domingo, 19 de novembro de 2017

Alunos do 12º ano da EPM-CELP assistiram a peça de teatro “Desassossego” interpretada pelo actor Alberto Quaresma

O auditório Carlos Paredes da Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa encheu-se de alunos do 12º ano na tarde de quarta-feira, 15 de Novembro, que assistiram à peça de teatro “Desassossego” de Fernando Pessoa/Bernardo Soares interpretada pelo actor português Alberto Quaresma.

“Se depois de eu morreu, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus”. Foi com esta frase de fundo da autoria de Fernando Pessoa que se iniciou a encenação da interpretação de excertos do “Livro do Desassossego” de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Pessoa.

O actor Alberto Quaresma vestiu a pele de Fernando Pessoa/Bernardo Soares para expor as suas reflexões sobre os mais diversos temas: o amor, a guerra, a actualidade, a dicotomia passado-presente, entre outros temas. Durante esta “aula informal” foram colocadas a “nu” algumas das questões mais intrigantes, deprimentes que inquietavam o escritor português na altura mas que hoje se revelam muito lúcidas e actuais.

“Vivemos tempos muito perturbados e muito perturbantes”, sublinhou o actor quando questionado sobre a actualidade dos textos de Fernando Pessoa/Bernardo Soares. “Ligamos a televisão e ouvimos notícias sobre os misseis da Coreia do Norte. De seguida, ouve-se a reacção destruidora do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump”, exemplificou o actor. “A crise dos refugiados tem que ver com a «Guerra Mundial» que estamos a viver”, destacou Alberto Quaresma sobre a sucessão cíclica da História. O mesmo estava a ocorrer, “quando milhões de pessoas morreram” na época contemporânea a Fernando Pessoa, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Alberto Quaresma explicou como se preparou para a peça de teatro: “Escolhi os textos que mais me impressionaram, reduzi-os a 55 minutos/uma hora; essa foi a parte mais difícil”, exprimiu o autor. “Por uma questão de honestidade profissional, não adapto o texto ao público-alvo; tenho de o fazer igual para toda a gente. Para mim este texto só pode ser dito assim”, frisou o actor. “Tenho de interpretar o que diz o Fernando Pessoa, para que as pessoas não ouçam palavras, mas sim, ouçam a expressão de um pensamento”, referiu.

A ocasião serviu, também, para assinalar o aniversário da carreira, em teatro, de Alberto Quaresma.  “Foi este Fernando Pessoa que disse estas coisas sobre a realidade em que viveu e que posso dizê-las agora na realidade em que vivo, que me interessou”, concluiu o ator cujos 40 anos de carreira se celebram no próximo ano: “Não encontrei personagem melhor para celebrar a minha carreira”.

Alberto Quaresma iniciou a sua carreira de actor em 1978 na Companhia de Teatro de Almada, vindo a trabalhar posteriormente com outros grupos como o Seiva Trupe, Teatro Experimental do Porto, Os Comediantes, Teatro do Noroeste, Teatro Aberto e Teatro da Cornucópia e a colaborar frequentemente para inúmeras novelas e séries mediáticas de televisão, como “Duarte e Companhia” e “Malucos do Riso”.

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