quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Mesas em U


16h20. Entro na sala de aula numa terça-feira de tarde. Aquela sala, que é a minha e que se encontra no recinto fechado, mas anexo ao edifício principal. Preparo-me, como habitualmente, para colocar o meu material em cima da mesa: primeiro, a pasta com as folhas de comportamento e com as fichas de trabalho. Depois, a mala do computador e as colunas exteriores de som. Antes de me virar para o quadro para escrever a data e o número da lição, deparo-me com uma disposição diferente das mesas dos alunos. Não estão como as deixei ontem, em filas paralelas e de frente para o quadro. Encontram-se em U.

16h25. Sinto-me tentada a dar a aula com as mesas dispostas em forma de U. Está uma cadeira em frente à secretária da professora, preparada para contar uma história aos mais pequenos, quanto os seus olhos colidem no centro, na minha direcção. Uma experiência nova. Dirijo-me à porta para chamar os pequenos que se apressam a fazer fila indiana para entrar dentro da sala de aula. Já sabem, de antemão, que as mesas estão hoje, dispostas de uma forma diferente da do habitual. "Que fixe, vamos ter uma aula diferente!", exclamam. E sim, realmente não se enganam muito. Hoje a aula vai ser diferente.

16h30. Enquanto se sentam, preparo o videoclip da música dos vegetais e das frutas. Espero que os meus alunos se acalmem e que dêem oportunidade ao silêncio de reinar por instantes. Não exijo silêncio absoluto; apenas moderação no volume com que falam entre si. Portátil ligado e clip accionado fazem as delícias dos mais novos. Afinal, pelo menos por alguns minutos, sabem que não vão "passar nada do quadro". Os 24 olhinhos convergem para o centro da sala de aula, para a imagem inicial do vídeo. Falta o som. Mas só o vão ouvir quando os níveis de euforia diminuírem drasticamente. 

16h34. O silêncio entra, a passos de bébé, na sala de aula e sinto que é a altura de os deixar ouvir. Agora, as imagens de vegetais saltitantes movem-se ao som da música que adverte os mais novos para a importância de uma alimentação saudável. "I eat my vegetables everyday..." Não sei a música de cor mas sei que não lhes entra nos ouvidos de uma só vez, até porque a letra é complexa e difícil. Olho as faces curiosas e os lábios temerosos que tentam repetir o que é dito na cantiga. Não é fácil explicar-lhes o significado do que ouvem, mesmo com a ajuda das imagens. Portanto, vagarosamente e sem grandes pressas, vou parando o vídeo em partes que considero fulcrais e pertinentes. Explico.

16h40. Depois dos primeiros cinco minutos de audição, está na hora de fazer um exercício. Enquanto ouvem, apontam no caderno o nome dos vegetais, quer em português quer em inglês. Pepino, alho francês, nabo e outros que tais, deixam os cachopos confusos. Paro o vídeo mais uma vez. "Teacher, não consegui escrever tudo", diz-me o André no final do vídeo. "Meninos, atenção, vou colocar mais uma vez!", digo em tom de voz elevado para captar a atenção dos mais distraídos. É preciso agir com calma, com ponderação e ter, acima de tudo, muita paciência. Vamos lá ouvir, mais uma vez, a música dos vegetais. "Cantem baixinho para não se enganarem!"

16h50. A aula prossegue de forma animada. Está na hora de perguntar, afinal, que vegetais conseguiram escrever. "O que significa cabbage?", pergunto. "É cenoura, professora!!!" - diz um(a) distraído(a). "Nãããão!" - advirto. "É couve-lombarda" - diz um(a) atento(a). "Muito bem!!!" - digo animadamente. Afinal, o que se leva de melhor quando se ensina é a gratificação de que, nas pequenas inteligências, fica algo retido. E ensinar inglês não é como ensinar estudo-do-meio. 

