quarta-feira, 23 de setembro de 2020

As Marionetas das Redes Sociais

 

"The Social Media Dilemma" é um dos novos documentários que surgiu na Netflix no início deste mês de setembro. Durante cerca de uma hora e meia somos convidados a refletir acerca dos malefícios das redes sociais e sobre o perigoso impacto das redes sociais nas pessoas, com especialistas em tecnologia a alertarem sobre as suas próprias criações. É um documentário 'polémico' e 'incómodo' que tem feito "correr muita tinta" na imprensa nacional e estrangeira. 

Numa análise ao mundo da tecnologia, mais particularmente da indústria dos social media são-nos descritos os danos causados por plataformas como o Facebook, Google, Instagram ou Twitter, com base nos testemunhos de vários ex-funcionários destas grandes empresas. Ex-funcionários esses que tentam retardar o acesso dos próprios filhos a estas plataformas tecnológicas. 

O documentário explica o impacto, cada vez mais notório, que as redes sociais têm na nossa sociedade e somos alertados, em primeira pessoa, para as repercussões destes algoritmos invasivos e para as verdadeiras intenções das redes sociais. Aquelas com que talvez nunca tenhamos sequer sonhado.

Se é verdade que as redes sociais podem ser benéficas para encurtar distâncias, encontrar amigos ou colegas de trabalho, retomar contactos antigos, promover trabalhos e divulgar eventos, tornando a vida mais acessível 'à distância de um clique', têm, também, o "outro lado da moeda", que pode não ser tão óbvio ou tão saudável quanto parece.

Todos estes problemas partem de uma simples palavra: o algoritmo. Este conjunto de operações filtra todos os interesses, pesquisas e tarefas executadas pelo usuário para que nos sejam sugeridas temáticas relacionadas com as nossas paixões. O problema? Essa tecnologia está a deixar o mundo cada vez mais polarizado. Prova disso são os extremismos políticos que cada vez se acentuam na Europa e no mundo e a disseminação das "fake news" à velocidade da luz. 

À medida que os conteúdos divulgados na Internet se tornaram monetizados, as empresas passaram a pensar em formas de manter as pessoas online por mais tempo, garantindo assim mais visualizações e consequentemente, mais dinheiro.

São vários os sistemas e equipas que analisam as estratégias subtis para nos promoverem uma cultura onde parecemos nunca alcançar a perfeição que nos é vendida. Estejamos doentes, tristes, ansiosos ou alegres, as hashtags que usamos, os likes que damos e os posts que fazemos passam a identificar-nos como consumidor digital; são a nossa inevitável pegada digital.

"Se não pagas pelo produto, então és o produto"

Graças à Inteligência Artificial (IA), cada vez que entramos na Internet, nenhum clique passa despercebido. Quando achamos que estamos a fazer uma escolha ao visitar um link ou uma publicação, na verdade, a nossa ação já foi antecipada pela IA. Assim, os nossos comportamentos são manipulados, e as nossas ações são previstas com maior facilidade.

A Inteligência Artificial e o algoritmo trabalham de mãos dadas para identificar e direcionar os interesses pessoais de cada usuário, o que se torna perigoso e ambicioso, já que passamos a aceitar o que vemos e lemos como uma verdade absoluta. Devemos, portanto, manter uma atitude de questionamento constante, confirmar fontes de informação e analisar mais do que um ponto de vista acerca de um determinado assunto.

Quem seremos nós se não marionetas no mundo das redes sociais?

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Um regresso às aulas extremamente atípico


Dúvidas, inquetações e algumas incoerências assolam as ações e as atividades de direções de escolas, professores, alunos e encarregados de educação que se preparam para iniciar um ano letivo atípico. Em casa desde março e em regime de ensino à distância, os alunos preparam-se para embarcar neste 2020-21 presencialmente – pelo menos numa fase inicial. Neste artigo vou incidir, em particular, na experiência na Academia de Verão da Teach For Portugal que, de certa forma, serviu com “ensaio” para o novo ano letivo que se avizinha. Durante três semanas, ao longo dos meses de julho e de agosto, os participantes da organização sem fins lucrativos Teach For Portugal (TFP) foram desafiados a realizar umas atividades no âmbito das disciplinas de Português, Matemática e Inglês, com crianças com idades compreendidas entre os oito e os 14 anos, num Agrupamento de Escolas em Canelas (Vila Nova de Gaia).

