segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O Natal em Pombal vs O Natal em Maputo

Este ano decidi não passar o Natal em Pombal (Portugal). Deixei-me ficar pelo país que me acolheu há, precisamente, 11 meses, Moçambique! Sim, já aterrei há 11 meses em Maputo e parece que foi ontem. Ora, o post do dia de Natal não poderia ser, nada mais nada menos, do que as diferenças entre o Natal de cá (Maputo) e o Natal de lá (Pombal). 

Em Pombal...

1. No Natal em Pombal há alegria, desfiles de dia, luzes reluzentes à noite, todo um clima propício à fruição de uma consoada em família, que culmina na noite de 24 de dezembro;
2. No Natal em Pombal há correrias para fazer as compras de última hora, há doces e receitas a partilhar para saborear à noite;
3. No Natal em Pombal há família, sossego para a alma e conforto para o coração. Há cumplicidade, partilha, bem-estar e reciprocidade.
4. No Natal em Pombal há frio, muito frio, muitos agasalhos mas coração cheio.

Em Maputo...


1. No Natal em Maputo há calor, muito calor! Também há tempestades tropicais ferozes.
2. No Natal em Maputo não há correrias para fazer as compras de Natal porque simplesmente não tenho a quem  as oferecer.
3. No Natal em Maputo não há família. Existe vazio o solidão.
4. No Natal em Maputo não há desfiles de rua, músicas sonantes a fazer lembrar a noite de consoada nem o nascimento do menino Jesus. A noite de consoada pode ser vivida só ou acompanhada. Depende de quem fica e quer a nossa companhia.





quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Raquel Silvestre: "Sinto-me muito realizada em Moçambique!"

Foi aos 48 anos de idade que Raquel Silvestre decidiu sair de Portugal para realizar um sonho de adolescente: rumar a África e abraçar uma missão humanitária. Largou tudo o que tinha: família, emprego fixo e casa própria para partir à descoberta do desconhecido. Correu mal, mas Raquel não desistiu à primeira: faz trabalho voluntário, trabalha como relações públicas num bar conceituado e não tem data de regresso a Portugal marcada. Motivada por um sonho de que não prescinde, a voluntária entrega-se, todos os dias, de alma e coração às "crianças, jovens e seniores que não têm nada".


Qual é o seu nome completo?
Raquel Maria Castanheira e Costa Silvestre.
Quando e onde nasceu?
Nasci em Lisboa, na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, a 24 de Abril de 1969.
Qual é a sua actividade profissional/área de formação?
As minhas principais áreas de formação são saúde e educação.
Quando decidiu escolher Moçambique para viver e trabalhar?
Escolhi como destino Moçambique no início de 2017!
Que factores determinaram essa escolha?
Um anúncio a pedir missionários para Moçambique!
Porque razão decidiu deixar o seu país Natal e rumar a um continente desconhecido?
A missão humanitária! O que mais gosto de fazer. Um sonho de adolescente e com certeza o que me realiza mais.
Do que mais sente saudades no seu país Natal?
Da minha filha, embora esteja a estudar na Alemanha, mas vai voltar para Portugal, da minha mãe, do meu gato, da família e dos amigos!
Qual é o seu ramo profissional actual?
Não vim para África com o objectivo de ganhar dinheiro, mas só fazer trabalho humanitário...vim para uma instituição, com cariz religioso, onde ficou bem claro, em Portugal, que eu nunca iria participar nos rituais religiosos nem nunca me iria converter, que me garantia alojamento, alimentação e saúde!
Contudo, começaram a desestabilizar-me emocionalmente devido ao que eu vestia e porque dançava, mesmo reconhecendo que eu era um elemento muito válido!!
Foi muito complicado gerir os meus sentimentos nessa altura.
Tive uma grande vontade de denunciar a instituição e mostrar o que lá se passava, com vídeos que fiz, mas cheguei à conclusão que as dezenas de crianças órfãs dessa instituição acabavam por perder muito se o fizesse. Então saí da instituição, continuei a fazer trabalho humanitário, mas como tive de começar a pagar renda de casa e alimentação, tive mesmo de trabalhar para ter dinheiro para me sustentar e felizmente tive um convite maravilhoso, para trabalhar numa empresa, de renome em Moçambique, para ser gerente/relações públicas, num bar de praia que adoro.

Se voltasse atrás faria as mesmas escolhas? Porquê?
Exactamente a mesma coisa!

