terça-feira, 1 de setembro de 2015

“Conquistar novos públicos e formar mais músicos são as prioridades da banda”


Há 17 anos a batuta da Banda Filarmónica Ilhense pertence ao maestro Paulo Branco. No ano em que a instituição celebra 91 anos de existência, o maestro fala de um trabalho contínuo que proporciona o incremento do esforço que vem sendo desenvolvido por músicos e maestro e que tem dado frutos. A planificação dos ensaios, a motivação e o espírito de equipa, são, de acordo com o dirigente, os ingredientes fundamentais para manter o grupo coeso. A imensidade artística da Banda torna possível o grande contributo na promoção e na difusão da cultura e do povo da localidade. O próximo concerto realiza-se já no próximo dia 26 de Setembro no Encontro de Bandas, em Pombal, cuja organização deste ano está a cargo da Filarmónica Artística Pombalense.
 
RODILHA - De há alguns anos a esta parte, a Banda Filarmónica Ilhense tem vivido um período de forte desenvolvimento artístico. Como se mantém jovem uma banda com 90 anos de existência? 
Paulo Branco (PB) - Está a escola de música para a filarmónica, como estão os alicerces para uma casa. Tem-se feito um esforço enorme na angariação de novos alunos para escola, no sentido de colmatar e fazer crescer a estrutura instrumental da banda que, normalmente, um grupo musical deste género exige. Talvez fruto do relacionamento entre músicos, passe a imagem de que é bom estar na filarmónica e apesar das grandes responsabilidades e sacrifícios que são exigidos, jovens puxam jovens. 

RODILHA- Desde 1998 é ao maestro Paulo Branco que pertence a batuta desta instituição. Que balanço faz de 17 anos de direcção? 
PB - Para além das várias situações que a Banda Filarmónica Ilhense tem passado estes anos e de alguns momentos extraordinários que tenho vivido, o balanço é, sem dúvida, muito positivo. Enquanto responsável musical desta casa, a minha principal preocupação é a de ajudar a complementar a formação dos jovens que integram a banda para que, no futuro, sejam melhores homens e mulheres. Para mim é um orgulho enorme constatar que músicos que entraram há 15 e 16 anos, têm hoje, na sua personalidade e carácter marcas positivas e evidentes pelo facto de terem aprendido musica e por lhe terem sido impostas algumas regras e responsabilidades inerentes à banda. Mas, se estes jovens têm adquirido conhecimentos comigo, eu tenho aprendido com as várias formas de pensar e de estar de cada um deles. 

RODILHA- Devido a motivos profissionais ausentou-se do país há cerca de dois anos e meio. Como encarou o regresso às origens? 
PB - Estar do lado de fora da equipa à qual pertencemos e trabalhámos faz-nos entender vários aspectos que nunca tínhamos percebido até então. Apesar de ter vivido uma pequena experiência musical no estrangeiro, as pessoas que me conhecem sabem que, para mim, a música e a batuta são muito importantes e o ser humano só dá valor ao que tem quando deixa de ter. Apesar da minha saída da banda ter sido definida sem regresso, quando voltei foi como se tivesse tido umas férias prolongadas o que resultou numa maior força de vontade. 

RODILHA- Como tem sido a receptividade do público ao trabalho desenvolvido pela filarmónica? Tem adaptado o reportório a um público mais jovem ou tem mantido o mesmo padrão musical com o passar dos anos? 
PB - Como é normal, a filarmónica tem tido algum feedback nos diversos serviços e concertos que tem realizado e dou um exemplo de uma pessoa que assistiu a um dos últimos concertos e passo a citar “… eu ri, eu chorei, … eu emocionei me!” Quando ouvimos estes comentários do público de que o nosso objectivo naquele concerto foi conseguido, porque afinal a música é isso mesmo. Mas, existe ainda muito a fazer e tem sido uma preocupação minha ter um reportório musical variado. As bandas filarmónicas são dos poucos agrupamentos musicais com capacidade de interpretar qualquer género musical. Não podemos escolher obras só por prazer musical do maestro e dos músicos; o nosso objectivo é o público e é para ele que trabalhamos. 

RODILHA- Uma das últimas actuação da Banda Filarmónica Ilhense em Pombal foi no âmbito do programa de animação cultural "Há música no Castelo", no passado dia 18 de Julho, no Castelo de Pombal. Além dos instrumentos convencionais de uma filarmónica contou a voz de Serenela Duarte que se fez ouvir em algumas músicas do reportório. Esta é uma convidada frequente? 
PB - A Serenela Duarte surgiu de um convite feito à filarmónica no âmbito das comemorações dos 800 anos de elevação do Souto da Carpalhosa a freguesia. Desde daí, a Serenela conquistou-me a mim e ao grupo pela sua voz e humildade. Posso afirmar que a Serenela Duarte neste momento é uma voz residente da banda e tenho algumas ideias e novo reportório a ser preparado para ela. Com formação coral, a Serenela é a “cereja no topo do bolo” nos nossos concertos.  

RODILHA - Com quantos elementos conta a filarmónica e a que faixas-etárias pertencem? 
PB - Neste momento a banda conta com 50 músicos de várias faixas etárias. Quatro músicos entre os 51 e 57 anos, vinte e quatro músicos entre os 21 e 30 anos e vinte e dois músicos entre os 10 e 20 anos. 

