quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Cinco filhos e um objectivo - Ser Feliz

Portugal é um dos países da União Europeia com a taxa de natalidade mais baixa. De acordo com dados recentes da Eurostat, em 2013, o nosso país registou a taxa mais baixa de natalidade seguido da Alemanha, Grécia, e de Itália. Contudo, em 2015, e de acordo com as estatísticas verificou-se uma subida no número de nascimentos, em comparação aos quatro anos anteriores. Pombal não é excepção e ainda há famílias numerosas no concelho.

Com uma média de 1,2 filhos por mulher, Portugal não tem assegurado, neste momento o índice de renovação de gerações, que se deveria situar numa média de 2,1 nados-vivos por mulher. O nosso país está entre os da União Europeia com os índices mais baixos de natalidade. Mas há exepções à regra e a família Duarte, residente na Ilha, é uma delas.
Ter cinco filhos não foi uma ideia premeditada assim que Manuel Duarte e Célia Soares decidiram iniciar uma vida em comum. Tudo começou quando a doméstica, de 45 anos, e o bate-chapas, de 48 anos, decidiram “juntar os trapos”. “A ideia foi amadurecendo com o tempo. Como gostámos tanto dos primeiros [filhos] decidimos ter mais”, afirmaram em tom de brincadeira.
Apesar de a casa estar sempre cheia e alegria ser uma constante, com cinco filhos nem sempre é fácil responder às despesas do fim do mês. “Felizmente os meus filhos têm tido bolsa de estudo”, afirma Célia acerca dos dois filhos, Kevin, de 22 e Daniela, de 19 anos que estão a estudar, respectivamente, em Coimbra e em Peniche. Quanto à filha mais velha, que agora trabalha como engenheira informática na Bélgica, “recebeu sempre a bolsa de estudo”, continuou a mãe.
No que se refere aos abonos de família e aos apoios da segurança social, acabam por não diferir muito do das famílias menos numerosas. “Sempre que vou à segurança social pergunto se há algum subsídio para nós e a resposta é sempre a mesma, a de que não há”, disse Célia.
“Apertar o cinto e não fazer grandes planos” são duas regras que imperam no seio da família Duarte. E porque não só é necessário dividir o dinheiro como também dividir os esforços, a repartição de tarefas é diária lá por casa. “Sempre que peço ajuda, os meus filhos colaboram. Mesmo quando há pequenas brigas entre eles eu não me intrometo. Sei que o trabalho acaba feito”, confessou Célia entre risos. Mas não é só em casa que a ajuda é repartida: “O Kevin também ajuda na oficina”, sublinhou o pai Manuel acerca do negócio familiar do ramo automóvel que é o sustento da casa e que, por vezes, “funciona 24 sobre 24 horas”.
 Famílias numerosas - que vantagens?
De acordo com um estudo elaborado em 2009, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, mais de 50% das jovens entre os 18 e os 24 anos gostaria de ter três ou mais filhos. O mesmo estudo refere, ainda, que está muito vincada a percepção de que os filhos são caros e que as pessoas não têm condições para suportar alimentação, vestuário e despesas escolares. No entanto, ao falar com os elementos da família Duarte, depressa se percebe que são mais as vantagens do que as desvantagens em serem uma família numerosa.
“É uma alegria quando estamos todos juntos”, sorriu Célia. “Há sempre temas de conversa”, acrescentou Manuel. “Os mais velhos ajudam os mais pequenos”, não quis deixar de referir a irmã mais velha de 24 anos, a Karen. “Quando os mais velhos sabem mais do que os mais novos, ajudam-nos nos trabalhos de casa”, acrescentou ainda.
“Nunca há um bocadinho em que se possa dizer que não há nada para fazer”, afiançou a mãe Célia enquanto Benvinda, de 13 anos, contava que às vezes ajuda o irmão mais novo, José, de 9 anos, com os trabalhos de casa. “Eu pouco ou nada estudo cá em casa”, revelaram Daniela e Kevin em uníssono. “Aproveitamos para rever a matéria na escola sempre que possível, pois em casa temos muitas distracções”, acrescentaram.
Na cozinha nem sempre é a mãe a ‘chef’: “quem tem mais facilidades em cozinhar, às vezes cozinha”, confessou Karen ao lançar um olhar cúmplice à Daniela. “Entretemo-nos uns aos outros. Gostamos de fazer passeios em família, de fazer piqueniques e de apanhar frio na praia”, afiançou o irmão Kevin ainda quanto às actividades que realizam em conjunto.
