sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Camila pensava que ia para o hospital mas foi ao oceanário

Fonte:  http://www.publico.pt/sociedade/noticia/camila-pensava-que-ia-para-o-hospital-mas-foi-ao-oceanario-1623537

Com o desejo da Camila, uma criança com cancro que pela primeira vez foi ao Oceanário, já são 326 desejos os realizados em Portugal pela fundação Make-a-Wish”. Ainda há 90 por realizar.

Os olhos da Camila, uma menina cabo-verdiana de dez anos, doente oncológica, não escondem o espanto assim que se depara com o Oceanário de Lisboa. É a primeira vez que vai ver “os peixes”. O desejo de Camila foi realizado este mês de Fevereiro e faz parte de uma longa lista de “sonhos” que têm sido realizados pela Fundação Make-a-Wish.

Este é um dia diferente para Camila. Levantou-se à mesma hora de sempre mas em vez de seguir para um tratamento de quimioterapia no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, seguiu para o Oriente, rumo ao Oceanário. Em vez da habitual corrida casa-hospital, hospital-casa, desta vez o destino foi um enorme aquário.

“Olha a Dory do Nemo”, exclama assim que entra no oceanário e se depara com um peixe-azul na água, aludindo a uma das personagens do filme que foi sucesso de bilheteira em 2003. Pede para se levantar da cadeira de rodas e, quase como que por impulso, encosta a pequena mão ao vidro do grande aquário, para tocar na Dory. A aventura de Camila em Portugal começou em Junho de 2012 quando deixou Cabo-Verde por causa de um tumor no sistema nervoso central.

No país africano, os médicos não conseguiam descobrir de que forma poderiam ajudar Camila, apesar dos muitos exames que fez. Foi por essa razão que, mediante a avaliação do caso clínico, a encaminharam para Portugal há dois anos. Entre tratamentos de quimioterapia, que lhe fizeram perder o cabelo, e de fisioterapia, durante todas as semanas, a menina quase não tem tempo para brincar. Também não contacta com pessoas da sua idade, uma vez que ainda não frequenta a escola. “Primeiro tivemos alguns problemas porque não havia professores. Depois não havia transporte”, afirma a mãe, Antónia Fontes.

Mas, neste dia de Fevereiro, Camila está contente. Afinal não é todos os dias que vai a um sítio novo. “Pensava que ia para o hospital mas vim ao oceanário”, diz com um sorriso nos lábios. Foi através do Instituto Português de Oncologia (IPO) que Antónia Fontes conheceu uma forma de surpreender a filha. “Falei com a assistente social que me deu um papel e entraram em contacto com a Camila e comigo. Perguntaram-me que tipo de actividades gostava de realizar e foi então que entrei em contacto com a Leila Gomes e com a Sara Ribeiro da fundação Make-a-Wish”, explica.

 Leila Gomes explica que Camila estava indecisa entre uma visita ao Oceanário ou ao Jardim Zoológico. “A Camila gosta muito de peixes e disse que nunca tinha visto”, diz uma das voluntárias que acompanhou o desejo da menina cabo-verdiana.

Um dia mágico

“O IPO de Lisboa fala sobre a Make-a-Wish às crianças e estas formulam um desejo. Esta instituição é o intermediário entre as crianças e as organizações; os voluntários falam com as famílias e perguntam-lhes de que forma podem tornar mágico o dia da criança”, explica Sofia Pascoal, do Gabinete de Comunicação da Make-a-Wish.

No caso específico da Camila, a ajuda resultou de um trabalho conjunto entre a Make-a-Wish e a Best Doctors, uma empresa privada com o objectivo de oferecer a todos os que enfrentam problemas de saúde o acesso privilegiado aos melhores médicos do mundo, que ajudou com apoio monetário e divulgação pelos media. “A primeira parceria que temos é com a Make-a-Wish”, afirma Joana Andresen, da Best Doctors. A parceria começou em Dezembro de 2013. “O valor monetário é dado para várias acções e escolhemos os desejos em que achamos que nos enquadramos melhor”, acrescenta Joana.

A mãe de Camila tenciona regressar com a filha ao país de origem, quando os tratamentos terminarem. “É lá que tenho dois filhos que estão na escola; tenho lá a minha vida e o meu trabalho”, diz acrescentando que ainda não tem data marcada para regressar.

Do Papa a Cristiano Ronaldo

Agora, por cá, os sons de fundo dos animais marinhos do oceanário enchem os ouvidos de Camila enquanto os olhos se regalam com espécies de peixes diferentes. Uns bonitos, outros feios. Uns estranhos, outros comuns. “O que é isto, Camila?”, questiona Leila Gomes enquanto aponta para um peixe branco.  A menina, que está na cadeira de rodas, encolhe os ombros sem conseguir identificar o peixe-lua. Não faz muitas perguntas, mas nota-se que está interessada em conhecer melhor os seres vivos que habitam o oceanário.

Leila Gomes e Sara Ribeiro são duas dos 230 voluntários que estão espalhados por todo o país. A Make-a-Wish estende a sua acção a hospitais da zona metropolitana de Lisboa e do Porto, aos IPO das zonas metropolitanas, ao Hospital Pediátrico de Coimbra, ao Hospital de Faro e Portimão e, mais recentemente, com os Hospitais de Viseu, Torres Novas, Funchal e Angra do Heroísmo.

“Com o desejo da Camila, já são 326 desejos os realizados pela Make-a-Wish”, afirma a responsável pela comunicação da Make-a-Wish, Sofia Pascoal. Entre os desejos mais invulgares, Sofia conta a história de duas crianças que visitaram o Papa Bento XVI, em 2012 e o Papa Francisco, em 2013. Entre os desejos mais pedidos e que já foram realizados está a vontade, sobretudo de rapazes, em conhecer diferentes jogadores de futebol, entre os mais procurados está, claro, Cristiano Ronaldo.

Apesar de já ter sido realizado um número considerável de desejos pela Make-a-Wish, “a instituição tem ainda 90 por realizar”, acrescenta Sofia Pascoal. Na lista dos desejos que ainda não se concretizaram contam-se uma “ida à Euro Disney e o contacto com os cantores da banda juvenil One Directon”, afirma. Por vezes, há crianças que querem ter um objecto novo mas, ao mesmo tempo, querem realizar um desejo. Sofia Pascoal exemplifica a forma como o processo decorre. “Nunca damos só um objecto. Já tivemos um caso de uma menina que queria uma Playstation, mas que no futuro gostaria de ser bombeira. Fizemos com que fosse um bombeiro a oferecer-lhe uma Playstation”.

Foi em 2007 que a Make-a-Wish iniciou a sua actividade em Portugal. Há 34 anos nasceu nos EUA e já realizou 330 mil desejos em todo o mundo. “A cada 23 minutos, um desejo Make-a-Wish é realizado no mundo”, afirma Sofia Pascoal.

A surpresa não se resumiu a uma ida ao Oceanário. Camila teve ainda direito a dois presentes, um Pato Donald e a uma Barbie. No final da visita Camila estava cansada mas satisfeita. “Estou muito contente com o dia de hoje”, disse com um sorriso de entusiasmo no rosto.

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