quinta-feira, 23 de novembro de 2017

“De Leiria e da família sinto falta todos os dias”

Reside e trabalha em África desde 2011 e não tem marcado bilhete de volta para Portugal. Motivos profissionais levaram-no a Angola e a Moçambique há seis anos. De espírito aventureiro e a viver um dia de cada vez, Nuno Rebelo, de 42 anos, traz a família no coração e a terra que o viu nascer no pensamento.

O leiriense trabalha na Iriss-Fast, uma empresa de materiais de fixação, sedeada em Maputo. Com presença em Angola, Matola e em Nacala, “o objetivo é expandir a atividade da empresa nos Países de Língua Oficial Portuguesa”, explica Nuno Rebelo sobre um mercado que tem tido uma “média de 7% de crescimento ao ano”.

Reconhece que, apesar de já ter visto melhores dias e de não estar parado, “o setor necessita de novos investidores”. Sabe que Moçambique é um país rico em recursos e espera que com alguma estabilidade social e política “a população possa beneficiar da riqueza deste país que se destaca em África e no mundo”.

A decisão de sair de Leiria há seis anos não foi tomada de ânimo leve: “o mercado de trabalho português estava em crise e os vencimentos decresceram muito”, afirma Nuno destacando que a solução à instabilidade financeira em que vivia passou por deixar a família em Portugal. Com o filho Diogo Rebelo, a estudar em Lisboa, a mulher Ana Sofia Brandão a lecionar na Madeira e os outros dois filhos, Ana João e João Luís Brandão a viver na mesma ilha, partiu em busca de “melhores condições de vida”.

“De Leiria e da família sinto falta todos os dias”, diz com nostalgia, recordando um episódio que o fez ficar com a lágrima ao canto do olho quando chegou a Angola em 2011. “Dei com as portas das instalações da Movicortes, em Viana, e a primeira coisa que fiz foi parar”, afirma. Lembra que “na altura as saudades de Portugal eram imensas, era o início de uma vida completamente diferente, as emoções eram diárias e, ao entrar na empresa leiriense deparei-me com o REGIÃO DE LEIRIA na mesa de centro da sala de espera”.

Veio por três mas já está há seis em África. “Por norma estes projetos no estrangeiro são a curto ou médio prazo e pretendemos todos voltar um dia ao sítio que nos viu nascer, onde está a família e os amigos”, destaca Nuno acrescentando que vai passar férias duas vezes por ano a Leiria. “O desejo é o de voltar um dia”, diz.

Faz um balanço positivo da experiência enquanto emigrante, quer em termos pessoais quer em termos profissionais. “Estou a ter uma experiência de vida que ninguém da minha família vai ter. Conheço um quinto de Angola e já «palmilhei» Moçambique, de carro, sozinho. Sei que os meus filhos estão bem porque eu estou cá e lhes consigo proporcionar boas condições de vida”, conclui.

O melhor por cá…
Para Nuno Rebelo o clima e as temperaturas acima dos 20 graus durante todo o ano são o melhor que Moçambique tem para oferecer. Destaca a afabilidade do povo e sente que “caminha à vontade nas ruas”. As praias, o peixe, o marisco, as pessoas, os hábitos, as diferenças de culturas quando se visitam outras províncias são, para o leiriense, motivos que o fazem ficar.

O pior por cá…
“O trânsito aqui é complicado”, destaca Nuno Rebelo. “O civismo na condução é quase inexistente e parece que não há normas nem regras de trânsito a cumprir”, diz apesar de reconhecer que têm existido “esforços diários no sentido de minimizar os problemas”.

O mais surpreendente…
Nuno reconhece que a imprevisibilidade é uma constante do dia-a-dia moçambicano. “A experiência leva-nos a concluir que, até ao dia em que morrermos, não vimos tudo”, diz. “Há coisas que se contarmos em casa, à família, ninguém acredita.  Aqui tudo é possível”.

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