Portugal é um dos países da União
Europeia com a taxa de natalidade mais baixa. De acordo com dados recentes da
Eurostat, em 2013, o nosso país registou a taxa
mais baixa de natalidade seguido da Alemanha, Grécia, e de Itália. Contudo, em 2015, e de acordo com as
estatísticas verificou-se uma subida no número de nascimentos, em comparação
aos quatro anos anteriores. Pombal não é excepção e ainda há famílias numerosas
no concelho.
Com uma média de 1,2 filhos por mulher, Portugal não tem assegurado, neste momento o índice de renovação de gerações, que se deveria situar numa média de 2,1 nados-vivos por mulher. O nosso país está entre os da União Europeia com os índices mais baixos de natalidade. Mas há exepções à regra e a família Duarte, residente na Ilha, é uma delas.
Ter cinco filhos não foi uma ideia
premeditada assim que Manuel Duarte e Célia Soares decidiram iniciar uma vida
em comum. Tudo começou quando a doméstica, de 45 anos, e o bate-chapas, de 48
anos, decidiram “juntar os trapos”. “A ideia foi amadurecendo com o tempo. Como
gostámos tanto dos primeiros [filhos] decidimos ter mais”, afirmaram em tom de
brincadeira.
Apesar de a casa estar sempre cheia
e alegria ser uma constante, com cinco filhos nem sempre é fácil responder às
despesas do fim do mês. “Felizmente os meus filhos têm tido bolsa de estudo”,
afirma Célia acerca dos dois filhos, Kevin, de 22 e Daniela, de 19 anos que
estão a estudar, respectivamente, em Coimbra e em Peniche. Quanto à filha mais
velha, que agora trabalha como engenheira informática na Bélgica, “recebeu
sempre a bolsa de estudo”, continuou a mãe.
No que se refere aos abonos de
família e aos apoios da segurança social, acabam por não diferir muito do das
famílias menos numerosas. “Sempre que vou à segurança social pergunto se há
algum subsídio para nós e a resposta é sempre a mesma, a de que não há”, disse
Célia.
“Apertar o cinto e não fazer grandes
planos” são duas regras que imperam no seio da família Duarte. E porque não só
é necessário dividir o dinheiro como também dividir os esforços, a repartição
de tarefas é diária lá por casa. “Sempre que peço ajuda, os meus filhos
colaboram. Mesmo quando há pequenas brigas entre eles eu não me intrometo. Sei
que o trabalho acaba feito”, confessou Célia entre risos. Mas não é só em casa
que a ajuda é repartida: “O Kevin também ajuda na oficina”, sublinhou o pai
Manuel acerca do negócio familiar do ramo automóvel que é o sustento da casa e
que, por vezes, “funciona 24 sobre 24 horas”.
Famílias numerosas - que vantagens?
De
acordo com um estudo elaborado em 2009, do Centro de Estudos Geográficos da
Universidade de Lisboa, mais de 50% das jovens entre os 18 e os 24 anos gostaria de
ter três ou
mais filhos. O mesmo estudo refere, ainda, que está muito vincada a percepção de que os
filhos são caros e que as pessoas não têm condições para suportar alimentação,
vestuário e despesas escolares. No entanto, ao falar com os elementos da
família Duarte, depressa se percebe que são mais as vantagens do que as
desvantagens em serem uma família numerosa.
“É uma alegria quando estamos todos
juntos”, sorriu Célia. “Há sempre temas de conversa”, acrescentou Manuel. “Os
mais velhos ajudam os mais pequenos”, não quis deixar de referir a irmã mais
velha de 24 anos, a Karen. “Quando os mais velhos sabem mais do que os mais
novos, ajudam-nos nos trabalhos de casa”, acrescentou ainda.
“Nunca há um bocadinho em que se
possa dizer que não há nada para fazer”, afiançou a mãe Célia enquanto
Benvinda, de 13 anos, contava que às vezes ajuda o irmão mais novo, José, de 9
anos, com os trabalhos de casa. “Eu pouco ou nada estudo cá em casa”, revelaram
Daniela e Kevin em uníssono. “Aproveitamos para rever a matéria na escola
sempre que possível, pois em casa temos muitas distracções”, acrescentaram.
Na cozinha nem sempre é a mãe a
‘chef’: “quem tem mais facilidades em cozinhar, às vezes cozinha”, confessou
Karen ao lançar um olhar cúmplice à Daniela. “Entretemo-nos uns aos outros.
Gostamos de fazer passeios em família, de fazer piqueniques e de apanhar frio
na praia”, afiançou o irmão Kevin ainda quanto às actividades que realizam em
conjunto.