17h00. Meia hora de aula "correu" a "voar"! Oh MEU DEUS, como é possível? Os meus alunos fazem uma ficha sobre os vegetais e, enquanto os observo, chego à conclusão de que a disposição das mesas em U, ao contrário daquilo que eu pensava, não é assim tão ineficaz. Afinal, todos conseguem olhar para o computador sem que ninguém esteja à frente e acaba por ser mais prático para mim deslocar-me de um lado para o outro para tirar as dúvidas de todos. Contudo, não é a posição mais favorável para copiarem do quadro para o caderno e acaba por facilitar as conversas paralelas e as brigas cruzadas. 

17h10. "Professora, já fiz! O que é que eu faço agora?" - questiona o(a) mais apressado(a). "Aguarda um pouco, já aí vou!"  - digo, quando acabo de esclarecer a dúvida de outro. Depois de corrigir o trabalho do mais rápido, tenho de me apressar a fim de não ouvir "teacher" de lados opostos. "Agora faz o exercício 5 da página 62. Basta veres que as palavras para completares os espaços estão atrás", declaro com entusiasmo mas com pressa de atender um outro "Teacher, já acabei!". Inevitável será dizer que tenho de estar constantemente com um ouvido no "burro e outro no cigano". Dos olhos já nem falo!

17h20. Repito as instruções dos exercícios 50 vezes, no mínimo. Lembram-se de eu ter dito atrás que é preciso MUITA paciência? Mais uma dose, por favor! Paciência serve-se em ampolas na farmácia, felizmente. "Eva, explica ao teu colega como se faz esse exercício, por favor", solicito a ajuda da mais perspicaz. É normal que comece a ficar cansada de repetir sempre as mesmas coisas. Mas tem de ser. Nem que faça o pino enquanto explico o exercício consigo captar a atenção simultânea de todos. Que estafa, às vezes. Mas depende dos dias. Há dias bons e dias menos bons.

17h30. Não toca a campainha. Afinal, numa escola tão pequenina, nem se justifica. Olho para o relógio e vejo os alunos da outra turma lá fora, que entretanto começam a bater à porta para entrarem. Ainda não podem, pois já mandei arrumar os meus, mas estes ainda não saíram da sala de aula. E eu tenho de ser a última a sair. Só depois de a sala estar completamente vazia é que os meninos do ATL podem entrar com a autorização da funcionária que os ocupa por mais algum tempo. Hora de sair. Hora de relaxar. Hora de reflectir acerca da hora anterior. Sim, é bom sinal quando se tem a sensação de que uma hora passou em cinco minutos e se ouve os pequenos, lá fora, a interrogar quando os mando sair, "Já!?".

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Pelo teu Canto me (En)Canto

"a-a-A-a-a", ouço, assim que subo as escadas que me guiam à terapia da música. Os sons indistintos e facilmente decifráveis permitem prever o que se passa por dentro da sala número sete. Aquecem-se as vozes ao som melodioso do piano que acompanha o evoluir ritmado dos alunos de 10 anos. São nove e meia da manhã e estou a segundos de assistir a uma aula inesquecível de canto. 

Aproximo-me um pouco mais da porta. Deixo-me ficar a ouvir as doces vozes de crianças sedentas de conhecimento. Não quero interromper mas apetece-me entrar para as ouvir de perto. As olhar. Ver as expressões calorosas enquanto entoam os "bi-bi-Bi-bi-bi" que acompanham os "sol-lá-Si-lá-sol" do piano. E, com receio de avançar e de interromper, sou impulsionada pela vontade de entrar dentro da sala. Bato, por fim, à porta.

Abre-me a porta a professora Cristina, enquanto me cumprimenta com um "Olá, esta é a Ana que vem assistir à aula". Um arrepio de timidez percorre-me a espinha dorsal. "Olá", cumprimento timidamente. Sento-me na cadeira junto à porta enquanto aguardo que retomem o aquecimento. 

A professora explica como funciona o diafragma, contraído na inspiração e relaxado na expiração. Fala da importância da respiração e explica que o ar quente que emitimos quando vibramos os lábios deve trespassar a palhinha com que se fazem alguns exercícios. É constantemente lembrada a importância de um bom aquecimento para que, no fim, os músculos e as próprias cordas vocais estejam mais "à vontade" para entoar as canções com garra. 