RODILHA - Além da Banda Filarmónica, a instituição conta com uma Escola de Música, com uma Banda Juvenil (fundada em 2002) e com um Quinteto de Trompetes (fundada em 2012), os "Sinuata". Que outros projectos tem? 
PB - Para além de continuar com estes projectos paralelos à filarmónica e fundamentais para a prática musical, o principal objectivo é o de criar pequenos grupos de instrumentos dos vários naipes da banda, designados por ensambles. Para além de ficarmos com uma maior oferta em termos de serviços, estes ensambles são importantíssimos para o desenvolvimento artístico de cada músico. Para 2016 existem dois projectos de cariz musical propostos por mim, que estão em fase de discussão e de análise por parte da direcção. Sem poder revelar muito acerca destas ideias, uma delas tem que ver com a motivação e a formação e a outra com a realização de um concerto verdadeiramente diferente. 

RODILHA - Quais são, neste momento, as prioridades da Banda Filarmónica Ilhense? Que adversidades quer ultrapassar? 
PB – No que me diz respeito como maestro, é continuar a fazer evoluir o nível musical da banda, conquistar novos públicos, formar novos músicos e ajudá-los na sua formação pessoal através da música. A grande adversidade para mim neste momento é a saída de alguns músicos por razões profissionais, porque infelizmente não conseguem arranjar emprego no nosso país e são obrigados a emigrar. A Banda Filarmónica Ilhense tem perdido nos últimos anos excelentes músicos devido à conjuntura que o país atravessa. Para mim e para os professores da escola de música é um trabalho inglório, uma vez que, um jovem entra nas aulas de formação musical e até estar a 100% apto a tocar na banda, leva muitos anos.Por muito que se planeie, nunca se consegue ter um músico pronto a substituir outro que sai e por muitos alunos que a escola de música possa ter, não consegue dar resposta à necessidade da instrumentação em falta da banda. Hoje um maestro pode ter uma banda no seu melhor nível e amanha não ter nem condições para realizar um concerto. 

RODILHA - Que concertos ou eventos tem agendados para os meses que se avizinham? 
PB - Para além do que a banda tem nesta época em termos de serviços religiosos, temos um concerto no dia 22 de Agosto na Praça do Rossio na Vila da Guia inserido nas “Noites de Verão”. As Tasquinhas tradicionais da Ilha nos dias 27, 28, 29 e 30 de Agosto onde a filarmónica vai estar representada. Vamos ter um concerto a 26 de Setembro no Encontro de Bandas do Concelho de Pombal, cuja organização está a cargo da Filarmónica Artística Pombalense. Neste campo salientar também um dos momentos altos desta associação que é o concerto de aniversário, este ano o 91º. Há vários anos que a Banda Filarmónica Ilhense se apruma para este concerto e joga os seus maiores trunfos. Este ano não vai ser excepção e posso adiantar que o programa musical já está decidido para este concerto que ainda falta agendar, será no final de Outubro ou início de Novembro. Este vai ser um concerto a não perder! 

RODILHA - Qual é, afinal, o segredo do sucesso? 
PB - Inúmeros factores respondem a esta questão. O meio onde a filarmónica se insere, a Ilha, é um local onde as pessoas são muito bairristas e se unem em causas comuns. As direcções que têm passado pela filarmónica têm sabido perceber os objectivos desta associação e têm sobretudo criado as condições para o ensino e práticas musicais. Voluntários e pessoas completamente desinteressadas, assumem de três em três anos a responsabilidade de uma associação que tem tido um papel importante a todos os níveis no meio em que se insere. Criada a base e o apoio é preciso ter uma escola de música bem organizada onde todos os professores trabalhem na mesma direcção e com o mesmo objectivo. 
As opiniões dividem-se, mas como responsável da escola, nunca concordei nem nunca irei concordar em abrir a escola a outros instrumentos ou actividades musicais que não sejam unicamente para a Banda Filarmónica. Isto desgasta recursos e energias que têm de ser todas direccionadas para a instituição. Felizmente temos associações de todo o tipo que estão mais habilitadas para outras vertentes musicais. Não vejo necessidade de andarmos a duplicar projectos! 
Os pais dos alunos e dos músicos têm também tido um papel fundamental a todos os níveis, na motivação dos seus filhos para a prática musical e sobretudo na confiança que têm tido nos responsáveis da banda.
O mais importante são os músicos, tudo roda em torno deles e é para eles que eu trabalho. Planificar, ensaiar, motivar, agradecer, respeitar, incutir espírito de grupo, ouvi-los nos seus problemas, nada deve faltar a eles. Ao contrário do que muitos pensam, é o maestro que serve os músicos e não o contrário! Apesar de muitas vezes existir discordâncias e problemas, o que é perfeitamente normalíssimo nestes agrupamentos, eu tenho por eles o maior respeito e admiração. Por fim, não posso deixar passar esta oportunidade sem agradecer a todas as pessoas que fazem parte da Banda Filarmónica Ilhense, por continuarem a acreditar no meu trabalho.

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