Do que mais gosta em Moçambique? E em Portugal?
Se calhar escolheria melhor a instituição e assinava um contrato com todas as condições escritas, que foi o que não fiz!
Saí de Portugal, despedi-me e arrendei a minha casa, confiando que a instituição era credível e que realmente punham os interesses das crianças em primeiro lugar, mas não!
O que mais gosto em Moçambique é da descontracção e do clima. Em Portugal, o que mais gosto é do aconchego da família e dos amigos.
Quais são os seus planos futuros? Ficar por Moçambique ou regressar a Lisboa? Porquê?Os meus planos para o futuro, neste momento, passam por ficar em Moçambique! Sinto-me muito realizada!
O que diria a um candidato a emigrante?
Diria que teria de estar muito equilibrado emocionalmente, porque não é nada fácil estar fora do nosso porto de abrigo!
Que ensinamentos leva da experiência num país/continente diferente?
Vários! Eu já tinha aprendido a relativizar, mas agora muito mais!
Estou muito mais calma e serena. Aprendi que não vale a pena estar chateada e zangada com nada. Não vale a pena. Há coisas tão mais importantes.
Eu estou todos os dias em contacto com o "oito" e o "oitenta"! No trabalho voluntário estou em contacto com crianças, jovens e seniores que não têm nada, mas mesmo nada. As crianças andam na rua, o dia todo, descalças com as temperaturas de quarenta graus!!! E no trabalho estou em contracto com alta sociedade de Maputo. E não tenho de questionar nada!
Para si o que significa emigrar?
É estranho, mas para mim significa fazer o que mais gosto! Só faria sentido sair do meus país para fazer o que mais gosto.
Em Portugal é muito difícil fazer trabalho humanitário com direito a alojamento e alimentação! Não correu bem e tive a sorte de arranjar um emprego muito bom e de que gosto muito, mas não estava nos meus planos.
O melhor em Maputo...
O clima! A luz! O nascer do sol!
Às cinco da manhã acordo pronta para viver o dia com todas as minhas forças! Impensável em Portugal!
O pior em Maputo...
A corrupção, a falta de palavra do moçambicano, os transportes precários, a carência de alfabetização, a falta de proactividade, a falta de civismo, a falta de limpeza das ruas. Estas questões primárias, fazem-me muita confusão.
Há questões muito básicas que estão por resolver, como alguns dos direitos das crianças... os direitos mais básicos, como ter direito a um nome e aos pais!!! Existe, também, o grave problema da gravidez prematura! Acho que até eu conseguiria resolver estes problemas.
O mais surpreendente em Maputo...
O que mais me surpreende... Embora todos os dias me sinta diferente, porque há muitos "brancos" em Moçambique, mas resguardam-se! Não andam na rua, só andam de carro, vivem em bairros equivalentes ao Restelo e Lapa, em Lisboa, frequentam locais caros que o moçambicano não tem dinheiro para frequentar. Eu vivo em contacto com os nacionais, moro numa avenida principal e segura de Maputo , mas o prédio não tem guarda e lá só moram nacionais! Ando de chapa, não ando de carro nem de táxi! Ando por onde me dizem que é perigoso andar, frequento cafés onde os nacionais vão e com um ar descontraído, e assim sinto-me em casa! Surpreendentemente sinto-me mesmo bem, em Moçambique, mas sou alvo de muitos olhares.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Caminhada da alegria coloriu último dia de aulas dos alunos do 1ºciclo da EPM-CELP

A “Caminhada da Alegria” teve lugar na manhã de sexta-feira, 15 de Dezembro, e marcou o encerramento das actividades do primeiro período dos alunos do 1º ciclo do ensino básico da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP). Entre professores, alunos, pais, encarregados de educação e amigos foram cerca de 600 pessoas as que participaram na iniciativa dinamizada pelos professores do primeiro ciclo.

De acordo com Paulo Ferreira, professor do primeiro ciclo e um dos principais impulsionadores da atividade, esta iniciativa “superou as expetativas. A participação dos pais foi massiva, não houve reclamações, do ponto de vista da segurança correu muito bem, já que não tínhamos realizado uma corrida tão extensa fora da escola”, disse.

Apesar de saber que a atividade podia ter abrangido mais pessoas, Paulo Ferreira concentrou-se em destacar os aspetos mais positivos de uma corrida que vai ser replicada no futuro. “Os alunos ficaram muito satisfeitos, gostaram muito das tintas e, apesar de não termos atingido a parte solidária da corrida, conseguimos concentrar-nos na organização da corrida”, afirmou o professor.