Entre risos e distracções prossegue a aula. É altura de começar com os "mmmmm" rítmicos da primeira canção. A professora chama à atenção daquele menino que olha para o lado e não pára de se rir. Está na altura de cantar e, três segundos antes do momento certo, é o silêncio que reina na sala. De aquecimento feito e vozes afinadas, está na altura de ouvir os cerca de 15 meninos do quinto ano, que partilham o mesmo espaço. Também canto (ou tento, pelo menos). Tento não me dar já por derrotada.

Entre duas músicas suaves, cantamos o "O Gafanhoto Canhoto". Não é que seja a minha música preferida, mas é aquela de que do título guardo recordação. As vozes afinadas são prova da evolução contínua e positiva destes pequenos grandes talentos. A professora elogia-os. Mas, agora, está na hora do cânone. 

À medida que os pequenos cantam e quase que terminam, entoa na atmosfera musical a voz doce e melodiosa da professora. Alguns dos pequenos tapam os ouvidos para não perderem "o fio à meada". Afinal é a primeira vez que experimentam cantar a duas vozes. E, além de ser um voto de confiança da professora e um passo gigante da evolução dos pequenos, até que nem corre nada mal! 

Deixo-me guiar pelos prazeres da audição. Que doces vozes! Que doce aprendizagem! Que doce infância! Agora, sala de aula, parece pequena para alojar tão grandes miúdos.

Fui de espírito aberto, de mente relaxada. Apercebi-me de como é bom sair da rotina e desbravar horizontes desconhecidos. Não criei expectativas. Não esperei nada de nada. Somente me atrevi a ouvir e a deixar-me encantar. Não me desiludi, bem pelo contrário. Apercebi-me de que, com esforço, com trabalho, com dedicação e com um gosto inesgotável por aquilo que se faz, por aquilo que se transmite é que é possível incendiar os corações dos mais pequenos com a magia da música. 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

“Se me amas, não me agrides”

A adolescência é, muitas vezes, marcada pela história do primeiro amor. Esta altura é pautada pela procura do “eu” do jovem e pelas relações de amizade e de amor que, por sua vez, o vão definir como adulto. Apesar de esta ser uma altura marcadamente de descoberta, nem sempre os relacionamentos amorosos são recordados pelos melhores motivos. E, por esse motivo, 50 alunos do Colégio João de Barros orientados pela professora Manuela Trindade criaram um vídeo para advertir para a violência no namoro e que está a dar que falar na Internet.

O desafio foi lançado pela professora Manuela Trindade nas aulas de filosofia e de psicologia. O objectivo seria o de “refletir sobre problemáticas que fizessem parte do quotidiano dos alunos entre os 15 e os 18 anos de idade”, frisou a docente. Foi então que, volvidos alguns dias, cerca de 50 alunos do 11º e 12º ano colocaram mãos à obra “com o firme propósito de dizer NÃO à violência no namoro”.

“Quando fui convidada a integrar o projecto aceitei logo porque o assunto é muito importante e recorrente nos dias de hoje. Acontece tanto nos jovens como nos adultos”, começou por explicar Lara Mendes, 17 anos, que faz parte do vídeo do projecto, patente no blogue “Capazes”. A aluna do 12º ano do curso Ciências e Tecnologias acredita que “o namoro é incompatível com a violência”.

O projecto de saúde “Equilíbrio Corpo-Mente”, do qual o vídeo sobre “Violência no Namoro” faz parte, foi apresentado ao Ministério da Educação e é bianual. Este é o segundo ano de um projecto que quer promover o bem-estar físico e mental do indivíduo e é transversal a toda a comunidade escolar. É através de visitas de estudo, de exposições e de muitas outras actividades que áreas disciplinares completamente diferentes acabam por contribuir para temática, de uma forma complementar.

“Podemos ter noção de que existe violência numa relação quando há demasiada dependência ou controlo por parte de uma das pessoas”, afirmou Edgar Monteiro, 17 anos, também do 12ºano do curso de Ciências e Tecnologias. Tendo em conta que a adolescência é uma fase fulcral do desenvolvimento do indivíduo, “se somos vítimas de violência no namoro numa fase tão delicada como esta, a probabilidade de acontecer em fase adulta é muito maior”, sublinhou.

