores, reforço, A MELHOR. Comecei a vê-la numa altura da vida em que achava que estava feliz, mas terminei-a numa altura em que estou realmente feliz. Tal como o Tony, eu já tive de fazer o luto de pessoas que faleceram. Doeu e não foi pouco. Também já tive de fazer o luto indesejado e negro de pessoas vivas que já não estão na minha vida, mas que continuam vivas. E qual deles será o pior? - A resposta a esta pergunta reside em cada um de nós porque cada caso é um caso e cada um vive a sua realidade à luz da cultura, as crenças, da educação e das próprias experiências de vida que vai tendo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

'Quero É Viver', uma homenagem ao AMOR-PRÓPRIO

Começo o primeiro post do ano por desejar a todos os leitores um 2022 repleto de vitórias profissionais e pessoais. Sintam-se abraçados por esta humilde e sincera pessoa que, mais uma vez, vai dar continuidade a um tema sobre o qual tem escrito nos últimos posts: o Amor-Próprio. 

Ui, tão importante é e nunca, mas nunca, deve ser confundido com egoísmo ou narcisismo. Afinal, se eu não gostar de mim, quem gostará?

Ora este é um post sobre AMOR PRÓPRIO em CAPS LOCK porque é assim mesmo que tem de ser e deve ser cuidado, nutrido e alimentado. Nunca pensei escrever sobre o assunto que se segue, mas vou fazê-lo e esta é a prova de que nunca deveremos dizer 'desta água não beberei'... Afinal começo já por dar os meus parabéns à TVI e ao estrondoso elenco da telenovela ´Quero É Viver' que estreou na passada segunda-feira, 03 de janeiro.

Fonte: Maag.sapo.pt

Em trinta anos de idade é a primeira vez que me deparo com uma novela que, efetivamente, dá voz às mulheres e evidencia a luta diária pela igualdade de género. Longe do machismo e da misogenia a que as novelas portuguesas nos têm habituado, considero, tendo em conta apenas três episódios, que esta produção de ficção nacional diferencia-se das demais por dar relevo ao papel da mulher, colocá-la no centro e pretender mostrar como nunca é tarde para mudar de vida nem para ser feliz.

O foi isso que fez Ana (ironia das ironias, a protagonista tem o mesmo nome que eu!), mudou de vida depois de 50 anos de casamento. O primeiro episódio, que se supõe que seja a celebração de 50 anos de casamento com o marido, acaba por trocar-nos as voltas dado que acontece o inesperado, e a ousada Ana atreve-se a não aparecer na própria celebração das bodas de ouro. Ao invés, viaja junto ao mar de Cascais no seu descapotável vermelho-vivo, saboreando a liberdade que o Amor Próprio, há pouco resgatado, lhe proporciona.

A 'Ana' representa a coragem e o atrevimento de deixar para trás a infelicidade e o peso de um casamento de 50 anos. É a voz destemida das mulheres que, um dia, decidem dizer 'CHEGA!' sem olhar para trás. É o grito ensurdecedor dos preconceitos tantas vezes apoiados por uma sociedade que julga e que questiona permanentemente o 'status quo'. É o passo em frente que precisa de ser dado rumo à liberdade. É o 'não!' que deve ser dito sem medo e a chave da felicidade!

'Ana' tem quatro filhas, três casadas e uma divorciada. Em cima da mesa, coloca quase de forma desafiadora, a debate as "vidas perfeitas" das filhas que, ironicamente, vivem rodeadas de mentiras. Mentiras de "casamentos (aparentemente) felizes" de fachada. Vidas aparentemente invejáveis e dignas de contos de fadas. Caminhos despidos de ponta de crítica. Só que não. "Aparentemente", essas vidas perfeitas não passam de mentiras.

Fonte: Maag.sapo.pt
É a protagonista da novela que incentiva as filhas a mudarem. Desafia-as a encontrarem-se, a bebem do fundo das suas essencias. A resgatarem o Amor-Próprio... Esse Amor-Próprio tantas vezes sacrificado em prol do bem estar do outro...  Ana é um exemplo para as filhas, é o abanão de que necessitam para mudarem as suas circunstâncias de vida. É a coragem sem fim e a prova de que nunca é tarde para ser feliz!

Sejamos esta 'Ana' ficcionada e todas essas 'Anas' da vida real que sabem o que querem, sabem o que merecem, reconhecem o seu valor, gostam de si mesmas e, acima de tudo, não se deixam espezinhar por NINGUÉM!