A coordenadora do primeiro ciclo, Mariana Ferreira, partilhou a mesma opinião: “correu tudo dentro do horário previsto tal como em termos de segurança, com o carro da polícia sempre a acompanhar”, disse relativamente à caminhada de cerca de dois quilómetros que começou no portão 4 da EPM-CELP, contornou a Escola Francesa e terminou no portão 2 da EPM-CELP.

“Queríamos sinalizar este último dia como um dia de alegria, por isso é que era a marcha da alegria e vemos que eles estão felizes e contentes”, destacou a professora do 1º ciclo, Kátia Borges. Também as professoras do mesmo ciclo, Teresa Jerónimo e Odete Carvalho mostraram-se satisfeitas com a organização da atividade. “Os pais apareceram num bom número, o que é ótimo, e penso que estão todos satisfeitos”, frisou Teresa Jerónimo. Apesar de não ter participado na corrida, a professora Odete Carvalho esteve na organização do lanche partilhado falou em “expectativas cumpridas”.

As opiniões de pais e de alunos vão muito ao encontro das dos professores. Yassmin Forte, mãe do aluno Diogo Santos, 3ºD, gostou da atividade embora propusesse a existência de mais tinta em futuras iniciativas. “É muito importante colocar os pais e os filhos a conviverem com os professores”, frisou. “Foi divertido e o que gostei mais foi da tinta”, disse Diogo Santos.

Daniel Pronto acompanhou a irmã que frequenta o primeiro ano de escolaridade. “Gostei muito da atividade já que nunca tinha participado numa do género. Gostei de passar tempo com a minha irmã, o que não acontece diariamente”, afirmou. “Penso que poderia haver mais atividades durante a corrida”, destacou o aluno que frequenta o 12º ano na American International School of Mozambique (AISM).

Também o aluno da EPM-CELP Manuel Guimarães, que acompanhou a sua irmã, Maria Rita Guimarães, mostrou-se satisfeito com a atividade que aconteceu durante toda a manhã: “é bom sentir que estamos integrados numa comunidade escolar e saber que estamos aqui uns para os outros. Esta permitiu que os pais convivessem com os professores e entre si e que os miúdos conhecessem outras crianças de outras turmas”. Acrescentou que “desenvolveu-se uma união fora do comum entre as pessoas. Estarmos todos cheios de cores torna-nos uma multidão alegre”.

Durante os momentos de convívio houve tempo para um lanche partilhado e para o sorteio de umas t-shirts do banco BCI e bilhetes de cinema.

A organização da “Caminhada da Alegria” contou com os patrocínios do banco moçambicano BCI, com as t-shirts para o sorteio, da Compal, com os sumos destinados aos alunos, das Águas da Naamacha e da residencial Kaya Kuanga, com o insuflável para as crianças. Os professores de Educação Física Margarida Abrantes e Belmiro Pinto apoiaram os professores do primeiro ciclo durante toda a organização do evento.

Na quinta-feira, 14 de Dezembro, os professores do 1º ciclo organizaram, no auditório Carlos Paredes, com as suas turmas, um espectáculo que contou com actividades musicais e teatrais que serviram para mostrar os trabalhos realizados em contexto de sala de aula. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Lançamento da “A História do João Gala-Gala” teve lugar no Centro Cultural Franco-Moçambicano

O lançamento da publicação infanto-juvenil “A História do João Gala-Gala”, baseada na biografia do músico moçambicano Chico António, teve lugar na tarde de terça-feira, 12 de dezembro, no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM).

Com “sala cheia”, no evento, marcaram presença a directora da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP), Dina Trigo de Mira; o escritor António Cabrita, que apresentou o livro; o autor Pedro Lopes, o co-autor Chico António e o ilustrador Luís Cardoso.

Momento da apresentação da obra
A sessão iniciou com um momento musical levado a cabo pelo músico Chico António, tendo-se seguido a proclamação de umas breves palavras de agradecimento pela directora de escola portuguesa. “A Escola Portuguesa tem editado alguns livros infanto-juvenis e tem como objectivos promover a literatura infanto-juvenil como forma de incentivar a leitura dos mais jovens e a escrita”, frisou Dina Trigo de Mira. Acrescentou, acerca das ilustrações, que “o nosso objectivo é integrar a arte como completo da escrita contribuindo para uma literacia visual. O trabalho de ligação da escrita com a ilustração permite criar redes de escrita e de ilustração que nos parece uma mais-valia no panorama cultural”.