Mostrar como é viver o namoro com e sem violência é o objectivo principal do vídeo. “Participaram no vídeo cerca de 25 alunos coordenados por mim, embora o guião tenha sido escrito com a participação e o empenho de cerca 50 alunos”, explicou a docente Manuela Trindade. Alguns alunos do curso profissional de multimédia que integram o Núcleo Audiovisual do Colégio João de Barros colaboraram no projecto ao gravarem e editarem o vídeo. O Rafael Santos foi um deles. “Nunca tinha participado num projecto tão elaborado. Realizámos uma pré-pesquisa para saber como funcionava a sincronização de som, imagens e de tudo o que está no vídeo”, referiu o aluno de Multimédia. “Usámos um som mais suave para transmitir a ideia de introspecção. Colocámos a pessoa a falar e sincronizámos com o som de fundo”, explicou.

Contudo, não foi só na escola que o vídeo foi mostrado. Alunos e professora recorreram ao blogue "Capazes" para difundirem a mensagem contra a violência no namoro. Achei que seria interessante contactar a equipa responsável e tentar uma oportunidade de, através desta plataforma, poder levar a voz dos nossos alunos mais longe”, mencionou Manuela Trindade.O vídeo foi apreciado e avaliado pela equipa de conteúdos d@s Capazes e foi aceite a sua publicação, o que permitiu que a nossa mensagem chegasse a um público muito mais vasto”, continuou a professora. Mas os planos para a divulgação do vídeo não se esgotam aqui. “Gostava de traduzir o vídeo em linguagem gestual. Pretendia fazer a sua divulgação mas, desta vez, para fazer contactos com instituições de surdos-mudos ou escolas que tenham essa valência”, revelou a professora de psicologia.

“Foi extremamente gratificante coordenar este projecto e perceber como os alunos estão atentos, têm opinião e querem mudar mentalidades”, frisou a docente destacando a importância da prevenção e o alerta para a sinalização de situações de violência. “É muito fácil um adolescente que entra numa relação amorosa confundir o ciúme e alguma pressão psicológica com situações de violência”, continuou Manuela Trindade. “Se os jovens estiverem atentos e alimentarem uma auto-estima que os faça perceber essas atitudes e lutar contra elas, mais facilmente poderemos pôr cobro a essas situações numa fase inicial”, acrescentou.

Ter medo de dar a conhecer situações de violência ou não saber com quem falar podem ser alguns dos motivos que condicionam a denúncia. “Não é porque se assiste a episódios de violência na infância que se vai perpetuar o ciclo em idade adulta”, esclareceu a docente. “Penso que é importante os profissionais na escola encontrarem um equilíbrio entre o que os jovens percepcionam em casa e a educação formal da escola. As escolas têm uma responsabilidade enorme ao ir além do ensino curricular, dinamizando este tipo de iniciativas”, disse ainda.

“Não é saudável estar sempre com a mesma pessoa. Quando reparamos que algum dos nossos colegas se afastam do grupo de amigos, acabamos por chegar à conclusão de que aquela relação não está a ser vivida de uma forma muito saudável”, afirmou o aluno Edgar Monteiro. Por sua vez, a aluna Lara Mendes acredita que o primeiro passo é falar com o amigo antes de alertar outras instâncias. “Por passarmos muito tempo com os nossos amigos, talvez consigamos perceber melhor o que se passa com o nosso colega”, acrescentou.

E conselhos? “A melhor maneira para terminar a situação é, depois de falar com uma pessoa de confiança, falar com o agressor”, frisou Edgar Monteiro. Cortar laços, afastar-se, tentar fazer com que a situação não se arraste durante muito tempo e terminar a relação de uma forma amigável são algumas das dicas deixadas pelos alunos. “Quanto mais precocemente largarmos este tipo de situações mais fácil se torna para nós a recuperação”, concluiu Lara Mendes.

