Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/camila-pensava-que-ia-para-o-hospital-mas-foi-ao-oceanario-1623537
Com o desejo da Camila, uma criança com cancro que pela primeira vez foi ao Oceanário, já são 326 desejos os realizados em Portugal pela fundação Make-a-Wish”. Ainda há 90 por realizar.
Com o desejo da Camila, uma criança com cancro que pela primeira vez foi ao Oceanário, já são 326 desejos os realizados em Portugal pela fundação Make-a-Wish”. Ainda há 90 por realizar.
Os olhos da Camila, uma menina cabo-verdiana de dez anos,
doente oncológica, não escondem o espanto assim que se depara com o Oceanário
de Lisboa. É a primeira vez que vai ver “os peixes”. O desejo de Camila foi
realizado este mês de Fevereiro e faz parte de uma longa lista de “sonhos” que
têm sido realizados pela Fundação Make-a-Wish.
Este é um dia diferente para Camila. Levantou-se à mesma
hora de sempre mas em vez de seguir para um tratamento de quimioterapia no
Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, seguiu para o Oriente, rumo
ao Oceanário. Em vez da habitual corrida casa-hospital, hospital-casa, desta
vez o destino foi um enorme aquário.
“Olha a Dory do Nemo”, exclama assim que entra no oceanário
e se depara com um peixe-azul na água, aludindo a uma das personagens do filme
que foi sucesso de bilheteira em 2003. Pede para se levantar da cadeira de
rodas e, quase como que por impulso, encosta a pequena mão ao vidro do grande
aquário, para tocar na Dory. A aventura de Camila em Portugal começou em Junho
de 2012 quando deixou Cabo-Verde por causa de um tumor no sistema nervoso
central.
No país africano, os médicos não conseguiam descobrir de que
forma poderiam ajudar Camila, apesar dos muitos exames que fez. Foi por essa
razão que, mediante a avaliação do caso clínico, a encaminharam para Portugal
há dois anos. Entre tratamentos de quimioterapia, que lhe fizeram perder o
cabelo, e de fisioterapia, durante todas as semanas, a menina quase não tem
tempo para brincar. Também não contacta com pessoas da sua idade, uma vez que
ainda não frequenta a escola. “Primeiro tivemos alguns problemas porque não
havia professores. Depois não havia transporte”, afirma a mãe, Antónia Fontes.
Mas, neste dia de Fevereiro, Camila está contente. Afinal
não é todos os dias que vai a um sítio novo. “Pensava que ia para o hospital
mas vim ao oceanário”, diz com um sorriso nos lábios. Foi através do Instituto
Português de Oncologia (IPO) que Antónia Fontes conheceu uma forma de
surpreender a filha. “Falei com a assistente social que me deu um papel e
entraram em contacto com a Camila e comigo. Perguntaram-me que tipo de
actividades gostava de realizar e foi então que entrei em contacto com a Leila
Gomes e com a Sara Ribeiro da fundação Make-a-Wish”, explica.
Leila Gomes explica
que Camila estava indecisa entre uma visita ao Oceanário ou ao Jardim
Zoológico. “A Camila gosta muito de peixes e disse que nunca tinha visto”, diz
uma das voluntárias que acompanhou o desejo da menina cabo-verdiana.
Um dia mágico
“O IPO de Lisboa fala sobre a Make-a-Wish às crianças e
estas formulam um desejo. Esta instituição é o intermediário entre as crianças
e as organizações; os voluntários falam com as famílias e perguntam-lhes de que
forma podem tornar mágico o dia da criança”, explica Sofia Pascoal, do Gabinete
de Comunicação da Make-a-Wish.
No caso específico da Camila, a ajuda resultou de um
trabalho conjunto entre a Make-a-Wish e a Best Doctors, uma empresa privada com
o objectivo de oferecer a todos os que enfrentam problemas de saúde o acesso
privilegiado aos melhores médicos do mundo, que ajudou com apoio monetário e
divulgação pelos media. “A primeira parceria que temos é com a Make-a-Wish”,
afirma Joana Andresen, da Best Doctors. A parceria começou em Dezembro de 2013.
“O valor monetário é dado para várias acções e escolhemos os desejos em que
achamos que nos enquadramos melhor”, acrescenta Joana.
A mãe de Camila tenciona regressar com a filha ao país de
origem, quando os tratamentos terminarem. “É lá que tenho dois filhos que estão
na escola; tenho lá a minha vida e o meu trabalho”, diz acrescentando que ainda
não tem data marcada para regressar.
Do Papa a Cristiano
Ronaldo
Agora, por cá, os sons de fundo dos animais marinhos do
oceanário enchem os ouvidos de Camila enquanto os olhos se regalam com espécies
de peixes diferentes. Uns bonitos, outros feios. Uns estranhos, outros comuns.
“O que é isto, Camila?”, questiona Leila Gomes enquanto aponta para um peixe
branco. A menina, que está na cadeira de
rodas, encolhe os ombros sem conseguir identificar o peixe-lua. Não faz muitas
perguntas, mas nota-se que está interessada em conhecer melhor os seres vivos
que habitam o oceanário.
Leila Gomes e Sara Ribeiro são duas dos 230 voluntários que
estão espalhados por todo o país. A Make-a-Wish estende a sua acção a hospitais
da zona metropolitana de Lisboa e do Porto, aos IPO das zonas metropolitanas,
ao Hospital Pediátrico de Coimbra, ao Hospital de Faro e Portimão e, mais
recentemente, com os Hospitais de Viseu, Torres Novas, Funchal e Angra do
Heroísmo.
“Com o desejo da Camila, já são 326 desejos os realizados
pela Make-a-Wish”, afirma a responsável pela comunicação da Make-a-Wish, Sofia
Pascoal. Entre os desejos mais invulgares, Sofia conta a história de duas
crianças que visitaram o Papa Bento XVI, em 2012 e o Papa Francisco, em 2013.
Entre os desejos mais pedidos e que já foram realizados está a vontade,
sobretudo de rapazes, em conhecer diferentes jogadores de futebol, entre os
mais procurados está, claro, Cristiano Ronaldo.
Apesar de já ter sido realizado um número considerável de
desejos pela Make-a-Wish, “a instituição tem ainda 90 por realizar”, acrescenta
Sofia Pascoal. Na lista dos desejos que ainda não se concretizaram contam-se
uma “ida à Euro Disney e o contacto com os cantores da banda juvenil One
Directon”, afirma. Por vezes, há crianças que querem ter um objecto novo mas,
ao mesmo tempo, querem realizar um desejo. Sofia Pascoal exemplifica a forma
como o processo decorre. “Nunca damos só um objecto. Já tivemos um caso de uma menina
que queria uma Playstation, mas que no futuro gostaria de ser bombeira. Fizemos
com que fosse um bombeiro a oferecer-lhe uma Playstation”.
Foi em 2007 que a Make-a-Wish iniciou a sua actividade em
Portugal. Há 34 anos nasceu nos EUA e já realizou 330 mil desejos em todo o
mundo. “A cada 23 minutos, um desejo Make-a-Wish é realizado no mundo”, afirma
Sofia Pascoal.
A surpresa não se resumiu a uma ida ao Oceanário. Camila
teve ainda direito a dois presentes, um Pato Donald e a uma Barbie. No final da
visita Camila estava cansada mas satisfeita. “Estou muito contente com o dia de
hoje”, disse com um sorriso de entusiasmo no rosto.
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