Dúvidas, inquetações e algumas incoerências assolam as ações e as atividades de direções de escolas, professores, alunos e encarregados de educação que se preparam para iniciar um ano letivo atípico. Em casa desde março e em regime de ensino à distância, os alunos preparam-se para embarcar neste 2020-21 presencialmente – pelo menos numa fase inicial. Neste artigo vou incidir, em particular, na experiência na Academia de Verão da Teach For Portugal que, de certa forma, serviu com “ensaio” para o novo ano letivo que se avizinha. Durante três semanas, ao longo dos meses de julho e de agosto, os participantes da organização sem fins lucrativos Teach For Portugal (TFP) foram desafiados a realizar umas atividades no âmbito das disciplinas de Português, Matemática e Inglês, com crianças com idades compreendidas entre os oito e os 14 anos, num Agrupamento de Escolas em Canelas (Vila Nova de Gaia).
Os objetivos passaram por “refrescar” os conhecimentos dos miúdos nestas três áreas e adquirir ferramentas pedagógicas – para os participantes da TFP – que possibilitem trabalhar com grupos heterogéneos, em contexto de sala de aula, em regime de co-teaching – dois professores realizam trabalho colaborativo dentro da sala de aula, de forma a tornar as aprendizagens mais efetivas e de chegar aos “edges” – extremos. Com turmas heterogéneas e com alunos com necessidades muito específicas, todas elas muito diferentes, abraçámos este desafio.
Tivemos, também, uma turma digital. Pudemos praticar ferramentas úteis para um eficaz ensino à distância, dinamizando atividades lúdicas com as crianças, incluíndo todas. Ferramentas com o Google Classroom e Wordwall, (para criação de palavras cruzadas, quizz e sopas de letras, entre outras atividades) entre outras, foram úteis para a realização destas aulas virtuais que decorriam todos os dias úteis da semana.
Assim trabalhámos durante três semanas. Com segurança e sem nenhum caso de febre ou suspeita de Covid-19. E foram semanas muito intensas, com aulas entre as 9h e as 13h onde houve espaço para “refrescar” conhecimentos, adequirir novas apendizagens, experimentar uma abordagem diferente do ensino e praticar diferentes ferramentas pedagógicas em regime de co-teaching. Foram cumpridos objetivos e foi tornado claro o propósito da Teach For Portugal, o de que “nenhuma criança fique limitada pelo seu código postal”.
Funcionou porque tínhamos poucos alunos por turma e, consequentemente, poder-se-ia manter o adequado distanciamento social. Além disso crianças, participantes e tutores pedagógicos estavam sensibilizados para o uso correto da máscara e para a desinfeção regular das mãos cumprindo, assim, todos os procedimentos de higiene necessários à interrupção da propagação do COVID-19.
Acredito que com o elevado número de alunos por turma (28 no máximo) e tendo em conta as reduzidas dimensões das salas de aula na maioria das escolas públicas portuguesas, não seja possível manter os adequados dois metros de distância, entre alunos, recomendados pela Direção-Geral de Saúde. Além dos constrangimentos dos espaços físicos, faltam recursos humanos – especialmente assistentes operacionais – em várias escolas, que vão ter trabalho acrescido em tarefas de limpeza e higienização dos espaços. Vai ser preciso adquirir máscaras, álcool-gel, tapetes de desinfeção e tantos outros produtos de higienização e de desinfeção por parte das escolas que, devido à escassez de recursos financeiros, poderá ser um entrave a este (re)começo.
Intervalos desfasados e de menos tempo (5 minutos), para evitar ajuntamentos de alunos; turmas repartidas (com turnos de manhã e de tarde); menor rotatividade de salas por parte das turmas e refeições em regime de take-away, para que os alunos não se juntem todos na cantina e possam comer noutros espaços da escola ou até levar para casa, se já tiverem acabado as aulas, fazem parte de algumas medidas que podem vir a ser implementradas nas escolas – especialmente no segundo e terceiros ciclos (5º ao 9º ano de escolaridade) para que se evite ao máximo o fecho generalizado, como aconteceu em março e os alunos continuem sempre a ir às aulas.
Poderão existir outras soluções, de que são exemplos, o ensino misto (presencial e online) ou o regresso exclusivo ao ensino virtual. No cenário intermédio, as escolas têm de se organizar no sentido de garantir um ensino misto, com parte das atividades nas escolas e outras em casa, mas com prioridade de ensino presencial para os grupos mais vulneráveis e para os mais novos, que não têm autonomia para o ensino remoto. No pior dos cenários, as aulas voltarão a ser exclusivamente virtuais.


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