Para ficar ver este projecto basta aceder ao link do vídeo que foi publicado no Facebook do colégio ou no blogue d@s Capazes.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Wicla promove mobilidade inclusiva

A Wicla é o projecto mais recente de dezanove alunos do Mestrado de Design Integrado do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Feito de madeira, com sistema eléctrico incorporado e cestos incluídos, o triciclo quer levar uma lufada de ar fresco à industria de Viana do Castelo e ao mundo da tecnologia.


A bicicleta de madeira nasceu do “Projecto Raiooo” que se iniciou no segundo semestre do ano lectivo 2013/2014, “tendo vindo a crescer, posteriormente, através da divulgação e do seu reconhecimento por parte do mundo do ciclismo e do design”, pode ler-se na página do Facebook “Raiooo Wicla”.

Coordenado pelos professores Ermanno Aparo e Manuel Ribeiro, o projecto “consistiu na execução de uma bicicleta que transmitisse reflexões sobre a sociedade actual e o ciclismo”, referiu André Claro, um dos alunos de Mestrado e natural da Ilha. “Este é um meio de transporte citadino, uma vez que facilita a deslocação em locais onde predominam automóveis, tendo também a possibilidade de transportar cargas reduzidas. Por outro lado, torna-se ideal para pessoas com mobilidade reduzida ou que não saibam andar de bicicleta”, continuou.
Mas afinal, o que difere este triciclo dos demais? Se por um lado, este é um triciclo requintado devido aos “painéis de madeira e aos componentes em aglomerado de cortiça expandida que surgem para proteger o corpo da bicicleta e ao selim também produzido nesse aglomerado de cortiça”, por outro, a Wicla tem “incorporado um motor que trabalha devido a uma bateria alimentada com iões de lítio, na roda dianteira, de forma a facilitar a sua deslocação”, explicou André Claro.

As alternativas ecológicas têm-se multiplicado em todo o mundo, mas a Wicla prima por olhar para o desenvolvimento industrial como uma alternativa na criação de postos de trabalho, assim como por ser uma hipótese sustentável feita em materiais nacionais. “O nosso objectivo passa principalmente por criar um meio de transporte que se adequa às necessidades na sociedade, e isso passa também pela sustentabilidade ecológica”, destacou o aluno do Mestrado em Design Integrado do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

O protótipo Wicla pesa cerca de 38 quilos, mas a nova versão não terá o mesmo peso”, explicou André Claro. Quanto ao preço, “estima-se que rondará os 2500 e os 3000 euros”. Para já a Wicla ainda não está à venda, embora a sua comercialização esteja prevista para um futuro breve com a criação de uma spin-off.

Um projecto que vai além-fronteiras

A Wicla já foi apresentada em Feiras Internacionais com a XVIII Bienal de Cerveira, a Feira 100% Alto Minho e o evento 2015 Berliner Fahrradschau, na Alemanha. Os mentores do projecto querem continuar a desbravar caminho rumo ao sucesso. “A curiosidade pela Wicla foi imensa, despertando o interesse pela harmonia dos materiais e por ser uma bicicleta eléctrica”, referiu André Claro. Por sua vez, a receptividade do público e das entidades nacionais e internacionais tem sido muito boa, tendo o projecto um impacto significativo nos meios de comunicação social que acabam por levá-lo mais longe através da divulgação. “Neste momento estão a concentrar-se todos os esforços para a criação de uma Spin-off que surgiu devido ao impacto do projecto “Raiooo”, referiu André Claro.

Dezanove alunos participaram na projecção da Wicla e fazem parte do “Projecto Raiooo”, a partir do qual foi concebido o triciclo. “A envolvência de tantos alunos deve-se ao facto de este projecto ter sido realizado numa unidade curricular do Mestrado em Design Integrado, envolvendo todos os alunos da turma”, explicou o estudante.

Bárbara Costa, Daniel Oliveira e André Claro farão parte da criação de uma Spin-off, que tem como conceito a produção e comercialização de uma nova versão da Wicla e de materiais para as outras bicicletas. O próximo passo é encontrar investidores que possam pôr um projeto mais ambicioso da “Raiooo Wicla em movimento. Para saber mais sobre este projecto basta aceder à página no Facebook.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Olá, Carnaval!