Pelo Natal, além das imensas prendas, a reunião familiar é uma realidade e, “porque às vezes não estamos satisfeitos, chamamos o Pai Natal a nossa casa”, declarou a mãe em tom de brincadeira. Este Natal foi especial, uma vez que a Karen, engenheira informática na Bélgica, não estava junto da família e veio de férias a casa.
Mas nem tudo é um mar de rosas... “Quando um fica doente, ficamos todos”, referiu Daniela. Não há o habito de estrear uma roupa nova ao domingo “como antigamente”, disse a mãe. “Vamos comprando de acordo com as necessidades de cada um e, em tempos idos, quando era possível as roupas passavam de uns filhos para os outros”, continuou referindo que não esperam por datas específicas para adquirir as roupas. Por outro lado, “quando éramos mais pequenos havia famílias que nos davam roupas e nós também cedíamos algumas das que tínhamos e fazíamos troca por troca”, disse Karen. Dar uma nova utilidade às roupas velhas é um dos truques que a família Duarte leva a cabo para reciclar. “Das roupas fazemos panos de limpeza e, quando ficam inutilizáveis, deitamo-los fora”, afirmou Célia.
Daniela e Benvinda dormem no mesmo quarto, e, quando eram mais novas, partilhavam os brinquedos: “não havia necessidade de pedir emprestado”, contou a mãe. Os colegas da escola não estranharam o facto de os elementos da família terem tantos irmãos mas, no que se refere às saídas à noite, “cada um tem os seus amigos. Só em casos esporádicos os mais velhos levam os mais novos à festa da aldeia”, continuaram os irmãos mais velhos.
Ter ou não filhos?
Constituída por sete elementos, a família Duarte teima em contrariar o decréscimo da taxa de natalidade que insiste em prevalecer em Portugal. Um estudo da Netsonda de 2013 apoiado pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) quis perceber qual a receptividade da população portuguesa à intenção de instituir o trabalho a tempo parcial com compensação remuneratória. Uma das conclusões foi a de que 46% dos portugueses consideraria ter mais filhos na sequência da aplicação desta medida.
Quando questionados sobre os incentivos à natalidade, por parte do Governo, no nosso país, as opiniões dos elementos da família dividem-se. “Cada um deve pensar por sim; não devemos mandar na vida dos outros”, disse a mãe, enquanto se justificou com o facto de viver numa aldeia, local favorável à existência de famílias numerosas.
“Penso que a aldeia é diferente da cidade. Se vivesse num apartamento de certeza que não teria tantos filhos. Com um ou dois teria a casa mais do que cheia”, afirmou a mãe. Por terem um quintal, “não necessitamos de fazer tantas compras como se estivessemos na cidade”, admitiu Célia. “Acabamos por produzir bastante para nós”, disse.
A nível mundial existe demasiada população, devíamos focar-nos nas pessoas que cá estão para que possam viver melhor", argumentou a Daniela. Complementando, a irmã Karen admite que “a população em Portugal está muito envelhecida. Precisamos que os nossos filhos nos paguem as reformas”. Quis falar no caso belga: “as idades dos meus colegas de trabalho rondam os 30 anos, quase todos têm família e filhos”, disse. “Acho que os apoios do Estado são muito importantes; o ordenado mínimo em Portugal é muito baixo. Na Bélgica a questão de ter filhos por causa do dinheiro nem se coloca”, afiançou.
Por sua vez, o pai Manuel reconheceu que “os que partem acabam por fazer vida no estrangeiro e acabam por só voltar nas férias”. Deu o exemplo da altura em que esteve emigrado em França durante dez anos: “dos que foram, poucos voltaram”.

Os sonhos são alguns, e as aspirações de um futuro próspero leem-se nos olhos brilhantes dos elementos da família Duarte. A Karen trabalha como engenheira informática na Bélgica, há oito meses, mas planeia voltar a Portugal um dia. O Kevin não faz planos de longo prazo, mas assegura que gostava de trabalhar como engenheiro informático, em Portugal. A Daniela pretende terminar o curso, “trabalhar em laboratório” e aventurar-se na área de mergulho. A Benvinda gostava de seguir a área de Línguas e Humanidades daqui a dois anos. Quanto ao José que está apenas no 4º ano, a intenção é a de prosseguir estudos. Manuel e Célia lá vão continuar a trabalhar na oficina e em casa, torcendo pelo sucesso dos seus rebentos.

Sem comentários:

Enviar um comentário