Resido e trabalho há um ano e um mês em
Moçambique. Há uma semana recebi em minha casa uma amiga portuguesa que,
atualmente, trabalha na Holanda. E é engraçado ver noutra pessoa, ouvir de outra
pessoa e sentir de outra pessoa aquilo que, há um ano, quando aterrei, eu vi, eu
ouvi e eu senti.
Escolhi trabalhar na Escola Portuguesa de
Moçambique por um ano. Um ano que agora caminha para um ano e meio. Além de
visitar mais e de desbravar novos horizontes antes para mim desconhecidos,
posso receber uma ou outra visita de alguém que vem só visitar e conhecer um
outro mundo, uma nova realidade.
“Pérola do Índico”, como é nomeado por muitos,
Moçambique é um país de contrastes. Apercebeu-se disso a minha amiga Diva assim
que a levei a ver o pôr do sol mais bonito da cidade: “Como é que numa mesma
cidade coexistem locais tão bonitos e lixo no chão?”, questionou.
Sabe hoje, a Diva, que antes de aterrar é
essencial virmos sem ideias pré-concebidas, sem opiniões feitas nem preconceitos.
Só uma mente limpa, livre e aberta consegue absorver e aproveitar o que um
outro país, os nativos dessa zona e uma nova cultura têm para oferecer e
ensinar.
“Está tanto calor, estou sempre a soar!”, diz-me
a Diva, quase todos os dias. “As mangas e as papaias têm um sabor maravilhoso”,
comenta. “É impressionante comer tão bem por preços tão ridículos”,
impressiona-se com a diferença diariamente. “E as praias!? Ah, essas são lindas
de cortar a respiração!”, exclama.
Há um ano era eu neste espanto, nesta admiração.
Agora é-o outra pessoa que nunca tinha saído da Europa e para quem, todos os
dias, são uma surpresa. É interessante ver num outro alguém aquilo que eu já
fui. Já estive perdida. Já senti que aqui não pertencia. Já questionei inúmeras
vezes o porquê de estar cá. Ainda não encontrei resposta para muitas das minhas
interrogações.
Agora vejo-o numa outra pessoa. Sinto-o numa
outra pessoa. “Ana, todos olham para mim. Sinto-me como um negro se sente em Portugal”,
diz-me a Diva com espanto no olhar. Está na pele do outro e sente-o todos os
dias, a todas as horas, tal como eu já o senti e o sinto ainda.
Afinal, só quando vestimos a pele do outro é que
fazemos ideia de como o outro se sente, quando o julgamento alheio emerge de
todos os lados, só por ter outra cor de pele. E sentimo-lo, todos os dias.
Somos brancos num país de pretos. São pretos num país de brancos. Falamos a
mesma língua. Mas tudo o resto é diferente: os locais, a cultura, os hábitos, a
gastronomia, os trajes, os pores do sol e o humor.

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