O
auditório Carlos Paredes da Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa encheu-se de alunos do 12º ano na tarde de
quarta-feira, 15 de Novembro, que assistiram à peça de teatro “Desassossego”
de Fernando Pessoa/Bernardo Soares interpretada pelo actor português Alberto
Quaresma.
“Se
depois de eu morreu, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais
simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma
e outra todos os dias são meus”. Foi com esta frase de fundo da autoria de
Fernando Pessoa que se iniciou a encenação da interpretação de excertos do
“Livro do Desassossego” de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Pessoa.
O
actor Alberto Quaresma vestiu a pele de Fernando Pessoa/Bernardo Soares para
expor as suas reflexões sobre os mais diversos temas: o amor, a guerra, a
actualidade, a dicotomia passado-presente, entre outros temas. Durante esta
“aula informal” foram colocadas a “nu” algumas das questões mais intrigantes,
deprimentes que inquietavam o escritor português na altura mas que hoje se
revelam muito lúcidas e actuais.
“Vivemos
tempos muito perturbados e muito perturbantes”, sublinhou o actor quando
questionado sobre a actualidade dos textos de Fernando Pessoa/Bernardo Soares.
“Ligamos a televisão e ouvimos notícias sobre os misseis da Coreia do Norte. De
seguida, ouve-se a reacção destruidora do presidente dos Estados Unidos da
América, Donald Trump”, exemplificou o actor. “A crise dos refugiados tem que
ver com a «Guerra Mundial» que estamos a viver”, destacou Alberto Quaresma
sobre a sucessão cíclica da História. O
mesmo estava a ocorrer, “quando milhões de pessoas morreram” na época
contemporânea a Fernando Pessoa, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945).Alberto Quaresma explicou como se preparou para a peça de teatro: “Escolhi os textos que mais me impressionaram, reduzi-os a 55 minutos/uma hora; essa foi a parte mais difícil”, exprimiu o autor. “Por uma questão de honestidade profissional, não adapto o texto ao público-alvo; tenho de o fazer igual para toda a gente. Para mim este texto só pode ser dito assim”, frisou o actor. “Tenho de interpretar o que diz o Fernando Pessoa, para que as pessoas não ouçam palavras, mas sim, ouçam a expressão de um pensamento”, referiu.
A
ocasião serviu, também, para assinalar o aniversário da carreira, em teatro, de
Alberto Quaresma. “Foi este Fernando
Pessoa que disse estas coisas sobre a realidade em que viveu e que posso
dizê-las agora na realidade em que vivo, que me interessou”, concluiu o ator
cujos 40 anos de carreira se celebram no próximo ano: “Não encontrei personagem
melhor para celebrar a minha carreira”.
Alberto Quaresma iniciou a sua carreira de actor em 1978 na Companhia de Teatro de Almada, vindo a trabalhar posteriormente com outros grupos como o Seiva Trupe, Teatro Experimental do Porto, Os Comediantes, Teatro do Noroeste, Teatro Aberto e Teatro da Cornucópia e a colaborar frequentemente para inúmeras novelas e séries mediáticas de televisão, como “Duarte e Companhia” e “Malucos do Riso”.

Sem comentários:
Enviar um comentário