Seguiu-se a apresentação do livro pelo escritor António Cabrita que frisou que “este livro é um gesto de urbanidade. A urbanidade tem lugar quando as pessoas se respeitam e ao seu trabalho. Quando isso acontece o resultado não pode ser senão satisfatório para todos”. Continuou destacando o produto de um trabalho realizado entre “um dos melhores artistas plásticos do país, um dos melhores e mais reputados músicos e talvez o mais prometedor, no sentido de polivalência, dos jovens escritores moçambicanos”.

Chico António
António Cabrita, sublinhou, ainda, a dificuldade em criar quando não há condições, o que deixa os artistas “desamparados”, mas frisou o exemplo positivo da produção da «História do João Gala-Gala»: “cada um esmerou-se em fazer o melhor que podia e daí que seja evidente que estejamos perante aquilo que é um exemplo na história da edição em Moçambique. Este livro estabelece um novo padrão na edição em Moçambique”.

“A «História do João Gala-Gala» faz-nos mergulhar na génese de uma canção do Chico por texto, a revisitarmos a infância e a sua inquietude de criança de sonhos maiores que a alma”, disse acerca do conteúdo da obra. “É uma história de crescimento, superação e resgate”, sublinhou. “Este é um momento feliz em que começa também uma grande responsabilidade”.

Seguiu-se a apresentação pela Associação Iverca do making off da produção do as intervenções dos autores que também se disponibilizam, no final, para o autografar os livros.


Pedro Lopes (autor) e Teresa Noronha (editora)
Este é o 13.º lançamento da colecção infanto-juvenil da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP), que sequencia a apresentação da mesma obra, da autoria de Pedro Lopes e do próprio Chico António com ilustrações de Luís Cardoso, no Camões - Centro Cultural Português, realizada a 26 de outubro.

Registe-se que o autor Pedro Lopes foi agraciado com o Prémio Literário Eugénio Lisboa instituído em 2017 em Moçambique pela primeira vez pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda de Portugal pela autoria da obra “Mundo Grave”, a premiada entre 36 apresentadas a concurso, todas de autores moçambicanos ou de estrangeiros a residir há mais de 10 anos em Moçambique.

A par da apresentação da “«História do João Gala-Gala» esteve patente uma exposição com as telas de Luís Cardoso, utilizadas na ilustração do livro, que constituiu o cenário do local do lançamento da obra.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

“Há muito para fazer no mundo”

É natural de Pombal mas escolheu Luanda para residir e trabalhar em novembro de 2015. A falta de oportunidades na área de formação e a vontade em expandir horizontes levaram a professora de inglês Cátia Cardoso, de 27 anos, até Angola, onde leciona numa escola privada.

Antes de partir para Luanda, havia estado num país da Europa mas emigrar para África já lhe tinha passado pela cabeça. A oportunidade não podia ter aparecido de uma forma mais inesperada: um dia acompanhou uma amiga a uma feira de emprego na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria (ESTG). Quando uma empresa de recursos humanos lhe propôs uma experiência profissional internacional em Angola, ponderou bem antes de aceitar.

A situação de desemprego em que se encontrava contribuiu para o início de um novo rumo, que se tem estado a desenhar desde então. “Mudar de ares, fazer algo diferente e conhecer outras culturas”, foram outros dos fatores que levaram a professora pombalense a partir.

A decisão de sair de Portugal não foi tomada de “ânimo leve”, história comum a outros emigrantes que decidem deixar para trás a família, os amigos e o país natal e desbravar horizontes desconhecidos. Mas quando questionada sobre se prosseguiria o mesmo caminho se voltasse atrás, Cátia Cardoso responde afirmativamente: “sair da nossa zona de conforto é sempre uma experiência enriquecedora, especialmente quando se trata de mudar para uma realidade tão diferente da nossa”. Afinal o que tem Angola de fascinante? “O clima quente e alguns aspetos da cultura, que é muito diferente e sem comparação possível à cultura ocidental”, destaca a professora.

Com o coração em Leiria, Cátia sente falta do “ritmo de vida”, “das pessoas” e “do conforto de casa”. Apesar de querer voltar um dia ao país que a viu nascer, a professora prefere não fazer muitos planos. “Em Angola tudo muda muito rapidamente. Gostava de voltar a Portugal um dia, só não sei quando”, diz entre risos.

A experiência internacional ensinou-lhe que “a vida é para ser vivida, sobrevalorizamos coisas com as quais não nos devíamos preocupar tanto, perdemos muito tempo com situações que não são assim tão importantes e, acima de tudo, há muito para fazer no mundo”.