Pelo Natal, além das imensas
prendas, a reunião familiar é uma realidade e, “porque às vezes não estamos satisfeitos,
chamamos o Pai Natal a nossa casa”, declarou a mãe em tom de brincadeira. Este Natal
foi especial, uma vez que a Karen, engenheira informática na
Bélgica, não estava junto da família e veio de férias a casa.
Mas nem tudo é um mar de rosas... “Quando
um fica doente, ficamos todos”, referiu Daniela. Não há o habito de estrear uma
roupa nova ao domingo “como antigamente”, disse a mãe. “Vamos comprando de
acordo com as necessidades de cada um e, em tempos idos, quando era possível as
roupas passavam de uns filhos para os outros”, continuou referindo que não
esperam por datas específicas para adquirir as roupas. Por outro lado, “quando éramos
mais pequenos havia famílias que nos davam roupas e nós também cedíamos algumas
das que tínhamos e fazíamos troca por troca”, disse Karen. Dar uma nova
utilidade às roupas velhas é um dos truques que a família Duarte leva a cabo
para reciclar. “Das roupas fazemos panos de limpeza e, quando ficam
inutilizáveis, deitamo-los fora”, afirmou Célia.
Daniela e Benvinda dormem no mesmo
quarto, e, quando eram mais novas, partilhavam os brinquedos: “não havia
necessidade de pedir emprestado”, contou a mãe. Os colegas da escola não
estranharam o facto de os elementos da família terem tantos irmãos mas, no que
se refere às saídas à noite, “cada um tem os seus amigos. Só em casos
esporádicos os mais velhos levam os mais novos à festa da aldeia”, continuaram
os irmãos mais velhos.
Ter ou não filhos?
Constituída por sete elementos, a
família Duarte teima em contrariar o decréscimo da taxa de natalidade que
insiste em prevalecer em Portugal. Um estudo da Netsonda de 2013 apoiado pela
Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) quis perceber qual a
receptividade da população portuguesa à intenção de instituir o trabalho a
tempo parcial com compensação remuneratória. Uma das conclusões foi a de que 46% dos portugueses
consideraria ter mais filhos na sequência da aplicação desta medida.
Quando questionados sobre os
incentivos à natalidade, por parte do Governo, no nosso país, as opiniões dos
elementos da família dividem-se. “Cada um deve pensar por sim; não devemos
mandar na vida dos outros”, disse a mãe, enquanto se justificou com o facto de
viver numa aldeia, local favorável à existência de famílias numerosas.
“Penso que a aldeia é diferente da
cidade. Se vivesse num apartamento de certeza que não teria tantos filhos. Com
um ou dois teria a casa mais do que cheia”, afirmou a mãe. Por terem um
quintal, “não necessitamos de fazer tantas compras como se estivessemos na
cidade”, admitiu Célia. “Acabamos por produzir bastante para nós”, disse.
“A nível mundial existe
demasiada população, devíamos focar-nos nas pessoas que cá estão para que
possam viver melhor", argumentou a Daniela. Complementando, a irmã Karen
admite que “a população em Portugal está muito envelhecida. Precisamos que os
nossos filhos nos paguem as reformas”. Quis falar no caso belga: “as idades dos
meus colegas de trabalho rondam os 30 anos, quase todos têm família e filhos”,
disse. “Acho que os apoios do Estado são muito importantes; o ordenado mínimo
em Portugal é muito baixo. Na Bélgica a questão de ter filhos por causa do
dinheiro nem se coloca”, afiançou.
Por sua vez, o pai Manuel reconheceu
que “os que partem acabam por fazer vida no estrangeiro e acabam por só voltar
nas férias”. Deu o exemplo da altura em que esteve emigrado em França durante
dez anos: “dos que foram, poucos voltaram”.
Os sonhos são alguns, e as
aspirações de um futuro próspero leem-se nos olhos brilhantes dos elementos da
família Duarte. A Karen trabalha como engenheira informática na Bélgica, há
oito meses, mas planeia voltar a Portugal um dia. O Kevin não faz planos de longo prazo, mas assegura
que gostava de trabalhar como engenheiro informático, em Portugal. A Daniela
pretende terminar o curso, “trabalhar em laboratório” e aventurar-se na área de
mergulho. A Benvinda gostava de seguir a área de Línguas e Humanidades daqui a
dois anos. Quanto ao José que está apenas no 4º ano, a intenção é a de
prosseguir estudos. Manuel e Célia lá vão continuar a trabalhar na oficina e em
casa, torcendo pelo sucesso dos seus rebentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário