segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"Sou um cantor ao vivo"

Revolucionário, contestatário e inconformista. Aos 73 anos de idade, José Cid considera-se um cantor ao vivo. Distinguido, em 2009, com o prémio de consagração de carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, o cantor vai lançar, já no próximo mês, mais um álbum, "Menino Prodígio", composto por baladas e músicas rock, que promete não desiludir os seus fãs. O autor de “Ontem Hoje e Amanhã”, "Junto à lareira", "A Rosa que te dei", "Adios, Adieu", "A minha música", "A pouco e pouco (Favas com chouriço)" e de muitas outras obras fala sobre o público, as músicas e os projectos para o futuro.


Ana Isabel Mendes (AIM): O José Cid percorre o país em tempos de crise. A crise que se faz sentir ao nível global também se reflecte nos seus concertos? 

José Cid (JC): A  crise é para quem canta mal e não tem público. Eu faço aquilo que eu  sempre soube fazer, que é cantar as canções que eu próprio escrevi, e não sinto crise nenhuma. A crise é mais para cantores que ganhavam 30, 40 ou 50 mil euros; esses estão atrapalhados porque as câmaras não têm dinheiro e, se calhar, até nem mereciam. Portanto, eu não sinto crise nenhuma. O que eu estou aqui a fazer é divertir-me, coisa que, em palco, é difícil fazer. Poucos cantores conseguiriam fazer um espectáculo de duas horas com piano. Talvez um Jorge Palma, um Luís Represas e pouco mais; não teriam a mesma dinâmica que eu tenho ao vivo. Isso é uma coisa que me diferencia; crise eu não sinto nenhuma: nem de criatividade nem de voz. 

AIM: O seu trabalho é transversal a diferentes idades e atravessa gerações. Como tem sido a receptividade do público aos seus álbuns? 

JC: Fantástica, não tenho problema nenhum de receptividade a nível nenhum porque os meus álbuns são feitos para as pessoas: não são elitistas nem são "pimba". São álbuns reais, de um cantor real que canta e que as produz, pois eu sou protagonista da minha obra. As pessoas preferem comprar coisas verdadeiras e não plágio ou obras de cantores que sabem perfeitamente que estão em estúdio e que são corrigidos do princípio ao fim com máquinas e que, ao vivo, não cantam assim.



AIM: Como é que alguém com tantos anos de carreira consegue manter salas de espectáculos cheias (inclusivamente, teve de se marcar uma sessão extra em Pombal)? Como tem mantido a sua carreira e atraído um público tão vasto?

    JC: Não sei, tem de perguntar às pessoas com carreiras efémeras porque o José Cid existe. Eu sou o José Cid: se não tivesse feito uma carreira aqui poderia ter feito noutros países, mas graças a Deus fi-la aqui, com o meu público e tenho uma homenagem que é nacional e única, na música da história portuguesa. Com a idade que eu tenho, cantar em Queimas-das-Fitas e Latadas com público jovem a ouvir o Rock'n Roll, porque eu quando canto nessas áreas faço espectáculos com música deste género ou muito próxima, diferente, com muita dinâmica. Ter 70 mil pessoas em Cascais, na Festa do Mar, para me ouvirem durante duas horas e meia, 200 mil pessoas na passagem do ano a cantar comigo do princípio ao fim na Praça do Comércio... A minha obra e a minha carreira falam por mim. Quase que nunca houve ninguém com a minha idade que tivesse esta dinâmica e a energia que eu tenho para cantar, com concertos tão cheios e com um público sempre a querer ver. Em Pombal esgotei o primeiro concerto, teve de se marcar outro e, se voltasse amanhã, teria novamente a sala cheia.
      
AIM: Não é a primeira vez que está em Pombal. Que sentimentos lhe desperta esta cidade? 

JC: É uma cidade que eu considero ser muito portuguesa. O facto de ser bastante central define muito aquilo que é o Portugal profundo no bom sentido. É uma cidade com muitas histórias, com muita história, é realmente uma cidade que tem muito a ver com a história do país. É uma cidade que me atrai muitíssimo. Aqui estão pessoas que têm sido sempre muito minhas amigas. 

    
AIM: Que características o definem?

JC: Levo uma vida muito saudável, canto, sou muito provocador, não fujo a nada e sou um bocadinho contra o sistema. Sou revolucionário. Tenho 28 canções proibidas de antes do 25 de Abril, só que não tenho necessidade nenhuma de obrigar as pessoas a pensar de outra maneira que não seja a do 25 de Abril. Eu tenho as minhas opções. 

AIM: Que projectos tem para o futuro? Para quando planeia lançar um novo álbum?
  
JC: O lançamento do meu novo álbum, "Menino Prodígio", que é muito roqueiro, muito inesperado, com muita intervenção poética, composto por baladas e rock. Eu espero que vá ao encontro das novas gerações. Este meu novo álbum, em termos poéticos,é muito contestatário. Os meus três últimos álbuns anteriores são basicamente, compostos por baladas, e este não. 

AIM: O concerto desta noite (22 de Fevereiro) superou as suas expectativas?

JC: Não, é a apoteose em todas as cidades por onde tenho passado:  Aveiro, Braga, Porto e Lisboa. [O concerto] foi apoteótico. É disso que eu estou à espera e as pessoas sabem que estou aqui para me entregar à música. Eu sou um cantor ao vivo mesmo. Há por aí gente que grava discos muito bonitos mas, ao vivo, adeus. Eu sou um cantor que escreve canções para si próprio. Há pessoas que têm projectos musicais muito bons, mas que ao vivo decepcionam: ou porque bebem muito álcool, ou porque já vêm muito chatos. Não é a mesma coisa. Eu tenho de definir a minha diferença por ser ao vivo. E o facto de eu me aguentar estes anos todos é as pessoas saberem que vão para um concerto do José Cid, e se vão divertir, sabem que vai ser bem cantado e bem tocado e sabem que eu não vou falar muito. O que as pessoas querem é ouvir música.

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