Luanda
Angola

Fundação 25 de janeiro de 1575

Habitantes
8 234 098 (Censos 2014)

Curiosidades
Luanda foi classificada, em 2011, como a cidade mais cara do mundo. É uma cidade de contrastes onde uma camada extremamente rica da população vive ao lado de uma maioria pobre. É o principal centro financeiro, comercial e económico de Angola. O que melhor ilustra esta posição da cidade é a presença das sedes das principais empresas do país: Angola TelecomUnitelEndiamaSonangolLinhas Aéreas de Angola e Odebrecht Angola, entre outras. Localizada na costa do Oceano Atlântico, é também o principal porto e centro económico do país. É a terceira cidade lusófona mais populosa do mundo, apenas atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, ambas no Brasil e é a capital lusófona mais populosa do mundo.

O melhor por cá
Cátia Cardoso admite que a “diferença” e a “bagagem cultural” que leva da emigração são os melhores aspetos do quotidiano em Luanda. “Se soubermos manter a mente aberta, permitimos que as experiências no país de acolhimento nos enriqueçam”, frisa.

O pior por cá
Para a professora de inglês “a corrupção e a poluição” são dois aspetos menos positivos. A par disso, em ano de eleições, existe uma “grande crise financeira, não há divisas e, por isso, muitos portugueses estão a voltar ao seu país de origem”.

O mais surpreendente
A multiculturalidade pois há gente de várias culturas aqui: portugueses, brasileiros, indianos, americanos, sul africanos, entre cidadãos de outras nacionalidades”, destaca.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Alunos da EPM-CELP visitaram instalações da agência publicitária GOLO

Os alunos do 11ºA1 e do 11ºA2 da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) visitaram as instalações da agência publicitária GOLO, localizada na avenida Mao Tsé Tung, nos passados dias 27 de novembro e 4 de dezembro, respetivamente. A visita surgiu na sequência da abordagem dos conteúdos programáticos referentes ao capítulo sobre publicidade lecionados nas aulas de inglês.

A visita guiada iniciou com a ida dos alunos aos diferentes estúdios e espaços da agência publicitária GOLO onde foi dada uma breve explicação, pela diretora financeira Kátia Issufo e pela produtora executiva Filipa Nóvoa, sobre o que se faz e como funcionam os diferentes setores da agência.

“Conhecer esta agência foi uma experiência muito agradável porque, tanto eu como os meus colegas, conseguimos perceber o que é o mundo publicitário na vida real”, destacou Ranya Nizar, aluna do 11º ano, da turma A2. Destacou a importância de ver, no mundo real, como funcionam os setores de atividade que são abordados nas aulas. “Gostei da forma como nos explicaram e nos deixaram à vontade para expormos as nossas duvidas”, acrescentou referindo-se aos diferentes processos subjacentes à produção publicitária.

O aluno David Matias aprendeu que “aquilo que vemos nos anúncios e nos outdoors é muito superficial. Por detrás de toda a publicidade que vemos existe muito trabalho de dezenas de pessoas”. Faz um balanço positivo da visita, principalmente para os colegas que vão seguir esta área. A colega Ana Sousa partilhou a mesma opinião: “achei a visita muito enriquecedora, pois este género de iniciativas pode ajudar-nos a tomar decisões, já que alguns de nós são muito indecisos. Percebi que muitos de nós ficaram interessados e com mais alguma segurança em termos os objetivos no futuro”.

A definição do público-alvo, a noção de “rebranding”, a importância das “newsletters”, a aposta na imagem e na criação de textos e de spots publicitários criativos bem como todos os processos criativos subjacentes a essa criação foram alguns dos diversos assuntos abordados durante a visita de estudo.

“Este género de visitas pode ajudar os alunos a (re) definirem rumos. Acho que os alunos são bastante interessados e foi muito proveitoso; é recompensador, para nós enquanto agência, acolhermos estes alunos. Quem sabe um dia não vêm trabalhar connosco!”, frisou a produtora executiva da RGB Filmes. A mesma opinião partilhou Kátia Issufo que fez um balanço muito positivo da iniciativa: “os alunos são muito participativos e interessados. Pretendemos que este tipo de visitas lhes abra os horizontes para que eles possam ver o que querem fazer e se identificam com isto ou não”, concluiu.

