Um músico tem poucas
oportunidades para mostrar aquilo que vale. É difícil singrar no mundo da
música. Para desmistificar estigmas associados a esta arte, eis alguns exemplos
de sucesso que mostram que, de facto, vale a pena lutar por aquilo de que
realmente se gosta.
O Fantasy Brass Quintet
A
ideia de formar um grupo musical surgiu por acaso, em 2008. Barthélemy
Jusselme, Christophe Eliot, Ilan Sousa, Nicolas Chatenet e Vincent Brard já se
conheciam quando pensaram em formar um projecto em comum. Todos estudavam no Conservatório
Superior de Paris. Juntaram-se no festival Video Games Live, realizado em França, há quase três anos e, desde
então, prevalecem unidos como quinteto. “Foi num salão de jogos que decidimos
que íamos formar um quinteto de metais”, afirma Ilan Sousa, trompista. Foi
então que, a partir de 2009, começaram a crescer como grupo musical, organizado
em quinteto.
Algumas
músicas pop, as músicas de filmes e músicas de videojogos conhecidos são as
mais trabalhadas pelo Fantasy Brass
Quintet. Christophe Eliot, o líder do grupo, compõe todos os arranjos que
são, posteriormente, executados pelo quinteto parisiense.
A música é uma constante na vida dos cinco
elementos. Ocupam todo o seu tempo na actividade. Desde a participação na
Orquestra das Forças Armadas Francesas até à participação na Orquestra
Associativa de Colonne (França), passando pela participação na Música na
Polícia em Paris e pelo ensino da música em conservatórios, a vida dos
elementos do grupo musical é pautada por sucessos, nas mais diversas áreas, que
respeitam à arte musical.
Nicolas
Chatenet, trompetista, é um dos exemplos de sucesso no seio do quinteto. Na
segunda-feira, 18 de Abril, foi admitido no lugar de trompete solista pela
orquestra Nacional de Lorraine. Mas o
sucesso individual de cada músico não se fica por aqui. Após um árduo trabalho
de cerca de oito anos, no ensino superior, Christophe Eliot, a par de Nicolas
Chatenet, dá aulas de trompete num conservatório francês. São necessários
quatro anos de estudo num determinado instrumento musical (neste caso,
trompete) e, posteriormente, quatro anos no ensino para dar aulas de música em
França.
A
escolha do quinteto a integrar o estágio não foi feita de forma aleatória. De
facto, o coordenador do estágio, Carlos Fonseca, já havia conhecido o porta-voz
do grupo, há dois anos, no VI Estágio Internacional de Orquestra em Leiria.
Logo reconheceu em Christophe Eliot um enorme potencial em termos musicais.
A
escolha de um grupo jovem e, ao mesmo tempo, com uma grande qualidade musical
fez Carlos Fonseca acreditar que esta seria a melhor opção. Não queria, de
todo, “defraudar
nenhum dos alunos inscritos”, afirma.
À
semelhança do que ocorre em Portugal, também em França o mundo da música é
muito competitivo. Mas com muito esforço e dedicação é possível singrar
musicalmente. Nas palavras de Ilan, trompista, “para se atingir o sucesso no
mundo da música é preciso muito trabalho e persistência”.
Em
França as pessoas não valorizam muito as artes. No que toca ao género de música
do quinteto, como afirma Ilan, “ em concertos em que actuamos vemos muitos
idosos e poucas pessoas jovens”. Os jovens nem sempre estão sensibilizados para
estes géneros musicais.
A
escolha da palavra adequada para definir a música, não foi fácil; contudo, os
cinco músicos chegaram a cinco conclusões diferentes mas igualmente profundas.
“Emoção”, “sonho”, “trabalho”, “universalidade” e “divertimento” são as
palavras que cada um utiliza para caracterizar a chamada “sétima arte”.
Projectos futuros
Apesar
de se ter formado há apenas dois anos e de não ter uma extensa lista de eventos
agendados, alguns são os projectos que, futuramente, o grupo espera vir a
desenvolver. O I Estágio de Metais e Precursão organizado em Pombal foi, ainda,
o primeiro grande evento em que participou o grupo.
O Fantasy Brass Quintet tem alguns
projectos em vista, já confirmados, entre os quais, a participação na festa da
música, dia 21 de Junho em Paris e um festival no Sul de França a 21 de Agosto
deste ano. Ainda no dia 15 de Maio do presente ano vão desenvolver um projecto
que consiste na adaptação da música de um filme a um videojogo, “que ainda não
podem desvendar”, dizem, sorrindo.
Acerca
do curso
Apesar
das dificuldades inicialmente sentidas pelo coordenador do estágio, Carlos
Fonseca, na divulgação do evento, a experiência da realização do curso, em
Pombal, foi muito gratificante.
O primeiro
aspecto a realçar foi a dissolução das dificuldades relativas à comunicação.
Todos consideraram que a barreira da linguagem pôde ser ultrapassada
facilmente. De facto, “a língua não foi uma dificuldade, porque a música é
universal”, de acordo as impressões de André Peixoto, tubista. A gestualidade e
a utilização de uma outra língua em alternativa facilitaram a troca de saberes
entre alunos e professores.
