sábado, 13 de fevereiro de 2016

“Se me amas, não me agrides”

A adolescência é, muitas vezes, marcada pela história do primeiro amor. Esta altura é pautada pela procura do “eu” do jovem e pelas relações de amizade e de amor que, por sua vez, o vão definir como adulto. Apesar de esta ser uma altura marcadamente de descoberta, nem sempre os relacionamentos amorosos são recordados pelos melhores motivos. E, por esse motivo, 50 alunos do Colégio João de Barros orientados pela professora Manuela Trindade criaram um vídeo para advertir para a violência no namoro e que está a dar que falar na Internet.

O desafio foi lançado pela professora Manuela Trindade nas aulas de filosofia e de psicologia. O objectivo seria o de “refletir sobre problemáticas que fizessem parte do quotidiano dos alunos entre os 15 e os 18 anos de idade”, frisou a docente. Foi então que, volvidos alguns dias, cerca de 50 alunos do 11º e 12º ano colocaram mãos à obra “com o firme propósito de dizer NÃO à violência no namoro”.

“Quando fui convidada a integrar o projecto aceitei logo porque o assunto é muito importante e recorrente nos dias de hoje. Acontece tanto nos jovens como nos adultos”, começou por explicar Lara Mendes, 17 anos, que faz parte do vídeo do projecto, patente no blogue “Capazes”. A aluna do 12º ano do curso Ciências e Tecnologias acredita que “o namoro é incompatível com a violência”.

O projecto de saúde “Equilíbrio Corpo-Mente”, do qual o vídeo sobre “Violência no Namoro” faz parte, foi apresentado ao Ministério da Educação e é bianual. Este é o segundo ano de um projecto que quer promover o bem-estar físico e mental do indivíduo e é transversal a toda a comunidade escolar. É através de visitas de estudo, de exposições e de muitas outras actividades que áreas disciplinares completamente diferentes acabam por contribuir para temática, de uma forma complementar.

“Podemos ter noção de que existe violência numa relação quando há demasiada dependência ou controlo por parte de uma das pessoas”, afirmou Edgar Monteiro, 17 anos, também do 12ºano do curso de Ciências e Tecnologias. Tendo em conta que a adolescência é uma fase fulcral do desenvolvimento do indivíduo, “se somos vítimas de violência no namoro numa fase tão delicada como esta, a probabilidade de acontecer em fase adulta é muito maior”, sublinhou.

Mostrar como é viver o namoro com e sem violência é o objectivo principal do vídeo. “Participaram no vídeo cerca de 25 alunos coordenados por mim, embora o guião tenha sido escrito com a participação e o empenho de cerca 50 alunos”, explicou a docente Manuela Trindade. Alguns alunos do curso profissional de multimédia que integram o Núcleo Audiovisual do Colégio João de Barros colaboraram no projecto ao gravarem e editarem o vídeo. O Rafael Santos foi um deles. “Nunca tinha participado num projecto tão elaborado. Realizámos uma pré-pesquisa para saber como funcionava a sincronização de som, imagens e de tudo o que está no vídeo”, referiu o aluno de Multimédia. “Usámos um som mais suave para transmitir a ideia de introspecção. Colocámos a pessoa a falar e sincronizámos com o som de fundo”, explicou.

Contudo, não foi só na escola que o vídeo foi mostrado. Alunos e professora recorreram ao blogue "Capazes" para difundirem a mensagem contra a violência no namoro. Achei que seria interessante contactar a equipa responsável e tentar uma oportunidade de, através desta plataforma, poder levar a voz dos nossos alunos mais longe”, mencionou Manuela Trindade.O vídeo foi apreciado e avaliado pela equipa de conteúdos d@s Capazes e foi aceite a sua publicação, o que permitiu que a nossa mensagem chegasse a um público muito mais vasto”, continuou a professora. Mas os planos para a divulgação do vídeo não se esgotam aqui. “Gostava de traduzir o vídeo em linguagem gestual. Pretendia fazer a sua divulgação mas, desta vez, para fazer contactos com instituições de surdos-mudos ou escolas que tenham essa valência”, revelou a professora de psicologia.

“Foi extremamente gratificante coordenar este projecto e perceber como os alunos estão atentos, têm opinião e querem mudar mentalidades”, frisou a docente destacando a importância da prevenção e o alerta para a sinalização de situações de violência. “É muito fácil um adolescente que entra numa relação amorosa confundir o ciúme e alguma pressão psicológica com situações de violência”, continuou Manuela Trindade. “Se os jovens estiverem atentos e alimentarem uma auto-estima que os faça perceber essas atitudes e lutar contra elas, mais facilmente poderemos pôr cobro a essas situações numa fase inicial”, acrescentou.

Ter medo de dar a conhecer situações de violência ou não saber com quem falar podem ser alguns dos motivos que condicionam a denúncia. “Não é porque se assiste a episódios de violência na infância que se vai perpetuar o ciclo em idade adulta”, esclareceu a docente. “Penso que é importante os profissionais na escola encontrarem um equilíbrio entre o que os jovens percepcionam em casa e a educação formal da escola. As escolas têm uma responsabilidade enorme ao ir além do ensino curricular, dinamizando este tipo de iniciativas”, disse ainda.

“Não é saudável estar sempre com a mesma pessoa. Quando reparamos que algum dos nossos colegas se afastam do grupo de amigos, acabamos por chegar à conclusão de que aquela relação não está a ser vivida de uma forma muito saudável”, afirmou o aluno Edgar Monteiro. Por sua vez, a aluna Lara Mendes acredita que o primeiro passo é falar com o amigo antes de alertar outras instâncias. “Por passarmos muito tempo com os nossos amigos, talvez consigamos perceber melhor o que se passa com o nosso colega”, acrescentou.

E conselhos? “A melhor maneira para terminar a situação é, depois de falar com uma pessoa de confiança, falar com o agressor”, frisou Edgar Monteiro. Cortar laços, afastar-se, tentar fazer com que a situação não se arraste durante muito tempo e terminar a relação de uma forma amigável são algumas das dicas deixadas pelos alunos. “Quanto mais precocemente largarmos este tipo de situações mais fácil se torna para nós a recuperação”, concluiu Lara Mendes.

Para ficar ver este projecto basta aceder ao link do vídeo que foi publicado no Facebook do colégio ou no blogue d@s Capazes.

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