A iniciativa fez parte dos conteúdos programáticos lecionados no 11º ano na disciplina de Inglês e foi organizada pelo professor Abubacar Ibraimo. “Os alunos tiveram a oportunidade de se inteirarem da realidade do mundo do trabalho numa agência publicitária”, sublinhou. O docente fez um balanço positivo da visita de estudo pois “os alunos mostraram-se muitos interessados, sendo que alguns até apresentaram interesse em seguir a carreira publicitária no futuro”.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Livro recupera história da Escola Portuguesa de Maputo “entre o arquivo e a memória”

O lançamento do livro “A Escola Portuguesa de Maputo (1985-1999) – Um contributo para a sua História (entre o arquivo e a memória)”, teve lugar no átrio central no final da cerimónia solene do 18º aniversário da EPM-CELP, no passado dia 24 de novembro. A obra, da autoria da docente Teresa Paulo, é o resultado da sua tese de mestrado e recupera memórias da Escola Portuguesa de Maputo – Cooperativa de Ensino, escola de direito privado que antecedeu a atual Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP). 

“A ideia surgiu por me terem agradado e interessado as temáticas e conteúdos abordados na cadeira de História da Educação, na parte curricular do Curso de Mestrado em Educação ", começou por explicar Teresa Paulo. “Fiquei a saber que já havia histórias sobre muitas instituições educativas em Portugal, teses de Mestrado e de Doutoramento, e fiquei com muita vontade de escrever sobre a escola antecessora da nossa atual escola”, destacou, acrescentando que “era preciso preservar memórias individuais e coletivas” de uma escola que já não existe fisicamente – a Escola Portuguesa de Maputo”. 

Reconhecer o processo de criação daquela antiga instituição de ensino, descrever o percurso da Escola Portuguesa de Maputo – Cooperativa de Ensino, CRL, de 1985 a 1999, analisar a dinâmica da própria escola, sistematizar o itinerário da vida da instituição na sua multidimensionalidade, recuperar algumas fontes de informação arquivadas e contribuir para o (re)conhecimento dessa escola foram os principais objetivos de um trabalho intensivo de dois anos, que resultou numa tese defendida em 2009, dez anos após o encerramento da Escola Portuguesa de Maputo. 

Teresa Paulo falou no processo de redação da tese: “tive muito gosto e prazer em fazer tal trabalho, todavia houve muitas portas que se fecharam, não foi fácil”, disse. “A última direção da cooperativa não tinha interesse nenhum em que eu investigasse, não se disponibilizaram para a entrevista nem autorizaram a consulta dos arquivos”, acrescentou. No entanto e contrariando todos os dissabores, depois da consulta de diversas fontes documentais, orais, escritas e fotográficas, a obra nasceu.  

Como se pode ler na contracapa do livro, “este projeto de investigação incidiu na história da Escola Portuguesa de Maputo – Cooperativa de Ensino, CRL, primeira Instituição de Ensino Português em Maputo, após a independência de Moçambique. Foi criada em janeiro de 1986 e encerrou em agosto de 1999, sendo, por conseguinte, a escola antecessora da atual EPM-CELP, para onde transitaram os alunos e o pessoal docente e não docente, em outubro do mesmo ano”.  

No prefácio pode ler-se, ainda, que o trabalho consiste num “estudo de caso histórico, na medida em que visa conhecer o passado da instituição, recuperando as memórias individuais e coletivas, desenvolveu-se como estudo descritivo, narrativo, etnográfico e biográfico, tendo participado nele aproximadamente cinquenta agentes educativos que exerceram diversas funções na instituição alvo do estudo”. 

Para a professora, “a EPM constituiu os alicerces, a raiz do embondeiro em que se transformou a EPM-CELP, realçando que, sem o espírito altruísta e o abnegado trabalho de todos, agentes educativos e comunidade escolar, não teria sido possível aspirar-se por instalações próprias, um direito de todos quantos, servindo a diáspora, promoveram a expansão da língua e da cultura portuguesas". 

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Perturbações no desenvolvimento e insucesso escolar levaram professores e encarregados de educação à EPM-CELP

“O desenvolvimento infantil e o insucesso escolar” foi o tema da conferência levada ao Auditório Carlos Paredes da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) pelo neuropediatra português Nuno Lobo Antunes, na terça-feira, 21 de Novembro.

A palestra incidiu sobre as disfunções no desenvolvimento das crianças, que normalmente são detectados por pais, educadores de infância e professores, entre as quais, dislexia, hiperatividade e défice de atenção, autismo e défice cognitivo. 

