Morreu Luís Vaz de Camões. A 10 de Junho de 1580. É por essa razão que hoje se celebra um dia tão simbólico para Portugal e para as comunidades portuguesas. É o Dia de Portugal, oficialmente denominado Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas.
É um dia para celebrar. Não apenas a morte como a vida e os feitos gloriosos que enaltecem a figura gloriosa que é o autor d' "Os Lusíadas". No século XIX, foi na figura de Camões que os liberais portugueses encontraram um símbolo para a sua luta contra a presença dos ingleses em Portugal, e que mais tarde levou à implantação da República, que se celebra a cinco de Outubro.
O dia é de festa. Mas duvido muito que o poeta que perdeu o olho direito numa batalha em África, estivesse a favor do Novo Acordo Ortográfico. Verdade, não é? Depois de todos os feitos gloriosos de que se pode orgulhar o nosso Portugal, damos um pontapé na Língua para que o facilitismo se sobreponha à conquista. Lindo.
Mas hoje é dia para celebrar, não é? O 10 de Junho já foi denominado "Dia da Raça", a "Raça" lusitana, isto é, a de todos os portugueses que vivem em Portugal e estão espalhados por esse mundo fora (mais hoje, numa das épocas a que assistimos à maior vaga de emigração de que há memória desde a altura da Revolução dos Cravos). Quanto a este assunto prefiro abster-me de comentários, já que tantos são os que por aí abundam.
Heroísmo, orgulho e patriotismo. Estes são elementos importantes para manter a cultura e um sentimento patriótico no país, dizem os entendidos. Mas, hoje em dia, não será que o significado de tais palavras se desvanece por entre a poeira difusa dos avarentos discursos políticos? Ou pela areia que nos querem lançar para os olhos, como se de um rodapé de letras pequenas e incompreensíveis se tratasse?
Patriotismo não é sinónimo de nacionalismo, na medida em que, ao gostar de se pertencer a um determinado país, não se julga que essa língua ou cultura é superior às outras. Não entremos por etnocentrismos e fundamentalismos desnecessários e vazios de razão. Gostar das nossas raízes e preservá-las como tal é uma atitude positiva; detestar os estrangeiros é uma atitude descabida.
Neste dia vale a pena lembrar que a língua portuguesa é a sétima mais falada do mundo.
- No Decreto-Lei n.º 39-B/78 de 2 de Março, lê-se: "O dia 10 de Junho, Dia de Camões e das Comunidades, melhor do que nenhum outro, reúne o simbolismo necessário à representação do Dia de Portugal. Nele se aglutinam em harmoniosa síntese a Nação Portuguesa, as comunidades lusitanas espalhadas pelo Mundo e a emblemática figura do épico genial."
E porque recordar é viver, deixo aqui três versos da obra:
CANTO PRIMEIRO
1
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
3
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

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