Enchem-se os supermercados de fatiotas invulgares e as notícias de festivaleiros carnavalescos em terras distintas. Nas ruas dança-se o "samba" e importam-se tradições de Carnavais quase nus. Até parece que está calor e, mesmo com chuva, os foliões saem à rua para darem azo aos exageros desmedidos que antecedem os 40 dias de jejum e de penitência típicos da quaresma cristã. Afinal, é CARNAVAL e ninguém leva a mal...


Este ano o CARNAVAL não é minha "cena". Não é que o tenha sido em anos anteriores. Contudo, os festejos com os amigos do secundário, na Kiay, ou com uma ou outra amiga da faculdade, por Alcobaça, já não existem. Não é que deixassem de fazer sentido, ou talvez sim. Mas o tempo tudo trás e tudo leva e, à medida que os anos vão passando, com eles florescem outras vontades e gostos renovados! E, por este ano, os meus festejos carnavalescos são mais comedidos e restringem-se a um concerto da Filarmónica Artística Pombalense e a uma ida (a não sei onde para ver o desfile de Carnaval dessa zona), com uma pessoa especial que o Natal me ofereceu.

Como "recordar é viver", não posso deixar de sentir alguma nostalgia de tempos idos em que, na pré-escola, era "obrigada" a desfilar vestida de sol e de nuvem (e com uma cara de felicidade que até mete medo). Não posso esquecer o disfarce de velha que vi, numa fotografia, ainda hoje, quando folheava o álbum de infância junto à mãe, junto à lareira, sentada no sofá. Recordo-me de uma vez em que me disfarcei de índia e outra de resíduos poluentes. Era uma criança e as fotografias são testemunhas dos momentos felizes que o Carnaval trazia.

E depois, já adolescente, ia "curtir" a noite na Kiay. A discoteca localizada nas Meirinhas (localidade que dista quase tanto de Pombal como de Leiria) enchia-se de gente mascarada e de estranhos atrevidos que me abordavam sem que eu desconfiasse de quem fosse. A noite era de descontracção e de uma folia arrebatadora. Fui de "Mulher da Vida", de Homem, de Chinesa e de Joaninha, os últimos quatro anos de que tenho memória. Lembro-me de como se tivesse sido ontem. Fui com as colegas do secundário e foi um máximo.

Já na faculdade tive, pelo menos, duas celebrações de Carnavais em Alcobaça. Foi a Joana Guerra quem me convidou e quase que fui directamente de Lisboa para lá. Os jantares decorreram em casa da Joana ou de uma amiga. Lembro-me que, um deles, até foi em Lisboa. Era meia-noite e éramos quatro raparigas loucas quando decidimos que estava na hora de ir para Alcobaça. Pegámos no carro e lá fomos nós. Uma hora e meia depois estávamos no meio da confusão a curtir "bués". O pior foi depois... na altura do regresso e sem descanso. (prefiro não contar publicamente. Quem o viveu sabe bem como foi)....

Tudo isto para lembrar a importância da inabalável recordação. Ah!!!... E no ano passado fui tocar com alguns elementos da banda ao desfile de Carnaval da Carreira, uma localidade situada junto a Monte Redondo! Foi muito giro, principalmente na parte em que me colocaram uns cornos de diabo na cabeça. Nessa vez, apesar de não ter ido mascarada, senti que foi uma experiência muito boa. E neste serão foi altura de ver actuar a minha irmã vestida de pintainho.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Cinco filhos e um objectivo - Ser Feliz

Portugal é um dos países da União Europeia com a taxa de natalidade mais baixa. De acordo com dados recentes da Eurostat, em 2013, o nosso país registou a taxa mais baixa de natalidade seguido da Alemanha, Grécia, e de Itália. Contudo, em 2015, e de acordo com as estatísticas verificou-se uma subida no número de nascimentos, em comparação aos quatro anos anteriores. Pombal não é excepção e ainda há famílias numerosas no concelho.

