Uma ideia, um
terreno onde a fazer florescer e uma enorme vontade pessoal de recomeçar. Foi
com estes ingredientes com que se deu início, em 2002, à M. Cordeiro, uma empresa
vitivinicultora e engarrafadora com sede em Foitos, Louriçal, dirigida por
Manuel Cordeiro. Dedicando-se já à produção de vinhos enquanto jovem, Manuel
Cordeiro só no ano 2002 enveredou pela alquimia do vinho, a que se entregou de alma
e de coração, dando curso a uma aspiração antiga, entretanto consagrada com o
reconhecimento internacional de sucessivos prémios e medalhas — nomeadamente atribuídos aos vinhos Encosta do Vale Galego.
A procura do
melhor local, em termos de combinação de características do solo e
favorecimento climático, para instalar a sua vinha, levou Manuel Cordeiro à
localidade de Pafarrão, Torres Novas. Ali viria a encontrar a porção de terra
que hoje, por efeito do trabalho especializado que sobre ela recai e da
excelente maturação que proporciona, fornece as uvas de elevada qualidade com
que, desde 2006, o rótulo Encosta do Vale Galego não tem parado de
crescer, alcandorando-se aos mais altos padrões do exigente mercado vínico. No
sopé da Serra d’ Aire nasceu assim a Encosta
do Vale Galego, atualmente com cerca de cinco hectares, a qual o empreender
Manuel Cordeiro juntou três hectares e meio de duas novas vinhas, a vinha do
Carvalho e o Vale da Lapa. A produção anual estima-se nos 30 000 litros de
vinho tinto e 7 500 litros de vinho branco.
Dos longos e complexos meses de trabalho que a vinha reclama só se recolhe o fruto, sempre incerto, a partir do final de Agosto, início de Setembro, quando é chegado o tempo das vindimas. Começa-se pelo Aragonez, assinala Manuel Cordeiro, casta que primeiramente completa a maturação, com vindima manual, para melhor seleção das uvas. A recolha das uvas é feita de acordo com a maturação das mesmas e cada casta vindimada separadamente, de modo a ter-se maior margem no tratamento e seleção dos lotes, obtendo os mais variados tipos, qualidades, especificidades de vinho.
À chegada à adega, em Foitos, depois de viagem em cestos desde as vinhas, as uvas são desengaçadas (bago e engaço separados) e deixadas a fermentar, em processo conjunto das “massas” (bago esmagado) e do sumo da uva. Na sequência deste processo, ocorre a vinificação, em que as uvas e o líquido são transformadas em vinho. “A maior parte da vinificação é feita em lagar, a restante é feita em cuba inox”, continua o proprietário, que refere ainda que “a fermentação ocorre a temperaturas controladas (na ordem dos 25 a 28 graus para os tintos, enquanto os brancos fermentam entre os 14 e 16 graus) ”. Os vinhos brancos, aliás, conhecem um procedimento de fermentação peculiar, uma vez que não é feito com as “massas”, apenas fermentando o respetivo sumo, ou líquido, no chamado método de “bica aberta”. Aqui reside a principal diferença na produção dos dois géneros de vinho.
Na adega, posteriormente à fermentação, segue-se o envasilhamento. Este consiste na colocação do vinho em recipiente adequado, normalmente cubas inox, dentro do qual ocorrerá a “fermentação malolática”, relacionada com o alevedar dos ácidos málicos. A partir daí, passam-se os vinhos a limpo para retirar as borras.
Todo este
conjunto de processos é acompanhado pelo enólogo Rui Vieira: “Todos nós temos
uma palavra a dizer sobre a qualidade do vinho. Mas tudo o que se faz na adega
é da responsabilidade dele”. É o Engenheiro Rui Vieira quem escolhe e quem vê
as proporções de cada casta. É ele quem faz a análise a cada vinho, decidindo
do que é engarrafado e do que seguirá para Bag-in-Box: “o lote é a
junção de dois ou mais tipos de vinho, ou, dito de outra forma, do vinho de
duas ou três castas diferentes. Isto requer bastantes amostras e um trabalho
muito intenso sobre as quantidades”, explica Manuel Cordeiro. Para que um vinho
fique muito diferente “basta adicionar 5 ou 10 % de uma casta num determinado
lote”. Em síntese, “as uvas são vindimadas por castas e é feita e a vinificação
por castas separadas. Depois dos vinhos terem todo o seu processo concluído,
nós fazemos os lotes na adega”.Os vinhos que evoluem melhor são os engarrafados, enquanto os restantes são vendidos em Bag-in-Box e destinam-se aos restaurantes e marisqueiras, diz Manuel Cordeiro. Neste momento, há disponíveis para o mercado três vinhos tintos e um branco em garrafa, que brevemente serão acompanhados pelas novidades de tintos de 2012 e branco de 2014.
Dos vinhos engarrafados já no mercado, destacam-se os internacionalmente galardoados Encosta do Vale Galego tinto 2009, com a Medalha de Bronze no International Wine Challenge 2012 e Mérito no Concurso Nacional de Vinhos 2012, o Encosta do Vale Galego tinto Touriga Nacional Cabernet Sauvignon 2011, com Medalha de Bronze no International Wine Challenge 2013 e Medalha de Ouro no Concours Mondial Bruxelles 2014, assim como o Encosta do Vale Galego tinto Aragonez Syrah 2011, com Medalha de “Commended” no International Wine Challenge 2013 e Medalha de Prata no Concours Mondial Bruxelles 2014.
O que aqui se comprova, em particular dadas as contínuas gratificações, prémios ou outras formas reconhecimento dirigidas aos vinhos construídos por Manuel Cordeiro, é a consagração, nacional e internacional, de uma ambição inicial forjada com a têmpera do trabalho, do rigor, da dedicação plena. Isso coloca as expectativas de todos os que contribuem para este empreendimento em forte alta, embora estas se vejam igualmente condimentadas pela consciência de que permanece longo o caminho a percorrer para manter a qualidade e excelência perspetivadas. “Nós pensamos continuar a crescer na qualidade e ir ajustando a produção: crescer na quantidade, mas desde que implique igualmente crescer na qualidade”, conclui Manuel Cordeiro.
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