segunda-feira, 16 de março de 2015

Sacos de plástico dividem pombalenses

Desde o dia 18 de Fevereiro que, na hora de ir às compras, o melhor mesmo é levar um saco consigo. Caso contrário terá de o pagar na loja.

Promover o uso de sacos reutilizáveis para combater a acumulação de plásticos nos ecossistemas e consciencializar a população para a importância da redução da poluição provocada por estes materiais são dois dos objectivos do decreto-lei nº82-D/2014 de 31 de Dezembro, que estabelece um regime de tributação dos sacos de plástico leves, no âmbito do quadro da reforma da fiscalidade ambiental. Uma das metas mais ambiciosas dos Governo é reduzir o consumo per capita para 35 sacos por ano por habitante, a médio-longo prazo. Mas afinal o que pensam os pombalenses sobre esta medida?

Sérgio Soares vende sacos desde meados de Fevereiro
Sérgio Soares, proprietário da Livraria e Papelaria Soares, é um dos comerciantes que já teve de pagar um imposto sobre os sacos de plástico que vende. “Estão a cobrar à cabeça todo o stock que nós tínhamos e deveria ser por fases, à medida que íamos vendendo os sacos, pois muitas pessoas foram apanhadas desprevenidas”, explicou.

Acredita que “o conceito está bem colocado, mas a forma de cobrar o imposto está errada. Eu, por exemplo, comprei os meus sacos em Julho e se eu soubesse que o imposto que eu tinha de pagar cerca de 200 euros, não tinha comprado tantos sacos”, explicou. Isto até porque as pessoas estão a trazer os sacos de casa. Sobre as reacções dos clientes admite que “dizem que é outra forma de imposto para o Governo ganhar rapidamente dinheiro, mas concordam com a medida.”

Odete Gonçalves afirma que as pessoas trazem os sacos de casa
Também Odete Gonçalves, proprietária do mini-mercado “O Mercadinho”, revela que tem algumas dúvidas quanto à aplicação do imposto: “não é justo estarmos a pagar sobre os sacos que tínhamos já comprado; já pagámos o IVA ao Estado. Agora, se quisermos utilizar esses sacos, temos de declará-los na alfândega e pagá-los de novo. Nesse caso, temos de pagar duas vezes, o que não é justo.”

Do lado dos clientes, as dúvidas prevalecem. Ângela Marques, 31 anos, professora de português, é da opinião de que o imposto é “estranhíssimo porque, quando vamos comprar roupa, não voltamos com a camisola na mão. Se os sacos de plástico leves demoravam 300 anos a desfazerem-se, e agora pagamos 10 cêntimos por um saco que tem o triplo ou o dobro da grossura de um dos leves, porque não utilizar sacos de papel?”.

Também Helena Silva, 43 anos, doméstica, acredita que os sacos de plástico são um pouco caros mas que há sempre uma solução: “acho que quem não quiser pagar deve trazer de casa um saco reutilizável”.

Em que efeitos positivos vai traduzir-se a medida?

Apesar da implementação desta medida ter já suscitado diversas reacções positivas e negativas, pelos comerciantes e pelos clientes, há quem acredite que a médio-longo prazo vai mostrar os seus resultados. “Há três meses, 100 pessoas pediam 200 sacos, neste momento, aquilo em que reparo é que, em 100% das pessoas, no máximo cinco pessoas não estão a trazer saco de plástico e solicitam”, sublinha Vitor Domingues, proprietário da EuroLojas.

Vitor Domingues sabe que a medida traz algumas vantagens
“As pessoas já se mentalizaram que não querem pagar pelos sacos de plástico. Foi a medida que mais depressa foi aceite. Os clientes não estão dispostos a pagar, nem que os sacos estejam a 1 ou 2 cêntimos”, acrescenta o proprietário do espaço que abriu portas no mês passado. Ao contrário de Sérgio Soares que considera que a meta do Governo ao pretender reduzir o consumo para pouco mais do que um saco por mês por pessoa, não vai surtir efeitos, Vitor Domingues acredita precisamente no contrário: “vão conseguir fazer isso”, admite.

No que se refere à diminuição do consumo de sacos de plástico e ao consequente abrandamento dos efeitos negativos no ecossistema, Paulo Carvalho, proprietário da frutaria “O Agricultor”, é da opinião de que a medida é positiva. “Eu acho bem para haver menos poluição”, diz. Mantendo a sua forma de actuar, ao lidar com o cliente como com “um membro da família”, o comerciante vai continuar a não cobrar pelos sacos de plástico. “O cliente, ao longo de todo o ano, dá rendimentos para o saco. Não os vou taxar nunca”, afirma.

Discurso Directo

Ângela Marques, 31 anos
Professora de Português

“É estranhíssimo porque, quando vamos comprar roupa, não estávamos habituados a que nos perguntassem se queríamos sacos de plástico. Se os sacos de plástico leves demoram cerca de 300 anos a desfazerem-se no meio ambiente, porque é que agora pagamos 10 cêntimos por um saco que tem o triplo ou o dobro da grossura de um dos leves? Isso não faz sentido: se é por questões ecológicas, deveríamos usar sacos de papel.”

Bruno Silva, 35 anos
Motorista distribuidor

“Acho que vai prejudicar o consumidor e não beneficiar, se bem que existia muita gente que exagerava no consumo dos sacos de plástico. Acho que poderiam ser implementadas outras medidas para contornar o problema, como a utilização de sacos de papel.”

Helena Silva, 43 anos
Doméstica

“Eu acho que é o Estado quem mais vai beneficiar com esta medida, porque quem quiser comprar, continua a consumir sacos. Esta medida não está bem implementada, se estivesse, todos os sacos teriam o mesmo preço. Quando vou às compras, costumo trazer sacos de casa.”

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