quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Um ano de Moçambique

Faz hoje precisamente um ano que aterrei na "Pérola do Índico". Um ano de tudo. Um ano de mil experiências sem fim. Um ano de peripécias avassaladoras e de aventuras e desventuras para contar. Um ano de memórias. Um ano de "cai" e de "levanta". Um ano de amores e desilusões. Um ano de amizades e inimizades. Um ano de uma aventura que vou levar na bagagem quando regressar. Um ano de um crescimento indiscutível. Um ano!
Arrependida? Não estou, mesmo que já tivesse pensado, muitas vezes, que foi um erro ter partido à aventura depois de me despedir de um trabalho estável. Mesmo que as dúvidas fossem mais do que as certezas e que a insegurança minasse os meus sentidos... Não estou arrependida, estou grata!

Feliz? Sim, muito! Apesar de todas as aventuras e desventuras que tenho tido nos últimos tempos. Se sofri? Já, e muito. Se me arrependi de decisões que tomei? Também, de muitas... Se fui inconsequente e infantil? Demasiadas vezes... Mas tudo isto faz parte de um crescimento e aperfeiçoamento interno que não seria possível se não tivesse tido a ousadia de rumar a um continente desconhecido.
Ora, seguem algumas ideias sobre o que para mim significa Moçambique:

* Em Moçambique a noção de tempo dilui-se a cada minuto. O tempo passa muito depressa. Anoitece bem mais cedo comparativamente a Portugal e as horas correm de uma velocidade avassaladora; é caso para dizer que o tempo voa! Essa foi uma das primeiras diferenças com que me defrontei assim que aterrei.

*Em Maputo pouco se faz durante os fins-de-semana.
As pessoas saem para África do Sul ou vão dar uma volta até à praia para escapar à rotina da semana. A cidade fica vazia e, para quem fica, as opções passam por passar o dia na piscina ou ver um filme em casa numa tarde de lanche com as amigas e, à noite, jantar num restaurante "chique".



*Sexta-feira e domingo são os dias para se sair à noite.
Há o "Bistrô" e a "Feira" às sextas e o "Núcleo de Arte" aos domingos. Às sextas estou cansada e aos domingos não me apetece sair porque segunda-feira é dia de trabalho! Como aos sábados as festas são privadas, é muito raro (eu) sair. 

*As praias... Quanto mais para norte, melhor!
Aqui existe (mesmo) o paraíso na terra: águas límpidas, cristalinas e mornas. Areias brancas e brilhantes e um clima quente estonteante. Está sempre calor! Às vezes até demais. Escusado será dizer que o uso do protector solar é imperativo e que não se pode prescindir de uma boa sombrinha.

*
Em Moçambique não existe "Primavera" nem "Outono".
No fundo também não há o convencional "Inverno", a que o frio português nos habitua. Há a época seca, de Maio a Setembro e a época das chuvas, de Outubro a Abril, mais coisa menos coisa. Isso na teoria porque na realidade quase nunca chove e está sempre MUITO calor. 

*Em Moçambique a oferta cultural é muito limitada. 
Demasiado. Ás vezes lá há um momento musical diferente, um cinema gratuito ou uma exposição fotográfica aqui (na Fundação Fernando Leite Couto) ou ali (no Centro Cultural Português). Mas a verdade é que pouco há para visitar ou ver. A oferta é muito restrita e tudo ou quase tudo se paga. 


*Há o voluntariado, na PLATAFORMA MAKOBO, todos os dias. 
Mas eu só vou uma vez por semana às segundas-feiras. Gosto imenso de despender algum do meu tempo a dar mais de mim aos outros. Fazer mais. Ser mais! "Ensinar a pescar" de uma forma desinteressada e, mesmo assim, receber muito mais do que aquilo que dou. O voluntariado dá cor ao início de cada semana, desde Setembro do ano passado.

*Não existe uma rede de transportes públicos estruturada. 
Os cidadãos locais deslocam-se de "chapa" (o nome corriqueiro e informal para as velhas Toyota Hiace) para os diferentes pontos da cidade e eu ando de txoupela (os tais "tuk-tuk" turísticos), de taxi e, mais recentemente, de carrinha escolar. Fica bem mais barato e faz bem à saúde. Na realidade o "chapa" é o meio de transporte mais barato... contudo... o conforto não é o mesmo! Ainda há as carrinhas de caixa aberta, "My Love"... mas nessas nem sequer subo.


*Há proximidade com África do Sul. 
A distância entre Maputo e Nelspruit fica é cerca de 200 km. Eu não conduzo por cá mas aproveito a gentil boleia de quem me leva a conhecer sítios fantásticos como Blyde River Canyon ou o Kruger Parque. 


*Há as coloridas capulanas. 
São tecidos locais muito versáteis que servem para quase tudo: fazer roupas, toalhas, carteiras, cortinados, malas... tudo e mais alguma coisa; as possibilidades são infinitas!

*Há o delicioso marisco nas praias e os saborosos amendoins e cajus por todo o lado. 
Há restaurantes e talhos "Hallal" (onde não se come ou vende carne de porco), o tailandês, o indiano e o chinês.  É uma maravilha poder desfrutar da versátil diversidade gastronómica que Moçambique tem para oferecer. 

*Há a minha independência. 
O meu refúgio é o meu t1. Pago as minhas contas e não dou justificações a ninguém da minha vida. Tenho paz e sossego e isso é impagável.

*Há tudo aquilo de que não falei. 
Os sem-abrigo, a pobreza (material e espiritual), a gravidez precoce a inconsciência na educação e a ditadura disfarçada de "democracia"... Há corrupção, lixo nas ruas e poluição sonora e ambiental. Ainda há muito por fazer. Há muito para descobrir e há um sem número de coisas para melhorar. Não podemos mudar o mundo, mas podemos melhorar o mundo de alguém, acredito nisso.

*"Relativizar" é a palavra de ordem por estas bandas. 
Se assim não for, as saudades vão apertar mais. As situações vão doer mais. Tudo assume proporções mais nefastas e a vida é muito mais dolorosa. 

Faço ideia de até quando vou ficar, mas pretendo viver cada minuto como se do último se tratasse e tornar esta experiência internacional ainda mais rica!

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