A adolescência é, muitas vezes, marcada pela história do primeiro amor.
Esta altura é pautada pela procura do “eu” do jovem e pelas relações de amizade
e de amor que, por sua vez, o vão definir como adulto. Apesar de esta ser uma
altura marcadamente de descoberta, nem sempre os relacionamentos amorosos são
recordados pelos melhores motivos. E, por esse motivo, 50 alunos do Colégio
João de Barros orientados pela professora Manuela Trindade criaram um vídeo
para advertir para a violência no namoro e que está a dar que falar na Internet.
O desafio foi lançado pela professora Manuela Trindade nas aulas de
filosofia e de psicologia. O objectivo seria o de “refletir sobre
problemáticas que fizessem parte do quotidiano dos alunos entre os 15 e os 18
anos de idade”, frisou a docente. Foi então que, volvidos alguns dias, cerca de
50 alunos do 11º e 12º ano colocaram mãos à obra “com o firme propósito de
dizer NÃO à violência no
namoro”.
“Quando fui convidada a integrar o projecto aceitei logo porque o assunto é
muito importante e recorrente nos dias de hoje. Acontece tanto nos jovens como nos
adultos”, começou por explicar Lara Mendes, 17 anos, que faz parte do vídeo do
projecto, patente no blogue “Capazes”. A aluna do 12º ano do curso Ciências e Tecnologias
acredita que “o namoro é incompatível com a violência”.
O projecto de saúde “Equilíbrio Corpo-Mente”, do qual o vídeo sobre “Violência
no Namoro” faz parte, foi apresentado ao Ministério da Educação e é bianual.
Este é o segundo ano de um projecto que quer promover o bem-estar físico e
mental do indivíduo e é transversal a toda a comunidade escolar. É através de visitas
de estudo, de exposições e de muitas outras actividades que áreas disciplinares
completamente diferentes acabam por contribuir para temática, de uma forma
complementar.
“Podemos ter noção de que existe violência numa relação quando há
demasiada dependência ou controlo por parte de uma das pessoas”, afirmou Edgar
Monteiro, 17 anos, também do 12ºano do curso de
Ciências e Tecnologias. Tendo em conta que a adolescência é uma fase fulcral do
desenvolvimento do indivíduo, “se somos vítimas de violência no namoro numa
fase tão delicada como esta, a probabilidade de acontecer em fase adulta é
muito maior”, sublinhou.
Mostrar como é viver o namoro com e sem violência é o objectivo principal
do vídeo. “Participaram no vídeo cerca de 25 alunos coordenados por mim, embora o
guião tenha sido escrito com a participação e o empenho de cerca 50 alunos”,
explicou a docente Manuela Trindade. Alguns alunos do curso profissional de
multimédia que integram o Núcleo Audiovisual
do Colégio João de Barros colaboraram no projecto ao gravarem e editarem o
vídeo. O Rafael Santos foi um deles. “Nunca tinha participado num projecto tão
elaborado. Realizámos uma pré-pesquisa para saber como funcionava a
sincronização de som, imagens e de tudo o que está no vídeo”, referiu o aluno
de Multimédia. “Usámos um som mais suave para transmitir a ideia de
introspecção. Colocámos a pessoa a falar e sincronizámos com o som de fundo”,
explicou.
Contudo, não foi só na escola que o vídeo
foi mostrado. Alunos e
professora recorreram ao blogue "Capazes" para difundirem a mensagem
contra a violência no namoro. “Achei que seria interessante
contactar a equipa responsável e tentar uma oportunidade
de, através desta plataforma, poder levar a voz dos nossos alunos mais longe”,
mencionou Manuela Trindade. “O vídeo foi
apreciado e avaliado pela equipa de conteúdos d@s Capazes e foi aceite a sua
publicação, o que permitiu que a nossa mensagem chegasse a um público muito
mais vasto”, continuou a professora. Mas os planos para
a divulgação do vídeo não se esgotam aqui. “Gostava de traduzir o vídeo em
linguagem gestual. Pretendia fazer a sua divulgação mas, desta vez, para fazer
contactos com instituições de surdos-mudos ou escolas que tenham essa
valência”, revelou a professora de psicologia.
“Foi
extremamente gratificante coordenar este projecto e perceber como os alunos estão atentos, têm opinião e querem
mudar mentalidades”, frisou a docente destacando a importância da prevenção e o
alerta para a sinalização de situações de violência. “É muito fácil um
adolescente que entra numa relação amorosa confundir o ciúme e alguma pressão
psicológica com situações de violência”, continuou Manuela Trindade. “Se os
jovens estiverem atentos e alimentarem uma auto-estima que os faça perceber
essas atitudes e lutar contra elas, mais facilmente poderemos pôr cobro a essas
situações numa fase inicial”, acrescentou.
Ter medo de
dar a conhecer situações de violência ou não saber com quem falar podem ser
alguns dos motivos que condicionam a denúncia. “Não é porque se assiste a
episódios de violência na infância que se vai perpetuar o ciclo em idade
adulta”, esclareceu a docente. “Penso que é importante os profissionais na
escola encontrarem um equilíbrio entre o que os jovens percepcionam em casa e a
educação formal da escola. As escolas têm uma responsabilidade enorme ao ir
além do ensino curricular, dinamizando este tipo de iniciativas”, disse ainda.
“Não é
saudável estar sempre com a mesma pessoa. Quando reparamos que algum dos nossos
colegas se afastam do grupo de amigos, acabamos por chegar à conclusão de que
aquela relação não está a ser vivida de uma forma muito saudável”, afirmou o
aluno Edgar Monteiro. Por sua vez, a aluna Lara Mendes acredita que o primeiro
passo é falar com o amigo antes de alertar outras instâncias. “Por passarmos
muito tempo com os nossos amigos, talvez consigamos perceber melhor o que se
passa com o nosso colega”, acrescentou.
E conselhos? “A melhor maneira para terminar a
situação é, depois de falar com uma pessoa de confiança, falar com o agressor”,
frisou Edgar Monteiro. Cortar laços, afastar-se, tentar fazer com que a
situação não se arraste durante muito tempo e terminar a relação de uma forma
amigável são algumas das dicas deixadas pelos alunos. “Quanto mais precocemente
largarmos este tipo de situações mais fácil se torna para nós a recuperação”, concluiu
Lara Mendes.
Para ficar ver este projecto basta aceder ao link do vídeo que foi
publicado no Facebook do colégio ou no blogue
d@s Capazes.
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