Com uma média de 1,2 filhos por mulher, Portugal não tem assegurado, neste momento o índice de renovação de gerações, que se deveria situar numa média de 2,1 nados-vivos por mulher. O nosso país está entre os da União Europeia com os índices mais baixos de natalidade. Mas há exepções à regra e a família Duarte, residente na Ilha, é uma delas.
Ter cinco filhos não foi uma ideia premeditada assim que Manuel Duarte e Célia Soares decidiram iniciar uma vida em comum. Tudo começou quando a doméstica, de 45 anos, e o bate-chapas, de 48 anos, decidiram “juntar os trapos”. “A ideia foi amadurecendo com o tempo. Como gostámos tanto dos primeiros [filhos] decidimos ter mais”, afirmaram em tom de brincadeira.
Apesar de a casa estar sempre cheia e alegria ser uma constante, com cinco filhos nem sempre é fácil responder às despesas do fim do mês. “Felizmente os meus filhos têm tido bolsa de estudo”, afirma Célia acerca dos dois filhos, Kevin, de 22 e Daniela, de 19 anos que estão a estudar, respectivamente, em Coimbra e em Peniche. Quanto à filha mais velha, que agora trabalha como engenheira informática na Bélgica, “recebeu sempre a bolsa de estudo”, continuou a mãe.
No que se refere aos abonos de família e aos apoios da segurança social, acabam por não diferir muito do das famílias menos numerosas. “Sempre que vou à segurança social pergunto se há algum subsídio para nós e a resposta é sempre a mesma, a de que não há”, disse Célia.
“Apertar o cinto e não fazer grandes planos” são duas regras que imperam no seio da família Duarte. E porque não só é necessário dividir o dinheiro como também dividir os esforços, a repartição de tarefas é diária lá por casa. “Sempre que peço ajuda, os meus filhos colaboram. Mesmo quando há pequenas brigas entre eles eu não me intrometo. Sei que o trabalho acaba feito”, confessou Célia entre risos. Mas não é só em casa que a ajuda é repartida: “O Kevin também ajuda na oficina”, sublinhou o pai Manuel acerca do negócio familiar do ramo automóvel que é o sustento da casa e que, por vezes, “funciona 24 sobre 24 horas”.
 Famílias numerosas - que vantagens?
De acordo com um estudo elaborado em 2009, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, mais de 50% das jovens entre os 18 e os 24 anos gostaria de ter três ou mais filhos. O mesmo estudo refere, ainda, que está muito vincada a percepção de que os filhos são caros e que as pessoas não têm condições para suportar alimentação, vestuário e despesas escolares. No entanto, ao falar com os elementos da família Duarte, depressa se percebe que são mais as vantagens do que as desvantagens em serem uma família numerosa.
“É uma alegria quando estamos todos juntos”, sorriu Célia. “Há sempre temas de conversa”, acrescentou Manuel. “Os mais velhos ajudam os mais pequenos”, não quis deixar de referir a irmã mais velha de 24 anos, a Karen. “Quando os mais velhos sabem mais do que os mais novos, ajudam-nos nos trabalhos de casa”, acrescentou ainda.
“Nunca há um bocadinho em que se possa dizer que não há nada para fazer”, afiançou a mãe Célia enquanto Benvinda, de 13 anos, contava que às vezes ajuda o irmão mais novo, José, de 9 anos, com os trabalhos de casa. “Eu pouco ou nada estudo cá em casa”, revelaram Daniela e Kevin em uníssono. “Aproveitamos para rever a matéria na escola sempre que possível, pois em casa temos muitas distracções”, acrescentaram.
Na cozinha nem sempre é a mãe a ‘chef’: “quem tem mais facilidades em cozinhar, às vezes cozinha”, confessou Karen ao lançar um olhar cúmplice à Daniela. “Entretemo-nos uns aos outros. Gostamos de fazer passeios em família, de fazer piqueniques e de apanhar frio na praia”, afiançou o irmão Kevin ainda quanto às actividades que realizam em conjunto.
Pelo Natal, além das imensas prendas, a reunião familiar é uma realidade e, “porque às vezes não estamos satisfeitos, chamamos o Pai Natal a nossa casa”, declarou a mãe em tom de brincadeira. Este Natal foi especial, uma vez que a Karen, engenheira informática na Bélgica, não estava junto da família e veio de férias a casa.