O neuropediatra iniciou a palestra com a partilha do site “PIN – Progresso Infantil”, falando na sua experiência de intervenção à distância com crianças, dentro e fora de Portugal, dando a entender que “é possível ter acesso a intervenções altamente sofisticadas desde que se tenha acesso à Internet”.

Seguiu-se a abordagem da perturbação no défice cognitivo/perturbação do desenvolvimento intelectual, altura em que Nuno Lobo Antunes frisou o facto de pessoas com estas perturbações terem dificuldade em encontrem emprego, à qual a sociedade ainda não deu resposta; de os progressos serem lentos e de a própria capacidade e desenvolvimento dos filhos não depender unicamente dos pais, que ao longo do tempo vão tendo um papel “menor”.

No que se refere ao défice de atenção e hiperatividade, o neuropediatra destacou o facto de o diagnóstico ser feito através da observação do comportamento da criança e de questionários realizados às crianças e aos encarregados de educação. Diferenciou “défice de atenção” de “hiperactividade”: “cerca de um terço das crianças que tem défice de atenção não tem hiperactividade”, frisou acrescentando que a hiperactividade vai sendo menor da adolescência.

Relativamente à perturbação de síndrome de asperger falou na dicotomia qualidade versus quantidade de interacção com as outras crianças. Falou nos sinais de alerta para esta perturbação, nomeadamente, a interacção social, comunicação, estabelecimento de empatia com os outros e capacidade de criar empatia.

Terminou a sua intervenção com o tema da dislexia, explicando que é uma disfunção que ocorre quando “a pessoa lê com a parte errada do cérebro e tem uma base genética e funcional do cérebro”.   


A ligação de Nuno Lobo Antunes à EPM-CELP tem mais de 10 anos. O neuro-pediatra facilitou um estágio de observação a uma das psicólogas do Serviço de Psicologia e Orientação do Centro de Desenvolvimento Infantil que na altura dirigia e, mais tarde, proporcionou a vinda de duas técnicas da sua equipa, em terapia da fala, para liderarem uma formação na área da perturbação da linguagem e da fala dirigida aos professores e psicólogos da escola portuguesa.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

“De Leiria e da família sinto falta todos os dias”

Reside e trabalha em África desde 2011 e não tem marcado bilhete de volta para Portugal. Motivos profissionais levaram-no a Angola e a Moçambique há seis anos. De espírito aventureiro e a viver um dia de cada vez, Nuno Rebelo, de 42 anos, traz a família no coração e a terra que o viu nascer no pensamento.

O leiriense trabalha na Iriss-Fast, uma empresa de materiais de fixação, sedeada em Maputo. Com presença em Angola, Matola e em Nacala, “o objetivo é expandir a atividade da empresa nos Países de Língua Oficial Portuguesa”, explica Nuno Rebelo sobre um mercado que tem tido uma “média de 7% de crescimento ao ano”.

Reconhece que, apesar de já ter visto melhores dias e de não estar parado, “o setor necessita de novos investidores”. Sabe que Moçambique é um país rico em recursos e espera que com alguma estabilidade social e política “a população possa beneficiar da riqueza deste país que se destaca em África e no mundo”.

A decisão de sair de Leiria há seis anos não foi tomada de ânimo leve: “o mercado de trabalho português estava em crise e os vencimentos decresceram muito”, afirma Nuno destacando que a solução à instabilidade financeira em que vivia passou por deixar a família em Portugal. Com o filho Diogo Rebelo, a estudar em Lisboa, a mulher Ana Sofia Brandão a lecionar na Madeira e os outros dois filhos, Ana João e João Luís Brandão a viver na mesma ilha, partiu em busca de “melhores condições de vida”.

“De Leiria e da família sinto falta todos os dias”, diz com nostalgia, recordando um episódio que o fez ficar com a lágrima ao canto do olho quando chegou a Angola em 2011. “Dei com as portas das instalações da Movicortes, em Viana, e a primeira coisa que fiz foi parar”, afirma. Lembra que “na altura as saudades de Portugal eram imensas, era o início de uma vida completamente diferente, as emoções eram diárias e, ao entrar na empresa leiriense deparei-me com o REGIÃO DE LEIRIA na mesa de centro da sala de espera”.

Veio por três mas já está há seis em África. “Por norma estes projetos no estrangeiro são a curto ou médio prazo e pretendemos todos voltar um dia ao sítio que nos viu nascer, onde está a família e os amigos”, destaca Nuno acrescentando que vai passar férias duas vezes por ano a Leiria. “O desejo é o de voltar um dia”, diz.

