Até há alguns anos o mandarim não passava de uma língua exótica e muito difícil de aprender, mas hoje tornou-se uma das línguas mais procuradas, quer ao nível profissional, quer ao nível académico.
Após o triunfo da economia chinesa ao longo dos últimos anos, estudantes do ensino secundário e universitário, representantes políticos e até profissionais no ramo de negócios internacionais optam por aprender o mandarim como segunda ou terceira língua estrangeira. Através de programas e iniciativas governamentais, o mandarim tornou-se mais acessível em todos os cantos do mundo.
Em Portugal, o ministro da educação, Nuno Crato, pretende introduzir o ensino do mandarim nas escolas do terceiro ciclo e do secundário. Os acordos que preveem a implementação desta medida foram assinados em Pequim, em maio de 2014, no decurso do encontro entre os chefes de Estado de Portugal e da China. Apesar de não existir uma data para a implementação da medida, espera-se que o mandarim seja posto em prática nos próximos três a cinco anos. Joana Gomes, estudante portuguesa da Universidade de Xangai, tem 21 anos e é um exemplo de quem vê no mandarim uma vantagem para o futuro profissional. Acredita que esta língua está a assumir uma importância crescente ao nível global.
Depois de terminar a licenciatura em Ciências Empresariais na Universidade de Aveiro, Joana decidiu aprofundar os seus estudos e imergir na cultura chinesa. “Não basta só conhecer a língua, também é preciso conhecer a cultura no seu todo, sendo esta uma ‘sociedade muito diferente’ ”. E acrescenta, “mesmo tendo professores da língua nativa em Portugal, não é a mesma coisa.”
Para Joana é uma vantagem saber as duas línguas, o Português e o Mandarim. “Comecei a perceber que há cada vez mais relações comerciais entre a China e os Países Lusófonos, especialmente entre Angola e Brasil. Portugal começa a assumir cada vez mais importância nessas relações”, explica.
Ao longo dos anos, tem sido visível este crescimento das relações entre Portugal e China. De acordo com dados recolhidos pela AULP, atualmente, diversas universidades portuguesas promovem o ensino do mandarim.
Porém, como Joana apontou, Portugal não é o único a criar conexões com a China. Angola é um dos países com maior intercâmbio socioeconómico e cultural nos últimos dez anos.
Cheryl Mei-ting Schmitz, doutoranda em Antropologia Sociocultural na Universidade da Califórnia Berkeley, possui um projeto de campo, etnográfico, que foca o investimento no chinês em Angola. No seu projeto, mostra que o número de estudantes angolanos que vão estudar para a China tem aumentado nos últimos anos: “um dos maiores incentivos para angolanos aprenderem o mandarim é a abertura das portas para o mundo dos negócios”.
Na sua investigação, Cheryl identificou dois grupos de angolanos que aprendem Mandarim: os que vão para a China com fins educacionais e os empreendedores, ou comerciantes, interessados em fazer negócios com a China. Após terminar os seus estudos, alguns estudantes angolanos retornam ao seu país e abrem os seus negócios próprios ou tornam-se tradutores para empresas chinesas em Angola.
Não são só os estudantes angolanos que se interessam pela língua portuguesa e chinesa. Estudantes do mundo inteiro investem atualmente na aprendizagem destas duas línguas, pois reconhecem o seu potencial económico e empresarial. Estando as economias do Brasil e da Angola em crescimento, em relações com a China, é cada vez mais importante dominar a língua portuguesa.
Matthew Blumberg, estudante da Haas School of Business na Universidade da Califórnia Berkeley, tem 20 anos e aventurou-se a aprender o mandarim e o português. O seu objetivo é tornar-se fluente nas duas línguas e participar nos seus desenvolvimentos político-económicos. “Desde 2009, que a China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil. Este desenvolvimento permite aos povos destes países ter uma melhor qualidade de vida e quero fazer parte deste progresso. Teria muito orgulho em aumentar o intercâmbio da agricultura entre a China e o Brasil. Deste modo eu poderia lutar contra a fome global”, revela Matthew.
Aprendeu o mandarim quando frequentava o secundário e passou um ano em Xangai a estudar e trabalhar. Só aprendeu a língua portuguesa há dois anos. Confessa as suas dificuldades na aprendizagem destas duas línguas: “a maior dificuldade para aprender o mandarim foi, e continua a ser memorizar as caracteres, que se torna ainda mais complicado porque cada caractere tem vários significados e sons. Pelo contrário, em português, a maior dificuldade é a pronunciação e as gírias da língua falada, mas felizmente tenho tido muita sorte de conhecer brasileiros amigáveis que me ajudam.”
O estudante de Berkeley é um exemplo dos milhares de alunos pelo mundo que se interessam pelas duas línguas. Não reconhecem apenas o valor cultural de aprender ambas, mas também o seu potencial, que é vinculado com o crescimento económico tanto da China quanto da comunidade falante do português.
A procura pelo mandarim está a crescer rapidamente, mas o português não fica para trás. Segundo dados do Observatório de Língua Portuguesa, o mandarim é a língua mais falada em todo o mundo enquanto o português é a quarta. As duas línguas são superpotências com o estreitar das relações económicas e permite o aumento do volume de negócios, quer a nível nacional, quer a nível internacional.
(trabalho publicado na edição de setembro da newsletter da AULP)


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