Os objetivos passaram por “refrescar” os conhecimentos dos miúdos nestas três áreas e adquirir ferramentas pedagógicas – para os participantes da TFP – que possibilitem trabalhar com grupos heterogéneos, em contexto de sala de aula, em regime de co-teaching – dois professores realizam trabalho colaborativo dentro da sala de aula, de forma a tornar as aprendizagens mais efetivas e de chegar aos “edges” – extremos. Com turmas heterogéneas e com alunos com necessidades muito específicas, todas elas muito diferentes, abraçámos este desafio.

Tivemos, também, uma turma digital. Pudemos praticar ferramentas úteis para um eficaz ensino à distância, dinamizando atividades lúdicas com as crianças, incluíndo todas. Ferramentas com o Google Classroom Wordwall, (para criação de palavras cruzadas, quizz e sopas de letras, entre outras atividades) entre outras, foram úteis para a realização destas aulas virtuais que decorriam todos os dias úteis da semana.

Assim trabalhámos durante três semanas. Com segurança e sem nenhum caso de febre ou suspeita de Covid-19. E foram  semanas muito intensas, com aulas entre as 9h e as 13h onde houve espaço para “refrescar” conhecimentos, adequirir novas apendizagens, experimentar uma abordagem diferente do ensino e praticar diferentes ferramentas pedagógicas em regime de co-teaching. Foram cumpridos objetivos e foi tornado claro o propósito da Teach For Portugal, o de que “nenhuma criança fique limitada pelo seu código postal”.

Funcionou porque tínhamos poucos alunos por turma e, consequentemente, poder-se-ia manter o adequado distanciamento social. Além disso crianças, participantes e tutores pedagógicos estavam sensibilizados para o uso correto da máscara e para a desinfeção regular das mãos cumprindo, assim, todos os procedimentos de higiene necessários à interrupção da propagação do COVID-19.

Acredito que com o elevado número de alunos por turma (28 no máximo) e tendo em conta as reduzidas dimensões das salas de aula na maioria das escolas públicas portuguesas, não seja possível manter os adequados dois metros de distância, entre alunos, recomendados pela Direção-Geral de Saúde. Além dos constrangimentos dos espaços físicos, faltam recursos humanos – especialmente assistentes operacionais – em várias escolas, que vão ter trabalho acrescido em tarefas de limpeza e higienização dos espaços. Vai ser preciso adquirir máscaras, álcool-gel, tapetes de desinfeção e tantos outros produtos de higienização e de desinfeção por parte das escolas que, devido à escassez de recursos financeiros, poderá ser um entrave a este (re)começo.

Intervalos desfasados e de menos tempo (5 minutos), para evitar ajuntamentos de alunos;  turmas repartidas (com turnos de manhã e de tarde); menor rotatividade de salas por parte das turmas e refeições em regime de take-away, para que os alunos não se juntem todos na cantina e possam comer noutros espaços da escola ou até levar para casa, se já tiverem acabado as aulas, fazem parte de algumas medidas que podem vir a ser implementradas nas escolas – especialmente no segundo e terceiros ciclos (5º ao 9º ano de escolaridade) para que se evite ao máximo o fecho generalizado, como aconteceu em março e os alunos continuem sempre a ir às aulas.

Poderão existir outras soluções, de que são exemplos, o ensino misto (presencial e online) ou o regresso exclusivo ao ensino virtual. No cenário intermédio, as escolas têm de se organizar no sentido de garantir um ensino misto, com parte das atividades nas escolas e outras em casa, mas com prioridade de ensino presencial para os grupos mais vulneráveis e para os mais novos, que não têm autonomia para o ensino remoto. No pior dos cenários, as aulas voltarão a ser exclusivamente virtuais.