Faz um balanço positivo da experiência enquanto emigrante, quer em termos pessoais quer em termos profissionais. “Estou a ter uma experiência de vida que ninguém da minha família vai ter. Conheço um quinto de Angola e já «palmilhei» Moçambique, de carro, sozinho. Sei que os meus filhos estão bem porque eu estou cá e lhes consigo proporcionar boas condições de vida”, conclui.

O melhor por cá…
Para Nuno Rebelo o clima e as temperaturas acima dos 20 graus durante todo o ano são o melhor que Moçambique tem para oferecer. Destaca a afabilidade do povo e sente que “caminha à vontade nas ruas”. As praias, o peixe, o marisco, as pessoas, os hábitos, as diferenças de culturas quando se visitam outras províncias são, para o leiriense, motivos que o fazem ficar.

O pior por cá…
“O trânsito aqui é complicado”, destaca Nuno Rebelo. “O civismo na condução é quase inexistente e parece que não há normas nem regras de trânsito a cumprir”, diz apesar de reconhecer que têm existido “esforços diários no sentido de minimizar os problemas”.

O mais surpreendente…
Nuno reconhece que a imprevisibilidade é uma constante do dia-a-dia moçambicano. “A experiência leva-nos a concluir que, até ao dia em que morrermos, não vimos tudo”, diz. “Há coisas que se contarmos em casa, à família, ninguém acredita.  Aqui tudo é possível”.

domingo, 19 de novembro de 2017

Alunos do 12º ano da EPM-CELP assistiram a peça de teatro “Desassossego” interpretada pelo actor Alberto Quaresma

O auditório Carlos Paredes da Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa encheu-se de alunos do 12º ano na tarde de quarta-feira, 15 de Novembro, que assistiram à peça de teatro “Desassossego” de Fernando Pessoa/Bernardo Soares interpretada pelo actor português Alberto Quaresma.

“Se depois de eu morreu, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus”. Foi com esta frase de fundo da autoria de Fernando Pessoa que se iniciou a encenação da interpretação de excertos do “Livro do Desassossego” de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Pessoa.

O actor Alberto Quaresma vestiu a pele de Fernando Pessoa/Bernardo Soares para expor as suas reflexões sobre os mais diversos temas: o amor, a guerra, a actualidade, a dicotomia passado-presente, entre outros temas. Durante esta “aula informal” foram colocadas a “nu” algumas das questões mais intrigantes, deprimentes que inquietavam o escritor português na altura mas que hoje se revelam muito lúcidas e actuais.

“Vivemos tempos muito perturbados e muito perturbantes”, sublinhou o actor quando questionado sobre a actualidade dos textos de Fernando Pessoa/Bernardo Soares. “Ligamos a televisão e ouvimos notícias sobre os misseis da Coreia do Norte. De seguida, ouve-se a reacção destruidora do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump”, exemplificou o actor. “A crise dos refugiados tem que ver com a «Guerra Mundial» que estamos a viver”, destacou Alberto Quaresma sobre a sucessão cíclica da História. O mesmo estava a ocorrer, “quando milhões de pessoas morreram” na época contemporânea a Fernando Pessoa, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Alberto Quaresma explicou como se preparou para a peça de teatro: “Escolhi os textos que mais me impressionaram, reduzi-os a 55 minutos/uma hora; essa foi a parte mais difícil”, exprimiu o autor. “Por uma questão de honestidade profissional, não adapto o texto ao público-alvo; tenho de o fazer igual para toda a gente. Para mim este texto só pode ser dito assim”, frisou o actor. “Tenho de interpretar o que diz o Fernando Pessoa, para que as pessoas não ouçam palavras, mas sim, ouçam a expressão de um pensamento”, referiu.

A ocasião serviu, também, para assinalar o aniversário da carreira, em teatro, de Alberto Quaresma.  “Foi este Fernando Pessoa que disse estas coisas sobre a realidade em que viveu e que posso dizê-las agora na realidade em que vivo, que me interessou”, concluiu o ator cujos 40 anos de carreira se celebram no próximo ano: “Não encontrei personagem melhor para celebrar a minha carreira”.

Alberto Quaresma iniciou a sua carreira de actor em 1978 na Companhia de Teatro de Almada, vindo a trabalhar posteriormente com outros grupos como o Seiva Trupe, Teatro Experimental do Porto, Os Comediantes, Teatro do Noroeste, Teatro Aberto e Teatro da Cornucópia e a colaborar frequentemente para inúmeras novelas e séries mediáticas de televisão, como “Duarte e Companhia” e “Malucos do Riso”.