“Para o grupo tem sido uma
óptima experiência contactar com pessoas com uma língua diferente da nossa”,
afirma Ilan Sousa, conhecedor da língua portuguesa. Relativamente aos alunos
guarda uma boa recordação; de facto os professores pensam que estes se
esforçaram, ao longo do tempo em que estiveram juntos, por entender o que lhes
era transmitido. Nicolas Chatenet diz até que os alunos portugueses têm, por
vezes, mais facilidade em entender o que lhes é pedido do que o alguns dos seus
alunos franceses.
A
opinião dos alunos vai ao encontro daquela que os professores formam sobre a
comunicação. Como afirma Cláudia Domingues, trompetista, no que se refere à
forma como interagia com os professores, “comunicava por gestos, tentava falar
em inglês. Eles conseguiam transmitir a sua mensagem de forma eficiente”,
afirma.
A
troca de conhecimentos não só a nível musical, como a nível linguístico foi,
para todos os professores e alunos, um importante aspecto a ter em conta, ao
longo do curso. Daniel Garcia, trompetista, partilha a mesma opinião. Quanto à
forma de comunicar numa língua diferente pensa que “é bom porque sempre dá para
treinar o inglês ou o francês, que já está um pouco esquecido”.
Um outro aspecto a
sublinhar com a realização do curso culmina no reforço dos laços de amizade
existentes entre os alunos de Pombal, os alunos de fora, e os próprios
professores. De acordo com as declarações de Carlos Fonseca, coordenador do
estágio, “as
relações interpessoais tendem a fortalecer-se neste tipo de eventos.”
A par deste factor, existe ainda
a possibilidade de estes eventos sensibilizarem educadores e alunos para o
gosto pela música. “A educação deverá sempre integrar a música sob pena de não
o fazer, perdermos irremediavelmente jovens com muita apetência musical”,
considera o coordenador. Sublinha, ainda, a importância do
“desenvolvimento interpessoal, sensorial e intelectual” das crianças e dos
jovens através da música.
A maioria dos jovens que integrou o
estágio já participou em eventos do género ao longo dos anos. Mas a
particularidade deste estágio residiu no facto de ser essencialmente
direccionado a alunos de metais e a alunos de percussão. Privilegiou a formação
de quintetos. De acordo com Filipe Almeida e Daniel Garcia, este foi um estágio
diferente, já que apenas tinham participado em cursos com orquestra; “nunca
tínhamos participado num estágio em que se trabalhasse em quinteto nem em
música de câmara”. Acrescentam que a experiência na participação de um estágio
que foge ao convencional foi óptima. Contudo, gostariam de ter contactado com
mais quintetos no sentido de “debater ideias e reportórios”.
Alguns pretendem, ainda, fazer da
música a sua profissão. Filipe Almeida e Daniel Garcia, trompetistas, estudam
trompete com o objectivo de prosseguir estudos em música; o primeiro vai
concorrer para a universidade, em trompete, já este ano. O segundo está a
terminar a licenciatura no mesmo instrumento. André Peixoto, tubista, pretende
entrar na Orquestra do Exército, sabendo, contudo, que terá de estudar
arduamente para conseguir ver o seu objectivo concretizado.
Outros fazem intenções de continuar a
participar em eventos do género. Nuno Justino,
percussionista, diz que pretende participar em estágios desta índole ainda este
ano; “já tenho cerca de quatro ou cinco estágios agendados para este ano”, refere.
Quando questionada sobre a possibilidade de voltar a participar em cursos
parecidos, Daniela Gonçalves, trompista, não hesita em afirmar que quer
continuar a integrar tais eventos; para si “é uma óptima oportunidade para
aprender mais”.
Há, ainda, participantes que, embora gostem
de música, preferem deixá-la para segundo plano, fazendo dela um escape ao
stress do dia-a-dia, um passatempo, ou uma forma de relaxamento. Mas isso não
quer dizer que desprezem a importância da realização destes eventos. Daniela
Gonçalves, exemplo de quem não quer fazer da música a sua vida, pretende
melhorar ao nível da musicalidade, do trabalho em conjunto. Reconhece a
utilidade destes cursos, na medida em que lhe permitem melhorar alguns aspectos
a nível individual e em conjunto.
O
balanço final do curso é positivo, tanto para os professores como para os
alunos que participaram. O estágio valeu a pena por ter proporcionado novos
conhecimentos, a troca de saberes e de experiências musicais, o aperfeiçoamento
musical e um importante espaço de convívio entre formadores e formandos.
No
que toca à realização de eventos do género, em anos posteriores, as
expectativas estão em alta. O coordenador do estágio, Carlos Fonseca, sublinha
a importância de promover cursos futuros em Pombal. Pretende que os estágios
tragam cada vez mais jovens de todo o país à cidade e que “sejam
uma referência e dêem a conhecer o trabalho à população de Pombal através dos
concertos, quer de alunos, quer de professores,” conclui.