Mas nem tudo é um mar de rosas... “Quando um fica doente, ficamos todos”, referiu Daniela. Não há o habito de estrear uma roupa nova ao domingo “como antigamente”, disse a mãe. “Vamos comprando de acordo com as necessidades de cada um e, em tempos idos, quando era possível as roupas passavam de uns filhos para os outros”, continuou referindo que não esperam por datas específicas para adquirir as roupas. Por outro lado, “quando éramos mais pequenos havia famílias que nos davam roupas e nós também cedíamos algumas das que tínhamos e fazíamos troca por troca”, disse Karen. Dar uma nova utilidade às roupas velhas é um dos truques que a família Duarte leva a cabo para reciclar. “Das roupas fazemos panos de limpeza e, quando ficam inutilizáveis, deitamo-los fora”, afirmou Célia.
Daniela e Benvinda dormem no mesmo quarto, e, quando eram mais novas, partilhavam os brinquedos: “não havia necessidade de pedir emprestado”, contou a mãe. Os colegas da escola não estranharam o facto de os elementos da família terem tantos irmãos mas, no que se refere às saídas à noite, “cada um tem os seus amigos. Só em casos esporádicos os mais velhos levam os mais novos à festa da aldeia”, continuaram os irmãos mais velhos.
Ter ou não filhos?
Constituída por sete elementos, a família Duarte teima em contrariar o decréscimo da taxa de natalidade que insiste em prevalecer em Portugal. Um estudo da Netsonda de 2013 apoiado pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) quis perceber qual a receptividade da população portuguesa à intenção de instituir o trabalho a tempo parcial com compensação remuneratória. Uma das conclusões foi a de que 46% dos portugueses consideraria ter mais filhos na sequência da aplicação desta medida.
Quando questionados sobre os incentivos à natalidade, por parte do Governo, no nosso país, as opiniões dos elementos da família dividem-se. “Cada um deve pensar por sim; não devemos mandar na vida dos outros”, disse a mãe, enquanto se justificou com o facto de viver numa aldeia, local favorável à existência de famílias numerosas.
“Penso que a aldeia é diferente da cidade. Se vivesse num apartamento de certeza que não teria tantos filhos. Com um ou dois teria a casa mais do que cheia”, afirmou a mãe. Por terem um quintal, “não necessitamos de fazer tantas compras como se estivessemos na cidade”, admitiu Célia. “Acabamos por produzir bastante para nós”, disse.
A nível mundial existe demasiada população, devíamos focar-nos nas pessoas que cá estão para que possam viver melhor", argumentou a Daniela. Complementando, a irmã Karen admite que “a população em Portugal está muito envelhecida. Precisamos que os nossos filhos nos paguem as reformas”. Quis falar no caso belga: “as idades dos meus colegas de trabalho rondam os 30 anos, quase todos têm família e filhos”, disse. “Acho que os apoios do Estado são muito importantes; o ordenado mínimo em Portugal é muito baixo. Na Bélgica a questão de ter filhos por causa do dinheiro nem se coloca”, afiançou.
Por sua vez, o pai Manuel reconheceu que “os que partem acabam por fazer vida no estrangeiro e acabam por só voltar nas férias”. Deu o exemplo da altura em que esteve emigrado em França durante dez anos: “dos que foram, poucos voltaram”.

Os sonhos são alguns, e as aspirações de um futuro próspero leem-se nos olhos brilhantes dos elementos da família Duarte. A Karen trabalha como engenheira informática na Bélgica, há oito meses, mas planeia voltar a Portugal um dia. O Kevin não faz planos de longo prazo, mas assegura que gostava de trabalhar como engenheiro informático, em Portugal. A Daniela pretende terminar o curso, “trabalhar em laboratório” e aventurar-se na área de mergulho. A Benvinda gostava de seguir a área de Línguas e Humanidades daqui a dois anos. Quanto ao José que está apenas no 4º ano, a intenção é a de prosseguir estudos. Manuel e Célia lá vão continuar a trabalhar na oficina e em casa, torcendo pelo sucesso dos seus rebentos.